Independente do Cosmos🪐
Última atualização: 27/02/2025.— Número 39 — a morena replicou, segurando ansiosa o shot em suas mãos.
— Isso! Ao nosso encontro mensal número 39!
Os copos tilintaram quando se chocaram e as quatro amigas viraram os shots, fazendo caretas em seguida.
bateu o copo vazio na mesa, abrindo um sorriso gigante.
— E esse vai ser o melhor de todos, vai por mim. Estão falando da abertura desse bar há meses!
— Só até o mês que vem, quando eu arrastar vocês pra um karaokê — disse, feliz. — E nem adianta dizer que tem vergonha, !
— Acho que nem possa reclamar, só de já não ser que nem o encontro do filme de terror, tá ótimo. Eu nunca tive sonhos tão vívidos quanto naquela noite.
As quatro encheram os copos novamente com a bebida suspeitamente barata que haviam conseguido no mercado e surrupiado para dentro daquele bar lindo, mas que cada gole custaria um rim.
A tradição havia se iniciado no terceiro ano da faculdade, quando as quatro garotas decidiram que não iriam perder contato durante o período de férias. Assim, a cada mês, uma delas escolhia o local de encontro, e todas as outras eram obrigadas a comparecer.
Lá pelo quinto ou sexto shot, as risadas começaram a se tornar mais escandalosas e as mesmas histórias da faculdade começaram a ser revisitadas, como da professora que tentou reprovar sem justificativa nenhuma, ou a da patricinha que chamou de grossa só porque a amiga cortou a garota depois de ela fazer a mesma pergunta pela sétima vez para o professor, ou de quando teve um trabalho plagiado por um ficante escroto, ou do ex-namorado de que tinha terminado com ela por mensagem. Elas sempre diziam as mesmas coisas, levantavam os mesmos fatos, criticavam as mesmas pessoas e chegavam nas mesmas conclusões. E era incrível.
Para não serem expulsas e nem reclamarem da bebida que claramente não pertencia ao restaurante, as quatro pediram uma pizza (média, era o que cabia no bolso), mas o álcool era tão forte que nem isso impediu as amigas de ficarem bêbadas.
O toque do telefone doeu dentro do cérebro de , cujo colchão estava do lado do aparelho.
— , a merda do telefone — resmungou, ou tentou, nenhuma palavra tinha sido muito inteligível.
Mesmo assim, surtiu efeito, porque as outras começaram a se remexer, a dor de cabeça tinindo.
— Eu vou matar quem quer que seja — resmungou, se esticando no sofá para alcançar o maldito aparelho. — Alô?
— Bom dia, falo com a senhorita ? — a voz perguntou do outro lado, formal demais.
— Infelizmente — respondeu.
— Ah… certo. Ok. Estou ligando apenas para avisar que enviamos um e-mail com as informações necessárias de serem preenchidas para confirmar a premiação do sorteio.
ouviu muitas palavras, mas nenhuma delas fez muito sentido.
— Isso é um trote?
resmungou de sua cama e colocou o travesseiro por cima da sua cabeça, amassando sua touca de cetim.
Do outro lado da linha, a mulher pareceu ficar confusa.
— Não… Somos da empresa MSC, estávamos presentes na inauguração do bar Fratelli ontem à noite e realizamos o sorteio de uma viagem de cruzeiro no carnaval para 4 pessoas. Lembra?
Não, não se lembrava, mas puta que pariu, o que elas tinham ganhado?! Só poderia ser trote, né?
— Ahn, certo… É só ver o e-mail?
— Isso, esperamos uma confirmação até amanhã com os dados e documentos dos passageiros. Tenha uma ótima manhã!
— Igualmente. — desligou o telefone, sentando-se no sofá, confusa.
— Quem era? Seu chefe? — perguntou, bocejando, enquanto ajustava seu lençol de gatinhos.
— Ahn, não. Acho que era um trote. Falaram que eu ganhei um sorteio de um cruzeiro, mas eu não me inscrevi nisso.
, que até então tampava a própria cara com o travesseiro, deu um salto.
— Puta merda!
, agora com os dois olhos arregalados e borrados de maquiagem da noite anterior, se sentou correndo no colchão.
— Eu tive um sonho que a gente entrava num sorteio desses.
— É claro que não foi um sonho. — sacudiu a cabeça. — Meu Deus do céu.
As quatro amigas se olharam, as lembranças da noite anterior invadindo suas cabeças doloridas de ressaca.
— Duzentos reais para participar do sorteio, é sua última chance! — o dono do bar anunciou no microfone. — Sua chance para embarcar num navio com mais três pessoas!
— Porra, essa promoção foi feita pra gente — disse, empolgada. — A gente tem que se inscrever!
— Tá maluca, ?! Duzentos reais?! Isso tá a cara do golpe — reclamou.
— Que nem o golpe que você caiu semana passada? — provocou.
— As fotos das crianças eram muito reais!
— Não podemos ir, e se o navio afundar? — choramingou.
— , isso não é o Titanic. — revirou os olhos. — Pô, 50 pra cada uma, nada mal!
— Eu vou me afogar — continuou, perdida em pensamentos.
— Meu ex queria ir num desses comigo — começou a choramingar junto com ela.
— Dai-me paciência — murmurou.
— Fala sério, gente, imagina passar o carnaval num cruzeiro — tentou convencer as amigas. — As bebidas inclusas, as festas, as piscinas, os gringos gostosos…
As três amigas encararam , que sorria triunfante.
— Eu tenho um bom ponto, não tenho?
E, antes que pensassem melhor, elas estavam dando 200 reais em um sorteio pouco confiável.
— Puta merda, o que a gente fez? — murmurou, de olhos arregalados.
— O que você fez, eu fui contra viver uma cena de afogamento.
— Nem existem icebergs por aqui, !
— Eles mandaram eu checar o e-mail — falou, ignorando as duas e correndo para pegar o celular. — Porra, qual dos 5 e-mails eu cadastrei?
Depois de 10 minutos regados a implicando com enquanto tentava apaziguar a situação, deu um berro.
— Recebi! Recebi o e-mail!
As outras três logo se juntaram em cima dela, tentando ler as informações na tela pequena.
— Parece um e-mail sério — disse, chocada.
— Eu não vou opinar, se for golpe, vocês vão colocar a culpa em mim — resmungou.
— Olha, eu vou encaminhar esse e-mail pro meu tio, que é advogado — disse, resolutiva. — Se ele ver que é seguro…
— Então nós vamos num cruzeiro. — sorria de orelha a orelha. — E eu vou comprar um biquíni novo.