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Independente do Cosmos🪐

Última Atualização: 15 de Novembro de 2024

A visão de se afastar de John Walker nunca tinha agradado tanto a Bucky Barnes. Quem aquele loiro azedo pensava que era para não só se apossar do escudo de Steve Rogers, como também, a tudo o que seu melhor amigo representava?
Encará-lo por mais de dois segundos fazia com que o estômago de Barnes embrulhasse. E Buck tinha o estômago forte para os mais diversos tipos de situação.
Agradeceu aos céus quando Sam Wilson também parecia compartilhar do mesmo pensamento e aversão a cópia barata e mal feita de Rogers.
“Fiquem longe do meu caminho.”
Buck bufou alto ao recordar a ameaça de merda que John tinha dado. Ele não o intimidava, Buck sequer o achava perigoso.
Quem aquele merdinha achava que era para cogitar ameaçá-lo? Ele sequer sabia que Barnes podia matá-lo num piscar de olhos e sem ao menos se esforçar?
Aparentemente, não.
Algumas pessoas não tinham mesmo a noção do perigo em que se metiam, pensou Barnes com sua carranca habitual ao se ver distante o suficiente da mais nova dupla de fantoches do Governo Americano.

— Então, o que está pensando? — Sam, observando que cada vez mais o vinco entre as sobrancelhas do moreno afundava, resolveu interromper seus pensamentos. Bucky tinha o péssimo hábito de pensar demais e se perder em meio a sua mente.
— Eu sei o que temos que fazer. — Respondeu o Soldado, prontamente. Isaiah tinha sido claro como águas cristalinas quando pontuou que o pessoal de Barnes se tratava da HIDRA, e talvez o mais velho tivesse razão.
— Não leve isso para o pessoal. Não foi o que ele quis dizer. — Sam interviu.
— Não, ele falou da HIDRA. — Bucky expôs. — HIDRA era o meu pessoal. — Suspirou pesaroso. Parecia que sempre seria relacionado a organização nazista.

Não levou mais que dez segundos para Sam Wilson não só entender o que Barnes queria dizer, como também o que ele queria e pretendia fazer. Wilson se estapeou internamente, incapaz de pôr em palavras o quão inconsequente aquele mísero pensamento de Barnes era.

— Sem chance. — Foi tudo o que Sam limitou-se a dizer num praguejo baixo, enquanto caminhavam lado a lado pela rua um tanto solitária de Baltimore. — Sei onde quer chegar, não! — Franziu as sobrancelhas, irritado pela insistência de Bucky.
— Não se lembra da Sibéria? — Barnes rebateu, respirando profundamente. Também não lhe agradava o que deveria fazer, mas raras foram as vezes em que se sentiu inteiramente confortável com o que precisava ser feito.
— Então quer sentar em uma sala com esse cara? — Sam o encarou perplexo.
— S-Sim. — James hesitou por um milésimo de segundo.
O moreno mordeu o lábio inferior e se amaldiçoou internamente por não ter respondido a Wilson com mais segurança e convicção. Era óbvio que sua compostura a respeito do assunto determinaria se iriam ou não adiante com o que estava planejando.
— Então vamos. — Sendo vencido pelo cansaço e preferindo usar suas forças para quando fossem realmente necessárias, Sam decidiu que Buck venceria aquela batalha.
Wilson encarou Barnes. James parou de caminhar assim que se deu conta que o colega de trabalho estava concordando com toda a loucura que propusera. O peso de suas próximas palavras e tudo o que representava, contudo, enrijeceu seus músculos e uma dor no pescoço o atingiu automaticamente, como um espasmo muscular a um trauma não superado. Sam não sabia o que encontraria quando estivesse cara a cara com ele, mas esperava, de todo o coração, que não acabasse em mais uma confusão:

— Nós vamos falar com o Zemo.




esgotou-se de si mesma. Esgotou-se ao ponto de se sentir a pior pessoa do planeta. Chegou a ter náuseas de tão enjoada de ser ela mesma. Gostaria de ser qualquer outra pessoa no mundo, menos a miserável . A sensação era de estar se afogando. A impressão que tinha era de ter sido jogada contra sua vontade na mais profunda tempestade. Não aguentava mais ter de se levantar para que, logo depois, outra onda a tirasse novamente da superfície. E de novo, e de novo, e de novo...
Era difícil respirar quando todo o oxigênio que tinha parecia estar sendo arrancado de seus pulmões. Embora sua aparência estivesse perfeitamente em ordem, por dentro se via enfrentando seu maior inimigo.
E estava sozinha.
Estava tão cansada de estar sozinha.

— ... pode parecer difícil, mas não é impossível. E eu acredito em você. — piscou, sendo sugada pela realidade outra vez.
Dra. Cooper falava algo à sua frente e novamente não tinha prestado atenção. Sequer tinha notado que longos minutos tinham se passado. estava constantemente rodeada de pessoas, mas nunca esteve tão só. Murmurou um som inaudível, apenas para não parecer rude. Não que fosse necessário, a essa altura do campeonato, Deyse Cooper realmente não se importava muito com o silêncio de . A terapeuta se compadecia, se assim poderia dizer.
? — Dra. Cooper a chamou quando, após cessar seu discurso, a mais nova tinha, uma vez mais, se materializado para o mundo de seus pensamentos.
Cooper suspirou pesarosa, coçando os olhos cansados por baixo das lentes dos óculos. Observava viver no automático pelos últimos onze meses. Era angustiante e, por mais que tentasse ajudá-la, onze meses depois, continuava se esquivando, nunca dando nenhum tipo de abertura.
— Vai completar um ano, sabia? — murmurou. No momento seguinte, praguejou baixo, chiando em desaprovação.
Decidiu que a melhor coisa para esconder a careta de dor que fez ao se dar conta de que tinha falado em voz alta era bebericar seu café, que já estava um tanto frio. Foi impossível esconder o desgosto ao sentir o líquido já gelado tocar a ponta de sua língua.
— Você quer falar sobre isso, Rav? — Deyse Cooper tentou, como sempre vinha tentando.
Deixou sua xícara de chá de lado e apoiou os cotovelos na pequena mesa onde estavam. Se tivesse permitido qualquer outra abertura além de ser chamada por seu apelido, Cooper agora tocaria-lhe as mãos num claro sinal de apoio. Mas não permitira, e talvez nunca fosse.
— Não! — Respondeu ríspida e de imediato, recolhendo as mãos da ponta da própria xícara. Não tinha desenvolvido qualquer aversão a toque humano, só não se sentia confortável com Deyse. Tinha receio de se abrir com a terapeuta e acabar se arrependendo.

