Independente do Cosmos🪐
Última Atualização: 09/01/2024
As nuvens deslizavam rápida e graciosamente além da janela. O azul do céu a tranquilizava, quase a fazendo esquecer que estava em um avião. tinha medo de altura, não tanto dos aviões em si. E era irônico, pois quanto mais alto o avião voava, mais ela apreciava a beleza da paisagem e mais ainda desejava admirar.
Respirou fundo, encostando a cabeça na janela redonda. Seus dedos tamborilavam na coxa, numa tentativa falha de controlar a ansiedade. A garota não conseguia identificar exatamente o que sentia: nervosismo, ansiedade, medo… Se encontrava sozinha, sem sua mãe e sua irmã. E não tinha ideia do que o futuro poderia lhe trazer a partir do momento em que pisasse fora daquele avião. Tudo o que tinha consigo era uma mochila com algumas roupas, um celular quase sem bateria e algumas barrinhas de cereais que havia separado para comer durante a viagem.
Enquanto o avião atravessava algumas nuvens novamente, parou para refletir. Não tinha parentes em Londres para ficar e as poucas libras na carteira só dariam para cobrir despesas básicas. Logo, precisaria encontrar uma forma de se sustentar.
Balançou a cabeça com firmeza, tentando não pensar no desafio que a aguardava. Com isso, se virou para a paisagem e seus olhos se arregalaram diante do que via logo abaixo.
Havia chegado a Londres!
Seus olhos percorreram cada local, cada bairro visível à distância. Avistou o London Eye, os carros parecendo miniaturas nas ruas e as árvores pintando o Hyde Park com cores vivas. Olhou adiante e franziu os olhos.
Reconheceu o lugar imediatamente. Claro! O Big Ben.
Um sorriso iluminou seu rosto diante daquela vista. O lugar era incrível e ela só conseguia se lembrar de todas as vezes que sonhou em estar ali, e da felicidade ao finalmente juntar dinheiro suficiente para comprar a passagem.
Agora, após tanto tempo de espera e horas na mesma poltrona, se preparava para o pouso do avião, sentindo seu coração palpitar forte no peito.
— Certo. Respira fundo, — sussurrou para si mesma.
Sentiu o avião balançar ao tocar o chão e fechou os olhos por um instante, os abrindo logo em seguida. Observou as pessoas ao redor soltando seus cintos e fez o mesmo, mas com cuidado devido às suas mãos trêmulas.
Ouviu a voz da aeromoça anunciando o fim do voo e se levantou, pegando sua volumosa mochila no compartimento superior. Uma grande fila se formava em direção à saída do avião. Ao ver alguns passageiros começarem a andar, sentiu a ansiedade revirar seu estômago.
Seu desejo de explorar a cidade era evidente e percebia que as pessoas ao redor começavam a notar.
Quando chegou sua vez, olhou para o corredor e sorriu de leve.
Ali começava sua nova jornada.
Caminhou, sentindo o peso da mochila em suas costas. Ansiava por encontrar um lugar confortável para sentar e descansar adequadamente.
Quando tocou o solo londrino, percebeu a diferença até no ar.
Ao passar por uma das aeromoças presentes, foi recebida com um sorriso caloroso, o que só a animou ainda mais.
Dirigiu-se para o interior do aeroporto e suspirou. A sensação de arrepio percorreu seu corpo, causando calafrios. Não tinha ideia do que fazer a seguir, nem por onde começar. E, enquanto observava outras pessoas sendo recebidas com abraços calorosos, se sentia cada vez mais sozinha.
estava completamente sozinha.
Olhou ao redor e viu um jovem vendendo mapas da cidade.
Sem hesitar, foi até ele e comprou um. Entre todas as opções, o trem era a escolha mais próxima e rápida para chegar ao centro.
Dobrou o mapa com cuidado e o guardou no bolso da calça jeans, pronta para seguir rumo ao terminal. Vários táxis estavam alinhados, aguardando passageiros, então decidiu caminhar até a estação do aeroporto para economizar um pouco mais.
Havia deixado o aeroporto pouco mais de meia hora e, ainda sentada perto da janela do metrô, não conseguia deixar de sentir o êxtase tomando conta de todo seu corpo, só pela animação e ansiedade. não queria perder nenhum momento do seu primeiro dia.
Seus olhos vagavam pelas casas e bairros que passavam do outro lado.
Era uma vista sensacional.
Levantou o olhar para o céu, agora cinza, notando através da janela embaçada do metrô o quão gelado deveria estar do lado de fora.
Colocou sua mochila na cadeira ao lado e tirou sua touca preta, a ajeitando na cabeça para se aquecer.
Ao recostar nas almofadas confortáveis da poltrona do metrô, viu a cidade se aproximando lentamente e um sorriso começou a se formar em seu rosto.
Era final de tarde em Londres e a paisagem parecia que tinha saído de um filme. Rapidamente, pegou seu celular de um dos bolsos e apontou para o céu e a cidade, mas a pouca bateria restante só permitiu um clique antes de o aparelho desligar.
Que sorte! Pensou, jogando o celular na mochila de qualquer jeito e cruzando os braços com um ar emburrado.
Balançou a cabeça e sorriu; aquilo não a desanimaria. Não naquele lugar!
O metrô parando fez com que despertasse.
Ajustou a mochila nas costas, pronta para desembarcar e seguiu para a porta de saída. E, ao pisar de degraus que a levavam para cima, olhou ao redor e percebeu que já estava no centro de Londres.
Caminhou quase correndo até a rua mais próxima e se deparou com a movimentação de carros, ônibus, motos e até bicicletas.
Tudo parecia tão real.
Na calçada onde estava, mal conseguia ficar quieta.
As pessoas passavam por ela como o vento, algumas esbarrando sem pedir desculpas, logo recuou até encostar o corpo na parede de uma das lojas do centro.
Respirou fundo e, apesar do nervosismo, decidiu se situar primeiro. Sua fome era gigante.
Olhou para o outro lado da avenida e atravessou até uma lanchonete, ignorando o tráfego intenso e arriscado. Alguns carros buzinaram e outros passaram resmungando algo incompreensível.
Ela fez uma careta e entrou no lugar, ouvindo o sininho característico tocar quando abriu a porta. Um sorriso escapou de seus lábios; era como uma cena de filme, clichê demais até.
Observou várias pessoas com suas refeições nas mesas coloridas ao redor e procurou por um lugar para se sentar. Como só havia espaço no balcão, se aproximou e se sentou em um dos bancos, avistando a garçonete loira se aproximando com um sorriso no rosto.
— Ei, boa tarde. O que gostaria de pedir? — disse, tirando um bloco branco e uma caneta do bolso do avental, com um sorriso irradiante.
, do outro lado, parecia um pouco mais à vontade.
— Um sanduíche e um suco, por favor — sorriu timidamente ao fazer o pedido, arranhando o sotaque britânico que havia tanto treinado e se permitiu observar o ambiente.
O lugar era acolhedor e as pessoas pareciam estar desfrutando do momento.
Olhou para a janela ao seu lado e observou a agitação lá fora, pessoas apressadas indo para o trabalho ou para casa, especialmente agora que o dia começava a escurecer. Sentiu uma leve pontada de saudade ao abaixar o olhar, pensando na sua casa e na sua família no Michigan.
Estar ali sozinha a fez perceber o quanto sentia falta da sua vida lá. Mal conseguia imaginar como estariam sua mãe e sua irmã naquele momento.
Sacudiu a cabeça com firmeza e notou um pequeno mural do outro lado do balcão. Com um pouco de esforço, estreitou os olhos para ler um anúncio preso ali.
Esticou o corpo para conseguir uma melhor visão e quase derrubou os copos ao ouvir a voz feminina ao seu lado.
— É um anúncio sobre aluguel de quartos — a garçonete comentou enquanto depositava o prato e o copo de suco no balcão. Observou-a seguir até o mural, arrancando o papel e entregando para a garota. — Parece que estão alugando por um preço bom. Quer dar uma olhada?
— Sim, por favor — respondeu, pegando o papel um pouco amassado.
Era um preço ótimo e ela conseguiria pagar pelo menos alguns dias.
Sorriu agradecida; pelo menos teria um lugar para ficar.
Dobrou o papel e o guardou. Assim que saísse, procuraria o local mencionado.
Permaneceu ali por algum tempo, tomando seu suco e mordendo o sanduíche com tranquilidade enquanto observava a cidade através da janela de vidro.
Perdida nos próprios pensamentos, nem percebeu quando a mulher do outro lado do balcão a observava com um sorriso divertido.
— Você não é daqui, né?
— Não, sou de Michigan — deu mais um gole no suco. — Por quê?
— Bom, você é educada e tem uma mochila grande — apontou para a mochila próxima aos seus pés. — O que te traz à Londres? Desculpa, mas parece um pouco perdida.
Soltou uma risadinha e riu junto, desviando o olhar.
— Pra ser sincera, nem eu sei. Sempre foi um sonho conhecer a cidade. Então, arrumei minhas coisas e tomei coragem pra vir até aqui.
— Uau, entendi — disse, se levantando para atender outro cliente. — Só um segundo.
A morena balançou a cabeça, concordando e terminou seu lanche, sentindo sua energia retornar gradualmente.
Antes de se despedir da atendente simpática, pegou novamente o anúncio e tentou ler o endereço, mas não tinha ideia de onde ficava.
Se levantou do banco, organizando suas coisas.
— Já vai? — a garçonete perguntou, fazendo levantar o olhar. Ela assentiu com um pequeno sorriso. — Saio em cinco minutos. Se quiser esperar, posso te levar até o apartamento.
— Claro, eu espero.
olhou ao redor e, decidindo esperar pela mulher, se sentou discretamente em uma mesa ao fundo, deixando espaço para novos clientes que pudessem chegar. Enquanto estava lá, procurou por uma tomada próxima, mas não encontrou nenhuma. Seu celular continuaria sem bateria por um tempo.
Retirou a touca para ajeitar os cabelos e notou a mulher saindo enquanto ajustava sua bolsa no ombro.
Olhou para e indicou com a cabeça a saída do local.
Na calçada, onde a agitação das pessoas já tinha diminuido, as duas seguiram em direção à praça mais próxima e continuaram caminhando. não tinha ideia de onde estava, apenas confiava que estava seguindo uma garota que não parava de falar um segundo sequer. Achou engraçado, pois, se não fosse por ela, ainda estaria se organizando em qualquer calçada.
— Então, tô ajudando uma garota que mal sei o nome — a loira comentou com um sorriso amigável no rosto.
respondeu com um sorriso.
— Bom, eu que deveria dizer isso, né? Tô seguindo uma garota que também não sei o nome — a imitou, abraçando o próprio corpo para se aquecer do frio e apertando o casaco. — Pode me chamar de .
— Certo, — repetiu o nome da garota e riu consigo mesma. acompanhou sua risada, achando a achando bastante divertida. — Sou . E é aqui que você vai ficar.
parou diante do pequeno prédio e observou os andares, notando algumas luzes acesas. Respirou fundo e curvou os lábios em um meio sorriso, se voltando para ao seu lado.
Naquele momento, se sentiu um pouco desanimada ao perceber que estaria sozinha outra vez.
Havia acabado de conhecer e ela parecia ser uma ótima pessoa.
— Nem sei como te agradecer — relaxou os ombros. — Obrigada mesmo. Se não fosse por você, nem sei o que estaria fazendo agora.
— Não precisa agradecer. Sério — balançou as mãos. — Vamos combinar assim: se precisar de alguma coisa, é só me ligar. Tenho meu número anotado aqui, pode pegar.
puxou sua pequena bolsa, a vasculhando até encontrar o pequeno pedaço de papel branco. O estendeu para e sorriu em despedida, se virando para ir embora.
Ela encarou os números escritos, guardando o papel no bolso do jeans surrado antes de entrar no prédio.
Na recepção, um senhor de idade estava sentado com um jornal nas mãos, aparentemente concentrado.
— Em que posso ajudar, minha jovem? — ergueu os olhos cansados e sorriu. Por um momento, sentiu seu coração se aquecer com aquele gesto familiar.
— Preciso de um quarto. Se não for pedir muito, o mais barato que tiver, por favor.
Deu um minucioso sorriso amarelo e se aproximou do balcão. Odiava estar naquela situação, sentia que a qualquer momento estaria dependendo de alguém e isso era o cúmulo para ela.
Era triste demais.
— É nova na cidade, não é? — comentou, se dirigindo ao mural repleto de chaves. Ele retirou um par delas, com uma etiqueta preta e estendeu para — Não é nada luxuoso, mas você pode ficar à noite ou quantos dias precisar.
— Perfeito. Muito obrigada — sorriu e tirou a mochila das costas para pagar pela estadia.
Ela começou a contar suas libras, mas parou ao ver o senhor estendendo as mãos, recusando o pagamento.
Estreitou os olhos.
— Não, querida. Não se preocupe com isso agora. Vá descansar e quando estiver de saída poderá acertar comigo — ele piscou e apontou para a escada que levava aos quartos disponíveis.
suspirou aliviada, balançando a cabeça e seguiu para descansar. Não sabia o nome daquele senhor, mas quase quis abraçá-lo pela generosidade.
No corredor, colocou a chave na fechadura e entrou no quarto.
Quando o trancou, se permitiu encostar na porta e escorregar até se sentar no chão.
Se sentia exausta. Cansada, com sono e, principalmente, com saudades de casa.
Se sentia perdida, sem rumo e começava a se questionar se havia tomado a decisão certa ao deixar tudo para trás e embarcar nessa viagem. Seria difícil começar ali, em um lugar desconhecido, sozinha.
Ao estar ali sentada, observou atentamente o quarto em que estava. Era pequeno, mas aconchegante e bem organizado. Havia uma cama com um criado-mudo no canto, uma janela com um móvel embaixo onde uma televisão estava posicionada e uma portinha em frente à cama, provavelmente levando ao banheiro.
Com um impulso dos braços, se levantou e caminhou em direção à cama, onde colocou a mochila pesada. Pegou uma toalha de banho e uma muda de roupa leve, pronta para um banho revigorante.
Respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos.
precisava planejar cuidadosamente como começaria a se manter para não acabar nas ruas ou até mesmo voltando para sua cidade natal. Com poucas mudas de roupa na mochila e poucas libras, estava incerta sobre como as coisas seriam dali em diante.
— Será que foi mesmo uma boa ideia? — murmurou.
Se deixou cair sobre a cama arrumada e sentiu algumas lágrimas aquecendo suas bochechas geladas pelo frio da noite. Estava assustada, muito assustada. Se sentia incerta sobre o que iria acontecer, con medo de passar fome, frio e não ter um lugar para dormir. Tinha medo de que tudo desse errado e acabasse voltando frustrada para Michigan com seus planos arruinados.
Agora, só queria o abraço reconfortante de sua mãe, Lenna. E se ao menos aquilo fosse um pesadelo, desejava acordar.
Fungou algumas vezes e enxugou as lágrimas que teimavam rolar por seu rosto. Não podia se permitir continuar pensando daquele jeito. Tinha ido para Londres com um propósito claro: além de conhecer a cidade, iria se reinventar ali. Planejava crescer e construir um futuro melhor para sua família.
Decidida, balançou a cabeça para afastar os pensamentos negativos.
Pegou suas roupas e seguiu até o banheiro, ansiosa por um bom banho e descanso.
Afinal, aquilo era só o começo e estava determinada a fazer as melhores lembranças na cidade da Rainha.
tinha aproveitado para descansar e preparar seu roteiro, anotando todos os lugares que visitaria e apreciaria. Também havia arrumado suas coisas para tentar deixar sua mochila mais leve, mas não conseguiu.
Como logo deixaria o hotel, não poderia deixar suas coisas naquele quartinho.
Se revirou na cama macia e desarrumada, reunindo coragem para se levantar.
Enquanto permanecia ali, observou um raio de sol sobre sua mão, que entrava pela fresta entre a janela e a cortina fina. O momento a fez sorrir só de pensar que agora era oficial e ela realmente estava em Londres.
era sonhadora. Desde pequena, sempre gostou de imaginar o que faria quando conseguisse sair de Michigan. Vindo de uma família humilde, não tinha o luxo de ter um notebook ou um celular bom para pesquisar sobre os países maravilhosos de que tanto ouvia falar na infância. Se lembrava bem do globo em sua escola, que ela costumava girar com os dedos como se isso a aproximasse de cada cantinho do mundo. Rodopiava o globo, decorando alguns nomes e lugares que imaginava serem bonitos. Mas bastou ter acesso a algo melhor para se apaixonar perdidamente.
se encantou assim que descobriu Londres.
Ao entrar no Maps e explorar as ruas, os bairros e as atrações, soube que aquele seria seu primeiro destino e talvez, o único.
Fechou os olhos por um breve momento e suspirou. As lembranças a faziam pensar em sua casa e na família novamente. Deixar sua mãe e irmã para trás era o que mais apertava seu peito, mesmo sabendo que Lenna havia sido sua maior motivação. Sua mãe sempre desejou o melhor para ela e para Madison, sua irmã.
não estaria ali se não fosse pelas duas.
Se espreguiçou uma última vez e decidiu levantar. Era seu último dia hospedada no hotel e, para ser sincera, não sabia como faria a partir de então. Tinha gastado suas poucas libras em um pouco de conforto e agora o que restava não era suficiente para continuar pagando o aluguel de um quarto.
Resolveu não pensar em seus problemas naquele momento. Estava determinada a conhecer a cidade toda e era isso que faria.
Mas por onde começar? London Eye? Palácio de Kensington? As opções eram tantas…
Decidiu tomar um rápido banho e, ao parar em frente ao espelho, notou sua aparência: o rosto delicado continha algumas olheiras e a pele ainda permanecia bronzeada pelo sol de sua cidade natal. Caminhou enrolada na toalha até o centro do quarto e pegou uma roupa confortável: calça jeans e tênis, como de costume. Era o que ela mais gostava.
Com suas coisas arrumadas e pronta para sair, deu uma última olhada no quartinho e o trancou. Em seguida, dirigiu-se para a escada e foi em direção ao balcão. No hall, viu o senhor da noite anterior.
— Oh! Você está aí — disse ao ver a garota parada, esperando. — Como dormiu? Espero que bem, apesar de nossos aposentos não serem dos melhores.
Ela soltou uma risadinha e balançou a cabeça. — Dormi muito bem, obrigada por tudo — sorriu. — Gostaria de acertar com o senhor os dias em que fiquei, por favor.
agradeceu ao senhor antes de deixar o local. Ele lhe deu algumas dicas sobre onde ir e como chegar, o que a fez agradecer ainda mais. Então, não demorou para ajustar a alça da mochila, pisando na calçada.
Naquele momento, teve uma visão ampla da avenida. Começou a caminhar, tentando observar ao máximo a arquitetura ao seu redor. Os ônibus e carros passavam a todo vapor, enquanto as pessoas andavam apressadas, imersas em seus telefones e outras passeavam sem muita preocupação. Não sabia nem por onde começar, eram muitas informações e coisas para observar ao mesmo tempo.
Ao se aproximar do centro da cidade, conforme indicavam seu mapa e GPS, conseguia apreciar melhor a beleza do local. Havia lojas das marcas mais famosas e algumas das icônicas cabines telefônicas vermelhas, aquelas que costumavam aparecer em postagens no Pinterest.
Deu um pequeno sorriso ao lembrar das fotos que havia pesquisado e ergueu seu celular para fotografar.
Depois de andar um pouco mais, virou em uma das esquinas movimentadas e parou, hipnotizada. Não conseguia acreditar, mas estava ali, diante do Big Ben.
ficou alguns minutos admirando o enorme relógio, até perceber que estava bloqueando o caminho. Assim, decidiu se aproximar lentamente, ainda sem acreditar.
Observava cada detalhe, cada cantinho, maravilhada por estar vivendo aquilo.
No mesmo local, havia uma pequena fila onde um guia turístico estava explicando mais sobre a área. Queria muito poder pagar para participar daquilo, mas não iria desanimar.
seria sua própria guia.
À sua esquerda, podia avistar o London Eye do outro lado do rio Tâmisa. Não pensou duas vezes para pegar o celular do bolso e começou a fotografar, mais uma vez, tudo o que conseguia ver à sua frente.
Enquanto andava, sem se preocupar com o tempo, observava cada banca, cada loja e cada pessoa ao seu redor. Só quando sua barriga roncou alto foi que se deu conta de que ainda não tinha comido nada.
Olhou ao redor em busca de uma lanchonete e avistou uma pequena loja de condimentos, entrando imediatamente.
O lugar era bonito, com decoração colorida e um aroma convidativo. escolheu o que precisava para matar a fome e ficou na fila, esperando a sua vez. E, enquanto isso, não pôde deixar de ouvir um burburinho alto e animado.
No corredor ao lado, um grupo de garotas conversavam animadamente.
De onde estava, conseguiu escutar um pouco do que falavam e não podia negar que se encontrou um pouquinho curiosa.
— Ficou sabendo que eles vão estar na cidade hoje?
— Não brinca! Preciso muito ver isso. Será que conseguimos uma foto? Ou talvez…
Notou que as garotas gesticulavam e falavam como se tratasse de alguma coisa muito importante.
ficou pensando; precisava admitir que quem quer que fosse, estava fazendo sucesso por ali.
Com um pedaço de biscoito na boca, observava seu mapa enquanto caminhava lentamente entre as pessoas na calçada. Na direção em que estava, poderia seguir um pouco mais e visitar o local do London Eye, só ao atravessar a ponte. Ou, se desse meia-volta, poderia visitar a Abadia de Westminster.
Uma dúvida e tanto.
Depois de sair da loja de conveniência, encheu a galeria do celular com fotos de cada lugar que visitava e selfies em frente a eles. Não queria deixar passar a oportunidade de registrar o fato de realmente estar ali. Talvez postasse alguma coisa em suas redes sociais mais tarde.
Decidiu seguir em direção ao St. James Park. Se lembrou que era um dos parques que sempre quis conhecer e, estando ali, poderia visitá-lo quantas vezes quisesse.
Caminhou um pouco mais, com o vento bagunçando seus cabelos e suas mãos apertando o casaco pesado no corpo.
E, discretamente, com um sorriso sincero nos lábios.
A sensação era maravilhosa.
O parque era imenso e extenso, maior do que havia imaginado. As entradas e as árvores enormes eram exatamente como tinha visto no aplicativo. Muitas pessoas estavam ali praticando esportes, como caminhadas, corridas e yoga sobre o gramado.
Assim que se aproximou de uma das entradas, desceu pelo gramado levemente molhado pela garoa que provavelmente havia caído mais cedo.
Cada folha que caía ao chão era memorável. O verde se misturava com as folhas secas alaranjadas que caíam com a chegada do outono. Além das folhas e árvores, havia flores e pássaros por toda parte, criando uma cena digna de filme americano.
Isso a fez apontar a câmera e tirar mais algumas fotos. era apaixonada em fotografar tudo o que pudesse.
A cada passo que dava, notava uma nova entrada levando a diferentes áreas do parque. Havia caminhos que conduziam a lanchonetes ou a pequenas mesas onde alguns idosos jogavam xadrez e conversavam. Se continuasse andando, poderia escolher por seguir para alguma estátua importante ou para a saída mais próxima.
Incrível.
O lugar parecia ter sido projetado com uma minuciosidade impressionante, com cada detalhe bem pensado. Sabia que não conseguiria explorar tudo em apenas uma única tarde.
Depois de mais uma olhada, seguiu em direção à saída mais próxima. Ao parar ali, percebeu que estava em uma avenida bastante movimentada. A maioria das pessoas que passavam estava vestida de forma elegante: ternos, gravatas, vestidos e saltos altos.
E ali era onde tinha um dos maiores e mais impressionantes pontos turísticos, o que fazia qualquer um suspirar; o Palácio de Buckingham.
Absorvida em seus pensamentos, viu um banco próximo e decidiu se sentar.
Retirou a touca de sua mochila, já que, naquele final de manhã, o vento frio a fazia se arrepiar. Era melhor se manter aquecida com o que tinha ali.
Encostou o corpo no banquinho e uma única coisa passava por sua mente; Como seria daqui para frente? Como se sustentaria?
De início, planejava encontrar um emprego decente para cobrir sua estadia e o que precisasse até o final do mês. Era assim que pretendia começar.
Agora, tudo parecia estranho. Incerto demais.
E se não desse certo? E se nada saísse como planejou?
Será que foi a decisão certa?
estava assustada e sentia aquele conhecido aperto no peito.
Sua maior vontade, sendo bem sincera, era voltar para casa. Lá, teria sua cama, alimentação e a companhia da família.
nunca havia se sentido tão sozinha.
Ergueu o rosto e observou o céu através dos galhos das árvores ao redor. Estava cinzento, com algumas nuvens espalhadas.
— Eu posso fazer isso — murmurou.
Respirou fundo e se levantou, tentando se animar.
Decidiu que procuraria uma lanchonete para comer algo, já que se aproximava do horário do almoço. Não poderia pagar um almoço completo, mas pretendia comer alguma coisa.
Cruzou a avenida e, ao chegar à calçada do outro lado, notou a calçada lotada, a fazendo pedir licença para as pessoas ao redor.
Caminhou pela área, observando o comércio local. Tudo era muito bonito e organizado, tendo uma grande quantidade de lojas de roupas. E em uma delas, havia um pequeno aviso na parede de vidro.
A garota decidiu se aproximar, curiosa para descobrir do que se tratava.
Mal conseguiu terminar de ler, já estava anotando o número e o nome do local para entrar em contato rapidamente. Talvez, quem sabe, as coisas estivessem começando a dar certo e aquilo fosse um sinal?
Esperava que sim.
Antes de começar a caminhar novamente, notou uma pequena multidão mais adiante, perto da próxima esquina. A maioria parecia agitada, conversando animadamente.
E na frente daquele grupo, havia uma van preta estacionada.
Se aproximou, curiosa. Será que havia acontecido algo ali?
Notou que entre as meninas que estavam ali, também tinham quatro rapazes.
Eles conversavam animados, sorridentes, parecendo bastante interessados no assunto. Quando comentavam algo, as meninas riam e gesticulavam de forma exagerada. Pelo que conseguia ver, pareciam ser um grupo de amigos bem íntimos.
Para não ser notada, se escondeu perto de uma das bancas na calçada. Precisava admitir que estava muito curiosa.
Encostou seu corpo na lateral da banca e continuou a observar.
Eles tiravam fotos, mostravam algo no celular e, sempre que os rapazes comentavam algo, as meninas pareciam se derreter ao trocarem olhares.
Se lembrou de sua cidade natal. Nunca teve muitos amigos, sempre foi bastante seletiva. Sua única amiga na adolescência havia se mudado para longe e o único contato que mantinham era, ocasionalmente, pelo Skype. Sentia falta dela.
E, principalmente: sentia falta de ter uma amiga presente ao seu lado.
Notou que, com a movimentação, um dos rapazes se virou, permitindo que ela o visse melhor. tinha a impressão de que ele não parecia estranho, mas também não o conhecia de fato.
O rapaz tinha cabelos castanhos ondulados, com algumas mechas caindo sobre a testa. Seus óculos escuros impediam que ela visse seus olhos. O sorriso em seu rosto era cativante; quanto mais olhava, mais sentia vontade de sorrir também.
Precisava admitir que ele era bonito; uma beleza diferente das demais.
Desviou o olhar para não parecer que estava encarando demais. Vagarosamente, como quem não queria nada, voltou a observá-los. Pareciam estar se despedindo agora.
ajustou a touca na cabeça e sentiu um pingo de chuva cair em sua mão, percebendo que começava a chover. Seu coração acelerou de preocupação, pensando onde ficaria ao fim daquele dia, com aquele tempo.
Deu alguns passos para trás, sem notar a máquina de doces redonda a poucos centímetros de si. A máquina quase caiu, mas a segurou rapidamente, começando a se desesperar e logo a colocou de volta no lugar.
Se desculpou com o responsável pela banca, já sentindo seu rosto queimar pela vergonha e fechou os olhos por um breve instante.
O que estava pensando, afinal de contas? Quase causou um acidente, o que certamente chamaria a atenção do rapaz que estava observando antes e aquela não era mesmo sua intenção.
Antes de sair do lugar, lançou um último olhar ao grupo de amigos e ao rapaz.
Agora ele estava encostado à van, com as mãos no bolso do jeans e os óculos virados em direção a .
