Tamanho da fonte: |

Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 02/04/2025.

Assim que entro em casa, consigo ouvir duas risadas. Não, não risadas. São gargalhadas, altas e condescendentes, se mesclando uma na outra, como se me desafiassem a desembaraçá-las.

Eu não te escuto rir assim desde que seu irmão morreu, Love.

A maioria dos sorrisos ou qualquer demonstração de felicidade genuína tem sido reservados para o Henry. Com as suas amigas, se é que podemos chamá-las assim, você é sempre contida, receosa em dizer a coisa certa no momento certo. Então, você se fecha e se envergonha antes mesmo de tentar. O que, sem ofensas, te faz parecer meio robótica, quase como uma típica mãe de Madre Linda. E eu já não te faço rir há muito tempo. Fomos domesticados, acontece.

A outra risada, no entanto, tropeça na sua de maneira contundente. Ela soa espontânea, divertida. Eu nem sei quem é ou do que vocês estão rindo, mas já estou me contagiando. Assim como Henry, que me olha, com alguns dedos na boca, e sorri. É um sorriso babado e sem dentes, a coisa mais bonita que eu já vi.

Só dá para competir com você.

Seus cabelos escuros moldam um contraste com sua pele caramelo, e o sorriso em seu rosto parece solto. Olhos de cartoon castanhos, um nariz arrebitado e um corpo que… Nossa. Principalmente vestindo a minha camisa.

Espera, por que você está vestindo a minha camisa?

Quem é você?

— Joe! — Love sorri para mim, levantando do sofá e se aproximando. Ela se curva para pegar a cadeirinha de Henry e aponta para outra pessoa na sala com sua mão livre.

— Oi, Henry. Senti saudades. — A estranha se levanta e acena para o meu filho, e ele mexe com um brinquedinho que está na cadeirinha animadamente. De onde ela o conhece?

— Essa aqui é a — minha esposa explica. — Eu te falei dela, se lembra?

Ah, claro. A amiga/primeira cliente. Também a única pessoa que não desperta raiva da senhora Quinn-Goldberg.

Porra, Love. Podia ter mencionado que ela era assim.

— Sua primeira cliente, claro. — Sorrio amigavelmente, e retribui com seus dentes brancos brilhantes. Como alguém parece tão bonita assim, sem nem parecer estar tentando? — É um prazer te conhecer.

Eu posso achar alguém atraente sem ser a Love, isso não quer dizer que eu esteja traindo-a, ou caindo nos velhos hábitos de novo, . Só quer dizer que você é bonita.

A morena estende a mão para mim e eu a agarro com sutileza. Minhas palmas formigam um pouco e você nem nota. Ou esconde muito bem. Esse é um brilho de curiosidade nos seus olhos? Também está pensando nisso?

— Prazer em conhecê-lo também, Joe. — Quando fala, as palavras soam diferentes em sua boca. Até parece que ela estava degustando-as antes de dizê-las. De onde será que ela é? — Brasil, por isso o sotaque.

Perceptiva e direta, gostei. Parece mais interessante a cada minuto.

Brasil, um país tropical da américa do sul. A crise política é um problema, mas ele tem uma cultura incrível e autores clássicos.

Eu me pergunto de quais autores você gosta, .

Isso é bom, não é? A própria Love disse que eu precisava de amigos.

Ela arqueia uma sobrancelha na minha direção, esperando que eu diga mais alguma coisa. Ainda bem que minha esposa está ocupada checando a fralda do Henry.

— Eu não… Desculpa se eu fui rude.

dá de ombros, afastando sua mão da minha. O toque já parece tão certo, tão familiar que nem noto que ainda estamos apertando as mãos até aquele momento.

Não, não. Para. A sua esposa está bem aqui. Não podemos ter outra Natalie.

— É normal ficar curioso. — Sua expressão leve está de volta em um segundo. Ela muda de humor tão rápido. Está acostumada com situações assim? — Mas te digo o mesmo que disse para sua esposa, vocês têm que ir em uma praia. Todo mundo nesse país parece pálido.

Não, Joe. Pare. Bom marido e bom pai, bom marido e bom pai.

— Ele deve estar precisando trocar a fralda. — Love se faz presente na conversa, erguendo o Henry em seus braços. Ela está com um nariz enrugado, do jeito que sempre fica quando nosso filho precisa ser trocado. Ela não parece zangada, irritada ou assassina. Então, acho que é seguro deixar aqui. — Eu volto já.

Assim, minha esposa sobe pelas escadas. Só que todo o meu foco está em você. Eu quero saber mais. Qual seu sobrenome? Por que se mudou para cá? Qual sua comida preferida?
Por que está com a minha camisa? Está usando um sutiã por baixo?

A Becky nunca usava, já a Love, sim.

E você, ?

— Joe! — ela me chama, me tirando do transe em que a mesma me colocou.

— O quê?

— Eu perguntei, e você? — Adelina cruza os braços embaixo dos seios. Sem sutiã então. — De onde você é?

— New York.

Assim que respondo, volto o olhar para o seu rosto. Não quero que pense que sou um tarado. continua com os braços cruzados, seus olhos semicerrados ao me encarar. Mesmo que tenhamos acabado de nos conhecer, eu tenho certeza de que ela saberia se eu mentisse.

Onde aprendeu a ser tão atenta e desconfiada, ?

— Por que alguém de New York iria se mudar pra cá?

Desafiadora. Intrigante. Sagaz. Inteligente. Sempre com uma resposta na ponta da língua.

— Por que alguém do Brasil iria se mudar pra cá?

Ah, . Só você poderia me tirar da monotonia de Madre Linda.

— Touché. — Ela ri abertamente, me oferecendo uma piscada brincalhona.

Mas quem é você?


Continua...


Nota da autora: Essa série é maravilhosa demais e eu precisava escrever algo sobre. Então, aqui estamos nós com essa fic que vai representar tudo, menos relações saudáveis. ESSE NÃO É O OBJETIVO, MAS TAMBÉM NÃO IREI ROMANTIZAR. Os povs irão se alternar entre os personagens e narrador. É claro que, quando estamos no pov do Joe, ele não vai achar que está errado, porque é o pov dele, assim como na série.
Espero que gostem e comentem!
Ps: Essa fic foi escrita durante 2021, por isso o comentário sobre a crise política.

🪐



Se você encontrou algum erro de revisão ou codificação, entre em contato por aqui.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.


Barra de Progresso de Leitura
0%