Veja bem, não era uma pessoa contra a terapia ou que pregava que era “coisa de louco”. Muito pelo contrário.
Na época dos Vingadores, quando ainda viviam na Torre de Tony Stark, teve todo um acompanhamento terapêutico para aprender a conviver com seu trauma e tinha gostado do resultado e de como enfrentou o que lhe assolava. Mas, com Deyse Cooper era diferente. Por mais que a médica informasse que nunca quebraria o sigilo em suas consultas, ela ainda era uma terapeuta que a CIA havia escolhido a dedo para cuidar de . Não conseguia confiar nela, não conseguia ver verdade em seus olhos preocupados. Deyse Cooper era apenas mais uma médica da sua agência.
Dra. Cooper era um meio para o fim.
precisava continuar trabalhando, precisava se manter ativa.
Ter consultas regulares, pelo menos duas vezes por semana — quando não estava em missão — era, basicamente, sua “condicional”.
A Alemanha podia tê-la aceitado sem muitas ressalvas, mas ainda era uma estrangeira. E tal como qualquer forasteiro, havia regras a serem cumpridas se desejasse continuar no país.
Cooper respirou fundo, puxando o máximo de ar que conseguiu para dentro de seus pulmões um tanto deteriorados pela nicotina, e encostou as costas no assento acolchoado do café onde estavam. Foi ideia da própria terapeuta mudar o cenário da consulta do dia, “respirar novos ares” foi o que ela disse para , que parecia apática a qualquer situação da vida.
A mesma garçonete que as serviu minutos atrás reapareceu com o pedido de Cooper e questionando se gostaria de mais café. A moça, que não aparentava ter muito mais que vinte anos, parecia agitada e enérgica quando despejou mais um pouco do líquido flamejante na xícara de .

— Não quero parecer intrometida. — A garçonete, Luiza, pelo que conseguiu ler em seu pequeno crachá, começou, ao chamar sua atenção. — Mas você não é uma Vingadora? — A pergunta retórica a sequer foi respondida. — Você sempre foi minha favorita! — Luiza exclamou em um pulinho contido.
Apoiou a garrafa de café na mesa e tirou seu celular do bolso do avental. deu um sorriso amarelo, desejando que ela fosse embora logo de uma vez.
— Quase nunca tinha nenhum objeto colecionável de você para vender, os poucos que tenho, eu mesma customizei sozinha. — A moça desbloqueou o celular e mostrou a foto de uma boneca feita de biscuit.
Os cabelos loiros, os olhos meio alaranjados com o uniforme esverdeado. Era cheio de detalhes e pegava até a parte que ficava em sua testa. achou engraçado se ver em uma boneca de biscuit, tão pequena e com a cabeça e olhos tão grandes. Completamente desproporcional, ela pensou, ainda avaliando o que a garçonete tagarelava sem parar. — E minha irmã adorava a Natasha, uma pena que ela morreu. Olha, eu até fiz a boneca dela com tod...

A partir da menção de Romanoff, gradativamente a voz da garçonete foi perdendo sentido em sua mente, assim como sua visão foi ficando turva e seu sorriso, embora fraco, se fechou numa linha fina e impassível. Toda a distração tinha chegado ao fim e a mulher, uma vez mais, se viu prestes a se afogar. Já era possível sentir seus pulmões inundados.

Sou uma assassina. — respondeu áspera e cruel, sua boca tão seca quanto a garganta, a visão tão desfocada quanto sua mente.
— O quê? — Luiza, a garçonete, parou sua frase no meio e a olhou, sem compreender o que ela queria dizer com isso. Intercalou os olhos confusos para a outra mulher que dividia a mesma mesa, e ganhou um singelo menear de cabeça em um pedido mudo de desculpas.
— Por isso você nunca encontrou nada meu para vender, não sou uma Vingadora. — Rav explicou como se fizesse sentido. — Sou uma assassina treinada. — Repetiu, agora com mais ódio e rancor na voz. — Já sequestrei, torturei e matei mais gente do que todos os dias que você tem de vida.

Devagar e com medo de fazer qualquer movimento brusco, Luiza bloqueou o celular e o guardou no bolso do avental, voltando a segurar a garrafa de café e perguntando, entre gaguejos, se gostariam de mais alguma coisa antes de pigarrear e sair o mais rápido possível de perto daquelas duas mulheres.
Antes de tudo isso, e ao fim da frase de , todavia, Deyse Cooper já estava repreendendo internamente a atitude da sua paciente. Como não podia se meter ativamente nas ações de , limitou-se apenas a encará-la com compaixão. Ela sabia o que estava fazendo.

— Ela só estava tentando ser gentil. — Dra. Cooper repreendeu a reação de , seus ombros estavam retraídos, contradizendo sua voz calma.
— Não pedi pela gentileza de ninguém. — A mais nova rebateu de imediato, correndo o olhar para qualquer canto da pequena cafeteria, que não as íris evasivas de sua terapeuta.