Desta vez, não tinha o sorriso que havia aquecido seu coração.
Ele estava sério, com a expressão de curiosidade, como se perguntasse a si mesmo quem era a mulher que o observava.
sentiu a vergonha tomar conta de todo seu corpo outra vez.
Engoliu em seco, apertando a alça da mochila e saiu dali o mais rápido possível. Mesmo sabendo que provavelmente nunca mais o veria, estava envergonhada por ter olhado tanto ao que nem era da sua conta.
Contornou a esquina com tanta pressa que não notou.
Nem mesmo percebeu.
O rapaz estava prestes a ir em sua direção.
O final da tarde estava se encerrando, dando lugar ao céu escuro e pontilhado por poucas estrelas de Londres.
havia colocado seu casaco e suas luvas, tentando aquecer seu rosto de forma ineficaz. Era uma daquelas noites em que o frio parecia abraçá-la como se nada no mundo fosse suficiente para esquentar seu corpo. Contou e recontou suas libras, percebendo que não teria como pagar mais um quarto naquela noite.
Poderia até conseguir, mas e os outros dias? Não teria nada, pelo menos até conseguir um emprego.
Sentia que estava começando a ficar desesperada, com sono e fome.
No meio da Great George St., movimentada e iluminada, desejava sentir um pouquinho de esperança.
Queria se convencer de que tudo acabaria bem a ponto de poder ligar para sua família e dizer que havia conseguido. Que havia se estabilizado e tudo estava bem.
Só queria estar feliz.
Mas, só conseguia sentir medo, desespero. Tristeza.
Sabia que teria que fazer algo que nunca havia imaginado antes.
Com o corpo cansado e a mente em um turbilhão de pensamentos, sem nenhuma solução à vista, continuou a caminhar.
Uma pequena viela, um beco mal iluminado pelo horário, a fez olhar.
Se aproximou para entrar, mas parou, se virando novamente para a avenida.
piscou algumas vezes, achando loucura o que havia pensado.
Rapidamente pegou seu celular, deixando cair o papel amassado que estava em seu rosto. Havia um número anotado e se lembrou que era da garçonete que a havia ajudado outro dia.
E se ligasse para ela?
Não. Mal conhecia a garota e não queria incomodar, ainda mais para pedir que a deixasse passar a noite.
Não tinha esse direito.
Mordiscou seus lábios já um pouco ressecados pelo frio e guardou o aparelho, desistindo da ideia. Não poderia fazer aquilo. Não deveria nem considerar o que estava pensando, mas percebeu que, pelo menos naquele momento, seria a única solução.
Claro que não dormiria ali. Mas, talvez, se pudesse descansar um pouco…
Olhou ao redor para verificar se alguém estava observando e entrou.
Não havia ninguém.
observou uma grande lixeira, junto de alguns papéis espalhados pelo chão.
Observou o local e viu um canto relativamente limpo. Ali se sentou, deixando um suspiro alto.
Colocou as mãos no rosto e o pressionou, sentindo o quentinho de suas luvas.
sabia que não ia aguentar. E se seu sonho acabasse em pesadelo?
Parecia que tudo estava prestes a desmoronar.
— Não posso fazer isso — murmurou, outra vez.
O nó começava a se formar em sua garganta. E agora, o choro alto vinha à tona.
Sentiu as lágrimas descendo por seu rosto, enquanto toda sua coragem se esvaía. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Como havia deixado aquilo acontecer?
Fungou algumas vezes, com o rosto ainda molhado, tentando se acalmar.
Não conseguia pensar no que iria fazer; o frio e a fome a atormentavam. Nem mesmo sabia por onde começar e seus pensamentos não se organizavam de forma alguma.
respirou fundo.
E, com toda a preocupação, dor e saudade de casa, sentiu seus olhos pesarem de vez.
Sua mente parecia à beira do colapso, mas o único sentimento que conseguia perceber era o peso na sua nuca, resultado de uma noite mal dormida, praticamente sentada, encostada na parede úmida e suja do beco.
relutava em abrir os olhos, evitando enfrentar a realidade. Desde que teve que dormir sem qualquer tipo de acomodação, havia alimentado a esperança de que tudo não passaria de um pesadelo do qual logo acordaria. Não suportava mais a situação e não imaginava que tudo se desenrolaria daquela maneira.
Se perguntando se realmente havia cometido um erro ao decidir ir para Londres.
Havia planejado sua viagem com cuidado e antecedência, então por que estava enfrentando tanta coisa? Por que parecia que seu sonho estava desmoronando? Não podia ser que tudo estivesse tão errado assim.
Com um suspiro profundo e lento, levou as mãos ao rosto e as manteve ali por alguns segundos, enquanto tentava decidir o que fazer. Não queria desistir, nem mesmo queria voltar para casa e admitir que seu sonho havia se mostrado apenas isso — um sonho. E que sua experiência não havia sido boa como imaginou.
Se sentia frustrada, decepcionada… Triste.
Não sabia até quando poderia suportar.
Ainda com as mãos pressionadas contra o rosto, ela o alisou como se isso ajudasse a acordar por completo. Com os olhos ainda pesados, os abriu e avistou algo que nunca imaginara ver em Londres; lixeiras comunitárias, sacos de lixo espalhados e caixotes. Uma paisagem nem um pouco agradável.
Deixou escapar um resmungo frustrado e, com um gesto rápido, prendeu os cabelos, antes desarrumados, em um rabo de cavalo, se preparando para sair dali o mais rápido possível. Observou suas roupas, já não tão limpas e pensou sobre o que poderia fazer para se limpar um pouco. Talvez comprar algo para comer e parar em uma das lanchonetes que ofereciam um banheiro. Isso poderia ajudar um pouco.
Sim, talvez pudesse encontrar um jeito de sair daquela situação. Precisava tentar.
Olhou ao redor, não vendo quase ninguém e retirou o celular do bolso da mochila para verificar sua aparência. Observou que, apesar de cansada, sua expressão ainda não estava tão ruim e que, mesmo não estando tão limpa quanto queria, talvez passasse uma impressão razoável.
A verdade era que sentia uma vontade incontrolável de gritar pela situação em que se encontrava. Queria ligar para sua mãe e contar tudo o que estava passando, mas sabia que não seria o certo. Não podia simplesmente pedir socorro quando as coisas estavam tão ruins, especialmente sabendo o quanto sua mãe poderia ficar preocupada e querer pegar o primeiro voo para encontrá-la.
Além disso, não podia aceitar mais ajuda financeira; sua mãe já havia contribuído muito para a realização de seu sonho de ir para Londres.
Balançou a cabeça, como se isso pudesse espantar todos os pensamentos negativos e ajustou a alça da mochila nas costas, decidida a sair daquele lugar e retomar sua tour pela cidade da rainha. A simples ideia de voltar ao passeio fez um frio conhecido percorrer seu estômago, confundido com a fome que sentia.
fez uma pequena careta, levando a mão à barriga e seus lábios se entortaram, quase como se estivessem prestes a sorrir. Sim, sorrir. Mesmo enfrentando um dos maiores desafios de sua vida, estava determinada a tirar algo de bom da situação. Faria com que mesmo os piores momentos em Londres se tornassem boas lembranças para seu aprendizado.
Não se deixaria abater.
Ao sair do beco e pisar na calçada, sentiu como se tivesse sido transportada para outro mundo. Observou as pessoas passando apressadas, enquanto outras caminhavam devagar, examinando cada detalhe ao redor — turistas, como ela. já havia notado isso desde o primeiro dia na cidade, mas a cada vez que via a cena, era como se fosse a primeira.
E ela achava isso fascinante.
Com um pouco de insegurança quanto às suas roupas, começou a caminhar devagar, passando por algumas lojas. Só então percebeu que ainda estava perto do centro da cidade, quando viu uma placa indicando a proximidade da Tottenham Court Road.
Olhou admirada para a arquitetura ao redor. Os prédios antigos ainda assim aparentavam ter um charme irresistível; era fascinante. E, enquanto observava, notou os icônicos ônibus vermelhos de dois andares circulando pela rua, exibindo anúncios de novos lugares ou shows de bandas que se apresentariam em Londres.
Assim como os ônibus, havia muitos táxis e uma infinidade de carros. Para , tudo parecia surreal. Era difícil acreditar que realmente estava ali e, por um momento, se esqueceu de tudo o que havia passado até então. A única coisa que lhe vinha à mente era o quanto aquela cidade era diferente de sua pequena Ann Arbor. Embora Ann Arbor não pudesse ser comparada a Londres em termos de grandiosidade, sua estrutura acolhedora e as pessoas conhecidas faziam falta para ela.
Agora, com passos mais animados, olhava para as lojas ao redor enquanto repetia para si mesma que tudo iria se resolver.
Ela conseguiria encontrar um emprego, pagaria por um lugar para morar e, aos poucos, se ergueria em Londres, como sempre sonhou.
caminhou por mais um tempo, aproveitando a oportunidade para entrar em algumas lojas que estavam contratando. Em cada uma delas, se apresentou, na esperança de encontrar um novo emprego. De cara, recebeu um não e nas outras duas tentativas, disseram que entrariam em contato. A rejeição foi imediata, especialmente por saber que suas roupas e seu estado faziam com que todos a olhassem de maneira desconfiada ao entrar em qualquer lugar, especialmente ao falar sobre trabalho.
Sabia que não seria fácil ser aceita.
Soltou um suspiro cansado, pressionando os lábios enquanto erguia a cabeça. Não deixaria isso abatê-la, não naquele momento em que havia decidido tentar algo diferente. Pelo menos naquele dia, se esforçaria para pensar e sentir algo diferente das emoções que a haviam dominado até então.
Olhou ao redor, observando as pessoas que passavam e todo o cenário que um dia sonhou em conhecer. Ela gravava cada detalhe, tentando fixar tudo na memória, como se soubesse que seu retorno à cidade natal não estivesse distante.
Chegar até ali já era uma grande conquista para , mas no fundo, sentia que parte do que sonhou não estava se realizando como havia imaginado, como havia planejado.
Ela sentiu o peito apertar aos poucos ao se lembrar das noites que passou só com a luz do abajur acesa, com um caderninho de anotações em mãos, planejando cada detalhe do que faria ao chegar em Londres. Não pôde evitar um sorriso no canto dos lábios, quase como se aquela antiga esperança estivesse invadindo seu coração mais uma vez. Era reconfortante lembrar de como se sentia como uma adolescente entusiasmada, passando horas admirando as fotos dos pontos turísticos que agora, finalmente, podia ver de perto.
Apesar de tudo, se sentia grata por ter conseguido chegar até ali.
segurou firme as alças da enorme mochila que pesava em suas costas e ergueu o rosto novamente, contemplando o céu azul, salpicado por poucas nuvens. O clima estava ameno e agradável e o vento leve que soprava não incomodava, mesmo que o friozinho do outono ainda se fizesse presente.
O outono ali tinha uma beleza própria, quase encantadora.
Com a mesma determinação de antes, continuou a caminhar pelas ruas movimentadas, mas ao virar a esquina da Regent Street, foi surpreendida por uma movimentação ainda maior e pelo som de música ecoando. Naquele instante, sentiu seu corpo inteiro se arrepiar. Tudo parecia tão surreal. Será que ainda estava sonhando em seu quarto?
Não conseguia definir exatamente o que estava sentindo, mas sabia que seus olhos estavam arregalados e marejados enquanto observava todo o lugar e a decoração da avenida. Parecia que estava vivendo dentro de um filme clichê, rodeada por uma paisagem que qualquer pessoa poderia sonhar, mas com a diferença de que, nos filmes, tudo costuma ser bem mais fácil.
Mas ela não iria pensar nisso.
Com os olhos fixos nos prédios, se concentrava em gravar cada detalhe da rua onde estava. Admirava cada janela e detalhe antigo dos prédios alinhados dos dois lados, percebendo como a cidade era fiel às fotos e ao Street View que tanto olhava. Sempre teve dúvida de que talvez Londres não fosse tudo aquilo que imaginava ou que poderia se decepcionar ao chegar, mas estava completamente enganada.
Londres era tão magnífica quanto havia sonhado.
✈️🎡
Quando viu os raios de sol se escondendo entre as nuvens, sinalizando o fim de mais uma tarde e decidiu deixar de lado as lembranças amargas que a atormentavam desde sua chegada a Londres. Enquanto olhava para as árvores do Queen Mary’s Rose Gardens, parecia que todas as dificuldades que havia enfrentado não passavam de um sonho ruim. Por alguns momentos, era como se nada daquilo tivesse realmente acontecido, como se todo o sofrimento tivesse sido apenas um pesadelo e ela desejava, do fundo do coração, que fosse mesmo.
queria tanto que todos os momentos difíceis — especialmente os de fome e as noites frias e solitárias nas ruas da cidade — fossem apenas um terrível pesadelo. Desejava poder abrir os olhos de uma vez e perceber que estava bem, saudável e feliz, finalmente realizando o grande sonho de visitar a cidade que tanto amava.
Esboçou um sorriso fraco, embora triste, enquanto seus pensamentos vagavam. Se sentia tão ingênua por tudo o que estava acontecendo que, à medida que os minutos passavam, a vontade de observar tudo pela última vez e voltar para casa crescia em seu peito. Queria se acolher nos braços reconfortantes de sua mãe e sentir o carinho atencioso de Madison de novo.
A saudade começava a invadir seu peito por completo.
Fechou os olhos por alguns segundos, se lembrando vagamente do sorriso encorajador de sua mãe ao vê-la embarcar e do aceno breve de despedida de sua irmã.
Como sentia falta da sua família…
passou a mão pelo rosto, tentando afastar as lembranças que apertavam ainda mais seu coração. Terminou o lanche que segurava e descartou o pacote enquanto se aproximava de um banco livre, ainda observando a mesma paisagem. O céu estava ficando mais escuro, indicando que a noite se aproximava.
Sentiu o corpo estremecer ao pensar que precisaria encontrar um lugar para passar mais uma noite, mas decidiu não focar nisso naquele momento.
Ela precisava se concentrar em outra coisa.
Com certa dificuldade, tirou a enorme mochila de suas costas, a apoiando no banco do lado. Abriu e começou a procurar o celular. Sabia que provavelmente a bateria estava baixa e, mesmo o desligando para economizar energia, não havia durado muito. Mas, ela queria, de alguma forma, ouvir a voz de sua família, em vez de apenas ler e responder mensagens com a típica frase de que estava tudo bem.
Tudo bem.
Suspirou, sabendo que essa era a maior mentira que poderia contar.
Ao sentir o aparelho gelado em suas mãos, apertou o botão para ligá-lo. Quando o símbolo da marca apareceu na tela, sentiu um leve alívio por saber que ainda poderia usá-lo por mais algum tempo. Enquanto o celular terminava de ligar, olhou ao redor, observando as pessoas caminhando, algumas conversando entre si e outras, provavelmente, voltando para casa, já que era o horário de saída para muitos. Seus olhos captaram as roupas que vestiam, o modo como andavam e se comportavam.
Ela assentiu para si mesma, confirmando mais uma vez que os londrinos tinham um estilo único e marcante — não havia dúvida disso.
notou que alguns grupos de amigos também passavam por ali, mas foram dois rapazes, que pareciam vigiar os arredores, que chamaram sua atenção. Eles olhavam constantemente para os lados, como se estivessem procurando por algo. os observou até que um deles finalmente cruzou o olhar com o dela, o que a fez se sentir extremamente desconfortável.
Não era um olhar comum; algo nele a fez estremecer.
Desviou o olhar, balançando a cabeça e tentou ignorá-los, voltando sua atenção para o celular que agora exibia o display aceso. Com um sorriso tímido surgindo em seus lábios, rapidamente pressionou o número de sua mãe e logo ouviu os primeiros toques de chamada.
Em poucos instantes, a voz suave de Lenna invadiu seus ouvidos e, no mesmo momento, os olhos de se encheram de lágrimas. Quase deixou escapar um soluço, segurando o choro que tentava transbordar.
— Mamãe… — murmurou quase em um sussurro.
— Meu amor, eu estava tão preocupada com você! — Lenna respondeu em um tom ameno. — Como estão as coisas? Como você está? E como é Londres, querida? É exatamente do jeito que você sonhava?
fechou os olhos, sentindo uma lágrima escorrer ao ouvir as perguntas de sua mãe. Queria tanto dizer que tudo estava perfeitamente bem, que estava feliz e que Londres era tão encantadora quanto imaginava. Mas não.
Nunca imaginou que esses sentimentos fariam parte de sua vida.
Se sentia magoada, decepcionada e arrependida. Tudo isso e um pouco mais. Ouvir a voz esperançosa de sua mãe, ainda tentando incentivá-la, apenas reforçou o que já sabia; queria voltar para casa o mais rápido possível.
— Ah, mãe… Londres é tão linda, tão mágica… Você e Mad iriam adorar, tenho certeza. Toda a arquitetura, a iluminação e principalmente o ar daqui é diferente. Sabe, como as fotos que te mostrei antes de vir — dizia, ainda com os olhos sob o céu escuro e admirava de forma nostálgica as estrelas que iam surgindo. Sua garganta doía, o nó só ia crescendo. — Eu tô bem, tem sido um pouco corrido. Tenho procurado emprego sempre que posso.
Omitiu algumas partes e assentiu consigo mesma ao ouvir a voz surpresa de sua mãe.
— É mesmo? E como tem sido? Sei que é difícil, conversamos sobre isso. Mas confio muito em você, minha filha — suas últimas palavras fizeram levar uma das mãos à boca, como se isso segurasse o choro apertado que insistia em sair. Pressionou os olhos novamente, levando um tempo antes de responder. — Você conseguiu um lugar bom para ficar? Tem se alimentado direitinho? Não se esqueça do café da manhã, é a alimentação essencial para o começo do seu dia — ralhou, soltando um suspiro ao final por saber que não conseguiria chamar a atenção da filha.
— Consegui um lugar, não é um dos melhores, mas eu gosto e não é sempre que consigo me lembrar de comer pela manhã, mas faço um esforcinho — inventou qualquer desculpa rapidamente para não deixar Lenna preocupada e a ouviu concordar do outro lado. — Não precisa se preocupar assim… — disse, deixando sua mente vagar para sua cidade natal.
Por um lado, queria muito contar à sua mãe o que realmente estava acontecendo, queria lhe dizer a verdade e queria saber a opinião dela, mas, por outro… Sabia que talvez só fosse piorar toda a situação.
Lenna faria o impossível para trazer de volta a Ann Arbor ou até mesmo daria um jeito de fazê-la continuar ali. Isso era uma das coisas que a garota não queria, tinha prometido à sua mãe que tudo daria certo e ficaria bem.
Ou pelo menos achou que seria assim.
Nos minutos seguintes, ouviu sua mãe comentar sobre como ela e sua irmã estavam, em como estavam se esforçando para continuar fazendo o restaurante da família continuar funcionando e que Mad fazia seus horários na maior parte do tempo, não por ser obrigada, mas porque queria e de certa forma aquilo fazia um pouco da saudade de se dissipar minimamente. Ouvir aquilo de sua mãe fez chorar um pouco mais, sentindo que mais do que nunca precisava voltar para sua família, mesmo sua mãe lhe apoiando o contrário.
Suspirou mais uma vez, demonstrando a tristeza que invadia seu peito e fazendo assim com que sua mãe percebesse.
— Querida, você está chorando? — perguntou, aflita. murmurou em resposta. — Oh, meu amor… Não fique assim. Você está realizando um sonho, mesmo longe de nós duas. É tão corajosa e valente, . Eu e sua irmã estamos muito orgulhosas de você. Sabe disso, não é?
balançou a cabeça, assentindo como se sua mãe estivesse vendo aquilo.
— Mamãe… — murmurou mais uma vez, limpando o rosto molhado. — Sinto tanta falta de vocês. Tem hora que até penso em desistir de tudo e voltar para casa.
— Você sabe minha opinião quanto a isso. Sempre te receberei de braços abertos, mas minha filha… — pausou, suspirando. — Não desista de seu sonho tão facilmente assim. Você tem tanto para ir longe, tanto para conhecer e viver em Londres. Sempre soubemos que não seria fácil, a vida não é fácil, meu amor. Precisamos passar por tormentos para chegarmos ao momento de paz — disse, calma, fazendo com que sentisse todo o sentimento tomar conta de si. Amava tanto sua família e sua mãe parecia saber exatamente pelo que estava passando, mesmo sem dizer. — Eu amo você, , e também sentimos muito a sua falta, mas saiba que você ainda pode, e eu sei que vai, conhecer Londres do jeitinho que sempre sonhou.
— Você não faz ideia de como eu precisava te ouvir — disse, baixinho, se dando por vencida e deixando todo o choro que segurava vir à tona, fazendo-a suspirar e soluçar por alguns minutos. Sabia que falar com sua mãe não seria fácil, sabia desde o primeiro momento, mas havia sido tão importante para sua jornada ali. Ela precisava.
— Eu amo você, meu amor, e oro todas as noites para que fique bem e que não passe por nada ruim. Sempre te carrego em meu coração — disse, e soube que ela sorria do outro lado da chamada. — Nos ligue mais vezes, tudo bem? Sei que talvez você não consiga pelo fuso horário e pelos afazeres, mas isso não importa. Eu e Mad vamos sempre te atender. Você tem certeza de que está bem, filha?
concordou mais uma vez, passando as mãos pelo rosto de forma rápida.
— Eu tô bem sim, mãe. Não se preocupe. Só senti muita saudade, foi isso — respondeu, pressionando os lábios e deixando um sorriso mínimo transparecer. — Tudo vai ficar bem, como você disse. Vou ser forte e continuar — afirmou mais para si mesma do que para sua mãe. — Eu amo vocês, mamãe. E sempre carrego as duas em meu coração também.
— Ah, meu orgulho! Fique bem, minha querida. E se precisar de qualquer coisa, inclusive na questão financeira, eu dou um jeitinho, tudo bem? E eu estou falando sério, — disse firme, soltando uma risadinha ao final. — Agora tenho que ir. O restaurante já abriu. Fique bem, filha.
— Vou ficar, mãe. Até logo, amo vocês!
Pôde ouvir a mesma resposta de sua mãe em despedida e só conseguiu ouvir o toque final anunciando que havia desligado.
permaneceu na mesma posição por breves segundos, digerindo tudo o que havia acontecido e se sentiu tão acolhida novamente, como se realmente tivesse recebido um abraço de sua mãe.
Quando percebeu, já estava chorando outra vez. Não só por ter omitido tudo o que realmente estava acontecendo, mas por ver que sua mãe ainda a incentivava, tentando lhe ajudar mesmo não podendo.
Não sabia como agradecer.
Continuou sentada no banco do jardim, notando que já estava de noite e o frio do fim do dia se tornava mais evidente, a fazendo desligar e guardar o celular mais uma vez, tirando a touca de dentro da mochila e aquecendo sua cabeça assim que a colocou.
soltou um suspiro enquanto encaixava suas luvas nas mãos, voltando a olhar ao seu redor, percebendo que não havia tantas pessoas como antes e aquilo a alertou por alguns segundos, notando que havia ficado praticamente sozinha no lugar.
Olhou para o lado, observando as luzes que iluminavam o caminho calçado do lugar, no centro do jardim cheio de flores coloridas e árvores as quais suas folhas caíam pelo chão. Com isso, resolveu colocar sua mochila novamente nas costas e partir para um lugar mais movimentando para pensar o que faria naquela noite para poder descansar.
Aquele sentimento de impotência, de desilusão, começava a tomar conta de si novamente, mais uma vez, e em mais uma noite.
O que faria? Todos os seus dias seriam assim ao final?
Não podia continuar daquela forma, não poderia continuar descansando todas as noites em um beco qualquer. Não era o que tinha planejado.
Respirou fundo, pressionando os lábios, como se aquilo pudesse conter seu choro, mas não teve muito tempo para pensar mais sobre o assunto, já que alguns passos começavam a ficar evidentes no local, bem atrás dela.
olhou para os lados, não conseguindo ver ninguém, mas ao olhar para trás, conseguiu avistar os dois rapazes de mais cedo caminhando até ela, com os dois pares de olhos focados na mulher.
Sentiu o coração descompassar.
Será que estava imaginando coisas e talvez fossem apenas duas pessoas caminhando por ali àquela hora? Não sabia, mas sentia seu peito apertar ao notar que eles a seguiam e não faziam questão de passar por ela.
Apressou o passo. andava de forma tão rápida que sentia sua garganta secando na medida em que seus passos eram largos e apressados, evidenciando seu espanto pelo que estava acontecendo.
Pôde ouvir risadinhas e duas vozes invadindo sua mente.
Não. Aquilo não podia estar acontecendo.
— É melhor não correr — um deles falou e percebeu que estavam mais perto do que imaginava. só conseguia ver as árvores que decoravam o caminho até o final do parque, mas não conseguia ver com nitidez a rua em si, indicando o final da calçada.
Queria gritar, chorar, pedir por ajuda, mas sua voz não saía, estava desesperada demais para aquilo.
Uma lágrima caiu, sendo seguida por outras inundando seu rosto e fazendo com que sua visão começasse a ficar turva, impedindo que conseguisse ver com clareza.
nunca, em toda sua vida, achou que passaria por aquilo algum dia.
Não imaginou que acabaria em Londres daquela forma, sem dinheiro direito, sem um teto para dormir e sendo perseguida no meio da noite.
Inevitavelmente sentiu o choro alto vindo à tona, fazendo com que soltasse um murmúrio alto pelo soluço engasgado. Continuava ouvindo os passos, eles zombando e dizendo como a pegariam assim que se aproximassem ainda mais.
Ela só queria encontrar a saída.
Observou a pouca luz no final do corredor de flores e árvores, e conseguiu avistar de forma embaçada as luzes amareladas e coloridas das lojas ainda abertas naquele horário. Praticamente correu em direção à rua, sentindo o corpo tremer de forma tão agitada, apavorada e sem olhar, virou à direita, podendo sentir seu corpo bater em outro de forma violenta.
A outra pessoa soltou um gritinho, fazendo com que caísse ao chão, sentindo o corpo doer pela queda.
Se sentia fraca, debilitada.
Não poderia continuar ali daquele jeito. Depois de tudo aquilo, havia decidido.
Voltaria para Ann Arbor na primeira oportunidade que tivesse.
Ainda no chão, deixou que suas lágrimas continuassem caindo e como se sua ficha tivesse caído por completo, o choro alto e desesperado ecoou, a fazendo colocar as mãos ao redor dos joelhos, os abraçando e afundando o rosto entre seu colo e as pernas.
Não aguentava mais, era demais para suportar.
Não era forte como sua mãe havia dito e nem mesmo conseguiria continuar.
sentiu o corpo ceder aos poucos, não sabendo ao certo o que estava acontecendo. Mas estava completamente fraca e a queda só mostrou o quanto estava mesmo debilitada.
— ? — ouviu a voz ao longe, sentindo os olhos pesarem por todo o cansaço e esforço feito. Ela ainda chorava. — , é você?
A garota ergueu o rosto, passando uma das mãos em uma tentativa de limpar suas lágrimas. Aos poucos conseguiu avistar um rosto feminino ficando nítido à sua frente. Conseguiu ver as mechas loiras caindo sob seus ombros, o casaco pesado abraçando seu corpo e o olhar aflito em seu rosto. Aquela não era…
— ? — sussurrou. — O que… Eu… Me desculpa — continuou murmurando até avistar a garota ajeitar suas sacolas de compra nos braços e abaixar em direção a , colocando as mãos em seu braço, a ajudando a se levantar.
— Ei, fica calma. O que houve? Por que tá chorando? — perguntou, aparentemente preocupada e deu uma olhada geral em , como se realmente já a conhecesse há tempos. — Você tá bem?
— Eu… — a morena não sabia nem por onde começar. Estava tão atordoada, tão perdida… Só queria entrar no primeiro avião disponível para sua cidade. — Sinto muito ter esbarrado em você. Não foi minha intenção, eu só…
Fungou. Uma, duas, três vezes. E aí, voltou a chorar desesperadamente, abraçando seu próprio corpo.
a olhou, engolindo em seco e fez o que sequer esperava de alguém tão cedo por ali.
A abraçou.
ficou parada por um tempo, sentindo o corpo amolecer pelo contato e isso fez com que todos os sentimentos guardados a sete chaves, que insistia em manter para que não a tirassem do chão viessem à tona de uma vez por todas.
Isso fez seu choro ficar ainda mais alto.
— Não precisa se desculpar, tá tudo bem, de verdade — disse abafado por ainda estar abraçada à garota. — Não sei o que aconteceu, nem mesmo precisa me contar se não quiser, mas pode colocar pra fora. Vai te fazer melhor — continuou dizendo e deu pequenas batidinhas nas costas de . Isso fez a garota se sentir reconfortada aos poucos, com seu choro amenizando. — Tudo bem agora?
balançou a cabeça, tentando demonstrar que estava ficando melhor.
Nos segundos em que se recompunha aos poucos, deixou os olhos caírem na garota ao se afastar e observou que provavelmente havia acontecido algo não tão bom com ela, já que de fato não parecia igual como a tinha encontrado da última vez. parecia cansada, exausta e perdida.
Completamente perdida.
— Você tá com frio — murmurou para si mesma ao observar tremer aos poucos. tirou seu cachecol, esticando em direção da garota.
a olhou surpresa e continuou a observando, antes de pegar e enrolar em seu pescoço rapidamente. a observou.
— Não sei o que tá acontecendo e como disse, não precisa me falar se não quiser, mas… Por que chorava desse jeito? Confesso que fiquei preocupada.
permaneceu com os olhos em cima dela e ao ouvir sua pergunta, abaixou o olhar, começando a mexer nervosamente nas pontas soltas de seu mais novo cachecol.
— , eu… — tentou começar, sentindo as palavras se perdendo ali mesmo.
A loira balançou a cabeça com sua reação e sorriu mais uma vez, mostrando que não havia problema. Com isso, colocou uma das mãos sobre as de .
— Olha, tá tudo bem, mesmo. Só fica mais calma, ok? — disse, ainda sorrindo. — Eu tô indo pra casa agora e adoraria companhia. O que me diz? Sei fazer um chocolate quente incrível, ainda mais nesse frio.
Soltou uma risadinha, como se aquilo fosse animar a outra de alguma forma.
engoliu em seco, se sentindo estranha com o convite por estar tão mal vestida e suja.
Sorriu sem graça.
— Eu adoraria, mas…
— Por favor, podemos conversar melhor e olha… Não vou conseguir comer essa torta de maçã inteira sozinha. Vou precisar de companhia — piscou, levantando uma das sacolas para mostrar a , que instantaneamente sentiu sua barriga roncar.
Pressionou os lábios ao ver ainda sorrindo para ela.
— Não quero dar trabalho, . Obrigada, de verd...
— Não, não. Não aceito um não como resposta — disse, cortando e se posicionou ao seu lado, entrelaçando seu braço livre com o dela. Isso fez tomar um pequeno susto. Não esperava que mulher a recepcionasse daquela forma, ainda mais por ela estar mesmo suja. — Vamos! Eu nem moro tão longe assim.
Observou o olhar da garota sobre si, tão amigável e acolhedor que sentiu seu coração se aquecendo aos poucos por perceber que ainda havia pessoas boas e verdadeiras por ali.
havia salvado sua noite naquela hora.
balançou a cabeça, assentindo ao pedido da garota e caminhou com ela de volta pela Regent Street, enquanto fazia questão de contar cada mísero detalhe da avenida em si, ainda mostrando novamente tudo o que havia visto mais cedo, quando o sol ainda estampava boa parte do lugar.
Naquela pequena conversa que tiveram, percebeu que tudo o que havia sentido anteriormente em meio ao seu choro desesperado havia amenizado e agora começava a ficar levemente ansiosa por tudo o que ouvia.
Caminharam um pouco depois da Regent, pegando a Grosvenor St. em direção à Bayswater Rd., onde, de acordo com , era um dos caminhos mais fáceis e rápidos de chegar ao seu querido e aconchegante bairro, Shepherd’s Bush, que não era tão afastado assim do centro de Londres.
percebeu todas as luzes que iluminavam aquela fria noite e todo o trânsito pelo horário que provavelmente todos saíam de seus trabalhos.
comentava que o caminho andando até seu bairro era um pouquinho longe, mas as duas não notaram que havia passado tão rápido pela forma que conversavam. Na verdade, a única que falava o suficiente pelas duas ainda era , já que se sentia um pouco retraída por estar sendo recebida tão bem.
A garota ao seu lado parecia um raio de sol, de tão animada e receptiva que era, e isso só ajudava ainda mais a se esquecer de todas as suas preocupações e problemas que a atormentavam.
E aquilo havia sido suficiente para que a vontade de ir embora de Londres sumisse aos pouquinhos, sem que percebesse.
A calçada estava com várias folhas secas espalhadas.
brevemente se sentiu dentro de um filme ao ver o apartamento de dois andares à sua frente, com a pequena escadinha logo na entrada.
, observando a feição agraciada da garota, sorriu consigo mesma.
— Só vou pedir pra não reparar a bagunça. Não sou uma das pessoas mais organizadas — soltou uma risadinha fraca, encolhendo os ombros enquanto tirava de sua bolsa a chave do lugar. continuou no mesmo lugar, ainda observando. — Você não vem?
Isso a fez despertar de todos os seus pensamentos, concordando com e seguindo em direção a ela. Quando adentrou, fechando a porta atrás de si, observou o corredor estreito, dando para uma outra escada ao final, indicando a ida para outros andares. O lugar não era extravagante, nem mesmo espaçoso, mas era organizado e inteiramente limpo. estava encantada.
Subiu as escadas com cuidado e, no segundo andar, parou em direção à porta branca logo atrás de , que a abriu com um pouco de dificuldade por conta das sacolas. Quando logo reparou, foi em direção a ela.
— Deixa que eu te ajudo.
Pegou algumas sacolas em suas mãos, as segurando, quase às abraçando e esperou que indicasse um lugar para colocar. A garota deixou sua bolsa pendurada logo ao lado da porta e retirou o casaco, sorrindo ao ver parada, um tanto tímida.
— Pode colocar as sacolas em cima da bancada, por favor — apontou para a bancada de mármore da cozinha, que fazia divisão com a pequena sala. Observou atentamente que o apartamento não era grande e era bem estreito, mas toda a arrumação minimalista e colorida dava um toque especial, e não fazia parecer que era mesmo pequeno. — Você quer tomar alguma coisa antes do chocolate? Vou só arrumar as coisas da despensa.
— Eu gostaria de um pouco de água, por favor — disse baixo, mas o suficiente para que a ouvisse e logo trouxesse um copo de água em temperatura ambiente. tomou de forma tão rápida que nem percebeu que a garota ao menos havia se retirado.
sorriu mais uma vez e seguiu para arrumar as coisas rapidamente para logo fazer o chocolate que tanto havia dito para .
Queria deixar a mulher o mais confortável possível.
Quando voltou com as duas xícaras cheias do líquido, ainda saía uma pequena fumaça. Chegando ao centro da sala, conseguiu observar que se mantinha encostada no sofá, como se seu corpo estivesse sendo consumido pela maciez do móvel.
Notou que ela parecia realmente cansada e se perguntou o que havia acontecido para que chegasse àquele ponto.
— Você parece cansada — mencionou, depositando sua xícara em cima da mesinha de centro e estendeu a outra para .
A morena a olhou, pegando o objeto.
— Obrigada — agradeceu, sorrindo fraco e deu uma leve soprada no líquido para esfriar. Com isso, olhou da xícara para . — Eu… Eu tenho estado bem exausta, na verdade.
— Você quer falar sobre isso?
ponderou por alguns instantes e respirou fundo, depositando o chocolate em cima da mesinha de centro. Colocou as mãos na abertura de seu casaco, o ajeitando em seu corpo e se sentou de forma correta, se preparando para falar um pouco do que havia lhe acontecido.
— Eu vim pra Londres conhecer a cidade, sempre foi meu sonho. Mas parece que as coisas não saíram exatamente como planejei — mencionou, olhando para suas mãos, que se remexiam de forma nervosa. — Sabe, achei que realmente tinha visto tudo da forma certa, que não havia esquecido nada. A verdade é que tudo saiu de controle e eu tenho passado pelo pior… — sentiu a voz embargar e os olhos arderem com todas as lembranças. — Tenho me sentido tão perdida… Sinto que fiz tudo errado e a única coisa que consigo sentir é o arrependimento de ter saído de casa, mesmo com o apoio da minha família. Eu deixei... — não conseguiu continuar já que sentiu as lágrimas ressurgindo em seu rosto.
olhava a cena de forma atenta e na medida que ia falando, sentia seu coração se apertar, já fazendo ideia do que poderia ter acontecido com a garota. Realmente deveria ser muito complicado.
— Desculpa, . Você não merece ouvir nada disso.
— Tá tudo bem. Não precisa se desculpar — repetiu, sorrindo de canto. Esperou alguns segundos e se levantou, se sentando ao lado de no sofá, que a olhou enquanto enxugava o rosto. — Pode falar no seu tempo, se acalma. Olha, toma um pouco, vai esfriar.
Apontou para a xícara em cima da mesinha e a pegou, bebericando um pouco do chocolate. Com isso, sentiu seu estômago se aquecer gradativamente e agradeceu aos céus naquele momento por se alimentar, mesmo que só com algo líquido.
Fechou os olhos brevemente e os abriu.
Notou que ainda a olhava, como se esperasse o restante de sua história, mas ver o olhar de pena sobre si causou um novo sentimento. não queria ser vista daquela forma, não mesmo.
Respirou fundo, terminando de beber.
— Obrigada pelo chocolate, . Acho que já te atrapalhei demais. Agradeço novamente por ter me ajudado essa noite — mencionou, limpando o rosto com as mãos e se preparou para se levantar, ficando de pé ao lado da garota, que a olhava curiosa.
não entendia ao certo a reação de , mas sentia que algo estava errado. Na verdade, ela sentia que poderia ajudá-la de alguma forma. Não sabia exatamente o que era aquilo, mas no fundo viu um pouco de si em .
Um pouco do sonho que sempre teve de viajar o mundo e nunca teve coragem para realizar.
— Espera um pouco — ergueu o indicador para que esperasse no mesmo lugar e seguiu até o armário ao lado do banheiro, o cantinho em que guardava coisas que usava raramente quando precisava. — Sei que não é muito e sei que, por enquanto, não vai ser tão confortável, mas… — dizia alto por estar longe e aos poucos sua voz foi ficando mais presente, misturada ao barulho de algo sendo arrastado. retornou à sala com um colchão fino, porém aparentemente novo e voltou ao quartinho novamente, trazendo um travesseiro e algumas mantas.
olhava toda a cena paralisada, sem entender o que acontecia.
— O que é isso? — perguntou, sua voz começando a ficar falha.
— Você me contou por alto, mas consegui captar algumas coisas — começou, enquanto caminhava de um lado para o outro, retirando a mesinha de centro do meio da sala e arrastando o colchão até ali, arrumando para . — Quando nos esbarramos, você tinha estampado nos seus olhos que estava mais do que perdida e quando te vi chorando daquele jeito, percebi que tinha algo fora do lugar. Você tem olheiras debaixo dos olhos, sua expressão é mais do que só cansaço, … — mencionou, se aproximando da mulher. — Sei que isso tudo parece estranho e tudo bem se não quiser dormir. Sou uma desconhecida pra você, certo? Mas sinto que preciso te ajudar de alguma forma. Se você quiser, claro — dizia, sorrindo de forma reconfortante para a garota. sentia um nó se formar em sua garganta. — Sabe, nunca fui de fazer amizade fácil e nunca tive muito apoio também, mas pelo que você me contou, tem alguém torcendo por você, né? — mencionou, fazendo a outra pressionar os lábios ao sentir o peito comprimir com o comentário. — Se você não se sentir confortável, tudo bem ir embora amanhã, mas se não quiser, acho que podemos ser boas amigas. O que me diz? Não precisa dizer nada agora, claro. Só descansa, ouviu? O banheiro fica naquela direção no corredor e tem algumas toalhas na prateleira. Ah! Vou deixar uma muda de roupa pra você também, tá? Descansa — Apontou na direção do banheiro e voltou seu olhar para , sorrindo abertamente, demonstrando a simpatia que vinha percebendo todo o caminho até o apartamento de .
Notou que a garota era muito verdadeira e parecia realmente querer ajudar de alguma forma.
não respondeu. Balançou a cabeça, assentindo e observou indo até a cozinha, cortando um pedaço da torta e depositando em um prato, logo levando em seguida para a garota.
Ela colocou em cima da mesinha de centro, que agora estava em um canto junto à outra xícara de chocolate. também não falou nada, apenas deu outro sorriso para ,
tentando demonstrar que tudo ficaria bem e seguiu em direção ao seu quarto, fechando a porta depois de ir até o banheiro ao deixar a muda de roupa.
ficou parada no mesmo lugar por um tempo, digerindo tudo o que havia lhe acontecido nas poucas horas e que, pelo menos naquela noite, teria um lugar seguro para dormir. Deixou seus olhos pousarem no colchão próximo aos seus pés, nas mantas dobradas e no travesseiro que lhe aguardavam.
Sentiu os olhos arderem.
Não sabia nem o que dizer, muito menos como agradecer. havia sido tão humana que a única coisa que conseguia sentir era seu coração se enchendo e as lágrimas transbordando em seus olhos, em um choro fraco e emocionado.
Ela, naquela noite, teria o que comer e onde dormir, e toda a situação havia sido o suficiente para que algo balançasse em sua mente antes de dormir.
Será que, pela primeira vez, tudo aquilo era o destino querendo lhe dizer algo?
A verdade era que, ela não queria voltar para sua realidade e saber que tudo o que havia acontecido ao final do dia anterior, havia passado apenas de um sonho.
Deixou que seus olhos continuassem fechados.
Pôde sentir o conforto do lugar em que estava deitada tomar conta de seu corpo mais uma vez e deixou que, por breves segundos, sua mente voasse para todos os acontecimentos desde que havia chegado à Londres.
Um arrepio lhe correu pela nuca.
Ao se lembrar da noite anterior, em que seu coração batia descompassado junto das lágrimas grossas que caíam por seu rosto, ainda sentindo o frio avassalador da cidade, desejou profundamente que tudo aquilo não tivesse passado de um pesadelo.
Um pesadelo horrível.
Foi inevitável não lembrar de quando fazia seus planos, tão imersa no sonho de visitar a capital da Inglaterra, achando que tudo realmente aconteceria como havia planejado em seu quarto.
queria voltar no tempo. Queria voltar para tentar ver onde é que havia errado para chegar àquele ponto.
Respirou fundo.
Deixou que a mão próxima a seu rosto cobrisse seus olhos da pequena claridade do cômodo em que estava e quase não percebeu quando os pássaros começaram a cantar ao lado de fora, a fazendo despertar por completo.
piscou vagarosamente. De primeira, avistou o teto claro da sala. O silêncio impregnava o cômodo, deixando evidente apenas o assobio das aves e o barulho do trânsito próximo dali.
Se perguntou se era um sonho. E, para ser sincera, desejou no fundo de seu coração, pela primeira vez, que aquela fosse sua realidade.
Sentindo a paz, o conforto de não ter nenhuma preocupação naquele instante, pôde sentir seus olhos marejando levemente. queria sorrir e dizer que, a partir daquele momento, depois de alguns dias turbulentos, tudo iria ficar bem.
Era o que queria muito acreditar.
Mas, algo parecia lhe incomodar ao ponto de saber que aquilo era apenas temporário.
Deixou outro suspiro pesado escapar de seus lábios. Olhou para o lado, podendo ver o cômodo límpido e reconfortante do apartamento de . O lugar em si era minimalista e não tão grande, mas suficiente para que se sentisse um pouco segura.
A sala era ligada diretamente à cozinha, sendo separada apenas por um estreito balcão de mármore claro, que continha algumas banquetas altas para quem quisesse desfrutar de alguma refeição ali. As panelas coloridas permaneciam penduradas à parede quebrando um pouco do branco do lugar e na geladeira, algumas fotos polaroids estavam presas à ìmãs.
ficou curiosa.
Pensou em vê-las mais de perto, mas ao mesmo tempo, se deu conta de que seria invadir demais a privacidade da garota que nem mesmo conhecia direito.
Ergueu o corpo para uma visão melhor do apartamento. Só então notou que provavelmente não estaria por ali, já que não conseguia ouvir qualquer resquício de outro barulho no local.
abraçou o próprio corpo ao notar que estava sozinha. Mesmo que soubesse que não estaria correndo tanto perigo assim ali, no fundo de sua mente, as situações anteriores a faziam se lembrar de tudo o que havia passado desacompanhada desde que havia pousado em Londres.
O medo, a insegurança e o desespero ainda se faziam presentes na garota.
Ela puxou a almofada colorida, a abraçando como se sua vida dependesse daquilo.
fechou os olhos com força, desejando que todo aquele misto de sentimentos dissipasse dela o mais rápido possível.
E tentou assim, focar sua atenção em qualquer outra coisa que não fosse a sensação ruim. A que começava a lhe consumir aos poucos, sufocando minimamente…
— ?
Não notou quando o molho de chaves balançou à porta, nem mesmo quando os passos agitados de adentraram o cômodo. Só conseguiu ouvir seu nome ser chamado, a tirando de todo aquele devaneio.
A garota ergueu a cabeça, tentando focar na silhueta de , mesmo tudo estando um pouco turvo ao seu redor.
— Você acordou! — disse, animada. Como não obteve resposta da que estava sentada, se aproximou. — Tudo bem? Não dormiu como queria?
observou a figura de sentando a seu lado e encostando o corpo no sofá, deixando toda sua atenção preocupada voltada para .
— Ah, não é isso — disse, gesticulando. Logo, ajeitou o corpo. — Dormi bem sim, agradeço muito por ter me deixado ficar aqui essa noite.
— Que isso. Não foi nada — sorriu de canto. — Não te chamei quando fui trabalhar, você parecia tá em um sono daqueles — deixou uma risadinha fraca escapar. sentiu as bochechas enrubescerem. — Mas fico feliz que tenha descansado um pouco.
não se deu conta de que horas eram, apenas arregalou os olhos com a menção que havia feito de seu descanso.
— E que horas são?
— Quase uma da tarde — respondeu.
— Caramba! Eu… — levou uma das mãos à boca, em espanto e olhou ao redor, procurando por suas coisas. — Sinto muito, mesmo. Não imaginei que ficaria por tanto tempo. Devo ter incomodado o bastante já — continuou dizendo, levantando do sofá às pressas. ainda a olhava. — Agradeço muito, de coração mesmo, . Obrigada por ter me acolhido essa noite.
— E onde você pensa que vai?! — questionou, olhando a outra com as coisas nas mãos.
— Não posso ficar ocupando seu espaço sem ao menos poder ajudar em algo… Você já fez muito por mim, mas acho que agora preciso ir — disse, um tanto incerta.
A verdade era que havia sido ótima para ela naquela noite, lhe oferecendo comida e um lugar para ficar, mas sentia que iria abusar demais ficando ali por mais algum tempo, mesmo a outra se oferecendo para isso, sem contar que o principal era o fato de que mal a conhecia.
— Eu vou entender perfeitamente você não querer ficar, mas … Você tem mesmo pra onde ir?
A pergunta da garota fez com que parasse onde estava, pensando para onde é que iria ao sair dali. Não tinha opções, para ser sincera. Ao menos tinha com certeza um lugar para dormir naquela noite.
Deixou que seu olhar caísse sobre , sem saber o que lhe responder.
Ela não tinha resposta para aquela pergunta.
— Não. Não tenho outro lugar. Mas , só vou te atrapalhar aqui. Olha só pra mim — apontou para si mesma. permaneceu em silêncio. — Fiz um planejamento completamente errado pra vir à Londres procurar uma vida melhor. Não tenho dinheiro, um emprego, nem mesmo tenho roupas decentes… Vou acabar atrapalhando sua vida e rotina. Nem mesmo me conhece pra isso…
Sussurrou a última frase, já sentindo a garganta apertar em um nó pelo aglomerado de emoções que lhe invadiram o peito e desviou o olhar da outra.
Seu peito ardia.
Não queria receber um olhar de julgamento, muito menos de pena. Aquilo era o cúmulo para ela.
O silêncio permaneceu e estranhou.
Pressionou os lábios e voltou a olhar para , que a observava como se estivesse esperando por mais.
O olhar de aflito e desesperançoso fazia com que quisesse insistir ainda mais em ajudá-la. Não por pena ou qualquer compadecimento, mas por ver que dentro da garota, havia um objetivo enorme a ser conquistado.
Um objetivo que fazia acreditar que ela ainda conseguiria alcançar.
Se aproximou, colocando as mãos nas laterais de e sorriu de canto.
— E é por isso que acho que você deve ficar aqui — respondeu, simples. — Você aceitou estar aqui sem ao menos me conhecer. Confiou em me contar sua história e mostrar o quão decepcionada você tá — a afagou. — Não é sobre conhecer alguém ou não. É sobre apoiar uma causa, um sonho.
— …
— Como eu te falei, , vou entender muito bem se quiser sair por aquela porta — apontou para a porta amadeirada branca. — Mas quero que saiba que você tem um lugar pra ficar e uma nova amizade a conquistar.
abriu os braços, demonstrando que aquele poderia ser seu novo lar. a olhou, sem saber ao certo o que lhe dizer. Seus olhos já estavam marejados e ao ouvir a garota por completo, sentiu uma lágrima escorrer por sua bochecha. Não sabia o que tinha feito para merecer aquilo, nem mesmo se era apenas temporário.
Mas algo em seu coração a fazia crer que valeria a pena tentar.
Com rapidez, limpou a lágrima teimosa e respirou fundo.
— Prometo que vou arrumar um emprego o mais rápido possível pra te ajudar.
Disse, sem pensar muito.
franziu o cenho e após, soltou uma risada fraca.
— Não precisa se preocupar. É só uma questão de tempo até tudo se organizar. Você vai ver. Não tem tempo ruim que dure para sempre, . A frase fez com que olhasse para a garota por alguns segundos, sentindo o coração aquecer gradativamente dentro do peito.
Só não notou, naquele momento, que o resquício de esperança que estava lhe dando, fazia com que o impulso enorme para que voltasse a acreditar em seu sonho voltasse a crescer minuciosamente em seu coração.
— E então, minha nova roommate, o que acha de irmos almoçar? Eu tô morrendo de fome! — perguntou, levando as mãos em direção à barriga. — Não tenho nada pronto aqui mesmo. Podemos comer em algum lugar e aí, começamos uma pequena tour pela cidade da rainha! Vamos?! Por favorzinho…
— Eu que devia implorar assim, não? — perguntou, fazendo graça, ainda que um pouco retraída. — E claro que podemos! Eu só vou, hm… Preciso tomar um banho e trocar de roupa, mas não sei se tenho algo quente o suficiente pro frio de hoje.
— Isso não é problema. Vou separar algumas peças pra você, ok? Agora vai! Não vou aguentar muito tempo!
E então, a empurrou em direção ao banheiro e riu fraquinho com o desespero da outra, sentindo o coração ser afagado aos poucos pela receptividade e gentileza que estava recebendo ali.
— The Kooks?
— Ah, eu até gosto, mas não ouço muito. Hm, deixa eu ver… Midland?
— Meu Deus! Você gosta de música country — soltou uma gargalhada, deixando cair um pouco do recheio do churros que comia. — Ai, droga.
— Você quer reclamar do meu gosto musical e acha que o universo vai ficar quieto com isso? É a lei do retorno, — respondeu, rindo junto da outra garota.
— Pra ser sincera, achei que fosse falar sobre qualquer outro gênero musical, menos… Country. Sei lá, Arctic Monkeys ou Sum 41?
— Agora você me pegou. Fico com os dois — respondeu, convencida. — E você conhece essas duas bandas? Achei que o seu negócio era pop, coisa de boyband, sabe? One Direction e 5 Seconds Of Summer.
riu mais uma vez e concordou, mordiscando mais um pedaço da comida que segurava. Enquanto as duas caminhavam em direção ao centro da cidade, o vento leve do frio que fazia aquele horário acariciava a pele de , a fazendo apertar um pouco mais o casaco que vestia.
Queria sorrir um pouco mais. Se sentia quentinha, confortável. havia lhe emprestado uma jaqueta aveludada e não fazia ideia de quantas vezes a havia agradecido por isso.
Respirou fundo, desfrutando do fim de tarde que a paisagem londrina conseguia lhe fornecer e observou as pessoas a seu redor que passeavam ora despreocupadas e ora com pressa até demais.
— Olha ali! — disse um pouco mais alto, apontando um pouco mais a frente. Queria lhe mostrar um dos pontos turísticos que estavam mais próximos. — Você passou por aqui desde que chegou? Esse é o Royal Albert Hall, conhece?
— Eu visitei o outro lado do Hyde Park — apontou, olhando para o lado oposto.
Assim, voltou a observar o lugar que havia lhe falado. Era enorme. Sua arquitetura era um pouco antiga, fazendo jus a quase toda parte de Londres.
Olhou para cima, observando o pouco sol fazer contraste com parte do salão e se sentiu maravilhada ao conseguir ver cada pequeno detalhe tão perto assim. — É incrível… Pessoalmente é ainda maior.
deixou uma risadinha fraca escapar com o deslumbre da garota. Ela parecia estar presa em um sonho.
— É sim. Costumam ter vários shows aqui. Dos grandes. Você ia gostar.
— É mesmo?! — perguntou, animada. — Teve algum recente? Você veio? — Você conhece McFly? — a olhou, ainda caminhando ao redor do lugar. parecia pensativa. — Everybody wants know your name…
A garota cantarolou e sorriu nostálgica com aquilo.
— Eu conheço essa. Uau. Dá pra acreditar?
— O que? — pressionou os lábios, contendo outra risadinha.
— Eu tô em Londres! — abriu os braços, eufórica. A outra continuou a observando. — Em frente a um local que o McFly se apresentou. Vai, tira uma foto minha?
assentiu rapidamente.
— Claro que eu tiro. Fica ali e se posiciona — apontou para a entrada do lugar que, naquele horário, estava fechada e ficou ao centro, colocando os braços no ar e apresentando um sorriso para lá de cativante.
Ao ver a cena, antes mesmo de clicar para tirar a tão querida foto, sorriu como ela, animada como tal.
Tinha a sensação de que se daria muito bem com .
Depois de algumas fotos, risadas contagiantes e expressões em surpresa, as duas caminharam um pouco mais por Kensington, rodeando o bairro sem qualquer pressa e assim, resolveram visitar corretamente o Hyde Park.
havia explicado a que estava tentando fazer aquilo no dia anterior, quando houve todo o problema que a levou esbarrar em , mas a garota informou que era para ela esquecer o que havia acontecido.
Hoje, ela iria conhecer o Hyde Park como se fosse a primeira vez.
— Você pode escolher qualquer entrada. Cada uma delas te leva a um lugar específico dentro do parque — disse, tentando ser o mais minimalista possível com sua explicação. Queria que gravasse cada detalhe. — Podemos ir pela principal, que é um pouco mais ali na frente — apontou, para alguns metros depois, onde algumas pessoas caminhavam e adentravam o local, desacompanhadas, com alguém e até mesmo com animais de estimação. — Ou, entrar por umas dessas aqui mesmo.
— O que você me aconselha?
sorriu, segurando o pulso de com leveza.
— Vem. Acho que você vai gostar do que vai ver.
As duas saíram caminhando para dentro do parque, sendo rodeadas por árvores esverdeadas e folhas secas espalhadas pelo chão. Alguns ciclistas passavam por elas e conseguia se sentir, ainda, dentro de um filme.
Tudo parecia surreal demais.
— Não parece um papel de parede de computador? — perguntou, fazendo graça. apenas balançou a cabeça, ainda encantada com a vista que aquele corredor enorme lhe fornecia.
Quando andou um pouco mais, observou algo que lhe deixou sem ar.
— Aquele é o lago do parque? — apontou, voltando a olhar para . A outra sorriu abertamente, assentindo e bateu palmas levemente, deixando ainda mais animada.
— É sim! Foi o que falei que você iria gostar. E tá ainda mais bonito por conta do…
parou de falar assim que o celular começou a tocar no bolso do sobretudo. A garota franziu o cenho, soltando um resmungo ao ler o provável nome estampado no visor do aparelho.
Ela não parecia muito satisfeita.
— Tá tudo bem? — perguntou, baixo.