Teve que conter um gemido e um praguejo baixo ao notar, pela visão periférica, que Cooper tirava o maldito caderno da bolsa e o abria para fazer anotações. Sentia-se a porra de um experimento de novo, um que precisava, de tempos em tempos, de observações e adendos sobre como usar e como se comportar. Revirou os olhos inconformada, quando estava prestes a reclamar sobre o caderno, contudo, seus olhos passaram rapidamente pela pequena televisão ligada e fixada no topo da parede a sua lateral.
Foi então que ela viu.
Suas íris voltaram de imediato até a tela da TV e fixaram-se no objeto. Quando deu por si, sequer ouvia Deyse lhe chamar. levantou-se da mesa, quase derrubando o próprio café. O barulho da cadeira sendo arrastada brusca e rapidamente para trás parecia não ter sido o suficiente para trazê-la de volta à realidade; muito pelo contrário, só a fez apressar os passos em direção à TV.
No jornal da manhã da cidade de Berlim, era anunciado às pressas que um dos mais perigosos detentos havia acabado de escapar da prisão de segurança máxima do país, colocando toda a população em estado de alerta.
À medida que o jornalista revelava os fatos da situação, tudo ia piorando.
Dois rostos apareceram na tela, um de cada lado do jornalista. fechou as mãos em punhos, sentindo as unhas medianas rasgando-lhe a pele.
O novo Capitão América, John Walker, havia sido convocado pessoalmente para lidar com a situação caótica e alarmante que se iniciava em Berlim. Tanto o FBI, quanto a polícia local e a CIA, estavam sendo intimados a encontrá-lo o mais rápido possível e prendê-lo novamente. Foram as outras três fotos, no entanto, que fizeram com que sentisse o queimor das unhas ao entrar finalmente na carne das mãos, tirando-lhe sangue.
Seu celular tocou de imediato, assim que o jornalista mencionou o nome da CIA, como se fosse tudo combinado. Olhou a breve mensagem de texto que a tela brilhante reluzia e só notou o quanto as mãos tremiam ao tirar algumas notas da carteira e deixá-las em cima da mesa, onde Dra. Cooper ainda a aguardava.
A consulta terminou mais cedo do que o esperado, pensou.
Pisando fora da cafeteria e sentindo o vento gelado da manhã chicotear seu rosto, a mulher andou até seu carro e arrancou pneus, sem se importar com quantas leis de trânsito provavelmente iria infringir até o caminho de casa. Sua mente trabalhava rápida e energeticamente sobre a notícia recém-descoberta e, mesmo tentando não deixar transparecer a raiva crescente em seu peito, era uma batalha perdida. A mensagem em seu celular, contendo informações que a mídia ainda não sabia, contudo, foi a responsável por deixá-la tão transtornada.
estava flamejando em ira e tudo o que conseguia pensar era no que o noticiário de Berlim acabava de alertar e nas informações adicionais que a CIA tinha lhe dado:
Os principais suspeitos de terem ajudado na fuga de Heinrich Zemo eram nada mais, nada menos que Sam Wilson e James "Bucky" Barnes.

******


Libertar Zemo foi, com certeza, a parte mais fácil de todo o processo.
O difícil mesmo seria ter que conviver dias a fio na presença do Barão. A primeira coisa que Zemo fez ao ficar cara a cara com Bucky Barnes foi tentar ativar a programação do Soldado Invernal utilizando as palavras de comando, o que, por si só, já provava o quão perigoso e ardiloso o homem poderia ser.
Por sorte de Bucky e azar do Barão, as barreiras psíquicas que criou na mente de Barnes eram fortes e definitivas demais para que o Invernal ressurgisse em sua mente sob qualquer tentativa.
Bucky limpou a garganta excessivamente ao ser levado, traiçoeiramente, para um rumo que ele evitava, há onze meses, pensar.
era um assunto proibido e fatal. Seu nome, embora trouxesse um gosto doce, causava na mesma intensidade, um amargo no fim da boca. Se fosse fã da cultura pop, Barnes poderia dizer que vociferar o nome da mulher se igualava ao mesmo que dizer o nome de Voldemort em voz alta.
Tinha que tirá-la da mente, de uma vez por todas. Estava fazendo um ótimo trabalho em se manter ocupado demais para pensar na loira.
E o que com “ótimo trabalho”, queria dizer, péssimo. Buck pensava em o tempo todo, a todo momento. E quando a mulher não estava em sua mente consciente, ela aparecia em seus sonhos. Sendo seu objeto de maior desejo e destruição.
Na. Mesma. Proporção.
Incontáveis vezes durante todo esse tempo, o soldado tentou ir a encontros e conhecer gente nova, conforme a Dra. Raynor o incentivava a fazer. E, do seu próprio jeito, Barnes podia dizer que ele se esforçou bastante para obter êxito nesse ato.
O fracasso, embora não quisesse admitir, estava destinado a lhe perseguir.
Nenhuma das pessoas era , ao mesmo tempo em que parecia estar em todas elas.
Era frustrante e sádico.
Bucky procurava por pessoas com traços semelhantes aos da mulher, sejam eles físicos ou em sua personalidade. Sua última tentativa (e também fracasso) tinha sido menos de três dias atrás, ao, basicamente, ser obrigado por Yori Nakajima, seu vizinho rabugento e também amigo mais próximo, a ter um encontro com a garçonete do pequeno restaurante que sempre iam às quartas-feiras.
Barnes se esforçou em fazer dar certo. Havia notado, sempre que frequentava o local, os inúmeros olhares que Izzy furtivamente o lançava sempre que possível. Podia não estar confortável com como os relacionamentos nesse século pareciam funcionar, mas Bucky ainda sabia quando estavam flertando com ele. E, se fosse bem sincero, a pobre Izzy flertava demais. Não o mataria dar uma chance para ela. Quem sabe, se beijasse outra boca ou tivesse outro corpo embaixo do seu e entre seus lençóis, o sargento esqueceria da mulher que parecia ter marcado não só a sua mente, como também seu coração.
E, por incrível que pareça, o encontro com Izzy tinha sido, realmente, bastante agradável — vez ou outra, o homem sendo obrigado a omitir informações do passado: conversaram, beberam um pouco e jogaram batalha naval. Foi um encontro surpreendente, até. Sem música alta, lugares apertados e uma multidão da qual Bucky procuraria se esconder.
Até que, um comentário e seis palavras depois, tudo tinha ruído conforme as rachaduras se multiplicaram sem parar.
“Eu estou lendo a sua mente.”
Não que a mente do homem fosse o lugar mais divertido e seguro de se estar, no entanto, aquela possibilidade o levou, outra vez mais, diretamente a . A única capaz de ler sua mente e ele se sentir em paz com a possibilidade. O encontro com Izzy não durou muito mais que 20 minutos após o comentário, uma vez que Barnes se viu, mesmo inconscientemente, procurando qualquer semelhança entre a mulher à sua frente e . O homem preferiu acabar com o encontro e qualquer esperança que Izzy pudesse estar nutrindo, de uma vez por todas. Não era justo para ela estar em qualquer relacionamento onde não fosse desejada por inteira.
Buck sacudiu a cabeça excessivamente e ajeitou os óculos de sol no seu rosto, empurrando a armação pela ponte do nariz até o topo, protegendo as íris da luz forte do sol. Decidido a tentar, nas próximas horas, não pensar em ou em seu fracasso em esquecê-la, o moreno cravou os olhos no jatinho particular que o aguardava. Tanto Barnes quanto Sam descobriram ainda naquele dia que Zemo era bastante rico. Ter uma parte do aeroporto de Berlim interditada para a chegada do Barão, assim como a enorme e luxuosa aeronave de uso estritamente particular à espera deles, apenas confirmava que o sokoviano não mentira ou exagerava a respeito de sua fortuna ou título de realeza.
Zemo foi o primeiro a subir as escadas até a aeronave, murmurando o quão estranho era não ter Oeznik, seu mordomo, o esperando. Sam seguiu logo depois, com um sorriso debochado nos lábios e uma piada sarcástica escorrendo por sua língua. Bucky revirou os olhos, entrando logo em seguida, pronto para, quem sabe, refutar a piada de Wilson. Suas sobrancelhas vincaram em confusão e dúvida, contudo, ao ver Zemo de costas para eles e com as mãos para cima, como se tivesse alguém à sua frente acabado de detê-lo. Buck deu alguns passos a mais, se aproximando o suficiente de Sam para conseguir pender a cabeça e visualizar quem estava frente a frente com Zemo. Foi nesse momento, então, em que todo seu corpo começou a formigar e seu coração a bater tão rápido que seu peito passou a doer repentinamente.
Será que estava tendo um ataque cardíaco?
Ele, com todas as forças, desejou que sim.