— Ah, sim. Não se preocupa, não é nada demais. É só o meu chefe. Vou precisar ir ao trabalho rapidinho — soltou um muxoxo, olhando ao redor. Assim, retornou o olhar para que parecia até curiosa demais. — Ahn, , por acaso você se importaria se eu fosse lá rapidinho e voltasse?
— Claro que não! Posso ficar por aqui e caminhar um pouco.
ouvir a garota comentar, mas algo em seu olhar parecia querer dizer outra coisa. Observou que começou a segurar seus próprios dedos, como se estivesse ficando nervosa com o fato de que ficaria sozinha ali outra vez.
Com isso, levou a mão livre em direção ao ombro da garota, apertando levemente o local.
— Não se preocupa. Vou pegar um táxi, não devo demorar mais que quarenta minutos. Você anotou meu número, não foi? Pode me ligar se acontecer qualquer coisa — piscou, deixando um sorriso fraco surgir em seus lábios, tentando passar tranquilidade para sua mais nova amiga.
não respondeu.
— Olha, sei que com certeza foi muito complicado estar aqui ontem, passando pelo que você passou, mas tá tudo bem agora, tá? Você não tá mais sozinha.
Você não está mais sozinha.
A frase ecoou pela mente de , fazendo com que seu coração apertasse levemente dentro do peito. Se sentiu acolhida e abraçada, sem mesmo que precisasse fazer tal.
Não imaginava que precisava tanto ouvir algo como aquilo.
— Vai ter alguém te enchendo o saco pelo tempo que estiver aqui — riu nasalado, fazendo uma careta. a acompanhou. — Já volto!
Assim, se afastou, deixando ali, dentro do Hyde Park, sentindo o vento acariciar sua pele uma outra vez. queria agradecer, mas sabia que entendia aquilo, mesmo sem precisar dizer algo.
Respirou fundo, limpando a garganta e mordiscou o lábio inferior, virando o corpo para observar melhor a paisagem ao seu redor.
Já deveriam ser mais de cinco da tarde, o céu londrino lhe entregava um horizonte indescritível visto de onde estava naquele instante e o sol se pondo deixava seu coração ainda mais aquecido do que já estava.
Não fazia ideia de que, há alguns meses atrás, estaria ali, parada naquele lugar, tendo o misto de sentimentos invadindo seu peito, mesmo que com tudo que havia acontecido desde que tinha chegado ali.
sentiu o canto dos olhos umedecerem pela emoção que sentia.
Pressionou os lábios ao sentir o choro fraco vir à tona e abraçou o próprio corpo, ainda observando o pôr do sol de antes.
Era surreal demais.
Com isso, decidiu que, desde que já estava ali para aproveitar, ela faria mesmo aquilo. Tentaria deixar todos os sentimentos ruins que volta e meia vinham lhe atormentar para que pudesse passear e registrar cada pequeno momento que a cidade lhe proporcionaria.
Voltou a caminhar, um pouco mais animada, com o celular em mãos preparado para tirar as fotos que tanto queria. De primeira, o apontou em direção ao lago já iluminado pelas luzes que acendiam ao fim de tarde e conseguiu captar o sol bem ao fundo, quase desaparecendo.
Rapidamente, se posicionou e tirou também uma selfie naquela mesma paisagem.
Continuou a percorrer o caminho, capturando cada estátua, cada monumento diferente que encontrava por ali e até mesmo algumas pessoas andando ao redor.
Sabia que quando chegasse à casa, veria cada foto e enviaria à sua família. Aquilo a fez querer ligar para sua mãe e irmã novamente.
E seria uma ótima ideia fazer aquilo visitando o Hyde Park como tanto queria. Desbloqueou o celular mais uma vez, pronta para iniciar uma videochamada e até começaria, não fosse por algo pular em suas pernas, completamente agitado.
olhou para baixo e um sorriso enorme cresceu em seus lábios.
— Oh! Você me deu um susto, criança.
Se abaixou em direção ao cachorro, lhe acariciando por completo. O animal começou a lamber seu rosto em animação.
Ela deixou uma risada nasalada escapar, procurando pela coleira do mesmo e assim que a encontrou, observou o nome escrito no pingente.
Jesse.
— Jesse? É assim que você se chama? Você tá perdida por aqui? — perguntou, como se ela fosse mesmo lhe responder. Observou ao redor, mas não parecia ter alguém procurando pelo animal. Por um momento se preocupou. — E agora? De onde você veio, hein?
Acariciou um pouco suas orelhas, seguindo para o focinho e ergueu o corpo, tendo uma visão melhor de todo o parque. Olhou mais uma vez para baixo, observando o animal por alguns segundos. Notou que era da raça Golden Retriever e parecia estar muito bem cuidada para estar perdida ali, como se não tivesse algum dono.
Não teve outra escolha a não ser continuar caminhando, percebendo que Jesse vinha atrás de si sem demorar muito, como se fosse sua.
virou o rosto para o lado, observando o animal caminhando junto de si por um bom tempo. Achou engraçado como estava se sentindo confortável com ela ao seu lado.
— Com certeza você deve ter algum dono — disse para Jesse. fez uma careta. — Devem estar doidos atrás de você. Que danadinha — brincou com ela mais uma vez. A cadela pulou em suas pernas. — De onde você veio? Confesso que tô curiosa. Espero muito que tenha alguém pra cuidar de você — voltou a afagar as orelhas do animal. Jesse agora tinha a boca aberta com a língua para fora, parecendo realmente muito animada. — É um pouco complicado estar perdido assim. Sei bem como é. Mas apesar de tudo, me sinto feliz pela primeira vez desde que cheguei aqui.
Sorriu para si mesma, enquanto seus dedos passeavam os pêlos do animal e se aproximou de Jesse, a abraçando levemente.
Ela correspondeu.
— Bom, parece que ela tá feliz também.
sentiu o corpo cambalear e sem qualquer equilíbrio, caiu sentada para trás, arregalando os olhos com tamanho susto.
A pessoa que havia respondido, prontamente veio ajudar e assim que se reergueu, com o rosto avermelhado pela vergonha, agradeceu.
— Desculpa, não queria te assustar.
— Não foi nada. Sério — gesticulou, observando o rapaz a sua frente. Seus olhos estavam camuflados pelos óculos escuros e os cabelos, aparentemente claros, pelo boné. — Ela é sua?
— Ahn… Podemos dizer que sim. É de um amigo, mas eu tô cuidando hoje — mencionou. Jesse pulava animada nas pernas de , a chamando para brincar. — Parece que ela gostou mesmo de você.
— Gostou, não é, garotinha? — se abaixou mais uma vez, afinando a voz e soltando uma risada fraca com sua animação.
— E então, tem gostado de Londres?
— O que?
soltou, confusa e perplexa por ele saber que ela não era mesmo dali. Piscou algumas vezes e o rapaz fechou os olhos brevemente, como se tivesse cometido algum erro.
— Me desculpa! Não quero que entenda mal. Ah… É que ouvi você falar com Jesse que se sente feliz desde que chegou aqui, achei que…
— Ah…
A garota soltou o ar que segurava, levando uma das mãos à testa ao entender o que ele realmente queria dizer.
Por um momento pensou o pior e seu coração começou a bater mais rápido com aquilo.
— Acho que te passei a impressão errada. Sinto muito mesmo.
— Não. É só que… Achei coincidência. Nunca ia pensar que tinha ouvido minha conversa com ela — riu fraco, se sentindo meio boba. — Pra ser sincera, a cidade tem me surpreendido bastante até agora, mas sinto que, de alguma forma, o que tem acontecido é necessário de algum jeito.
— Eu entendo — respondeu, já com Jesse presa a sua guia. Os dois começaram a caminhar vagarosamente sem ao menos perceber. — Que bom que tem gostado. Acho que Londres vai te dar uma experiência que jamais vivenciou.
— Tenho certeza que sim — riu fraco, se lembrando aos poucos de tudo o que havia passado para chegar até ali. — Posso fazer uma pergunta?
— Se eu souber responder... Claro.
— Acha que uma pessoa é fraca por querer desistir de um sonho?
Ele a olhou, pensativo e voltou a encarar a rua que passavam.
— Tudo vai depender da dificuldade que ela tá passando, mas não. Acho, na minha opinião, que qualquer coisa que aconteça vale a pena pra alcançar um objetivo. Por mais que doa e que no momento você ache que chegou ao ápice pra aquilo — disse, sincero. o olhou. — Sabe, nada vem fácil assim. E olha só, o quão prazeroso seria você olhar pra trás, para todo o caminho que traçou e ver que conseguiu passar por aquilo pra estar em algo muito melhor agora?
mordiscou o lábio inferior, pensativa com a fala do rapaz que havia acabado de conhecer. No fundo, sabia que ele tinha razão em tudo o que havia dito.
Mas por que parecia tão difícil colocar aquilo em prática?
— Tem razão — concordou. — Acho que tem um lado positivo em tudo que acontece com a gente.
— É claro que tem. Pode ter certeza — piscou, a olhando por alguns segundos. — Seja o que quer que esteja passando, vai melhorar. É só uma questão de tempo.
— Não é isso, acho que você entendeu errado…
Tentou pensar em qualquer desculpa para lhe dar. Não queria que ele entendesse que era sua própria situação.
Ele soltou uma risadinha fraca, parando de andar para observá-la melhor.
— Não precisa se preocupar. Entendo muito bem o que é isso. A pressão, as coisas dando errado. Tudo a favor de um planejamento ir por água abaixo. É motivo suficiente pra desistir de algo tão sonhado — disse, um pouco mais baixo. Olhou por trás de , admirando o anoitecer. — Mas não desista. Faça o que precisar fazer, tire o tempo que for pra respirar, mas não desista. Existem coisas muito melhores ao passar por essa fase turbulenta. Palavra de escoteiro.
Disse, fazendo graça. franziu o cenho, mas não deixou de rir.
— Palavra de escoteiro? Gostei dessa — mencionou, o olhando de canto. Ele também riu. — Mas, uau, obrigada. Não algo assim logo agora.
— Bom, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos — deu de ombros, abaixando o corpo para acariciar Jesse. — E você pareceu alguém que precisava ouvir algo do tipo.
— Tava tão na cara assim?
— Um pouco só — fez careta, se reerguendo. — Brincadeira. Mas, não sei, você parecia precisar ser reconfortada. Mesmo por um desconhecido.
sentiu as bochechas queimarem com o comentário e desviou o olhar.
— Pela primeira vez, foi bom ter um desconhecido por perto — soltou, sem ao menos perceber que ele prestava atenção minuciosamente nela. — Dá última não tive uma experiência muito boa…
Disse, quase em um sussurro se lembrando do dia anterior, em que quase foi assaltada e perseguida ali mesmo, no Hyde Park.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e sem pensar muito, retirou o aparelho celular do bolso do casaco, o desbloqueando para fazer algo.
o olhava curiosa.
— Pode anotar seu número? Vou te mandar uma mensagem. E aí, sempre que precisar fazer uma pergunta e se eu souber responder, podemos refletir sobre mais uma vez.
Ao final de sua frase, o rapaz sorriu abertamente, como se aquilo fosse mesmo grande coisa não só para ela, como para ele. sentiu o coração bater rápido dentro do peito e pressionou os lábios, se sentindo envergonhada, mas logo pegou o celular, anotando ali seu número.
— Pode me chamar de . Salvei assim — mostrou no display. Ele assentiu.
— Tudo bem, — deu ênfase. — Pode me chamar de . Nos vemos uma próxima vez?
— Claro. Até. Assim, o rapaz acenou, pegando a patinha de Jesse e fazendo o mesmo, arrancando uma risada fraca de , que olhava a cena encantada.
E antes que pudesse se virar para começar a caminhar, sentiu o celular vibrando no bolso e o pegou, avistando o nome de piscando ali, provavelmente a procurando pela demora.
olhou mais uma vez para trás, rapidamente, sorrindo para si mesma ao se lembrar o que havia acabado de acontecer.
Será que havia feito mais um possível novo amigo?
caminhava despreocupado, em direção à casa de , ao final da Carlyle Square, em Chelsea, se certificando de que o carro estava devidamente estacionado e travado. Olhou ao redor, observando a iluminação da rua naquele horário que a deixava ainda mais bonita e sentiu o coração bater mais rápido ao saber que logo encontraria sua melhor companhia, Jesse.
Em dias como aquele, em que gostava de ir ao centro de Londres sem ser reconhecido como costumavam fazer vez ou outra, deixava Jesse com para que assim, pudesse fazer o que queria e ainda, de quebra, sua amiga faria o passeio que tanto queria em algum parque da região acompanhado do melhor amigo do rapaz.
Claro que poderia levá-la consigo. Mas, no fundo, sabia que nada chamaria tanta atenção quanto sua Golden caminhando ao seu lado pelas ruas centrais da cidade. Afinal, os fãs conseguiam reconhecer como ninguém.
Ajeitou as sacolas na outra mão, para que pudesse pegar a chave do apartamento de em seu bolso e rapidamente adentrou o local, subindo o lance de escadas à frente e logo podendo ouvir alguma música qualquer tocando por ali.
— Espero não ter demorado tanto. E espero também que essa garota não tenha dado tanto trabalho como da última vez.
Mencionou, chamando a atenção do amigo que, naquele momento, tinha o corpo relaxado ao enorme sofá que ele tinha orgulho de dizer o quão confortável era.
sorriu, deixando o celular de lado e se sentou, olhando Jesse. A cadela estava deitada em seu tapete, mas logo levantou animada ao ver caminhando pelo apartamento.
— Ei, garotona. Papai sentiu sua falta — afagou o focinho de Jesse, a puxando para si. sentou no chão.
— Você consegue ser extremamente babão por ela.
— Estranho seria se eu não fosse — riu fraco, agora acariciando a barriga do animal. Jesse havia deitado, se espreguiçando por completo. — O que fez? A levou ao Hyde ou passearam aqui por perto?
— Você sabe como Jesse é, adora lugares grandes — fez uma careta, ouvindo o resmungo da cadela. — É isso mesmo, não posso esconder do seu papai suas luxúrias, sinto muito — brincou com a mesma ao se abaixar, que mordeu levemente sua mão. Passou pelos dois ao chão em direção à cozinha. — Quer alguma bebida?
— O de sempre. Tem aí?
não precisou responder. Pegou a lata da cerveja que gostava e jogou em direção à ele, que pegou no ar e voltou para a sala, se jogando novamente no sofá.
— Hoje o dia foi bom. Jesse adora conhecer pessoas novas.
riu fraco, olhando a cadela à sua frente mais uma vez e passou seus dedos por ela, a acariciando como antes. Sabia bem como ela costumava ser quando saíam, muito comunicativa e extrovertida, apesar de já não estar mais na idade para sair chamando pessoas para brincar ou arrumar brincadeira com outros animais.
, por sua vez, deixou a mente vagar até mais cedo no Hyde Park, quando perdeu Jesse de vista e quase enlouqueceu por aquilo. Sentiu o coração palpitar ao se lembrar que não havia prendido devidamente a coleira em seu peitoral e aquilo fez com que ela se soltasse, saindo de perto dele.
Mas, por um lado, foi bom. Havia conhecido alguém diferente.
.
E ela ao menos havia o reconhecido, o que era melhor ainda. Não havia nem se dado conta de que já conversavam de forma tão fluida que não havia tempo de pensar que mal se conheciam.
Aquilo havia o deixado mais intrigado ainda.
Ele caminhava apressado pela extensão do parque, tentando não esbarrar com algumas pessoas, nem mesmo chamar tanta atenção assim.
Olhava por todo canto, mas não via nem sombra de Jesse.
— Ah, aquela garota… — resmungou, passando uma das mãos por debaixo dos óculos escuros. Queria tirar aquilo para enxergar melhor, mas sabia que não podia correr o risco.
Engoliu em seco.
iria matá-la. Ele tinha certeza daquilo.
Se tivesse perdido mesmo Jesse, seria bom nem voltar para casa aquele dia. Sabia que tinha várias opções para que fosse trucidado pelo melhor amigo.
Pensou em várias coisas para fazer.
A primeira era pedir ajuda por ali, mas também não podia fazer aquilo. A segunda era anunciar em algum lugar, o que estava mesmo fora de cogitação.
E a terceira, bom, era ligar para . O que, de fato, não aconteceria nem se quisesse.
Parou onde estava. Colocou uma das mãos na cintura e se virou.
Só ali ele a viu. Mas ela não estava sozinha.
Droga. Será que deveria se aproximar? E se fosse reconhecido e tornasse aquilo, que era apenas um passeio, uma fuga dos fãs em meio ao Hyde Park? Pensando bem, aquilo seria muito menos pior do que o praguejando pelo resto da vista.
Com isso, se aproximou vagarosamente, observando a garota que acariciava Jesse com toda a delicadeza do mundo e aparentemente, conversava como se o animal realmente estivesse entendendo o que ela falava.
— É um pouco complicado estar perdido assim. Sei bem como é. Mas apesar de tudo, me sinto feliz pela primeira vez desde que cheguei aqui.
parou, prestando atenção.
Ela parecia dizer aquilo com toda a sinceridade do mundo e algo em seu tom de voz, o fez ficar curioso. A garota não era dali e algo a preocupava.
Pareciam ser muitas questões e ela parecia precisar mesmo de alguém para conversar.
Ponderou um pouco. Será que deveria?
Mordiscou os lábios e olhou ao redor. Bom, ele havia achado Jesse, o maior de seus problemas estava resolvido. O que custava conversar um pouco em agradecimento por tê-la encontrado?
deixou os olhos caírem sobre , o observando pensativo, completamente fora de órbita e achou engraçado o mesmo estar divagando daquela forma.
Parecia ter esquecido que o amigo estava ali com ele.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou. piscou algumas vezes e voltou sua atenção aos dois sentados no chão. — Você desligou.
— Não foi nada. Só… Foi bom ter saído de casa hoje. O parque tava agitado — desconversou, bebericando um pouco mais da bebida. — E o que é isso aí? Foi naquela loja outra vez?
assentiu, puxando a sacola plástica para mais perto.
— Parece que é o único lugar que consigo comprar algo sem ter que dar um autógrafo. E a sra. Anderson me conhece há bastante tempo pra manter meu anonimato — deu de ombros. — Não é qualquer lugar que costumo encontrar um vinil desses, não acha?
Retirou a capa do disco que havia comprado, mostrando orgulhoso ao amigo.
fez uma careta.
— Cara, já estamos na era do Spotify e você insiste em colocar aquela vitrola velha pra funcionar — rolou os olhos, mas achando graça na feição que havia feito.
— E o que tem? Isso quer dizer que tenho um ótimo gosto musical — continuou, aprofundando o assunto. — Já parou pra ouvir meus discos?
— E nem quero, obrigado.
— Você tem um toca discos por aí?
o encarou, piscando algumas vezes e balançou a cabeça em negação, voltando a deitar na almofada.
— Você só pode tá brincando…
A noite já caía e o frio havia se intensificado, mas aquilo não era suficiente para desanimar as duas garotas que andavam animadas pelo centro de Londres.
havia comprado um chocolate quente para as duas e agora caminhavam em direção à uma das ruas mais agitadas da cidade. Ela apontava para cada lugar que julgava ser interessante conhecer para que conseguisse ver melhor a medida que iam passando por ali, não só observando, como também tirando várias fotos.
Por mais que já morasse em Londres por um bom tempo, saber que estaria conhecendo a cidade pela primeira vez a fez querer mostrar tudo o que poderia para ela, para que fosse memorável o bastante para assim, ter boas recordações.
E vendo a empolgação de , deixou um sorriso tranquilo tomar conta de seus lábios. Ela sabia que nem todos os dias seriam tão bons como aquele, em que as preocupações não tomariam conta de sua mente e que ela conseguisse desfrutar da paz que invadia seu peito.
Sabia certamente daquilo, mas decidiu, a partir do momento que saiu de casa, não deixar se abalar pelos momentos ruins.
Que como , sua nova amiga, havia dito, não havia tempo ruim que durasse para sempre.
E que como , um desconhecido, também havia lhe contado, existiriam coisas muito melhores ao passar por aquela fase tão turbulenta.
decidiu que deixaria as coisas acontecerem.
E o que tivesse que ser agora, seria.
O silêncio inundou o local outra vez.
Não era costume para ter seu corpo preenchido pela maciez do lugar onde estava deitada e de conseguir respirar o ar fresco do cômodo, mesmo que estivesse acordada há um bom tempo com seus olhos fechados.
A verdade era que ela não queria abrir. A dúvida de estar sonhando ou de que aquela era mesmo a sua realidade lhe rodeava a cabeça. Depois de todos aqueles dias turbulentos e exaustivos, finalmente conseguiu descansar.
Nem conseguia acreditar.
Deixou que suas mãos tateassem pelo tecido do móvel o qual ainda estava deitada, sentindo a maciez na ponta de seus dedos. O local estava morno, indicando a pequena fresta do sol aquecendo o sofá.
Aquilo fez com que sentisse um minucioso sorriso crescendo no canto de seus lábios. Não conseguia descrever tamanho alívio por, finalmente, se sentir, mesmo que pouco, segura.
Depois de todos aqueles dias, andando pela cidade, passando pelo pior, podia sentir que aos pouquinhos conseguia recomeçar, mesmo que aquilo não estivesse dependendo só dela. Mesmo que a maior parte de tudo fosse pela ajuda de , ou até mesmo pelas palavras do desconhecido que havia encontrado pelo parque.
Havia sido um conjunto. E ela agradecia muito por isso.
Pressionou os olhos um pouco mais, agora, sentindo o sol de encontro à sua pele, aquecendo a mesma em uma sensação relaxante. Aquilo a fez se espreguiçar.
Antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, o barulho de algo caindo a despertou, fazendo com que abrisse os olhos rapidamente, sentindo o coração palpitar.
Deixou que o corpo ficasse ereto, ainda o sentindo pesado pelo sono que havia tido e que, muito provavelmente, também havia sido consistente, já que não se lembrava de ter acordado alguma vez naquela noite.
Quando virou o rosto, pôde avistar a silhueta de descer por uma escada estreita, a qual vinha do sótão, segurando um rolo enorme, grosso e que estava amarrado com firmeza.
franziu o cenho, achando engraçada a cena que via.
Em poucos segundos, deixou a cabeça pender para o lado, avistando, finalmente, sentada ao seu sofá.
— Bom dia! Te acordei, não foi? Ai, desculpa, não era minha intenção.
— Não tem problema. Confesso que já estava acordada há um tempinho — deu de ombros, deixando um sorriso tímido escapar. Deixou que sua curiosidade falasse mais alto ao parar seus olhos outra vez no que segurava. — O que é isso?
— Isso? — levantou o embrulho e pressionou os lábios, animada, andando até o meio da sala. — Algo que vai te ajudar muito. Inclusive, você dormiu bem? Meu sofá não é nem um pouco confortável. Falo por experiência própria.
Deixou uma risadinha escoar por ali e fez com que a acompanhasse. A garota acompanhava cada movimento que fazia ao afastar alguns móveis, perto da janela.
— Dormi melhor do que em muitas noites, pode ter certeza — afirmou.
— Então você vai se sentir nas nuvens agora! — bateu uma mão na outra, apontando para o que havia levado e, assim que tirou as cordinhas que seguravam o volume, o mesmo se abriu deixando que o colchão ficasse reto por completo. — Esse colchão estava guardado lá em cima, caso precisasse pra alguma urgência. Ele é um pouco antigo, mas te garanto que é maior que o outro, bem fofinho e vai fazer você—
Não foi possível que conseguisse terminar a frase.
Os braços de a enlaçaram, em um abraço confortável e repleto de agradecimentos. Ali, envolvendo sua mais nova amiga, quase chorou outra vez. Não conseguia medir com palavras como se sentia grata pela atitude de , de como não conseguia nem agradecer por tudo o que ela estava fazendo para lhe ajudar.
Nunca havia imaginado que poderia encontrar alguém que a acudisse em um momento como aquele.
Não em Londres.
— Juro, não sei nem como te agradecer por toda ajuda, .
— Ah, deixa disso — riu fraco, se separando minimamente da amiga. continuou a olhando. — Mas podemos terminar de ajeitar seu novo cantinho e começar com o café da manhã. O que acha?
sorriu abertamente, assentindo sem pensar duas vezes.
— Acho perfeito.
Enquanto conversavam em meio a pequena arrumação da sala de , aproveitaram para se conhecer um pouco mais. Mesmo um pouco relutante, tentou contar algumas coisas de sua vida para ela, assim como também fazia, mas com muito mais animação. achava graça em como ela conseguia ser extrovertida, carismática e agradável, o que pensava ser o seu completo oposto.
Talvez aquilo fosse o suficiente para que elas pudessem ter se dado bem.
Com risadas e novas descobertas, seguiu em direção à cozinha para, finalmente, preparar o café das duas.
Naquele momento, em que a amiga estava longe, se deixou levar mais uma vez por seus pensamentos insistentes, deixando que sua visão focasse na janela do apartamento, a qual dava panorama para Shepherd Bush e, inclusive, para boa parte de Londres também.
Conseguia observar com calma a leveza do vento nas árvores, fazendo com que as folhas alaranjadas caíssem e cobrisse as calçadas no lugar. O tempo naquele dia não estava tão azul como nos outros, mas mesmo daquele jeito, conseguia apreciar a beleza do outono que decorava a cidade.
A exata beleza que sempre quis ver pessoalmente.
pareceu notar o quão absorta em seus pensamentos e questões parecia estar. Parecia estar com tantas coisas em sua mente, preocupações e indagações que, por um momento, se sentiu triste por saber como ela havia passado por coisas tão ruins. Por se dar conta que ninguém ao menos teve a atitude de ajudá-la verdadeiramente.
No fundo, sabia certamente que nenhuma pessoa merecia passar por algo como aquilo.
Olhou para uma última vez, terminando de encher as canecas com o café fumegante que havia feito e caminhou até a sala, se sentando ao lado da outra no colchão. Esticou a mão, oferecendo a xícara e ela pegou.
— Parece que Londres tem mesmo sua beleza, né?
— Nada se compara a estar aqui pessoalmente. Sabe? — virou o rosto para observar . Ela sorriu. — Quando comecei a planejar minha viagem, o que mais via eram imagens e vídeos de cada lugarzinho aqui. Cada ponto turístico, cada parque, cada rua diferente. A cabine telefônica? Parecia um sonho longe demais pra ser alcançado — deu um pequeno gole do líquido, suspirando. — Só que, estar aqui agora, de verdade, é totalmente diferente. É como ver algo em HD.
Deixou uma risadinha fraca escapar com sua comparação e riu junto dela, assentindo.
— É exatamente assim, . Nasci em York, aquela cidadezinha antiga, onde tem as muralhas, enfim. Você deve saber — balançou a cabeça, deixando o corpo recostar no sofá. — Quando vim pra Londres, tive a mesma sensação que você. Surreal demais, enorme demais. Parecia coisa de filme. E, vamos ser sinceras? Me surpreendo a cada dia que passa.
— Ela fica ainda mais linda, né?
— E coloca linda nisso — afirmou, rindo junto dela. Beberam um pouco mais do café, até que as canecas se encontrassem vazias. — Sabe uma coisa que estranhei muito quando cheguei aqui?
— O que?
— As pessoas são muito frias. Insensíveis. Me acostumei com uma cidade média em que a população, comparada a Londres é mínima e, ainda assim, as pessoas são muito mais afetivas — deu de ombros, pegando um pouco da torrada que tinha levado até e jogou-a na boca. — Quando cheguei aqui, foi a primeira coisa que estranhei e por um pouquinho quase voltei pra lá. — Pode ter certeza que percebi isso — deu ênfase, comendo junto à ela. — Acho que foi uma das coisas que quase me fez querer voltar também.
Comentou, se lembrando minimamente dos acontecimentos desde que havia chegado à cidade.
suspirou. Ela fez o mesmo.
Deixaram que um assunto qualquer tomasse conta de conversa por mais algum tempo. havia se dado conta que, passar parte do tempo com , mesmo jogando conversa fora, a deixava menos preocupada e aliviada, mesmo depois de tudo.
Antes que pudessem continuar, deu um pequeno pulo, como se tivesse lembrado de algo.
a olhou.