— Wilson. — A voz fria e nada calorosa de reverberou pelo ambiente, cumprimentando propositalmente apenas Sam Wilson.

Ainda segurando a pistola apontada para Zemo com as duas mãos, a mulher inclinou majestosamente a cabeça, possibilitando sua visão dos outros dois homens que a encaravam como se estivessem vendo um fantasma.
Nenhuma palavra foi dita nos próximos minutos. Eles apenas se encararam com intensidade. Seus olhos sendo capazes de dizer coisas que a boca e o coração jamais teriam coragem de dizer.
Mas os olhos não mentiam.
Sam e foram os que mais mantiveram contato visual. A saudade e o constrangimento sendo um dos maiores combustíveis para a falta de palavras. E, embora o Falcão soubesse que a forma como se afastaram não condizia com o sentimento de amor e irmandade que ainda nutria pela mais nova, era impossível para Wilson não sentir a insegurança estampada nas íris de , em relação aos dois.
James Bucky Barnes, por outro lado, sequer piscou quando, por um milésimo de segundo, teve os olhos dela sobre si novamente.
Ele engoliu em seco e passou a mão suada excessivamente na lateral da sua calça, a luva de couro parecia não ser capaz de conter seu transpirar nervoso. sequer o olhou e, quando o fez, só sentiu o desprezo vindo da mulher. Barnes levou dois socos no estômago, de diferentes jeitos. O primeiro, por constatar que, embora conseguisse observar as mais diversas belezas e obras de arte espalhadas pelo mundo, ela continuava sendo a garota mais linda que seus olhos já viram. E o segundo, por só conseguir perceber, bem naquele momento, que não importava o quanto tentasse esquecê-la, era e continuava sendo a mulher da sua vida.
E por Deus, o soldado pensou com seus olhos já brilhando, como ela poderia estar mais bonita?
vestia um sobretudo vermelho que ia até próximo aos tornozelos. Por baixo dele, botas pretas de bico fino cobriam seus pés até acima dos joelhos. As coxas estavam cobertas por uma saia de couro preta, que continha uma fenda na lateral, deixando visível todos os detalhes da meia-calça preta que apaziguava o frio da manhã em sua pele desnuda e deixava à mostra a tatuagem de lobo por toda a parte frontal da coxa. Por cima de tudo isso, uma blusa de lã vermelha de gola alta, no mesmo tom de seu sobretudo, encaixava todas as peças de roupa que usava. Seu rosto carregava uma maquiagem suave, mas que intensificava ainda mais sua beleza, com os olhos puxados por um delineado preto e seus lábios pintados com um batom também vermelho. Os fios lisos e soltos, embora ainda curtos, agora batiam um pouco mais acima de seus ombros, deixando todos ainda mais surpresos por sua nova tonalidade.
Os fios antes loiros, agora estavam ruivos.
Wilson ousou pensar que estavam tão ruivos quanto os de Natasha Romanoff já foram um dia.