— Ai, caramba, o trabalho! — ligou depressa o display do celular, se dando conta que, provavelmente, chegaria atrasada ao local. Deixou a caneca em cima da mesinha de centro e ergueu o corpo. — Preciso ir pra a lanchonete. Você vai, hm… Vai…
— Vou ficar bem, — complementou, com um sorrisinho de lado.
sorriu da mesma forma e saiu às pressas procurando por sua bolsa antes de se despedir.
— Até mais tarde!
E assim, bateu a porta atrás de si, deixando sozinha no apartamento.
Por incrível que pareça, conseguia sentir o tédio tomando conta aos pouquinhos, mesmo que já tivesse feito bastante coisa para que aquilo não acontecesse.
Depois que havia saído para trabalhar, resolveu não ficar parada. Observou atentamente cada canto do cômodo em que estava, pensando em algo que pudesse fazer para ajudar sua mais nova colega.
E a primeira coisa que lhe passou à cabeça foi fazer uma faxina.
Começou pela sala em que estava, ajeitando seu colchão e as demais coisas que estavam afastadas por ali. Deixou o sofá um pouco mais distante, próximo da janela, fazendo com que assim que se sentassem, tivessem como observar a maravilhosa vista que tinham dali. E que para , se tornava um dos melhores lugares para se estar no apartamento.
Da mesma forma que ajeitou a sala, fez o mesmo com o restante dos cômodos, fazendo o possível para deixar o mais limpo que pudesse. Afinal, aquilo era o mínimo que poderia fazer em agradecimento a tudo o que estava lhe fazendo.
Quando terminou, colocou uma das mãos na cintura e respirou fundo.
Se sentia satisfeita com o resultado, mas aquilo ainda não preenchia o que sentia.
Continuava a achar que poderia fazer mais.
E já que dentro do apartamento não conseguia encontrar alguma outra coisa para fazer, decidiu em sair de casa um pouco, para aproveitar o ar fresco e entregar o restante dos currículos que ainda tinha em mãos. Aproveitaria para conhecer um pouco de Shepherd Bush e, de quebra, tentaria arrumar algum emprego.
Sorriu.
Com as ideias em mente, começou a se animar um pouco mais.
Rapidamente seguiu até sua mochila, tirando dali uma muda de roupa um pouco mais quente, já que além de estar nublado, o tempo deixava evidente que esfriaria um pouco mais do que o esperado. Foi em direção ao banheiro, tomando um banho não tão demorado e secou os cabelos com rapidez, ainda se sentindo entusiasmada para perambular pela cidade outra vez.
Assim que terminou de ajeitar sua roupa, colocou a touca na cabeça e ajeitou os fios bagunçados ao lado do rosto. Deu uma última olhada no espelho e, assim que pegou todas as coisas necessárias para sair, desceu as escadas em direção à rua.
Quando colocou os pés na calçada, a primeira coisa que sentiu foi o vento frio de encontro a seu rosto, a fazendo arrepiar por inteiro.
Não imaginava que já havia chegado àquele ponto, em que precisaria se agasalhar corretamente, mesmo que já estivesse com um casaco pesado em cima do corpo.
Resolveu não pensar muito. Caminhou até a esquina e já pôde perceber a movimentação que o bairro de continha. Muitas pessoas passavam ao seu lado, ocupadas, muito provavelmente indo em direção ao trabalho ou indo almoçar, pelo horário. Observou as lojas, não tão cheias, mas vívidas e coloridas chamando a atenção pela rua.
Havia um Subway, bem na esquina do apartamento, algo que ela não se esqueceria tão fácil ao voltar para casa.
Continuou caminhando. Se tinha uma coisa que gostava era de sempre observar cada lugar que passava, ainda mais se estivesse andando como naquele instante. Gostava de admirar cada detalhe e fazer aquilo em uma cidade completamente diferente da sua parecia mágico.
Passou por uma cafeteria e até mesmo pelo mercado de Shepherd Bush, não perdendo a oportunidade de deixar alguns currículos por ali. A verdade era que não se importava qual fosse o lugar, desde que conseguisse alguma vaga para se manter e ajudar , mesmo não sabendo por quanto tempo iria ficar com ela.
Com isso, continuou passeando. A conversa das pessoas ao redor continuava a animá-la. Muitas pareciam não estar ali só pelo trabalho também.
Pareciam turistas, pessoas que só queriam passear sem qualquer compromisso.
gostava de ver como pareciam confortáveis em estar ali e era a mesma sensação que sentia no bairro em que estava.
Era quase como estar em casa. E aquilo a confortava.
Enquanto continuava andando até Kensington, o bairro mais próximo, se deixou perder em pensamentos mais uma vez. Depois de todo aquele tempo ali, sentia seu coração leve. Não conseguia dizer exatamente há quantos dias já estava na cidade, mesmo parecendo meses para si, mas independente de tudo que havia lhe acontecido antes, agora as coisas pareciam estar se encaixando.
Aquilo não poderia deixá-la mais feliz.
Continuou com a sua missão de distribuir o restante dos currículos que tinha.
Queria aproveitar a ocasião de estar passando por variadas lojas e lugares possíveis com vagas em aberto para tentar conseguir algo. Claro que sabia que não seria fácil.
E sabia ainda mais o quão rigorosos acabavam sendo com contratações novas e pessoas de fora.
Mais uma vez, resolveu não se preocupar. Já que, como havia chegado à conclusão no dia anterior, o que tivesse que ser ali, um emprego agora ou depois, continuar na cidade ou não, seria de alguma forma.
Com esse pensamento, resolveu continuar, só que dessa vez um pouco diferente.
Tinha um sorriso nos lábios e o fone de ouvido conectado ao celular, deixando uma música qualquer tocar.
In this world, it’s just us
You know it’s not the same as it was…
— Pra onde vou agora?
Aquele havia sido seu questionamento.
franzia o cenho, tentando decidir para onde iria ao encarar o Maps em seu celular. Já havia passado por boa parte da cidade até conseguir chegar a uma parte de Londres e confessava que já conseguia sentir suas pernas um pouco cansadas. Claro que também se praguejava.
Quem em sã consciência caminharia de Shepherd Bush a Kensington ao invés de pegar o metrô? Seria muito mais rápido do que ter que levar quase quarenta minutos andando naquele frio.
Quase riu. Como conseguia ser boba às vezes.
Mesmo fazendo algo tão sem noção como aquilo, não conseguia achar de todo ruim. estava onde queria estar e aquilo bastava.
Notou que alguns ônibus passavam pela avenida, assim como os carros.
Algumas pessoas também atravessavam apressadas, ao contrário de que não parecia ter um rumo certo daquela vez.
Foi quando pensou em ligar para que seu celular vibrou e um número desconhecido acendeu o display.
Não reconheceu de primeira quem poderia ser, portanto resolveu abrir a mensagem pela curiosidade que surgiu.
Ei,
É o , lembra?
Claro que lembra. Te dei um susto ontem hahah Sem querer, claro rs
E aí, qual a pergunta de hoje?
franziu o cenho.
Não levou a sério quando ele disse que mandaria mensagem no dia anterior, tanto que até havia se esquecido por um momento. Pôde se lembrar do rapaz brevemente, os cabelos escondidos pelo boné, os olhos claros e ingênuos, assim como o sorriso pequeno e singelo. Não havia como se esquecer de como ele havia sido simpático com ela e até mesmo, um tanto compreensivo.
Deixou um sorriso fraco crescer nos lábios e rapidamente o respondeu.
Oi! Acho que você apareceu na hora certa
Acabei de chegar em Kensington e confesso que não sei muito pra onde ir agora
Recomendações?
O que mais tenho é lugar pra te recomendar, senhorita
Mas antes, que tal começarmos por… Como você tá?
Achou interessante como ele havia se importado a ponto de perguntar como ela estava naquele dia.
Ao menos se conheciam bem. Nem mesmo haviam tido uma conversa decente.
Mas algo no rapaz fez com que ela se animasse um pouco mais. Pensar que poderia estar conquistando um novo amigo em Londres era mais do que estimulante para que sua vontade de permanecer ali crescesse um pouquinho mais.
Dormi como queria e precisava, acho que isso é suficiente pra eu estar bem
E você? Ainda servindo de babá pra Jesse?
Fico feliz. Nada do que um bom sono pra nos revigorar
E não fale assim. Adoro aquela garota 🤪🐾
Olha só, acabei separando alguns lugares que tenho certeza que você vai gostar de visitar. Aí vai…
Restaurantes, museus, parques… Locais que tinha plena certeza que amaria.
E não demorou muito para seguir em direção a um deles para começar a explorá-los, não antes de agradecer a seu novo conhecido.
Já era quase noite quando a garota abraçou o próprio corpo, já na avenida de volta para casa. se sentia um pouco cansada, mas era o exato cansaço que havia valido à pena. Conseguiu entregar todos os currículos que havia levado e ouviu palavras de encorajamento para que não desistisse, o que a deixou ainda mais incentivada.
Sabia que não seria fácil arrumar alguma coisa, mesmo que temporariamente, mas ver o quanto algumas pessoas transpareciam estar torcendo por ela era mais do que esperançoso.
O que a fez pensar que, até aquele momento, seu dia não poderia estar sendo melhor.
andou por quase todos os lugares que havia lhe indicado, fazendo o possível para deixar marcado o quanto havia gostado, tirando algumas fotos.
Não deixou de mandar uma ao rapaz, agradecendo mais uma vez por sua pequena aventura e, sem pensar duas vezes, encaminhou uma selfie para o contato de sua mãe, dizendo que ela não precisava se preocupar e que a amava muito.
Depois de toda a conversa que haviam tido desde que chegou ali, Lenna finalmente não tinha motivos para se preocupar.
E para ser sincera, quase chorou ao terminar de digitar as palavras. Quase chorou pela saudade que sentia de sua família e por ter que omitir tudo o que havia lhe acontecido desde que havia chegado à Londres. Quase chorou por ter passado pelo que passou.
Não queria, do fundo de seu coração, ter vivenciado todas aquelas coisas que lhe aborreciam e importunavam sua mente vez ou outra.
Respirou fundo.
Deixou que os pensamentos inconvenientes fossem para longe e focou sua atenção ao seu redor. Não tinha notado que já se aproximava da rua do apartamento e que, ao anoitecer, algumas luzes amareladas eram acesas, dando um toque mais do que especial ao bairro.
Não parecia real.
sorriu. Uma música fraca tocava por ali, provavelmente vindo de alguma lojinha e as pessoas à sua volta pareciam mais agasalhadas que mais cedo, já que o frio estava ficando cada vez mais forte por conta do horário.
Na verdade, aquilo era uma das poucas coisas que a incomodava.
Naquele momento, o vento gélido parecia ser ideal enquanto ia para casa.
Assim que virou a esquina, observou o apartamento de e alguns minutos depois já o adentrava, sentindo o corpo inteiro esquentar minimamente em uma sensação confortável.
Fechou a porta atrás de si e ligou o aquecedor, deixando seu corpo relaxar um pouco no sofá da sala. Deixou que seus olhos analisassem cada detalhe do apartamento e sorriu consigo mesma ao se sentir extremamente confortável ali, quieta, sem ao menos fazer alguma coisa.
Olhou para o colchão, agora seu, para sua mochila no canto ao lado das plantinhas que gostava de cuidar. O lugar realmente lhe transmitia a sensação de estar segura, em casa.
E ela agradecia por aquilo.
Resolveu tirar o casaco pesado do corpo, a touca e os demais complementos. Já começava a sentir um pouco de calor e com isso, se levantou, indo até a janela da sala. A mesma mostrava como a cidade conseguia ser bonita na parte da noite, com todas aquelas luzes e movimento.
Não tinha visto como Londres conseguia ser bonita naquele horário, não com calma e pouca preocupação.
sabia que poderia ficar horas admirando a paisagem. Poderia ficar ali a noite inteira só apreciando e percebendo que aquela era a sua mais nova realidade.
Sabia que aos poucos conseguiria colocar sua vida de volta aos eixos.
Só desviou o olhar do horizonte quando ouviu o molho de chaves abrir a porta do apartamento e uma agitada o adentrou, se abraçando exageradamente.
— Meu Deus, que frio! — exclamou, retirando aos poucos as peças de roupas. Olhou para e sorriu. — Você faz ideia de como tá congelando lá fora?
— Faço sim. Quase chegamos juntas.
— É mesmo? Foi explorar um pouco mais da beleza londrina? — perguntou assim que se aproximou.
deixou o corpo descansar no sofá assim como havia feito, há momentos atrás.
— Quase isso. Fui conhecer alguns lugares que ainda não tinha ido e aproveitei pra deixar alguns currículos pelo caminho.
— Sério? — ergueu o corpo, abrindo um sorriso que animaria qualquer um. assentiu, contente como ela. — Já teve algum retorno? Como foi?
— Ah, nada demais. A maioria me recepcionou muito bem, desejaram sorte. Essas coisas. Disseram pra que eu ficasse atenta ao celular.
Ergueu o aparelho que continha o display ligado.
A amiga bateu palminhas, em emoção.
— Tenho certeza que vai conseguir algo. Quem é que não te contrataria?
Disse, como se fosse óbvio. deixou uma risada escapar.
— Não sei. Muita gente, talvez.
— Ah, para. Pensa positivo! — ergueu as mãos fechadas, a incentivando. sorriu para a amiga e respirou fundo, só então notando algo. — Espera. Você limpou o apartamento?
Virou o corpo rapidamente, olhando ao redor.
— Não foi nada. Resolvi ajeitar algumas coisinhas. Você não gostou? Desculpa, eu—
— Claro que eu gostei, ! Mas não precisava ter feito isso, menina. Deve ter dado o maior trabalho — colocou uma das mãos na boca, sem acreditar que realmente havia feito aquilo e deixou uma risadinha escapar. Não pensou muito em jogar os braços na direção da menina em um abraço carinhoso. — Obrigada! Não esperava.
não teve reação. Não conseguiu retribuir de imediato seu abraço e parecia não ter notado sua surpresa. A verdade era que ela não estava acostumada com aquele tipo de afeto. Não que fosse ruim, longe disso.
Desde o início, havia percebido que era bastante expressiva e comunicativa.
Só que, para ela, era diferente.
E com aquela atitude, começou a perceber que aquela amizade realmente podia valer a pena.
— Quer saber? Acho que devemos sair.
— Acabamos de chegar — franziu o cenho. A amiga deixou um sorriso de lado transparecer, como se estivesse pensando em algo. — Ok! Qual seu plano?
levantou, retirando o restante das roupas que lhe aqueciam ficando apenas com a calça jeans e a blusinha clara de alça fina.
— Ainda é cedo. Algumas partes da cidade costumam fechar mais tarde. E eu tenho um lugar incrível pra te levar — apontou para ela. riu.
— Por que tenho a leve impressão que isso envolve bebida?
— Parece que você tá me conhecendo muito bem, senhora — colocou uma das mãos na cintura e a outra estendeu para a que estava sentada. se levantou com a ajuda de . — Vou separar algumas roupas e aí você pode escolher a que ficar melhor, ok? E pode ficar à vontade, mesmo, . Vi que você nem desfez a mochila ainda!
Disse enquanto ia em direção ao seu quarto. olhou em direção à sua mochila e a observou ainda cheia. Pensou por alguns instantes antes de tomar alguma atitude.
Estar ali, na casa de alguém que havia acabado de conhecer, lhe deixava receosa. Mas, ao mesmo tempo, se sentia tão confortável que ao menos conseguia se deixar levar pelo sentimento de frustração que, bem no fundo, sabia que ainda estava ali.
Com um sorrisinho de canto, decidiu o que faria.
E começaria por tirar as roupas de dentro de seu mochilão.
Não demorou muito para que estivesse abraçando o próprio corpo outra vez.
Quando colocou seus olhos no céu e o viu nublado, ainda que algumas estrelas perdidas insistissem em aparecer espalhadas por ele, sabia certamente que a tendência era sentir ainda mais frio que antes.
Olhou para o lado, avistando a amiga que havia acabado de descer do táxi.
tinha uma touca cobrindo os cabelos, assim como ela e o cachecol enlaçava seu pescoço, aparentando deixá-la bem aconchegada. não estava tão diferente assim. A calça jeans escura lhe esquentava, assim como a blusa de manga comprida e o mesmo casaco pesado de antes.
Se sentia bem.
— Acho que você não veio aqui desde que chegou, né?
— Não me lembro de ter vindo — disse, começando a andar ao lado de . — Isso é lindo.
— Então, seja bem-vinda à Waterloo.
Deixou os olhos admirarem o quão aquele lugar, muito provavelmente, havia ganhado seu coração. Desde que chegou à cidade, pôde vislumbrar variados lugares incríveis, mas aquele jardim em questão, parecia coisa de outro mundo.
Luzes amareladas estavam espalhadas por toda sua extensão. Havia um prédio pequeno de dois andares, há poucos metros das duas e notou que se tratava de alguma lanchonete. As pessoas que ali estavam pareciam adorar o clima aconchegante que o gramado extenso proporcionava, mesmo estando mais frio do que deveria.
Conseguiu notar vários grupos de amigos e alguns casais sentados à grama, jogando conversa fora sem muita pretensão de querer sair do lugar.
Aquilo a fez sorrir. O espaço lhe deixava animada.
— Esse é um dos lugares queridinhos daqui. Não é só um parque enorme com um restaurante, volta e meia acontece de rolar alguns eventos e shows pequenos. É sensacional.
— Sério? Dá pra notar o porquê de gostarem tanto — disse, ainda admirada.
— Você ainda não viu nada, — a puxou, sorrindo. — Vem. Vou te mostrar onde a mágica acontece.
Puxou em direção à uma estreita escadaria amarela, onde várias pessoas subiam junto delas. Enquanto subiam, aproveitava para contar um pouco mais da cidade para sua amiga.
— Esse lugar é completamente cultural. Tem arte por todo lado — apontou para as paredes pintadas, ainda que de forma minimalista.
— Cheguei a ler sobre isso uma vez. Dá pra ter qualquer tipo de apresentação aqui, né? Música clássica, jazz…
— Pop, rock, o que o pessoal quiser! Quando digo que é realmente incrível, eu falo sério, . Temos que vir aqui quando tiver algum show — bateu palminhas animadas e a olhou sorridente, sendo contagiada por sua euforia.
Quando chegaram ao terraço, a garota podia jurar que seu queixo cairia a qualquer instante. A cidade estava inteiramente iluminada e, não tão longe das duas, estava ele. Brilhante e colorido.
O London Eye.
ao menos percebeu na movimentação que ali continha e não se deu conta quando parou, a observando. Pôde sentir seus olhos marejarem, em um misto de emoção e alívio. Mal conseguia acreditar que havia conseguido.
Que realmente estava ali.
— Se você chorar, eu vou chorar. Sou super emotiva, não faz isso comigo! — comentou, colocando uma das mãos no peito. riu fraco com a reação da menina e balançou a cabeça, limpando o canto de seus olhos.
— É só que… Parece mentira que eu tô aqui, sabe? Que consegui realizar um sonho de verdade.
— Você tá aqui, . Olhe em volta — olhou para o lado, para as pessoas, o lugar. fez o mesmo. — Isso é mais do que real — afirmou, ficando a seu lado. Minimamente entrelaçou seu braço ao dela, pronta para continuar. — Vamos comer?
— Por favor!
E assim caminharam, ainda conversando, entre as pessoas, até acharem alguma mesa vaga para se sentaram. O que não demorou muito. O fluxo no lugar até que era mais rápido do que havia pensado.
Quando chegaram ao restaurante, resolveram se sentar ao ar livre, perto da sacada de vidro que dava visão para o restante de Londres.
Fizeram seus pedidos e voltaram a conversar animadamente.
Enquanto as duas bebiam, sem muita pressa em sair dali, aproveitava para tirar algumas fotos, não só da vista como de si mesma e da amiga. fazia algumas poses que ela pedia e as duas riam ao final de cada resultado.
Quem quer que visse uma cena daquelas, diria que as duas eram amigas de épocas.
Naquele pequeno momento de silêncio, no tempo em que as duas mexiam em suas redes sociais, sentiu o celular vibrar em uma notificação.
Ao abrir o aplicativo de mensagens, sorriu ao perceber quem era.
Ou você tá cansada de todo o roteiro londrino ou ainda tá aproveitando
Espero que tenha gostado ;)
Digamos que os dois
Tô cansada, mas inteiramente feliz
Obrigada,
— Já arrumou um namoradinho e não me falou nada?!
disse, a pegando de surpresa e deu um pulinho na cadeira, desligando o display com rapidez. Ouviu a risada da amiga e abanou as mãos, dando a entender que não era para ligar para aquilo.
— Não é um namoradinho. Foi alguém que me ajudou, assim como você — apontou para que sorriu. — É só um conhecido, nada demais.
Ela aproximou o corpo um pouco mais da mesa.
— Ele é gatinho?
— …
— Tudo bem, tudo bem! Mas fico feliz que tenha conhecido mais alguém por aqui — juntou as mãos, dizendo verdadeiramente. — É muito bom fazer novas amizades.
— Tem sido muito complicado, pra ser sincera. Isso de conhecer novas pessoas, de conseguir me abrir. Pra você foi assim também? Quando veio pra cá pela primeira vez.
parou para pensar alguns instantes e respirou fundo. Analisou o questionamento da amiga e pressionou os lábios.
— Pra começar, é totalmente compreensível que você tenha dificuldade com isso, . Depois de tudo o que passou desde que chegou, acreditar em alguém de verdade parece estar muito além. E eu até entendo se você não tiver essa confiança comigo — iniciou, cruzando as mãos acima da mesa. permaneceu a ouvindo, mas por um momento se sentiu mal ao escutar dizer aquilo. Não queria ter passado a impressão de que não confiava nela. — Acho que até sei o que tá passando na sua cabeça agora e tá tudo bem. Juro. Não vejo nenhum problema com isso. Só é complicado mesmo. Quando cheguei aqui sozinha, igual a você, achei que não iria conseguir. Quase voltei pra casa.
— E sua família? Como foi pra eles? — perguntou, um pouco mais aliviada.
Ela sorriu de canto, olhando para logo depois.
— Perdi meus pais quando pequena. Cresci com minha avó, mas não temos tanto contato como antes. Depois que vim pra Londres, as coisas se dispersaram um pouco. Ela me ajuda sempre que pode e sou muito grata por isso — disse com sinceridade. podia notar que os olhos da menina começavam a marejar. — E seus pais? Tenho certeza que devem ser o seu maior incentivo.
— Na verdade, somos só eu, minha mãe e minha irmã. E elas são mesmo meu maior incentivo sim. Confesso que se não fosse pelas duas, não estaria aqui.
— Isso é lindo de se ouvir, — inclinou a cabeça, observando a amiga. Olhou rapidamente para o garçom que se aproximou com seus pedidos e agradeceu. — Você sente falta de casa?
— O tempo todo — respondeu com nostalgia. — Sinto falta de Ann Arbor. Do cheirinho de tempero do restaurante da minha mãe. Da música alta da minha irmã. Sinto falta de muita coisa.
— Eu te entendo. Também sinto falta de onde eu morava.
— Você não pensa em voltar? — indagou. bebeu um pouco mais da cerveja que havia pedido e pensou.
— Não me vejo em outro lugar. Minha vida agora é aqui.
— Gosta tanto de Londres assim?
riu fraco. Ela deu de ombros.
— Home is where the heart is…
Deu uma piscadinha, rindo junto da outra. Continuaram a conversar coisas triviais de sua vida e daquela forma acabavam se conhecendo um pouco mais.
descobriu que havia feito fotografia, mas que não havia conseguido crescer na carreira em sua cidade, então resolveu juntar o sonho de conhecer Londres como tanto queria e tentar algo novo. Já entendeu o porquê havia escolhido tentar a vida em outro lugar e que não havia tido oportunidade de ingressar em uma faculdade ainda.
Cada uma tinha suas questões pessoais, mas que, conhecendo uma à outra, acabavam vendo um lado diferente da vida.
— Mas tenho certeza que você vai conseguir algo logo. Inclusive, sabe a lanchonete que nos conhecemos? Não trabalho só lá. Faço alguns bicos por aí, com buffet, em shows, coisas desse tipo — colocou uma batata frita na boca e deu de ombros. Um sorriso mínimo cresceu em seus lábios. — Posso te indicar quando tiver qualquer evento e podemos até trabalhar juntas.
— Mesmo?!
perguntou, animada.
— Claro que sim. Seria divertido — riu, imaginando como seria caótico as duas trabalhando juntas. — Mas olha, voltando ao assunto sério e nostálgico, posso te contar uma coisa? Mesmo depois de tudo, das noites aborrecidas, a saudade apertando o peito e aprendendo a lidar com tudo sozinha, encontrei alguma forma de me sentir agradecida por tudo isso. Aprendi a lidar com a vontade de desistir de tudo. E acho que você vai conseguir também.
suspirou, encostando seu corpo na cadeira enquanto observava sorrir abertamente para ela, de um jeito acolhedor. Pensou em como a vida conseguia ser injusta com muitas pessoas e voltou a se lembrar de tudo o que havia passado até estar ali, bem e confortável agora.
Depois do que havia lhe dito, se deu conta de que aprenderia uma lição e tanto com ela.
Em pouco tempo, as duas já andavam longe do restaurante. Ainda de braços dados, conversavam um pouco mais tranquilas sobre os planos futuros.
E a única coisa que se passava pela mente de era de como se sentia agradecida por todas as coisas boas que havia lhe acontecido até agora.
Do outro lado do rio Tâmisa, as risadas ecoavam alto pelo Radio Rooftop. A comemoração deixava claro como o grupo de amigos estavam felizes pelo que acontecia. Não era surpresa, para nenhum deles, o motivo da celebração já que sabiam que uma hora ou outra aquilo aconteceria.
observava o casal.
James sorria de forma genuína enquanto tinha seus olhos focados em Kirstie, sua agora então noiva e amiga de . Ela mostrava o anel solitário com uma felicidade imensa para os demais que ali estavam.
Aquilo o fez sorrir. Sabia que a felicidade de seus amigos era um de seus maiores objetivos. Observar que cada um conseguia alcançar seu sucesso, independente da forma, era suficiente para que ele se sentisse incrivelmente bem.
Mas algo dentro de si o incomodava e não sabia explicar o porquê.
Talvez fosse a rotina corrida com a gravação do álbum de sua banda, mas não queria que a justificativa fosse exatamente essa. Talvez fosse a saudade de casa ou as noites sozinho em seu apartamento.
Não sabia dizer. Todas elas pareciam tristes demais.
Resolveu beber um pouco mais. Talvez o álcool lhe desse alguma resposta surpreendente.
Riu com seus pensamentos. Como poderia pensar em algo como aquilo?
Assim que esvaziou a taça que continha o champagne, a depositou na mesa de vidro e se levantou, pronto para aproveitar junto de seus amigos.
— Achei que você não sairia dali tão cedo — ouviu dizer, um pouco mais alegre.
olhou para o copo nas mãos do rapaz e franziu o cenho.
— E eu achei que você não iria se embriagar hoje.
— Você tá mesmo falando de mim, mate? — rebateu. Os dois riram em seguida. — Vamos lá. O que tanto te atormenta?
— O que te faz pensar isso?
o encarou, respirando fundo.
não precisou dizer muito. Deu de ombros e desviou seu olhar para os amigos que se divertiam ao redor.
— Quer que eu seja sincero? — perguntou, retórico. não precisou respondeu. — Em todas as vezes que você pensou demais, escreveu uma música. Quando não era uma composição, algo te afligia e você ficava inerte em sua própria bolha. E, ? Acabamos de lançar um álbum.
— Isso não faz sentido.
Rolou os olhos e bebeu um pouco mais.
— Claro que faz. Você só não quer admitir.
O amigo deu uma piscadela. sentiu o coração bater um pouco mais rápido com aquela indagação. Sabia que haviam coisas lhe tirando a paz, mas não fazia ideia de que estava tão transparente daquele jeito.
Quando pensou em responder Evans, Kirstie se aproximou com um sorriso engrandecido nos lábios. Ela estava radiante naquela noite.
— O que vocês dois estão fofocando?
— nã—
— Sobre o álbum novo — o cortou, olhando de lado. O amigo pareceu ter captado e segurou uma risadinha. — Conversando sobre algumas faixas e sendo gratos pelo sucesso. O de sempre.
Ela riu, assentindo e sem pensar muito de acomodou no meio dos dois amigos.
a olhou e sorriu, tentando acompanhar sua animação.