— Acredito que esteja com algo que não te pertence. — informou a Sam, debochada. Se nenhum deles tinha nada a falar, ótimo, então ao menos seu trabalho ali seria mais fácil, pensou. — Helmut Zemo, você está preso — continuou, destravando o pino de sua arma. Atiraria nele, se necessário fosse. — Pelo atentado à ONU, em 2016. Pelo assassinato do Rei T’Chaka, de Wakanda. Por invadir a base de segurança máxima da CIA e assassinar um dos nossos agentes. Por falsidade ideológica. E por não só ativar, como também soltar uma das maiores armas da Hydra. — Ela tomou uma grande lufada de ar. A pistola ainda apontada para o barão, apesar de suas mãos tremerem. — Embora você já saiba de tudo isso. — Puxando uma algema guardada estrategicamente na lateral de sua saia, deixando propositalmente seu distintivo da CIA exposto, ela se aproximou para prendê-lo.
— Se me permite dizer, em 2016 eu teria me entregado bem mais rápido se eu soubesse que essa bela senhorita seria a responsável por me prender. — Zemo disse cordial, estendendo as mãos de boa vontade para .

“Puta que pariu, eu vou matar esse sokoviano de merda” foi o que os pensamentos intrusivos de Barnes gritaram.

— Não força, Zemo! — Wilson o alertou, notando, pela visão periférica, que Bucky tinha dado um passo bastante duro em direção ao barão. — , precisamos dele. — Wilson disse, colocando a mão no tronco de Barnes, impedindo-o de se aproximar de Zemo.
— De todos, Wilson, eu achei que você fosse o mais inteligente. — suspirou, irritada. — Sabe quantos anos você poderia pegar por ajudá-lo a escapar da prisão?
— Ele não foi o responsável por isso. Eu fui. — Buck interveio, dirigindo a palavra diretamente a ela. Tentou deixar a voz o mais firme possível, apesar de algumas palavras terem saído baixas e sufocadas.
Você. rosnou furiosa. A mulher tirou os olhos de Sam e os fixou nele, a ira e a mágoa sendo a única coisa tomando conta de suas íris. — Você é tão irresponsável que não basta admitir para uma agente da CIA essa atrocidade, como também parece não temer as consequências disso!
Após algemar Zemo, deu um passo ao lado e tirou outra algema da lateral da saia.
James Barnes, você também está preso. Por conspirar contra a ONU e admitir ser cúmplice na fuga de Zemo. — Anunciou, embora não tenha saído do lugar.





Chegar perto dele significava estar vulnerável ao seu perfume amadeirado e a aura hipnotizante que sempre a embalava a esquecer tudo o que acontecia ao seu redor. poderia estar atuando muito bem que estar na presença de Buck não a afetava, a verdade, no entanto, a deixava irritada.
Consigo e com ele.
Preferiu focar na raiva do que em seu corpo e coração traidor que pareciam ter acendido depois de onze meses, apenas porque o viu.
Sua língua passou entre os lábios e um riso sádico se formou quando Buck não demonstrou nenhum tipo de reação a sua voz de prisão, a enfurecendo ainda mais.
O sargento sequer tentou se explicar ou, quem sabe, fugir.
sugou uma quantidade absurda de ar e seu rosto se retraiu numa espécie de carranca, deu o primeiro passo e o segundo em direção a ele. Não queria chegar perto, mas o pouco caso de Buck para seu trabalho a cegou.

— Ei, ei, ei. — Sam interviu se colocando na frente dela e abrindo o braço para distanciá-la um pouco de Barnes. — , estão produzindo mais super soldados. — Sam despejou de uma vez. Talvez, ele pensou, se soubesse o motivo de estarem com Zemo agora, ela não o prenderia de volta.
A ruiva sacudiu a cabeça em descrença e piscou rápido, direcionando sua atenção a Wilson.
— O quê? O quê você quer dizer com isso?
— O que você ouviu. — Sam prosseguiu. Ousou abaixar a mão que continuava suspensa no ar e deu um passo em direção a ela.
— Achamos que a HIDRA está por trás disso. — Foi a vez de Bucky se envolver, incapaz de continuar calado. — Por isso eu o tirei da prisão. — Justificou seu ato. — Ele conhece a HIDRA como ninguém.
— Se me permitem… — Zemo, que observava a discussão crescer, tentou se defender.
— Não! — , Bucky e Sam quase berraram e uníssono, interrompendo sua fala. Perplexo, o barão piscou os olhos e balançou a cabeça, derrotado.

Pelos minutos que seguiram, ouviu, detalhadamente, todos os fatos apurados por Sam e Barnes sobre os apátridas, sobre os novos super soldados, sobre a possível volta da HIDRA. não conseguia acreditar no que escutava, Wilson lhe mostrava as provas e os dados, mas ainda assim a mente da ruiva continuava em negação.
Não podia acreditar que depois de lutarem contra a porra de um alienígena genocida roxo, eles voltariam, simplesmente, para HIDRA.
Essa gente não cansava nunca? O lema “corte uma cabeça e outras duas nascerão no lugar” já estava bem fora de moda, constatou revirando os olhos.

— Eu não posso simplesmente permitir que ele saia do país. — murmurou para si mesma. Seus dedos seguravam a ponte do nariz e seus olhos estavam fortemente fechados. Sua cabeça trabalhava em várias possibilidades.
— E nós não podemos permitir que a HIDRA crie mais ameaças agora que os Vingadores não estão m…
— Não termine a sentença! — quase suplicou para Wilson, ainda de pálpebra fechada. Mencionar os Vingadores, era o mesmo que mencionar Romanoff e a ruiva não estava pronta para vestir a armadura perto daquelas pessoas. — Eu encontrei vocês, tenho que levar ele de volta.
— Espere aí. — Sam se deu conta apenas naquele momento. — Como diabos você nos encontrou? — A pergunta genuína fez não somente a ruiva voltar a mirá-lo com as íris cerradas, como também capturar a atenção de Zemo e Barnes.

Logicamente não havia como saber onde estavam, não tinham deixado rastro nenhum, Bucky se garantiu disso. E o sargento, por mais que odiasse admitir, era bom em sumir sem deixar rastro.
tinha a telepatia, no entanto, o soldado pensou.

— Vocês acharam mesmo que Wakanda daria um braço de vibranium a um assassino super soldado e não teria formas de rastreá-lo caso necessário? — Sua pergunta retórica escorreu em veneno e ódio, semicerrando os olhos. Aparentemente, não foi a telepatia que usara.
— Ei! — Sam a repreendeu de imediato.