— Evans, você se importa se eu bater um papo com meu amigo?
— Ele é todo seu! — respondeu, levantando as mãos. Bebeu um pouco da cerveja e se aproximou de Kirstie, sussurrando. — Boa sorte.
A amiga deu um tapa de leve em seu braço e observou se afastar, se misturando com James, Connor e o restante que ali estava.
Respirou fundo e olhou para o lado. parecia perdido em seus próprios pensamentos ao ter os braços apoiados à sacada e os olhos na cidade iluminada.
Ela o cutucou.
— Você quer conversar?
Ele balançou a cabeça, ainda quieto. Parecia tentar formular alguma frase em mente para começar. Kirstie era sua amiga. Sabia que podia se abrir com ela.
— Às vezes sinto que tô parado no mesmo lugar. Não sei se isso tem a menor coerência, mas tenho a impressão de que deveria estar sendo mais. Fazendo mais. Consegue entender?
Deixou os olhos caírem sobre ela, como se necessitasse de uma resposta.
Kirstie o encarou por mais tempo que deveria e pressionou os lábios.
— Acho que isso não tem a ver com estar sendo ou fazendo mais, . Seu olhar me diz outra coisa. Algo que você não quer aceitar — mencionou, um pouco mais baixo. Ele engoliu em seco. — Talvez você já saiba o que é. Ou talvez ainda não. Você quer minha honestidade?
— Por favor — murmurou.
— Deveria estar feliz. O que quer que isso signifique. Você tem tudo. Acabou de lançar um álbum com seus melhores amigos. É reconhecido pelo mundo inteiro e a banda alcança um sucesso grandioso. Sua família te apoia, você tem tudo o que precisa a seu favor — soltou, sorrindo ao final. — Mas algo parece diferente em você, . E dessa vez não sei dizer o que é.
olhou para baixo, pressionando um sorriso cansado que surgia ao ouvir o que a amiga havia lhe dito.
— Também não sei dizer o que é, Kirstie — desencostou da mureta, respirando fundo. Deu uma última golada na bebida e balançou a cabeça. — Mas preciso descobrir.
Ela continuou olhando e assentiu. Sabia certamente que tinha suas questões e quando colocava algo em mente, fazia de tudo para que pudesse solucioná-las.
Se aproximou do mesmo, o abraçando levemente e os dois suspiraram. Ao se afastar, sorriu, colocando uma das mãos no rosto do amigo.
— Você vai conseguir. Eu acredito.
Ele sorriu como ela.
— Obrigado por isso. Você é a melhor — disse, verdadeiramente agradecido. Olhou para o lado e observou James se aproximar, junto dos amigos. — Por isso você e James combinam tanto.
— Ah, nem adianta dizer isso. Sou mais compreensiva que ele.
— Você tem um ponto.
Respondeu. Ainda em meio a comemoração, se deixou levar pela animação dos amigos, bebendo um pouco mais e tirando algumas fotos não só com eles, mas com o restante dos convidados que ali estavam. Naquele momento, decidiu não deixar que suas indagações o afetassem.
Naquela noite, seria alguém normal, feliz pelo crescimento da banda e ainda mais pelo seu sucesso que havia alcançado.
Elas continuavam a rir.
conseguia ser extremamente divertida e fazia com que esquecesse de boa parte de seus problemas. Desde que haviam saído de Waterloo, o caminho de volta para casa parecia mais divertido que o normal. Decidiram por não pegar qualquer transporte, já que tinham saído mais cedo do que o planejado e com isso, poderiam visitar, mesmo que andando, alguns bairros de Londres até chegar à casa.
Já haviam passado por Westminster, Victoria e Belgravia, deixando registrado através de fotos e vídeos algumas partes daquela noite. E foi na avenida indo para Chelsea que resolveram andar sem qualquer pressa, observando e conversando vez ou outra.
tinha seus olhos focados nas lojas comerciais, na iluminação e no movimento de cada uma. As pessoas caminhavam despretensiosamente, assim como elas. parecia mais interessada em relatar tudo que haviam feito em seus stories enquanto a outra só conseguia admirar ainda mais a beleza daquela cidade.
Ao lado esquerdo, ela podia vislumbrar os restaurantes não tão cheios pelo horário, luminosos pelas lâmpadas amareladas. Um pouco mais à frente, havia uma pequena praça ao lado direito, seguida por mais lojas na mesma direção.
Era uma avenida linda, não podia negar.
Ao dobrarem a esquina, pela Cranley Gardens, suspirou.
— Essas casas são lindas, né?
— Se são lindas? Parece cenário de filme — deixou uma risadinha escapar. concordou. — Quem precisa tirar algumas fotos agora sou eu.
Aquilo fez a amiga rir. Gostava da curiosidade de e de como ela parecia querer gravar, não só com o celular, mas com a mente, cada pequeno detalhe daquele lugar.
Observou a mesma apontar a câmera para vários pontos específicos, tentando capturar o que pudesse.
olhou ao redor, antes de voltar a ficar do lado de .
— Aqui até que é bem movimentado — observou vários veículos passando por elas enquanto o semáforo mudava de cor. — Costuma ser sempre assim?
— Essa é uma das principais de Chelsea. Tem bastante comércio nessa direção também.
apontou um pouco mais à frente, onde havia um mini mercado, farmácia, hotéis, e afins. Havia bastante gente naquela região.
Caminharam um pouco mais, onde a rua se alargava. pôde perceber que o trânsito havia se intensificado, talvez até pelo horário. Pensou que por ser quase fim de semana, muitas pessoas tinham costume de sair para aproveitar um pouco.
Observou pegar o celular e olhar as horas no display aceso. Fez uma careta parecendo se lembrar de algo.
— Que foi?
— Esqueci de comprar algo. Preciso ir à farmácia — disse, procurando alguma coisa em sua bolsa. — Vou rapidinho, é logo ali na outra esquina. Você espera aqui? Vamos ter que pegar esse caminho mesmo.
— Claro. Vai lá.
a observou atravessar a avenida e abraçou o próprio corpo, voltando a sentir o frio de antes. Notou que algumas pessoas passavam ao seu lado, agitadas, rindo alto, sem qualquer outra preocupação. Diferente dos carros e ônibus que passavam por ali mais rápido.
Respirou fundo. Sentiu o ar gélido adentrar suas narinas e a sensação de paz tomou conta de si.
Se deu conta de que Londres e Ann Arbor conseguiam ser incrivelmente diferentes até naquilo e mesmo que sentisse paz em estar ali, agora sem qualquer preocupação, ainda sentia o receio de estar sozinha.
Foi aí que se deu conta.
Quando pegou o celular em seu bolso e verificou à hora, notou que estava demorando. Não sabia o que ela precisava, mas não imaginou que pudesse demorar daquele jeito.
Começou a sentir o coração palpitar. Naquela hora, tudo parecia estranho ao seu redor. Os veículos, a rua, as poucas pessoas que passavam ali. Em segundos o medo começou a falar mais alto, dando lugar aos pensamentos pavorosos voltando à sua mente.
Sentiu a garganta arder. Queria procurar , mas não queria parecer tão apavorada em fazer aquilo.
Pensou mais uma vez. A verdade era que ela ao menos sabia o que fazer.
Fechou os olhos brevemente. não podia ficar ali.
Sem pensar em qualquer outra coisa que lhe fizesse ficar ali por mais tempo, a garota resolveu atravessar a avenida. Não se deu conta quando não olhou o sinal, muito menos a movimentação de carros que passavam e viravam à próxima esquina.
Ao menos conseguia pensar direito.
Foi só quando quase alcançou a calçada do outro lado sem ver qualquer outra coisa à sua frente que ouviu a buzina alta junto dos faróis reluzentes em sua direção. Aquilo a fez voltar à sua realidade, se dando conta do que acontecia.
Com o susto do barulho junto da freada do carro, se atrapalhou ao tentar se equilibrar e caiu de leve para o lado, apoiando uma das mãos ao chão.
Seu coração estava disparado.
não conseguiu focar sua atenção em muita coisa. Nem mesmo percebeu quando a porta do carro bateu e alguém vinha ajudá-la rapidamente.
— Eu sinto muito, não foi minha intenção — começou a dizer. engoliu em seco e ergueu o olhar.
Observou o rapaz. Ele não lhe era estranho. Notou o olhar de preocupação sobre ela, os cabelos castanhos não tão alinhados cobrindo parte de sua testa.
Seu nariz arredondado e os lábios um pouco mais finos.
Ele não lhe era mesmo estranho. pigarreou, desviando seu olhar do dele.
— A culpa foi minha. Eu que atravessei sem olhar. Me desculpa.
— Você tá bem? — ele a analisava por completo enquanto tentava se levantar. O rapaz a segurava pelo braço com delicadeza. — Quer que eu te leve ao médico?
— Tô sim. De verdade. Não precisa se preocupar.
— Tudo bem, você—
— ?!
A voz de soou mais alto que o normal. Quando viu a amiga ao chão, levantando aos poucos, quase se desesperou. O carro parado, ainda ligado, já deixava evidente o que havia acontecido.
— Desculpe. Tenho que ir. Espero que fique bem, mesmo.
Ele olhou para uma última vez, com aqueles olhos castanhos brilhantes.
Algo em seu olhar dava a entender que queria lhe dizer mais alguma coisa.
E realmente queria descobrir de onde o conhecia.
Não levou segundos para que ele entrasse no carro, antes de se aproximar e se distanciar aos poucos.
ainda estava perdida no que havia acabado de acontecer.
se aproximou, a ajudando a se erguer, mesmo um pouco atrapalhada com as sacolas nos braços.
— Meu Deus, ! O que aconteceu? Você tá bem? Mesmo? — soltou em disparada, fazendo com que a amiga a encarasse.
sorriu minimamente com sua preocupação.
— Calma, não foi nada demais. Fui atravessar a avenida e não vi o carro se aproximando.
— Ai, esses motoristas irresponsáveis! Que cara maluco! — resmungou, se irritando com o acontecido. — É melhor você ir pra longe mesmo antes que eu ligue para a polícia, seu sem noção! — gritou para a direção em que o carro havia ido. levou uma das mãos à boca, achando graça de sua reação. — Sua sorte é que não cheguei a tempo para te dar uns tapas!
respirou fundo, ajeitando sua roupa e as sacolas que segurava devidamente. Quando olhou para , as duas desataram a rir com o acontecido.
Balançaram a cabeça, não acreditando e, sem ao menos notarem, entrelaçaram seus braços, prontas para ir para casa de uma vez.
Pouco tempo depois, já em Fulham, adentrou seu apartamento, sendo recebido por Jesse com toda a animação que ela podia ter. Mesmo um pouco senil, ainda tinha uma energia indescritível.
Mas aquilo não havia sido suficiente para que ele acalmasse seu coração. Sua cabeça parecia explodir e suas mãos suavam como em toda vez que o rapaz ficava nervoso. E não era para menos.
Caminhou em direção ao sofá, deixando o corpo desabar ali e levou suas mãos de encontro ao rosto, o afagando.
Como é que ele havia deixado aquilo acontecer?
Podia sentir o pouco do álcool que tinha bebido transpirando por seus poros e o sentimento de culpa, e arrependimento tomando conta de si aos poucos.
Ele podia ter sido mais cauteloso. Podia ter esperado um pouco mais para ir embora ou até mesmo aceitado a carona de . Ou de Connor.
Encarou o teto da sala. Será que ela havia o reconhecido? Será que sabia quem ele era?
O quão aquilo poderia lhe dar algum problema?
Se lembrou do semblante da garota que o observava. Ela parecia querer decifrá-lo ou dava a entender que estava tentando reconhecê-lo. Ela o observava tão atentamente que , por um momento, quase esqueceu que poderia estar correndo risco em ser reconhecido.
Aquele olhar parecia querer dizer alguma coisa.
Resolveu não pensar muito em pegar seu celular. E antes do terceiro toque, a voz de , mais alterada que o normal, o recepcionou.
fechou os olhos com força antes de responder.
— Você não sabe o que eu fiz.
Aquela era a voz de inundando parte do apartamento de .
franziu o cenho, ainda com os braços cruzados firmemente, encarando o amigo.
Depois de ter contado todo o acontecimento mais cedo, o fato de ter literalmente atropelado alguém que mal conhecia em um recinto aberto, rodeado de pessoas que provavelmente o reconheceram, não imaginava que logo surtaria daquela maneira.
— Acho que era pra eu estar surtando assim. Não você.
— Esse não é o foco, . Você tem ideia de como isso pode te acarretar algum problema?
respirou fundo.
Ele fazia, até demais.
Continuou observando Evans andar de um lado para o outro, como se aquele fato estivesse consumindo boa parte de seus neurônios. No fundo, compreendia a reação de seu amigo. Aquilo era motivo suficiente para todos, não só ele, levarem uma bronca daquelas de seu manager, Joe O’Neill e, pior do que aquilo, sabia que podia ser notícia em boa parte das manchetes da cidade.
— Ela te reconheceu? O que foi exatamente que aconteceu? Você acha que ela pode sair falando por aí que foi atropelada pelo vocalista do ?
respirou fundo e fechou os olhos. Não acreditava que estava surtando justo naquela hora.
— Pra ser sincero, acho que estamos procurando problemas onde não tem, cara — disse, dando de ombros. Mesmo que estivesse nervoso e preocupado com o que havia acontecido, não queria deixar que aquilo tomasse parte de seus pensamentos. — Acho que não foi nada demais. Ela ao menos deve nos conhecer. Se soubesse quem sou, teria dito alguma coisa.
— Ou fingiu que não te conhecia pra distorcer toda a história depois!
— . Qual é, mate? — deixou uma risadinha escapar, desacreditado. — Vamos só… Pensar um pouco positivo. Pode ser?
— Se é assim… Olha só, você não pode simplesmente me ligar daquele jeito e me dar um susto como se tivesse, sei lá, perdido um dedo — soltou, exasperado ao se aproximar do amigo. rolou os olhos e ergueu o corpo.
— Quer um pouco de água, Evans? Acho que você precisa.
Depois de todo aquele assunto, sabia que qualquer resquício de álcool em seu corpo havia evaporado, ao contrário de que parecia estar sendo movido por ele.
— Água? Eu preciso é de uma cerveja!
fechou os olhos mais uma vez, deixando o fone intra auricular passear entre seus dedos. Não conseguia tirar a cena da cabeça, apesar de terem se passado semanas do acontecimento e nada ter surgido.
E agradecia por aquilo, afinal, sua teoria estava mais do que certa. Ela ao menos sabia de sua existência como alguém famoso.
Mas algo no fundo o incomodava. E não era sobre ter quase cometido um acidente ou sobre quase ser descoberto. Nem mesmo eram sobre suas preocupações quanto a banda naquele momento.
Os olhos da garota não saíam de sua mente. Os castanhos curiosos e brilhantes, que pareciam ter resplandecido um pouco mais quando o olhou. não sabia colocar com todas as palavras o motivo de sua curiosidade quanto a isso, mas um olhar como aquele, certamente não seria fácil de ser esquecido.
Assim como os traços de seu rosto. A ponta do nariz arrebitada e os lábios um pouco mais avermelhados pela adrenalina que, muito provável, percorria o corpo da garota a qual ele ajudava a se levantar.
Se sentiu tolo por se pegar pensando em algo como aquilo. Por que alguém, tão comum e usual, havia tirado toda sua atenção como estava acontecendo?
— A culpa foi minha. Eu que atravessei sem olhar. Me desculpa.
— Você tá bem? — ele a analisava por completo enquanto tentava se levantar. O rapaz a segurava pelo braço com certa delicadeza. — Quer que eu te leve ao médico?
— Tô sim. De verdade. Não precisa se preocupar.
— Tudo bem, você—
ao menos pôde continuar a seguir sua linha de raciocínio. O toque morno de seus dedos no braço da garota fez com que uma leve eletricidade percorresse parte de seu corpo e aquilo fez seu coração acelerar.
Desorientar. Descompassar. Perder inteiramente o ritmo.
E não havia ninguém melhor que ele para entender sobre aquilo.
— Certo. Não podemos demorar aqui. Vocês ainda tem uma sessão de fotos na parte da tarde.
A voz de O’Neill despertou a ponto do mesmo piscar algumas vezes para voltar à sua realidade. Ele assentiu e deixou o corpo um pouco mais ereto, o alongando para se levantar por completo.
— Você tá com uma cara péssima, — Connor se aproximou, bagunçando seus cabelos. — Assim vai espantar todos os nossos fãs se te verem desse jeito.
— Vou ignorar seu comentário por enquanto.
— Deixem ele. não teve uma noite muito boa. Não é mesmo? Ergueu o olhar podendo avistar com um sorrisinho confiante no canto dos lábios. Não pensou duas vezes em dar o dedo médio, se levantando por completo antes de soltar qualquer xingamento para ele e, enquanto isso, risadas ecoaram por ali.
— Ninguém teve uma noite muito boa já que a bebida se tornou nitidamente mais presente entre vocês — James se aproximou do trio, deixando os braços descansarem no ombro de que estava mais perto. — Agora, espero que lembrem que temos o último ensaio do casamento ainda essa semana. Kirstie não me deixa esquecer.
— Temos mesmo que participar?
Connor perguntou com a voz arrastada em puro sofrimento. não pôde deixar de rir.
— Óbvio. Ou pode se considerar desconvidado.
— Você é um idiota — murmurou, rolando os olhos e não evitou em distribuir alguns tapas no amigo. — Mas tudo bem, já que você implorou pra que eu fosse o padrinho.
— E lá vamos nós…
havia se desconectado por alguns instantes. Ele era o que mais gostava de tirar sarro com os amigos e aquilo só deixava tudo ainda mais divertido, mas foi impossível que em específico não notasse seu entretenimento no celular em mãos.
Raramente via Evans tão concentrado em uma conversa, já que seus dedos deslizavam rapidamente para todos os cantos do teclado e aquilo acendeu uma faísca de atenção no rapaz, não se intimidando em se aproximar do amigo para tentar ver o que era.
— Em que mundo você tá? — alfinetou. ergueu o olhar, um tanto perdido.
Mais que o normal.
— O que? Ah… Não é nada, não. Só trocando uma ideia com alguns amigos — deu de ombros e desligou o display do aparelho, o colocando no bolso. — E você é fofoqueiro, hein?
— Claro que não.
Naquele começo de tarde, as ruas de Westminster pareciam mais agitadas do que costumava se lembrar nas últimas semanas que esteve no local. Sentia uma mistura de ansiedade e frio na barriga pelo que estava fazendo no instante em que andava apressada pelas lojas conhecidas nas calçadas daquele bairro.
Havia saído da casa que tinha começado a compartilhar com com a missão de entregar a maior quantidade de currículos que conseguisse para se estabelecer na cidade que, há semanas atrás, a deixara perdida e desesperada.
Seu coração descompassava só de lembrar das emoções que sentiu no lugar desde que tinha descido do aeroporto Heathrow. Cada passo que dava pelas ruas londrinas, agora um pouco mais familiares, a fazia se lembrar com nitidez dos dias difíceis e complicados que havia tido ali, se sentindo tão perdida e angustiada.
Sua mente brilhava a lembrança de quando achou que seu sonho havia ido por água abaixo. De quando pensou que tudo estava arruinado e que teria que voltar para casa, decepcionada por ter algo planejado há tanto tempo não dando certo como havia imaginado. Se lembrava de como era estar sozinha, sem um lugar para ficar, sem dinheiro e, o mais doloroso, sem perspectivas de conseguir alcançar seu tão sonhado objetivo da forma que queria.
já estava entregando currículos há um bom tempo. Mesmo agora, enquanto caminhava com mais determinação, cada resposta negativa ou olhar indiferente dos gerentes e responsáveis de loja parecia ecoar com o peso da rejeição sobre ela.
Não queria desanimar, longe disso. Mas, não conseguia parar de pensar se havia algum problema consigo ou se não era boa o suficiente para conseguir algo.
Os pensamentos sombrios começavam a incomodar.
No entanto, apesar de tudo o que se passava em sua mente, também tinha um resquício de esperança no fundo do coração. Mesmo com todas as dificuldades e complicações, havia conhecido por acaso do destino, uma amiga que estava se tornando seu porto seguro, e como, lentamente, também estava conseguindo superar tudo o que havia lhe feito mal.
, com seu espírito encorajador e feliz, o sorriso acolhedor, havia se tornado a amiga que nunca soube que estava esperando. Compartilhavam histórias similares, sonhos parecidos e estavam criando um laço inexplicável.
As duas estavam mais próximas do que nunca.
só conseguia agradecer por ter alguém como ela em sua vida.
E mesmo com tudo aquilo, dentro de si, a garota tinha expectativa de crescer em Londres. De conseguir se estabilizar e ter uma vida tranquila ali.
Respirou fundo e se permitiu sorrir um pouco.
Parte de sua tarefa estava cumprida; estava quase acabando com os papéis que havia impresso. Com isso, aproveitou para descansar um pouco ao adentrar o St. James Park e, ainda desfrutando a fresca daquele dia, se sentou em um dos bancos próximos rodeados pelas árvores não tão esverdeadas pelo outono que já se fazia presente.
Quando fez menção de pegar o celular, o sentiu vibrar suavemente em seu bolso da calça jeans. O pegou, observando uma nova notificação de uma pessoa que estava fazendo parte de seus dias, assim como .
Mesmo que apenas por mensagem.
Ei,
Como vão as entregas? 😜
quis rir com a mensagem do rapaz.
Na noite anterior havia comentado que faria o possível para entregar o máximo de currículos que conseguisse e ele, assim como , a encorajou animadamente.
Se sentia feliz por ter pessoas como os dois a seu lado, a apoiando de todas as formas.
Deixou a bolsa no banco e ajeitou o corpo, de forma confortável, para começar a respondê-lo.
Não achei que fosse ser tãaao cansativo hahah
Mas tô otimista, espero conseguir algo em breve
Pelo menos não fui expulsa de lugar nenhum! 😶🌫️
HAHAHAH
É isso aí! Certeza que vai conseguir algo fácil
Enquanto isso, aproveita para conhecer um pouco mais da cidade londrina
Eu ia comentar isso agora hahah
A medida que conheço os lugares, parece que só vai aparecendo muito mais
Confesso que tô animada 🙆🏻♀️
Londres tem esse efeito sob as pessoas mesmo, é incrível
Fora isso, tudo bem por aí? Quais seus planos para o próximo fds?
Devo estar na cidade e seria bem legal se nos encontrássemos de novo 👀
Vou ter um evento, mas depois dele, tô livre!!!
sentiu o coração desorientado por alguns segundos com o convite repentino de . Não que achasse aquilo estranho, já que o rapaz quase sempre estava ocupado e nenhum dos dois havia tocado no assunto de se encontrarem novamente depois do dia no parque com a tão espoleta Jesse.
Os dois pareciam confortáveis do jeito que estavam, trocando apenas mensagens, fotos e risadas por coisas bobas e ingênuas.
Em algumas dessas vezes em que estava conseguindo ajudar na lanchonete, a amiga já havia perguntado várias vezes o motivo de não ter foto no aplicativo e de sempre estar tendo que fazer algo que demorasse horas e horas.
Mas sabia que ela queria mesmo era saber o quão bonito ele era pelas informações que havia passado.
Riu fraco. Com isso, se animou por vê-lo outra vez. E tentaria garantir que o conhecesse também.
Seria incrível, , mas vou precisar trabalhar nesse próximo fds 😩
Consegui um trabalho temporário com e vou ajudar ela, preciso! hahah
Mas podemos marcar para a próxima, que tal?
A conversa dos dois continuou de forma descontraída, com mais risadas, emojis e um pouco mais de pequenos detalhes de suas vidas. Se animaram com a proposta de um encontro próximo e por sentir que se aproximavam cada vez mais, a cada dia que passavam conversando.
Resolveu por terminar de distribuir o restante dos currículos que haviam sobrado e se preparou para levantar de onde estava sentada, ainda sentindo o sol quentinho lhe aquecer a pele.
Aquele era um dos momentos em que se sentia sortuda e agradecida por estar conseguindo suas coisas, mesmo que minimamente, em Londres.
Quando começou a caminhar em direção à saída do parque, sentiu o celular vibrar outra vez e o pegou, observando o nome de piscar no display em ligação.
Sorriu, a atendendo.
— Oi, !
— ! Onde tá agora? Daqui há… — fez uma pausa. — Menos de duas horas termino meu expediente. Pensei da gente se encontrar e fazer alguma coisa.
— Perfeito! É até coincidência, não tô muito longe do seu trabalho. Vim distribuir alguns currículos no centro desde manhã — sorriu para si mesma, ainda caminhando. — Quer que eu te encontre onde?
— Pode ser perto do Madame Tussauds? Quem sabe a gente não vai até lá! Você vai adorar, !
sentiu o peito tamborilar ao se lembrar do museu e de como seria interessante visitá-lo. Já havia escutado bastante sobre ele e de como abrigava as figuras mais famosas em cera.
— Imagino que sim! Combinado então, , logo encontro você.
A amiga do outro lado da linha demonstrou sua empolgação, o que fez rir antes de desligar o aparelho.
— Te vejo em breve!
Já era possível escutar o início da noite londrina quando as duas amigas passaram pela Regent St. em direção ao Hyde Park segurando sacolas pesadas de um mercado que adentraram no caminho.
Haviam se animado e a primeira coisa que passou pela cabeça de , e ela achou que seria uma ótima ideia para passarem a noite, era fazer um piquenique naquele parque. Compraram pão, queijo e um suco geladinho que, de acordo com as mesmas, tinham certeza que substituiriam um vinho.
Pelo menos naquele momento.
Entre conversas e risadas animadas, mesmo que o tempo estivesse um pouco frio e as duas apertassem seus corpos procurando ficarem quentinhas, se sentiam animadas por compartilhar tantas coisas novas juntas. Por conhecerem mais um pouco uma da outra e verem o quão parecidas eram.
Caminharam um pouco mais e mesmo não sendo tão perto de onde estavam, rapidamente já se aproximavam das árvores altas e dos arbustos que rodeavam todo o parque pela conversa solta que estavam tendo.
Mal havia percebido o tempo passar.
As duas logos estavam na calçada e em poucos minutos, dentro do local.
queria soltar gritinhos animados pela paisagem que avistava. Faltava pouco para as estrelas brilharem no céu e o clima ameno, mesmo frio, lhe aconchegava.
Notou também que algumas pessoas passavam por ali caminhando, despreocupadas, outras permaneciam sentadas nos bancos espalhados e até mesmo no extenso gramado.
Achou incrível.
— Vamos andar um pouco mais. Tem um lugar maravilhoso no centro do parque para sentarmos — disse, apontando para frente.
Em poucos minutos as duas já estavam andando pelo gramado e se sentando de qualquer jeito, ouvindo as conversas e animação ao redor. colocou as sacolas entre as duas e deixou um sorriso transparecer.
Várias pessoas faziam o mesmo que elas e um pouco mais à frente havia um lago, onde visitantes alimentavam os pássaros que estavam por ali.
— Esse lugar é impressionante. Não imaginava que era tão bonito e calmo.
— As fotos não se comparam ao ver pessoalmente — riu. — Sempre falo pras pessoas. Estar aqui é muito mais emocionante. Você consegue sentir a paz, né?
assentiu, respirando fundo como se aquilo fosse limpar seus pulmões de alguma forma. Quase não conseguia acreditar que, há semanas atrás, estava cogitando a ideia de voltar para Ann Arbor onde sua família se encontrava. Que estava prestes a desistir de seu sonho depois de tanto tempo o planejando.
Não conseguia acreditar que, naquele momento, estava sentada em um parque, rindo e conversando sobre coisas tão triviais que a fariam esquecer os momentos catastróficos que vivenciou, junto de alguém que começou a ser significativamente especial em sua vida.
Não conseguia demonstrar, nem mesmo explicar, o quão grata se sentia por tudo.
cortou um pedaço do queijo e, jogando um direto na boca, ofereceu o outro para a amiga que logo o pegou.
O céu já estampava algumas estrelas.
— Olha! — apontou para o lado oposto. franziu o cenho, tentando entender o que a amiga queria e quando virou o rosto, sentiu o coração descompassar. — Não parece que estamos em um conto de fadas de tão bonito que é?
Já havia anoitecido e o azul escuro pintava todo o céu. As luzes amareladas da cidade agora, já estavam acesas e, o que deixavam o Hyde Park ainda mais especial, como havia dito, eram as demais luzes acesas e espalhadas pelo enorme jardim.
A garota tinha um misto de sentimentos dentro do peito que ao menos sabia explicar.
— Uau, isso é… Uau!
colocou uma das mãos no rosto, sem acreditar no que via.
riu mais uma vez, inclinando a cabeça.
— Sabia que ia gostar. É um dos meus lugares preferidos aqui — assentiu. — Ainda não tenho o meu, mas acho que tenho tempo para isso, né? — comentou, fazendo graça. Cortou um pedacinho do pão e o saboreou. — Nossa, isso é delicioso. Acho que precisava mesmo de algo assim.
Suspirou. a olhou.
— Fico feliz que tenha gostado, . E falando disso, como você tem se sentido ultimamente? Desde, bom… Você sabe.
pensou por um momento. Não conseguia dizer que havia se recuperado totalmente de tudo o que havia passado, mas estava muito melhor do que sua primeira semana na cidade. Ela ainda ansiava por conquistar tudo o que sempre quis ali.
Como em seus planos.
— Não é como se eu estivesse cem por cento com tudo. Ainda é muito novo e surreal. Depois do que passei naquela semana ainda penso e tenho medo de voltar à estaca zero, do jeito que me encontrava — engoliu em seco, desviando o olhar. Não queria se demonstrar tão fraca, mais uma vez, em frente à . — Só, são pensamentos que não desaparecem tão facilmente assim.
A amiga pressionou os lábios, assentindo.
— Imagino como deve ter sido. As coisas nunca são fáceis, — cortou mais um pedaço do queijo e, segundos depois, ofereceu. — Mas você não tá mais sozinha nisso. Agora tem uma amiga e espero que você ainda queira a amizade dessa louquinha aqui — apontou para si mesma, arrancando uma risada da outra. — Por um bom tempo.
— Pode ter certeza que sim! — afirmou, derramando um pouco do suco no copo plástico que haviam conseguido. Segurou com as duas mãos e ergueu o olhar para a amiga. — Sabe, , em um momento achei que tudo estava perdido. A viagem, o sonho de conhecer a cidade e crescer aqui. Achei mesmo que teria que desistir de tudo — pressionou os lábios. — Naquele dia que te encontrei, eu ia mesmo desistir de tudo, mas… Que bom que você apareceu naquela hora. Foi um alívio e tanto.
deixou um largo sorriso aparecer, fazendo um biquinho logo depois.
Sabia como os dias de haviam sido difíceis e se emocionava só de pensar em como conseguiu ajudar a amiga.
— Que bom que pude te ajudar quando mais precisou. Só não me faz chorar, !
Disse, fazendo graça.
olhou para , deixando um sorriso de canto aparecer.
— Mas, preciso dizer que pude perceber que você não é uma grande amiga, .
— O que? — a outra perguntou, sem entender.
— Você é um anjo!
levou a mão no coração, rindo junto de . Por um momento achou que havia feito algo que a amiga tivesse aquela impressão, mas depois de sua resposta só pôde ter certeza que tinha a pessoa certa a seu lado.
— Não me mata de susto, mulher — fechou os olhos brevemente, ainda rindo. Balançou a cabeça e antes de continuar a desfrutar dos alimentos que tinham, a olhou. — , quero que saiba que você pode contar comigo a qualquer momento. Você não tá sozinha nessa jornada, saiba disso. E, por mais que ache que fui eu que te salvei, quem me salvou foi você. Com sua amizade.
já podia sentir seus olhos marejados pelo sentimento que transbordava seu peito. Em nenhum momento achou que encontraria uma amizade tão especial como a de .
— Isso significa muito, de verdade. Não sei como te agradecer.
balançou as mãos no ar.
— Que tal se fofocarmos um pouco? — fez uma careta. deixou o corpo um pouco mais confortável antes de continuar. — Você deixou alguém para trás?
— Minha mãe e minha irmã. Não tinha muitos amigos na cidade.
— Mesmo? Nenhum namoradinho?
— Lá vem você de novo… — comentou, arrancando mais risadas da amiga que jogou uma migalhinha de pão nela. — Não, nenhum namoradinho. Acho que estava mais interessada em viajar pelo mundo. Londres estava no topo da lista!
— Então nós precisamos visitar mais alguns pubs por aqui! — exclamou, animada.
fez uma careta.
Não era como se ela estivesse precisando de alguém no momento.
— Nunca liguei muito pra esse tipo de coisa. Sempre preferi esperar pela pessoa certa, sabe? Por mais clichê que isso possa parecer — sorriu, um pouco sem jeito. — Mesmo que ela demore a chegar. Prefiro que não seja qualquer pessoa. — Que romântica! Acho isso uma graça — esticou a mão, apertando a bochecha da amiga. se encolheu, rindo.
— Você não vê dessa forma?
— Acho que sou um espírito livre — abriu os braços. Foi impossível que não risse. sorriu mais uma vez. — Não consigo me ver presa em um relacionamento assim, sem contar que tenho muito o que vivenciar ainda. A começar por conhecer mais alguns gatinhos londrinos!
— É claro que sim, né, ? — perguntou, retórica. A amiga assentiu.
Beliscaram um pouco mais do pão e do queijo antes de continuarem a conversar.
As duas pareciam se conhecer a anos pela proximidade que estavam tendo.
— Ah! Esqueci de te falar — respondeu, com a boca um pouco cheia. — Consegui algo pra você. Na próxima semana vai ter um evento e estamos precisando de ajuda. Não é algo muito luxuoso, o trabalho é em uma festa e—
— Eu aceito! — a cortou, sem ao menos ouvir o restante da proposta. arregalou os olhos. — Qualquer que seja a oferta, eu aceito!
sorriu com a animação da amiga.
— E você vai ter dançar pros convidados!
— Quê?! — gritou, tampando sua boca no instante seguinte. Foi motivo suficiente para que ficasse sem fôlego de tanto rir.
— Tô brincando, bobinha. Vai nos ajudar com o buffet, preparando alguns pratos, os servindo… Essas coisas.
respirou aliviada, sorrindo outra vez. Queria abraçar várias vezes.
— Não sei nem como te agradecer, outra vez! — esticou os braços, puxando a amiga para perto. — Obrigada pela oportunidade. Não vou decepcionar!
— Já disse que não precisa agradecer! Quer mais um pouco de suco?
Por mais que naquele horário já estivesse consideravelmente frio, as duas não se importaram em continuar ali um pouco mais, jogando conversa fora. Parecia ser um dos poucos momentos em que nenhuma preocupação rondava a cabeça de e fazia com que não se lembrasse do emprego e demais responsabilidades que tinha.
Então, em meio a risadas agitadas e assuntos sobre suas vidas, e recolheram suas coisas, prontas para voltar para casa, ainda seguindo pelo iluminado caminho até o final do Hyde Park.
Aquela noite parecia diferente.
O luar envolvia o apartamento de , destacando apenas a lâmpada amarelada que dava destaque ao restante do cômodo onde se encontrava.
estava sozinho, imerso no próprio silêncio, nos pensamentos acelerados e no som ocasional do arranjo que tentava criar através dos instrumentos espalhados pela sala. Seu apartamento era considerado um santuário para ele, principalmente quando se tratava de música, tendo todos os instrumentos que julgava ser necessário para que compusesse algo novo.
Havia um violão, a guitarra elétrica Telecaster Vintage que ele tanto gostava e até mesmo usava em seus shows, além de algumas partituras bagunçadas formando quase que um tapete de tão espalhadas e amassadas que estavam pelo chão.
estava sentado na poltrona acolchoada, com os dedos percorrendo as teclas do piano na sua frente e fazia de tudo para dar vida a melodia que tinha bem no fundo da sua mente.
Estar sozinho, mesmo que acompanhado de Jesse, era um dos momentos que trazia boa parte da inspiração e o fazia pensar também em como sua vida estava percorrendo.
Se lembrou que aquela era a primeira vez que se encontrava ocupado, aproveitando boa parte do dia, pensando em trechos e estrofes de uma nova música. Ele vivia para aquilo, era sua vida e não tinha como querer outra, mas algo parecia diferente do que o normal.
sentia o coração acelerado. Sentia os dedos nervosos, como se algo lhe deixasse impaciente; o que, afinal, não costumava acontecer.
sempre foi o tipo de pessoa que deixava a serenidade tomar conta de si.
Respirou fundo. Com isso, tentaria outra vez. E mais uma.
Como estava levando aquele dia inteiro em seu apartamento.
Enquanto posicionava seus dedos novamente nas teclas, ainda lutando com suas emoções e tentando transformá-las em composições para o novo álbum, deixou que os olhos caíssem em Jesse, sua labradora.
A mesma estava deitada de lado, com o focinho em sua direção, como se perguntasse quando é que o rapaz acabaria com aquilo de uma vez.
Ergueu a cabeça com o olhar curioso. sorriu.
Sentiu seu coração aquecer com a presença e ingenuidade de sua melhor amiga.
Sabia bem o que ela queria. Desde a parte da manhã deveria tê-la levado para caminhar, mas achou arriscado demais ser reconhecido.
Então, resolveu focar em seus afazeres e só ao olhar para o relógio, notou que já estava tarde.
Suspirou e levantou, esticando as pernas.
Jesse rapidamente pulou no rapaz.
— Vem, garota — acariciou o topo da cabeça dela ao ouvir um latido. — Sei que queria ir de manhã, mas não podemos arriscar. Você entende, né?
Perguntou, como se ela de fato fosse lhe responder.
Riu consigo mesmo.
Se agasalhou rapidamente. Não estava com frio, mas não sabia o que esperar ao sair do apartamento. Colocou o gorro na cabeça com rapidez, ajeitando os cabelos sem muita calma e jogou o cachecol ao redor do pescoço, para que pudesse com ele, esconder seu rosto quando precisasse.
Queria fazer o possível para evitar ser reconhecido. O que quase aconteceu há semanas atrás.
— Hora de aquecer, Jesse.
Desceram o único lance de escadas e ao abrir a porta, sentiu o vento gelado lhe abraçar e aquilo quase o fez desistir de ir. Por , daria meia volta e voltaria para suas composições.
Mas Jesse precisava de sua caminhada diária e ele faria aquilo por ela.
Não pensou duas vezes até ir em direção à seu carro e colocar sua amiga para dentro.
Sua próxima parada seria o Hyde Park.
E não demorou muito para que chegassem ao local.
Notou que a noite estava tranquila e quieta, assim como a quantidade de pessoas que permaneciam no lugar.
O lago estava calmo, refletindo o céu estrelado e as árvores ao redor só o fazia ter certeza de como gostava daquele lugar. amava a cidade e sempre que voltava, parecia a primeira vez que a conhecia.
O músico caminhou pelo parque com Jesse a seu lado na guia.
Sentiu o peito apertar por um segundo enquanto sua mente vagava para longe.
Se recordou do início da carreira, dos altos e baixos que enfrentou para chegar até onde estava. Se lembrou dos primeiros aplausos, das primeiras críticas.
De todos os momentos que se sentiu no topo do mundo inteiro.
Mas ali, sozinho, todos esses momentos pareciam distantes demais.
Não tinha como negar que toda a fama e reconhecimento eram inegavelmente gratificantes. Com eles, havia conseguido conquistar muitas coisas além de seu maior sonho; fazer música e mostrar ao mundo todo.
Mas era solitário demais. Muitas vezes, não era o cantor famoso, vocalista do .
Era só , uma pessoa qualquer, com sonhos como qualquer outra. Se sentia perdido, sozinho e com medo.
Parecia difícil demais para explicar.
Olhou para Jesse outra vez, acariciando seu focinho.
Também se sentia agradecido. Havia acabado de lançar um álbum, sua carreira estava no auge. O que mais queria era que aquilo fosse tudo.
Queria mesmo que fosse tudo.
ainda sentia que algo a mais o aguardava.
Sentiu o vento passar entre eles outra vez e respirou fundo.
O que poderia fazer, afinal? Iria esperar para o que quer que estivesse à lhe encontrar.
Com isso, expulsando qualquer pensamento desagradável, esticou os braços e as pernas, iniciando uma pequena corrida por ali.
Jesse o acompanhava, mais animada que o normal.
Por mais que não quisesse pensar em qualquer outra coisa e desejasse que sua mente simplesmente acalmasse, algo lhe deixou curioso. Mais do que já havia estado.
Se lembrou da garota que quase havia atropelado. Se lembrou mais uma vez.
A memória dela o intrigava. E intrigava ainda mais por persistir em ficar na sua mente.
estava acostumado ao reconhecimento, pelo menos em Londres.
Qualquer lugar que ele parasse ou passasse, era motivo de fãs agitados e pedidos de autógrafos a todo momento.
Será que ela realmente não o conhecia? Não que aquilo fosse tão importante.
Mas se preocupou ao pensar na possibilidade de espalharem algo sobre o acontecido.
Os olhos castanhos cravados no seu, desatentos à sua identidade, o deixou mais pensativo que o normal.
Mesmo nos poucos segundos que esteve com ela, sentiu algo que não costumava sentir com qualquer outra pessoa. Por mais clichê que possa parecer, os olhos da garota pareciam serenos demais comparados a mente conturbada e pesada do rapaz.
Como se lhe transmitisse algo novo.
Por um momento, quase a invejou. Quase a invejou por ser alguém tão comum, simples e aparentemente em paz. Sem a fama, os flashes e a agitação de uma vida em estrelato.
tomou fôlego, respirando fundo. Se sentia ignorante por pensar daquele jeito.
Com mais calma, deixou que Jesse fosse um pouco mais na frente. não parecia mais focado em seus pensamentos como antes e agora a única coisa que lhe captava a atenção era a forma com que sua melhor amiga brincava despreocupada com as folhas secas espalhadas no chão.
O vento parecia mais frio, mas sentia uma sensação de paz indescritível.
Não demorou muito para que permanecessem no parque.
Os dois caminhavam sem pressa até uma das saídas no lugar, seguindo pelo caminho iluminado onde algumas pessoas também caminhavam. A lua continuava a iluminar a passagem, criando algumas sombras nas árvores e nas estátuas que estavam espalhadas pelo parque inteiro.
À medida que andavam, sentiu algo diferente.
Algo o fez parar por um momento e olhar ao redor.
Aquela sensação de familiaridade, de estar próximo a algo que era seu lhe tomou conta, mas não sabia dizer ao certo o porquê do sentimento.
Seu coração descompassou, o fazendo sentir um certo frio na barriga.
O tipo de emoção similar ao que sentia ao subir nos palcos para fazer o que amava.
E a sensação parecia ficar mais forte a cada momento.
O que não sabia era que também sentia a mesma coisa.
A garota também olhou ao redor procurando por algo. Ou alguém.
Mas tinha gente suficiente para que ela não encontrasse nada específico.
Respirou fundo. Não deveria ser nada.
continuou andando, com a mesma sensação evidente dentro de si.
Não notaram quando passaram um pelo outro, sem ao menos perceber suas presenças. A emoção parecia mais forte do que antes.
Inexplicável demais. Surreal demais.
Exatamente como se algo voltasse para eles.
O coração de apertou e o rapaz se virou, olhando também para as pessoas que ali passeavam.
Não havia nada, nem ninguém.
Antes de virar para frente, olhou mais uma vez, mas já estava distante o suficiente para que pudesse reconhecer alguém ali.
E na medida que se afastavam, a sensação de perda atingia em cheio.
Como se algo tivesse acabado de escapar por seus dedos.
piscou intrigado, suspirando.
— Vamos, Jesse. Vamos pra casa.
O cansaço era evidente em e . Quando chegaram ao minúsculo e confortável apartamento, a primeira coisa que ousaram fazer foi deixar que os corpos caíssem ao sofá.
Mesmo com os pés um pouco doloridos por terem andado do centro de Londres até Shepherd Bush, tinha um misto de felicidade e alívio dentro do peito A brisa suave que entrava pela fresta da janela da sala criava um clima aconchegante para as duas.
Enquanto seguia em direção ao banheiro, agora com a toalha de banho nos ombros e ainda conversando sobre coisas bobas, decidiu retirar seus sapatos e separar uma roupa para que pudesse dormir confortável.
Se acomodou em um canto do sofá, suspirando aliviada. Não conseguia esconder o fato de que estava muito mais tranquila do que antes e passar uma noite agradável com a mostrando mais uma parte da cidade só a deixou ainda mais serena.
Em paz.
Ela precisava daquilo para acalmar seu coração e colocar seus pensamentos em ordem, o que só deixava lugar para apenas uma coisa; a saudade que vinha sentido de sua família.
Foi impossível não sentir a nostalgia abraçar seu coração. Doía o suficiente estar longe de sua mãe e irmã, ainda mais sabendo que as duas não faziam ideia do que havia passado até estar ali, sentada em um lugar confortável e segura.
Não queria preocupá-las.
Mas ainda sim, precisava contar sobre como seus dias estavam sendo na cidade.
Precisava dizer que tudo estava bem — e continuaria, assim ela esperava.
Decidida a aliviar o que sentia, pegou o celular e prontamente clicou no ícone para começar a vídeo chamada.
Não demorou muito para que logo a outra câmera surgisse e um sorriso enorme brotou nos lábios de .
Sua mãe parecia cansada, mas feliz de ver a filha. Madison não havia aparecido.
— Mãe! — respondeu, acenando pela tela.
Sua mãe fez o mesmo.
— Oi, querida! Como você está? Como estão as coisas por aí?
— Tô bem e vocês? Passei a tarde procurando algum emprego por aqui. Não tem sido muito fácil — desabafou. sentia seu coração tamborilar ao se lembrar dos currículos entregues. Realmente não estava sendo fácil. — Mas tenho conhecido bastante Londres e é incrível, mãe… Vocês iam adorar.
— É mesmo? Imagino que sim, logo você encontrará algo, minha filha. É boa em muitas coisas! — Lenna sorriu minimamente, incentivando . — Está precisando de algo? Pode me dizer, farei o possível para te ajudar.
sabia que sim. Sabia muito bem que sua mãe moveria montanhas para poder ajudar a filha a conquistar o sonho que tinha, mas também sabia da dificuldade que passavam em casa, que o restaurante que tinham não lucrava como antes e que não poderia se dar ao luxo de exigir algo como aquilo.
Com isso, a garota balançou a cabeça, negando.
— Não, mãe. Não se preocupe com isso.
Decidiu logo mudar de assunto, perguntando de sua irmã. Descobriu que Madison agora fazia aulas de violão em um estúdio no bairro em que moravam, mas que andava tendo dificuldade com o instrumento.
Entre outras coisas que estava adorando saber.
Sentia tanta falta de casa. De sua família, do aconchego que as duas lhe traziam.
Quase limpou uma lágrima teimosa no canto dos olhos.
— Sinto falta de vocês. O tempo todo.
— Nós também sentimos, minha querida. É difícil estar longe de casa — do outro lado, sua mãe parecia conter a saudade como fazia. — Mas não esqueça que esse é o seu maior sonho. Você sempre desejou estar aí e tenho orgulho disso. Nós sempre estaremos aqui para te apoiar.
— Eu sei, mãe. Obrigada por me lembrar disso.
— Agora, fale mais sobre como tem sido a vida em Londres!
continuaria a dizer, não fosse por saindo do banheiro com os cabelos úmidos, os secando com a toalha.
Sorriu ao olhar para e notar que ela falava com alguém no telefone.
— Na verdade, queria aproveitar e te apresentar alguém que conheci aqui e tem me ajudado muito! , vem cá! — ajeitou o corpo no sofá e chamou , que se aproximou animada como . — Mãe, essa é a , minha mais nova amiga. , essa é minha mãe.
aproximou o rosto do celular e acenou repetidamente, arrancando risadas de e Lenna.
— Oi, mãe da ! É um prazer te conhecer! — disse, fazendo graça.
— O prazer é meu, . Fico feliz que minha filha tenha encontrado alguém para ficar a seu lado — Lenna, do outro lado, sentiu uma pontada de alívio ao saber que a filha não estava sozinha em uma cidade tão distante e grande como Londres. Se sentiu feliz e orgulhosa ao ver a satisfação no rosto de . — O que vocês têm feito por aí?
— A é minha guia turística particular, mãe — apontou para a amiga, que fez pose.
Riram um pouco mais, engatando em mais uma conversa entusiasmada enquanto Lenna contava algumas coisas sobre e fazia com que gargalhasse com os fatos, fazendo assim com que se conhecessem ainda mais.
Sem que ao menos percebesse, as emoções conflituosas e tristonhas de iam embora de pouco a pouco dando lugar a felicidade de se encontrar em um lugar novo, cheio de expectativas.
E aquilo só a fez agradecer um pouquinho mais.
O silêncio inundava o quarto de .
Havia uma silêncio suave enquanto ele continuava ali, aproveitando sua própria companhia.
tinha o corpo meio sentado, meio deitado, um tanto desconfortável, mas aquilo não o incomodava. Sua mente estava a mil.
Frases e versos chicoteavam sua cabeça. Pensamentos inquietos e profundos que ele ao menos conseguia decifrar naquele instante.
Deixou os olhos pousados em Jesse por poucos segundos, notando que ela já adormecia em um sono profundo, roncando baixinho e aquilo quase fez com que quisesse dormir como ela.
Por algum tempo, em paz.
Mas a única coisa que conseguia fazer era anotações para uma provável futura composição. Segurava seu caderno, o que sempre o acompanhava quando queria compor algo e um lápis gasto dançando pelos dedos.
Havia começado algo, mas não sabia como terminar.
Sua mente estava longe, ainda que agitada. Os olhos agora focados nas estrelas acima de Fulham, espalhadas por todo o céu através de suas janelas brancas.
Respirou fundo, tentando reorganizar seus pensamentos.
Todos os pensamentos rodopiavam sua mente, o fazendo escrevê-los com fluidez.
não pôde deixar de soltar uma risadinha com ele mesmo. Sentia seu coração aquecer, algo que há um tempo não costumava sentir e não sabia dizer exatamente o motivo de isso estar acontecendo.
Só era bom e trazia muita serenidade e inspiração.
Se lembrou vagamente do que sentiu no Hyde Park. Do misto de sentimentos que o apossou extraordinariamente. O sentimento nostálgico, pertencente.
Como poderia sentir algo do tipo se ao menos sabia do que se tratava? Como poderia sentir a vontade de encontrar algo que não fazia ideia do que era?
Continuou a escrever. Sua mente lhe dando frases e mais frases que não imaginava estar dentro de seu coração.
No fundo, sabia que alguma coisa estava diferente.
Parou por um instante e encarou o pedaço de papel em suas mãos.
Uma risadinha fraca voltou a surgir, não acreditando em suas próprias palavras.
E seu coração parecia estar sendo aquecido, como nunca, sem ele ao menos perceber.
hope you don't take too long,
i need a little love in my life…
E enquanto bebericava seu capuccino, os olhos da mulher não podiam deixar de observar a enorme janela exposta à sua frente, assim como algumas plantas que rodeavam o local, o que deixava evidente que o dia não podia estar mais bonito para ela.
Sentiu um raio de sol atravessar através do vidro, o da mesma janela que tinha vista para a Goldhawk Rd., aquecendo seu corpo.
Respirou fundo.
O aroma do café recém torrado a puxou de volta para a realidade.
— Gostou? — perguntou, esperando ansiosa por sua aprovação.
Desde a noite anterior havia comentado com sobre a cafeteria e de como era uma de suas preferidas em Londres.
— Confesso que por mais que eu não goste tanto de café, esse capuccino… É sensacional!
sorriu satisfeita.
— Sério? Adoro esse lugar. Sempre que posso, venho aqui, mesmo a correria do dia a dia não deixando às vezes — deu de ombros. — Mas faço um esforcinho. E parece que agora vou ter alguém pra me acompanhar também.
— E vou amar te acompanhar, — cruzou os dedos e apoiou a mão no queixo, sorrindo. — Adorei, de verdade.
Uma música suave tocava dentro da cafeteria. Outras pessoas ao redor também conversavam. — E então, animada pro seu primeiro dia de trabalho?
— Pra ser sincera, não sei o que esperar. Nunca trabalhei como garçonete, mas… Vou fazer o meu melhor — comentou, respirando fundo.
tinha apresentado uma oportunidade e tanto arrumando o emprego temporário no mesmo lugar que ela trabalhava.
Sorriu, ainda que receosa. a olhou, sorrindo de leve. Sabia que estaria mais do que ansiosa e que, além disso, com receio de fazer algo errado no primeiro dia, como ela mesma havia dado a entender em uma de suas conversas.
Era nítido o quão esforçada e determinada demonstrava ser.
— Vai se sair muito bem, . E além disso, vamos estar juntas lá. Não precisa se preocupar.
— Eu sei, mas… E se eu dizer alguma besteira? Inclusive, esqueci de te perguntar, sobre o que vai ser esse evento? — soltou, uma pergunta atrás da outra.
riu.
— Ei, relaxa! Se deixar algo cair, faz parte. Comigo já aconteceu várias vezes — assentiu. Bebericou um pouco mais da bebida antes de continuar. — E sobre o evento, vai ser um casamento. Em Lulworth Estate.
Por pouco, quase engasgou.
A resposta de fez com que a mulher piscasse algumas vezes, processando a informação.
A propriedade ficava na parte sul da Inglaterra, um tanto longe de Londres e aquilo era algo que não havia mencionado antes.
Seu peito batia frenético, completamente surpresa.
— Lulworth Estate? Isso fica há, não sei… Duas horas daqui? Meu Deus, esse lugar é incrível! — arregalou os olhos, colocando uma das mãos na boca. Sorriu em seguida. — Podia ter me contado antes.
sorriu levemente, se animando ao ver que a amiga havia gostado da novidade.
— Achei melhor contar depois, mas fico feliz que tenha se animado. Vai ser demais! — colocou o copo plástico da bebida na mesa amadeirada e virou o corpo para . — Nós vamos passar o fim de semana lá. A empresa cobre as despesas toda vez que precisam de nós. Então, como já imagino o que esteja passando na sua cabecinha, não precisa mesmo se preocupar, ok?
Ao ouvir as palavras de , sentiu o alívio inundar seu corpo de imediato.
havia dado uma oportunidade que nem mesmo imaginava ter tão cedo, sendo seu primeiro dia trabalhando em Londres, mesmo em algo não tão oficial.
Ainda que tivesse se animado tanto ao saber que o casamento seria em outro lugar, distante de onde estava, a ideia de ter que enfrentar despesas extras para uma viagem de trabalho já fazia com que ela quase perdesse a cabeça.
Já estava morando com e, com isso, um de seus principais objetivos agora era ajudar a amiga, independente de como fosse.
Seu orçamento não estava folgado.
Mas, apesar de todas as preocupações financeiras, iria aproveitar ao máximo a oportunidade que havia conseguido. Não era todo dia que coisas boas como aquela apareciam.
— Obrigada, . Já fiquei um pouco mais aliviada — mordiscou os lábios. Algo brilhou em sua mente. — E você sabe quem vai se casar?
— Olha, vou te falar que tô mais curiosa do que você quanto a isso — a amiga comentou, retirando uma revista qualquer do porta-revistas ali no canto. As duas riram. — O pessoal do evento não quis dizer, acredita? Quase implorei pra saber! Parece que é confidencial e que celulares não são permitidos durante o expediente.
— Sério? Que loucura.
assentiu, começando a folhear a revista assim que se aproximou para ver junto dela.
— Hm, será que é alguém da realeza? E se for o duque de Westminster?
A amiga a olhou rapidamente. gargalhou.
— Ou talvez seja um astro do rock. Luke Hemmings ou Alex Turner? — mencionou, pressionando os lábios para conter outra risada.
parecia a ponto de explodir. A curiosidade consumia as duas.
— Minha mente tá explodindo! — colocou uma das mãos na cabeça. — Não vamos nem conseguir uma fotinha se for alguém famoso.
— Bem, independente de quem seja, vamos aproveitar ao máximo e fazer o melhor trabalho possível. Quem sabe a gente consiga descobrir alguma coisa sobre isso enquanto estivermos lá.
— Como você consegue ficar tão calma com uma notícia dessas?
— Faz parte do meu charme.
piscou, adorando toda a situação. Um brilho travesso iluminava seus olhos.
gargalhou.
— Somos duas crianças. Combinado então. Lulworth Estate que nos aguarde!