Ouvir aquelas palavras cruéis foi como se James Barnes tivesse levado o terceiro soco naquele curto espaço de tempo.

— Sei que não quis dizer isso. Não seja cruel. — Wilson censurou sua escolha de palavras, quase como se tivesse ouvido os pensamentos de Barnes, saindo em defesa do amigo.
— E por que eu não iria querer? — A ruiva abriu um sorriso torto. — Tenho certeza de que ele é capaz de dizer coisas muito mais cruéis também. — Ela pontuou numa falsa divagação, apontando para Barnes com o queixo. — Eu mesma já fui capaz de ouvir uma coisa ou outra. — sussurrou um pouco alto, transparecendo a mágoa velada em sua voz. Ajeitou a postura com o próprio comentário e mordeu a ponta da língua.
Barnes levou o quarto soco. Talvez fosse melhor parar de contar, ele pensou.
— Do que você está falando? — Wilson questionou, visivelmente confuso. O Falcão sabia que e Bucky estiveram em um relacionamento no passado, sabia o quanto os dois pareciam estar apaixonados um pelo outro; o término, o motivo dele e como aconteceu, no entanto, ainda era um mistério para Sam.

Buck engoliu em seco, sua saliva mais parecendo arames farpados ao redor de sua garganta. O soldado não sabia se o murmurar de tinha sido proposital ou não para todos ouvirem, o que lhe incomodava, no entanto, era que aquilo ainda parecia magoá-la. E como não, ele pensou? Buck realmente tinha dito coisas horríveis à mulher da última vez em que se viram.

— Por que não pergunta ao seu amigo? — Ela respondeu sarcástica e dando um fim ao assunto, mesmo que Sam ainda quisesse respostas. — Droga, eu vou me arrepender muito disso. — girou os calcanhares e caminhou até Zemo, abrindo as algemas que o prendia logo em seguida. — Você — Apontou para ele. — Não sairá do meu campo de visão. — Prontificou.
— Ficarei lisonjeado em estar sempre preso sob seus lindos olhos, senhorita. — O barão respondeu cordial e ardiloso.

soltou um grunhido, levou o braço até o pescoço do homem e o empurrou grosseiramente até que estivesse sentado de qualquer jeito na poltrona acolchoada do jatinho, forçou a boca da pistola nos lábios do barão, a abrindo até que a arma tocasse a língua, enquanto continuava imobilizando violentamente o seu pescoço.

— Se soltar mais alguma gracinha ou flerte, eu cortarei sua língua, tá me entendendo?! — Rosnou ameaçadora, enrijecendo os músculos. Zemo assentiu devagar, assustado em ter qualquer reação mais agitada e levar um tiro na boca. — Ótimo, agora mantenha essa matraca fechada antes que eu a feche por você.
endireitou os tronco e voltou a atenção a Barnes e Wilson que continuavam a encarando. Alguma coisa, os dois pensaram em momentos diferentes, havia mudado em . Seu comportamento, suas ações, forma de falar e agir já não era o mesmo que o de antes. Ela parecia mais fria.
— O que você vai fazer? — Foi Bucky quem perguntou, impossibilitado de conter a expectativa crescente.

A mulher tirou o sobretudo vermelho, o jogando de qualquer jeito na poltrona do lado, expondo seu corpo esbelto e bastante marcado pela roupa. Tirou o celular do bolso do casaco e retirou o chip dele, pisando com força no pequeno objeto até destruí-lo; tirou o coldre da arma do interior da coxa, quase subindo a saia demais e se jogou na poltrona.

— Sou uma agente da CIA, estou me infiltrando na operação de vocês para coletar dados e os prender quando obtiver todas as provas de traição. — Ela respondeu como se fosse óbvio. — Para onde vamos? — Ela se aconchegou melhor na poltrona e fingiu relaxar, ignorando completamente o olhar de Barnes sobre seu corpo. Ou a reação do seu corpo ao olhar intenso de Bucky.

Quando a aeronave decolou vôo, fechou os olhos e aproveitou do silêncio, mesmo que constrangedor, para colocar todas as ideias em ordem. Não estava em missão nenhuma e, apesar de receber uma mensagem informando que Sam e Bucky eram suspeitos na fuga de Zemo, seus superiores tinham dado ordens estritas e diretas para que não se intrometesse nesse assunto.
Infelizmente a ruiva nunca fora boa em seguir ordens.
Wilson e Barnes representavam perigo a sua lealdade à agência, fora, com certeza, o conflito de interesses. Seus superiores estavam certos em partes, ela não podia negar. Seu plano, no entanto, constava em ajudar a acabar com a HIDRA e levar Zemo outra vez de volta à prisão, acabando com dois problemas de uma única vez. Talvez isso apaziguasse as consequências da decisão que tomou tão inconsequentemente.

— Por que não nos conta a onde vamos? — Sam tentou outra vez.
— Não sei como chamar isso, mas essa parte parece importante. — A ruiva se deixou ouvir a voz irritante de Zemo soar suave, como se minutos atrás não tivesse sido ameaçado de ficar sem a língua. Contanto que o barão não a irritasse, ele tinha o seu aval para fazer da vida de Sam e de Barnes um inferno. Era reparação histórica, chegou a conclusão. — Por que o nome da bela senhorita ao lado está no topo da sua lista?

conteve o instinto de abrir os olhos de imediato, curiosa e confusa sobre o que o barão falava, e fingiu apenas um suspiro, como se estivesse em um sono pesado. Não ficou com Bucky muito depois de trazerem todos de volta para saber que de que lista Zemo estava falando. Decidiu então, se manter quieta para tentar descobrir do que falavam.
Bucky, que até então observava, recluso, todas as ações do barão, olhou de relance para a ruiva que dormia, agradecendo aos céus por não ter aqueles olhos azuis curiosos e desconfiados sobre si. Saltou de onde estava e segurou com violência o pescoço de Zemo com a mão de vibranium.

— Se tocar nisso de novo, eu te mato. — A ameaça no tom baixo e perigoso de sua voz saiu enquanto ele se aproximava do rosto do barão e comprimia ainda mais a passagem de ar de seu pescoço. Antes de sentar novamente, de frente para Sam, ele olhou para poltrona do outro lado do estreito corredor do jatinho, captando o momento em que suspirava e se aconchegava mais.
— Me desculpe. — Zemo disse brando, apesar de não ter nenhuma gota de remorso em sua voz. — Eu entendi que é uma lista de nomes. Pessoas que foram machucadas pelo Soldado Invernal. — O barão completou quando notou os olhos semicerrados da ruiva frente a ele. Ela não estava dormindo, ele deduziu. Fingia dormir apenas para escutar a conversa e Zemo tiraria proveito disso fazendo o que sabia de melhor: plantar a discórdia.
— Não força. — Bucky engoliu em seco, seus olhos traidores rapidamente indo até ela. — Esse é seu último aviso.
— Sinto muito. — Novamente o Barão repetiu. — Acredito que até mesmo o Soldado Invernal tenha ficado apaixonado por sua beleza, já que além de viva, ela não aparenta ter nenhuma sequela.

Inúmeras imagens de lutando contra ele, contra o Soldado Invernal, passou por sua mente perturbada e distorcida. Todas as vezes em que a socou, que atirou nela ou lhe atingiu com facas; todas as vezes em que sua mão de metal tinha a estrangulado até quase tirar sua vida.
Simultaneamente, enquanto todas as vezes em que a machucou passava como um pesadelo em que era incapaz de acordar; todos os beijos trocados, as carícias feitas, o amor cultivado, a paixão intensa, o corpo dela nu sobre o seu, os gemidos, as lamúrias de prazer… Uma imagem ia se intercalando com a outra. Hora James conseguia vê-la gemer de dor, para que automaticamente fosse mudado, como uma televisão sintonizada em duas emissoras ao mesmo tempo, para seu gemido de prazer com seu corpo por cima do seu.
Aquilo parecia ter sido o ápice para Barnes.
Os avisos e repreensões verbais não pareciam surtir efeito em Zemo, talvez então, o sargento pensou que quebrar aquele nariz arrebitado fosse o suficiente para começar o processo de educá-lo.

— Ok. — Bucky limpou a garganta. — Já chega! — Suspirou audivelmente, seus punhos cerraram e ele partiu para socar aquele rosto prepotente.
— Ei! Ei, ei! — Wilson se pôs na frente do amigo, o impedindo de machucar o barão, por mais que a ideia fosse tentadora.
— Que palhaçada é essa? — fingiu acordar e os olhou confusa. — Se forem ficar exibindo seus níveis de testosterona, me avisem para que eu possa me jogar, sem paraquedas, desse avião. — Advertiu, encarando um a um. — Eu já vi esse caderno… — Constatou, notando o pequeno caderno jogado no chão. Deveria ter caído.
— Era do Steve quando foi descongelado. — Wilson respondeu a mulher, com os olhos também presos no pequeno objeto. Lembrava-se claramente de ver o amigo andando para lá e pra cá anotando coisas. — Você ouviu? O que achou? — Referindo-se às indicações musicais que deu a Rogers e que viu o loiro escreveu no caderno, Sam o perguntou.
— Gosto de música dos anos ‘40… — Barnes desviou os olhos. Ele não tinha sequer tentado ouvir, mas era bom demais discordar de Wilson e deixá-lo irritado.

E foi o que aconteceu. Sam parecia pessoalmente ofendido com a confissão do moreno, defendendo seu gosto musical por Marvin Gaye. Zemo, não perdendo a chance de se meter onde não foi chamado, passou, também, a elogiar o cantor a quem Sam se referia, deixando o Falcão de olhos estreitos.

— Posso te indicar alguns ótimos cantores também, já que percebi estar aceitando recomendações. Tenho ótimas sugestões para corações partidos e términos. — O barão bebericou seu champanhe, levantando sugestivamente uma de suas sobrancelhas em direção ao soldado.
— Cala a boca. — Bucky agitou levemente a cabeça e revirou os olhos.
— Bucky não sabe o que é ter um coração partido, Zemo. — não conseguiu conter o timming perfeito para alfinetar o homem. — Ele é a pessoa que parte corações.
— Então a senhorita deve ter um repertório muito vasto para poder compartilhar, já que parece entender de corações partidos. — Zemo bebericou outra vez seu champanhe. Os olhos azuis de se sobressaíram e suas pupilas dilataram com a resposta do barão.
Ela, definitivamente, não estava esperando por aquilo.
Olhou de soslaio para os outros dois homens ao mesmo tempo em que queria evitar contato visual. Mexeu-se desconfortável na poltrona que até minutos atrás era a coisa mais macia que já tinha sentido. Bebericou sua água, sentindo a garganta seca. se remexeu mais uma vez e fechou os olhos, pronta para ignorar a alfinetada que Zemo tinha dado a ela.
Como seu cérebro e sua boca não cansava de fazê-la passar por situações difíceis:
— Ouça Grenade do Bruno Mars. — Ela agradeceu por já estar de olhos fechados para que ninguém notasse as lágrimas teimosas que já se faziam presente. Sua voz embargada, no entanto, não passou despercebida por nenhum deles. Principalmente por Bucky. tratou de limpar a garganta antes de continuar. — Acredito que não irá entender a letra, mas ele é um bom cantor do meu tempo de vida. Lembrem-se que de todos, eu sou a única que continua na casa dos vinte.
— É uma intensa e dolorosa escolha de música. — Zemo pontuou, tranquilo. — Bruno Mars não é um cantor qualquer, eu diria. — Ele maneou a cabeça para Buck. — Para os jovens de hoje, ele é considerado um escritor de sentimentos. Deveria levar essa sugestão em consideração, Barnes, pelo visto a moça entende bem de corações partidos.
— Deus! — exclamou esgotada. Não era do tipo religiosa, mas estava rezando para que aquele avião caísse de uma vez por todas. — Você não vai calar a boca nunca?
— Dá para falar de uma vez por todas para onde estamos indo? — Wilson, parecendo que havia pegado no ar o desconforto da amiga, tentou, outra vez mais, mudar o rumo do assunto.