A mulher ergueu seu copo com café, já não tão quente e olhou para .
— Lulworth Estate, aqui vamos nós!
E assim, bateu sua xícara no copo dela, quase em um brinde, comemorando a loucura que as duas compartilhavam.
se sentia ansiosa e não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a sensação de felicidade ao estar, finalmente, seguindo em frente com sua nova vida na cidade.
olhou da janela, onde o pouco sol da manhã já ficava evidente, para o interior do cômodo.
O estúdio da casa de James ressoava uma música calma, se misturando com as risadas e as conversas animadas que preenchiam o lugar. McVey tinha um estúdio improvisado em seu apartamento e o mesmo estava imerso na emoção e agitação dos amigos. Afinal, aquele era o dia do casamento de James e a tensão pré-cerimônia era nítida até demais.
Enquanto observava a movimentação, notou a figura do seu amigo e companheiro de banda no centro das atenções. James estava animado, mesmo nervoso, alternando entre um sorriso agitado, as mãos inquietas e piadinhas bobas com os outros.
— Tudo bem, cara? — perguntou, se levantando de onde estava. Deixou o violão no suporte antes de ir até o amigo.
James o olhou.
— Bom, tô tentando ficar. Sabe, os preparativos e Kirstie estão me deixando mais nervoso que o normal — soltou, arrancando risada de seus amigos.
assentiu, compreendendo completamente a mistura de emoções que McVey sentia. Era um grande dia e era explícito como James e Kirstie se amavam.
Não poderia estar mais feliz.
— Eu sei. Mas olha mate, você tá prestes a se casar com o amor da sua vida. Isso é incrível e único. Não tem como dar errado.
James riu fraco e os dois se olharam brevemente. sempre conseguia deixar os membros mais tranquilos quando precisavam.
— Você tem razão. Eu tô muito feliz, cara.
sorriu.
Antes de continuar, se aproximou, dispersando a conversa dos dois. Evans era outro que parecia mais animado que o normal.
— Parece que estão se divertindo bastante, mas… Temos uma música pra ensaiar — apontou para os instrumentos depositados na sala. — É seu grande dia, meu amigo. Não vamos fazer feio logo hoje.
Apertou o ombro de James e o guitarrista assentiu.
— Ou seja, melhor não ficar nervoso, dude — Connor alfinetou, brincando e bagunçou os cabelos de McVey.
Os membros riram.
Antes de continuarem com o ensaio, fez questão de mostrar algo que havia encontrado em sua galeria no celular; era uma foto antiga da banda, de anos atrás. Os quatro juntos, como sempre.
— Olhem só isso — chamou os amigos. Os três se aproximaram. — Que preciosidade.
Seu sarcasmo arrancou uma gargalhada do grupo. Claro que tinha que fazer uma piada. A banda era mais jovem, os cabelos mais bagunçados e expressões engraçadas demonstrando o quão ingênuos eram.
Uma lembrança agradável para um dia como aquele. Evans exibia a foto com orgulho.
— Cabelos caóticos… Parece que foi ontem — James comentou, sorrindo de canto.
Era incrível ver como haviam mudado e crescido ao longo dos anos, tanto pessoal quanto profissionalmente. E agradeciam muito por aquilo ter acontecido.
— Engraçado como o tempo voa — refletiu Connor. — De bares pequenos pra quatro álbuns lançados.
— E é louco pensar como tudo mudou e que ainda continuamos juntos, enfrentando todos os altos e baixos da loucura que é a indústria musical. E a vida, claro — comentou, dessa vez se sentindo mais nostálgico que tudo.
— Vocês tão me deixando emotivo logo hoje — James brincou, enxugando uma lágrima imaginária. — Você me paga, Evans!
Apontou para que deu de ombros.
— O que não fazemos por nosso melhor amigo, né?
— Acho que James tá se emocionando tanto porque percebeu que vai ter que dividir o estúdio com Kirstie a partir de agora.
Connor soltou, alfinetando outra vez e aquilo arrancou ainda mais risadas do grupo.
— Vocês não prestam — James colocou uma das mãos no rosto, mas voltou a olhá-los. — Mas, falando sério, obrigado. Por tudo que vivenciamos, nos palcos, nos estúdios e até mesmo nos momentos mais pessoais. Isso não tem preço.
assentiu. Colocou sua mão no ombro do amigo.
— E isso é só o começo, cara. O futuro tem muita coisa ainda pra cada um de nós.
Suas palavras ressoaram mais dentro de si do que para seus amigos. acreditava piedosamente que algo grandioso viria à seu encontro, por mais que não fizesse ideia do que poderia ser.
E não era a primeira vez que sentia aquilo.
Fechou seus olhos por um instante e, antes que qualquer outro pensamento intrusivo pudesse lhe ocupar outra vez, seguiu até seu instrumento, assim como Connor e James haviam feito. E, enquanto se dirigia até o violão, tentou afastar os pensamentos insistentes que começavam a surgir em sua mente. Sabia que não deveria deixar a ansiedade tomar conta, mas era difícil ignorar o sentimento de que algo grande estava prestes a acontecer em algum momento da sua vida.
Do outro lado da sala, , um pouco distante, estava com os olhos focados na tela do celular. Dessa vez, ao invés de procurar mais fotos antigas, digitava uma mensagem para .
Lembra do evento que te falei? É hoje, grande dia pra um dos meus amigos 😉
E aí, novidades pro fim de semana?
Pouco tempo depois, sentiu o celular vibrar.
logo havia respondido e foi impossível que Evans não sorrisse. Nos últimos dias, estava gostando de conversar com a garota nos tempos vagos e ela estava se tornando uma amiga especial. O tipo de amizade que não fazia há tempos com alguém.
Aproveite bastante então! E o que quer que seja, felicidades pro seu amigo!
Bom, parece que também tô um pouco ocupada hahah
Meu trabalho começa hoje
Obrigado! Vai ser um dia especial mesmo.
E boa sorte com o seu primeiro dia de trabalho. You can, girl!💪🏻
Acho que tô mais nervosa que tudo
Vamos ver como isso vai se desenrolar. Obrigada pelo apoio!
Isso o deixava ainda mais intrigado.
— É uma pessoa legal… — pensou consigo mesmo, deslizando a ponta dos dedos pelo display do aparelho.
Deixou uma última resposta ali antes de ouvir a voz de lhe despertando.
— Falando sozinho, mate?
o olhou, franzindo o cenho.
— Acabei de crer que você é mesmo um fofoqueiro — alfinetou.
tinha um sorriso no canto dos lábios, provocativo. Gostava de tirar o amigo do sério.
— Só tô preocupado com meu amigo — pressionou os lábios, colocando um dos braços ao redor de seu pescoço, em um abraço desengonçado. Evans revirou os olhos. — Quem é a garota?
— O que?
— Te conheço, Evans. Vai lá, me conta. Prometo que guardo segredo.
— Tudo bem, vem cá — moveu o indicador para que chegasse mais perto. Com a curiosidade sacudindo dentro de si, não pensou duas vezes em se aproximar de , que não perdeu a brincadeira, sussurrando para o amigo. — Fofoqueiro!
colocou a mão no ouvido, empurrando o amigo.
Os dois riram.
— Não tem nenhuma garota, cara. E para de ser curioso — disse, enquanto fazia uma careta.
— Droga. Pensei que tinha um grande escândalo nas mãos…
Exclamou, em puro drama.
— Vocês dois, em suas posições ou esse ensaio não vai terminar — Connor apontou para Evans e .
James cruzou os braços, antes de virar para seu instrumento.
— E meu casamento é daqui há algumas horas!
O sol brilhava no céu, ainda que fosse cedo e o pintava em tons alaranjados e dourados quando e chegaram ao castelo de Lulworth Estate.
As duas desceram do carro e sentiu a animação tomar conta de cada pedacinho de seu corpo, ainda mais ansiosa que antes.
Os olhos da mulher percorreram a extensão do lugar em que haviam acabado de pisar, sem acreditar no que via; parecia ter saído de um conto de fadas, com os jardins verdes muito bem cuidados e seus arbustos pareciam desenhados.
O castelo era rodeado por um muro de pedra acinzentada, se erguendo contra o céu claro e sendo rodeado pelo jardim que podia jurar ser uma pintura de alguém muito famoso, como Alyssa Monks.
À medida que se aproximavam, era impossível que não admirasse ainda mais todo o lugar.
só conseguia pensar em como o dia, tão bonito, deixava tudo ainda mais encantador. E só conseguia ter certeza de que era fácil de se perder pelo grande labirinto que tinha logo atrás do castelo.
— Meu Deus, que lugar lindo — murmurou, mais para si mesma. olhava admirada como ela.
— Eu tinha pesquisado no Maps antes de vir, mas pessoalmente… É de tirar o fôlego!
se limitou a assentir, perdida em seus próprios pensamentos e com os olhos vagando por cada detalhe que pudesse ver. Quando voltou a si, notou que alguns fornecedores já estavam por ali arrumando parte da festa. Mas não demorou muito para que as duas logo fossem recepcionadas por um rapaz, um pouco mais velho que elas e bem arrumado.
Parecia alguém importante.
Se aproximou com um sorriso acolhedor nos lábios.
— O castelo quase hipnotiza, não é? — parou ao lado das duas. — Oi, . Fico feliz que esteja nos acompanhando mais uma vez. E você é…
— Essa é a , Ben. Sobre a vaga de garçonete do outro dia.
— Claro! É um prazer enorme, — estendeu a mão, delicadamente. a apertou. — Agora, temos um evento para cuidar. Venham, vamos repassar tudo o que vocês precisam saber para garantir que a festa ocorra como planejado.
sorriu, se sentindo aliviada com a hospitalidade de Ben. Era importante para ela que sua amiga, depois de tudo o que passou em sua chegada à Londres, se sentisse acolhida pelas pessoas que conhecia também.
Enquanto caminhavam, Ben explicava os detalhes das tarefas que precisavam ser realizadas, garantindo que as duas estivessem totalmente informadas e preparadas. Ben era claro e prático com suas instruções, o que deixava mais tranquila quanto ao que iria fazer.
— Bom, , você vai ser responsável junto de sua equipe por garantir que todas as mesas do buffet estejam abastecidas com comida fresca durante toda a noite inteira — explicou, apontando ao redor da parte interna do castelo. — Se certifique de verificar constantemente os níveis de comida e reabastecer conforme necessário, assim como servindo os convidados.
balançou a cabeça, atenta.
Ben se virou, olhando por alguns segundos e sorriu.
— , você vai ficar encarregada de garantir que todos os convidados sejam servidos com as bebidas que desejam. Mantenha as taças cheias e tenha em mente que as bebidas precisam estar sempre geladas, ok? — arqueou as sobrancelhas, fazendo com que sua expressão transmitisse calma à mulher. Ela assentiu. — Não tem muito mistério e não é nenhum bicho de sete cabeças. O trabalho é bem tranquilo. Vocês não estarão sozinhas.
Ela sorriu sem mostrar os dentes. Por mais que tentasse manter a calma, seu coração batia acelerado. Não podia negar que estava nervosa.
— Não se preocupem. Vamos estar por perto caso precisem de alguma coisa. Agora, vamos lá. Vou pedir para que entreguem os uniformes e vocês precisam estar aqui ao fim da tarde, em ponto, ok?
Dito isso, saiu andando sem ao menos esperar pelas duas.
e se entreolharam rapidamente e deixaram uma risadinha baixa escapar, tentando conter a animação que sentiam.
— Isso é muito louco, — comentou, sussurrando. Estava desacreditada.
Seus olhos percorriam toda a extensão do castelo. Cada vez que se aproximava, conseguia notar os variados detalhes ali dentro.
— Então se prepara que de noite isso deve ficar muito mais bonito — sussurrou de volta, como se estivessem em uma própria bolha.
deu uma risadinha.
A decoração da festa era de tirar o fôlego. Cada detalhe ali parecia ter sido minuciosamente planejado, a começar pelas flores minimalistas e brancas, os lustres pendurados que brilhavam até mesmo na luz do dia. pôde perceber que as cortinas, — que pareciam ser de um tecido caríssimo —, caíam até o chão nas janelas espalhadas dentro do castelo, em tons marfins e dourados. E, por mais que aquilo deixasse tudo ainda mais bonito, tinha certeza que se não tivesse nada de decoração seria lindo do mesmo jeito.
No centro do salão, havia uma enorme pista de dança de vidro, além de um palco improvisado bem ao lado dela, porém mais ao fundo, para que muito provavelmente uma banda tocasse ali.
Por mais um pouco, tinha certeza que seu queixo cairia com toda a extravagância e quase se pegou pensando se um dia, caso se casasse, a festa seria daquele jeitinho também.
— Quem será que vai casar aqui, hein? — soltou, fazendo com que a amiga deixasse uma risadinha escapar.
— Você ainda tá obcecada com essa história do noivo, não tá?
— Claro que eu tô! Não é possível que seja alguém que a gente não conhece — disse, franzindo o cenho. Seus olhos estavam semicerrados.
— Vamos ver se conseguimos descobrir isso antes de cortarem o bolo então.
brincou, fazendo a amiga rir baixinho.
Continuaram caminhando, passando por várias salas luxuosas até finalmente chegarem à área do buffet. Muitas pessoas, assim como elas, já estavam ali trabalhando. Uma agitação fora do normal.
Não demorou muito para que o uniforme fosse entregue à elas.
— Não podemos demorar pra voltar, mas acho que tenho uma ideia.
Um sorriso travesso brincou em seus lábios e, no fundo, já imaginava o que se passava dentro da mente da amiga.
— E qual é?
— Vamos visitar Lulworth Estate!
Disse, animada. Sua animação contagiou de imediato.
Mas antes de seguirem para fora do castelo, algo brilhou na sua mente. Não podia deixar de avisar a pessoa que mais importava sobre o que estava acontecendo.
Pegou seu celular o mais rápido que conseguiu e digitou uma mensagem curta para sua mãe.
Consegui um emprego!
Não é nada fixo, mas pra uma primeira oportunidade é ótimo!
Te conto os detalhes depois, tá?
Te amo, mãe! Saudades…
deixou a bolsa na cama antes de jogar o corpo nela, soltando um suspiro aliviado. Sentiu o colchão macio e os travesseiros fofos a abraçando e não soube nem explicar como aquele sentimento era bom.
Quase quis gritar.
a observou com um sorriso, enquanto a amiga se acomodava.
— E então, o que vamos fazer até mais tarde? — se sentou na outra cama, quase ao lado da que estava deitada.
A amiga afundou ainda mais nos lençóis, apreciando o conforto. Parecia estar adorando.
— Pensei em visitar um pouco o lugar, mesmo não conhecendo nada aqui.
Riu.
— Acho que temos tempo suficiente pra andar por aí. Não é todo dia que estamos em um lugar novo e com essa paisagem incrível do lado de fora — os olhos de seguiram para a janela, observando o céu limpo e alaranjado. Sentia seu coração bater acelerado, a deixando aliviada e feliz por estar ali conhecendo um lugar novo na Inglaterra, por mais que tivesse pouco tempo que estava na cidade.
— Isso! — sorriu, animada e deixou os olhos caírem sobre a amiga. — Vou tomar um banho e me trocar. E aí podemos sair.
— Vai lá. Vou depois.
observou a amiga pegar uma muda de roupa que havia levado em sua bolsa enorme. E quando ouviu a porta ser trancada, deixou seu corpo cair na cama.
Para ser sincera, estava mais do que feliz. Parecia um sentimento inexplicável de entender e dizer com todas as palavras. Nunca ia imaginar que encontraria em sua vida, ainda mais que estava passando por um momento tão difícil, e que a última coisa que pensou era em confiar em alguém. Não imaginava que, pouco tempo depois, ela se tornaria sua amiga tão rápido e que, além disso, daria um jeitinho de conseguir um primeiro emprego para ela. Se sentia inteiramente grata por ter encontrado alguém tão especial em um momento tão difícil da sua vida. não apenas a apoiava, mas também a incentivava a seguir em frente. Era mais do que poderia pedir.
estava, finalmente, começando sua vida em Londres, a que tanto imaginou e quis. deixou o corpo relaxar, depois de um tempo perdida nos próprios pensamentos. E, logo depois, deixou seus olhos vagarem pelo quarto que as duas estavam hospedadas no fim de semana.
Lulworth Estate não parecia ter tantos lugares para serem visitados. Nem mesmo muitos hotéis por ali. Mas em uma distância não tão grande do castelo, havia uma pequena vila. E era ali que as duas se encontravam.
Assim como a fachada da pousada Limestone, o quarto era delicado e não tão decorado. Simples, mas aconchegante. Parecia uma casinha de campo e aquilo a deixava ainda mais encantada com o lugar.
O cômodo estava imerso em luzes amareladas, as duas camas forradas e uma mesinha um pouco mais abaixo de uma TV antiga.
sorriu, sentindo que nada naquele dia poderia tirar sua paz.
Ouviu a porta do banheiro sendo aberta e notou saindo com os cabelos molhados, mas já com a roupa trocada.
— Nossa. Precisava mesmo desse banho — deixou uma risadinha escapar.
a acompanhou e logo seguiu até o pequeno cômodo, para fazer o mesmo que a amiga. Não via a hora de conhecer Lulworth Estate de verdade.
O sol esquentava a pele de enquanto caminhava com pelas ruas, observando cada canto da cidade que, de acordo com , se tornava inteiramente diferente do que estava acostumada em Londres.
Os olhos da mulher brilhavam ao olhar as lojas de souvenirs espalhadas por ali, lado a lado, ao longo da rua estreita, exibindo uma vitrine com várias lembranças coloridas e objetos curiosos. E o que chamava sua atenção além delas, eram as árvores verdinhas que rodeavam boa parte do lugar, fazendo sombra e refrescando minimamente as duas.
parou em frente a uma vitrine cheia de pequenas esculturas de pedra. Parecia uma criança curiosa vendo qualquer que fosse a coisa.
E também não parecia muito diferente.
— Olha só! Não parece um bonequinho? — apontou para uma lembrancinha; algo parecido com um guarda em miniatura.
assentiu.
— Que gracinha! Deixa eu tirar uma foto — aproximou o corpo, com a câmera do celular já preparada. Click. — Vai. Tira uma foto minha?
a olhou, sorridente.
As duas estavam se divertindo mais do que o esperado naquela viagem.
Ajustou o aparelho e capturou a cena, com vários outros clicks simultâneos. Foi impossível não rir.
— Acho que tem foto até o ano que vem. Obrigada, !
— Pra isso servem as amigas. Sua vez! — apontou para ela, devolvendo seu celular. Não pensou duas vezes e fez como , tirando várias fotos e ainda pedindo para que ela mudasse suas poses.
Continuaram a seguir pela estrada da vila, admirando a arquitetura encantadora das casas de pedra e as flores coloridas que enfeitavam cada jardim ali. Também passaram por uma loja que vendia chapéus extravagantes e, com uma troca de olhares, não resistiram à tentativa de experimentar alguns.
se apressou, pegando um chapéu cômico, antigo e cheio de itens decorativos.
— Agora sim pareço uma verdadeira dama inglesa. Será que o duque de Westminster vai olhar pra mim hoje se eu estiver com isso?
deixou escapar uma gargalhada ao ouvir o questionamento da amiga. Não era possível que ela ainda estava com aquela ideia na cabeça.
— Ainda com a ideia do duque?
— A esperança é a última que morre, sabia? — brincou. — Vai ver não é ele mesmo?
— Tudo bem então, dama inglesa. Diga X! Ou, melhor, Hugh Grosvenor!
A risada de ecoou pela lojinha que as duas estavam e se deixou levar, rindo também. Estava se divertindo como nunca.
— Hugh Grosvenor!
E mais um clique foi ouvido por ali.
Ela colocou um chapéu, assim como , tirando mais algumas fotos do momento das duas, garantindo estar gravando todos os detalhes da pequena aventura em Lulworth.
Depois de mais algumas fotos e risadas, continuaram a andar, conversando sobre coisas bobas e fazendo piadinhas entre si. O clima entre as duas era leve e inteiramente descontraído, exatamente como se já se conhecem há anos e não há pouco mais de um mês.
Um pouco mais à frente, algo captou o olhar de e aquilo fez sua barriga roncar levemente pela fome que sentia e ao menos havia percebido.
Era uma cafeteria pequena.
— Tá pensando o mesmo que eu? — comentou, pressionando os lábios.
— Você leu meus pensamentos. Tô faminta — fez uma careta.
— Então somos duas. E vamos torcer pra ter uma torta de maçã!
concordou, animada, se lembrando vagamente de quando esbarrou com na saída do Hyde Park; ela tinha uma torta do mesmo sabor em suas mãos.
Naquele dia, havia encontrado sua melhor amiga.
Não demorou muito para que as duas já estivessem sentadas em um cantinho reservado do lugar. A confeitaria não era muito grande e tinha muitas coisas além de alimentos.
Parecia um mini mercadinho.
bebericou levemente o achocolatado que havia pedido e mordiscou um pedaço do croissant recheado. Quase agradeceu aos céus pelo sabor que estava sentindo. Era divino!
— Isso aqui é maravilhoso! — disse, agitada. Apontava para a torta. — Achei que só em Londres tinha a que eu mais gostava, mas acho que me enganei.
— Nem me fala. O croissant parece de outro mundo.
concordou, com os olhos brilhando. Ficaram ali por mais algum tempinho até terminarem suas refeições. retirou o celular do bolso do jeans que usava e ligou o display.
Sua mãe ainda não havia respondido sua mensagem, provavelmente estava ocupada com os afazeres do restaurante da família.
Aquilo a fez lembrar de como costumava ajudar quando estava em casa. De como queria ainda poder ajudar, mesmo estando longe. Sentia tanta falta de sua mãe e irmã. Sentia falta das conversas, do cuidado.
Queria tanto poder tê-las por perto…
Respirou fundo. Quase sentiu os olhos arderem, não fosse por uma mensagem na barra de notificações.
O nome aparecia algumas vezes.
Yooo, Isy! Como estão as coisas?
Já foi pro trabalho?
Cheguei com hoje de manhã!
Acabamos de comer e vamos pro evento logo, logo.
E por aí? Tudo certo com o grande dia do seu amigo?
continuou ali, encarando a tela do celular enquanto seus pensamentos oscilavam entre a alegria de estar com em uma nova cidade e a saudade de sua família.
A tela do celular se iluminou mais uma vez.
Por aqui tá tudo bem (por enquanto hahah)
Ele tá bastante ansioso, mas vai dar tudo certo. Certeza.
Quem sabe ele não me dá uma folga depois disso e consigo encontrar com você 🤪
sorriu. Apesar das distâncias e dos compromissos, parecia ser alguém que ela gostaria de ter por perto. Parecia uma amizade que valia à pena insistir em conquistar. E mesmo só tendo o encontrado uma única vez por acidente e por só terem conversado por mensagem boa parte do tempo, até que era bom saber que tinha alguém como do seu lado, mesmo que só por sms.
Parece interessante, hein. Precisamos colocar o assunto em dia (pessoalmente), senhor !
Nos falamos mais tarde, pode ser? Preciso voltar agora
Não esperou que respondesse. Bloqueou a tela do celular e o guardou, sentindo um olhar quente queimar sobre ela.
tinha os olhos semi cerrados, a observando. Um sorriso de canto começava a crescer em seus lábios.
Foi impossível não rolar os olhos, ainda que tentasse esconder um sorriso também. Sabia que a amiga estava prestes a fazer algum comentário bobo.
— O que foi, hein?
levantou uma sobrancelha.
— Parece que alguém tá recebendo mensagens interessantes. E você ainda me disse que não tinha nenhum namoradinho! — apontou para a amiga, ainda brincando. abaixou a cabeça rapidamente. — Quem é o pretendente, hein, bonita?
— Para com isso, ! É só um conhecido que acabou virando um amigo. Já falei dele pra você, é o .
pressionou os lábios, cruzando os braços acima do busto.
— Parece que vocês tão se dando bem então, hm?
Provocou.
— Assim como me dei bem com você, engraçadinha — fez uma careta para a amiga. — Só trocamos umas mensagens. Nada demais.
— E ele já colocou uma foto nesse aplicativo? Sou curiosa!
riu.
Sabia que não era de agora que questionava a mesma coisa. Sua curiosidade em saber como era chegava a ser engraçada.
Balançou a cabeça, ainda se divertindo com a situação.
— Não, , ele não colocou.
— Ah, qual é, ? Só tô tentando visualizar esse seu amigo aí. E me preocupo com você também. Vai que ele é algum pervertido, sei lá… Vai saber!
deu de ombros, ainda contendo um sorriso.
riu da preocupação exagerada de , podendo ver nitidamente o quanto ela se preocupava.
— Sei disso, mas fica tranquila. não parece ser nenhum pervertido. A gente se esbarrou no Hyde Park e só.
— Tudo bem, tudo bem. Acredito em você, mas… Se ele der algum sinal de que não é confiável… — fez suspense antes de continuar. — Acabo com a raça dele!
— Pode deixar, eu te aviso. Mas por enquanto, vamos terminar de comer e esquecer essa história de . Pode ser? — piscou.
olhou para a amiga e relaxou os ombros, sorrindo. As duas sorriram uma para a outra.
— Você venceu, — levantou as mãos, como se estivesse se dando por rendida. riu. — Agora, precisamos ir. Temos que trabalhar.
ajeitou os cabelos, que eram bagunçados pela brisa do mar enquanto ele e seus amigos retornavam para a vila mais próxima ao castelo de Lulworth Estate.
O sol começava a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa e aquilo o fez lembrar que logo, um de seus melhores amigos estaria se casando.
— Até que o dia hoje tá te ajudando, James — disse, atraindo a atenção do amigo. James sorriu. — Parece até cenário de filme.
deixou os olhos caírem no céu, sentindo o peito esquentar com a cena que via. Se sentia extremamente feliz por compartilhar aquele momento com seus melhores amigos.
McVey deixou seus olhos claros seguirem até onde os outros membros da banda também olhavam.
A sensação de emoção e ansiedade começava a se tornar presente para o rapaz.
— Você tem razão. Só… Tô um pouco nervoso.
Connor colocou uma das mãos no ombro do amigo.
— É mais que normal se sentir assim, ainda mais hoje. É um dia mais que importante pra você e pra Kirstie.
James assentiu, agradecendo só pelo olhar.
— Não precisa se preocupar, mate. Todos estamos aqui por você. E, além disso, você tá prestes a se casar com o amor da sua vida — sorriu, notando o amigo se emocionar aos poucos. — Acho que é o momento mais incrível e inexplicável que existe, McVey.
James conseguia se sentir inteiramente grato pelas palavras de seus amigos. Sabia que se continuassem daquele jeito, ele se emocionaria facilmente.
— Obrigado, caras. Isso significa demais pra mim.
— Precisamos comemorar seus últimos minutos solteiro, dude — se aproximou rapidamente e apertou o ombro de James. McVey rolou os olhos, sabendo que ali tinha gracinha.
— E o que você sugere? — indagou, já rindo.
sorriu, assim como Connor. Os três amigos pareciam ter a mesma ideia.
— Acho que uma bebida gelada cairia bem agora, não é mesmo?
— E se tiver gin, eu vou gostar — sorriu, maroto.
Connor assentiu, já começando a se animar.
— Você roubou as palavras da minha boca, mate.
— Exatamente. Vamos encontrar um lugar por aqui mesmo antes de voltarmos pro hotel — os demais assentiram. James parecia mais animado que antes. — E eu acho que vi um pub um pouco mais na frente.
— Claro que viu…
disse, deixando uma risadinha escapar.
Sua mente vagou para longe ao notar seus amigos e membros da banda se divertindo tanto. Se sentiu extremamente feliz ao estar ali com eles.
— Então vamos logo. O noivo não pode atrasar — Connor deu alguns tapinhas nas costas de James e o grupo riu.
Com isso, seguiram em direção ao pub sendo direcionados por . Esse, no entanto, parou rapidamente ao ter a sensação de que alguém que ele conhecia estava por ali. Um vulto distante, misturado com as pessoas que andavam pelo lugar.
Quase jurou ter reconhecido quando pensou ter visto alguém muito familiar andando por ali. — ? — chamou.
Ele franziu o cenho, curioso.
O rapaz balançou a cabeça e respirou fundo, voltando a seguir seus amigos.
Talvez estivesse começando a imaginar coisas.