Antes de se entregar ao completo sono, ainda de pálpebras fechadas, ouviu quando Zemo os informou que iriam para o santuário mais fora da lei de todo o mundo. Para falar a verdade, não se surpreendeu ao saber que iriam a Madripoor, ou que todos tinham que ir disfarçados, visto que jamais seriam aceitos em suas reais identidades, não. O que pareceu mexer com seu humor, piorando ainda mais a circunstância em que tinha se metido, foi Zemo deixar explícito que James teria que se tornar alguém que ele considerava estar no passado.




Wakanda
2016


Wakanda era, de fato, um dos lugares mais bonitos, calmos, pacíficos e seguros em que e Bucky já haviam pisado.
Isso até Killmonger aparecer na fronteira do país, dias atrás, com a intenção de reivindicar o trono que sempre pertencera a T'Challa. O caos se instaurou mais rápido do que gostaria de admitir, e o que antes era um lugar tranquilo, logo se transformou em um país tempestuoso, inquieto e instável sob o curto reinado de Erik Killmonger.
Mas havia sido tempo suficiente.
Tempo suficiente para abalar a família de T'Challa, que acreditava que ele havia morrido batalhando por seu trono. O suficiente para afetar os anciões do conselho — que, embora não apreciasse, sabia que apenas tentavam proteger seu país. Mas, acima de tudo, o retorno de Killmonger, com toda a confusão e horror que trouxe consigo, colocou e Bucky em perigo.
Muito mais Bucky do que .
James ainda estava na criogenia desenvolvida por Shuri quando tudo começou a ruir diante dos olhos de , e ela se viu sozinha — mais uma vez — em um país estrangeiro, sem ninguém para lhe oferecer apoio ou palavras de conforto.
Quatro meses haviam se passado desde que Steve, Sam, Natasha e Wanda partiram de Wakanda, e, consequentemente, o mesmo período em que James estava em coma induzido na criogenia, buscando se livrar, de uma vez por todas, do Soldado Invernal.
Por isso, quando Killmonger assumiu o poder em Wakanda, a primeira ordem do então novo "Rei" foi que Bucky fosse despertado. Erik queria o controle do Soldado Invernal para si, como se o poder do Pantera Negra que ele acabara de adquirir não fosse suficiente.
Naquela noite, trancada no laboratório de Shuri, ao lado do corpo adormecido e inconsciente de Barnes, estava pronta para protegê-lo com tudo o que tinha. Seus ombros relaxaram momentaneamente quando viu Ayo entrar pelas portas do local. No entanto, o alívio durou menos de cinco minutos, pois logo a segunda no comando das Dora Milaje informou que tanto ela quanto James precisavam deixar Wakanda o mais rápido possível.
tremeu ao receber essa ordem de sua nova superior — afinal, durante toda sua estadia em Wakanda, além de ser diretamente responsável por eliminar o Soldado Invernal da mente de Bucky, ela estava treinando junto com as Dora Milaje. Quando não estava dormindo — o que fazia por pouquíssimas horas, para a frustração até de Ayo —, passava seu tempo treinando com as Doras, tanto em combate físico quanto no domínio crescente de seus poderes telepáticos e telecinéticos. E, quando não estava treinando, estava no laboratório de Shuri, com o dispositivo acoplado em suas têmporas, entrando na mente de Bucky para ajudá-lo.
Todo o tratamento de Bucky precisou ser interrompido às pressas, embora faltasse pouco para ser concluído. Com a ajuda de Shuri, o progresso na mente de Bucky estava sendo mais fluido do que todos esperavam, o que era um alívio. No entanto, ainda era cedo demais.
Enquanto aprendia a usar toda a força de sua telepatia, descobriu que entrar na mente das pessoas sempre acarretava projeções diferentes, embora o cérebro e suas terminações nervosas fossem os mesmos em todos. Ela testou essa habilidade com Shuri uma vez e, ao entrar na mente da princesa, viu que Shuri se projetava ao lado dela em uma sala vasta e tecnológica, com um enorme computador no centro — quase idêntico ao seu próprio laboratório. Sua próxima cobaia foi Ayo, que se projetava ao lado de como se estivessem no fundo de um poço, cercadas por enormes tijolos de vidro, cada um representando uma memória, uma emoção ou um controle do seu cérebro.

Com Bucky Barnes, porém, foi diferente.

Tudo sempre era diferente com ele.
A projeção de Bucky era feita em um corredor completamente branco e iluminado, que parecia não ter fim. De cada lado do corredor, havia portas. Dia após dia, enquanto se projetava ao lado de James dentro da própria mente dele, trancava todas as portas que reconhecia como pertencentes à Hydra. Por coincidência — ou talvez não —, cada palavra de ativação do Soldado Invernal estava cravada em uma dessas portas. Sempre que passava por uma delas, uma memória traumática de tortura ou assassinato cometido por aquele alter ego de Barnes o atingia. Ela nunca levava menos de uma semana em cada porta, lutando para fechá-la de uma vez por todas.
Esse processo teria durado menos tempo se, no meio do percurso, não tivesse começado a desviar sua atenção do que precisava ser feito para simplesmente passar mais tempo com Bucky. Sempre que podia, ela o levava para memórias felizes que ele nem sabia que ainda existiam.
E foi assim que, a cada nova palavra eliminada da programação, e Bucky se tornaram amigos. Confidentes. E, sem muito esforço e de forma bastante orgânica, algo mais nasceu entre eles. Um carinho e uma preocupação genuína, que antes não existiam. Um desejo e uma determinação de ajudá-lo que, embora fosse o principal motivo de permanecer em Wakanda, agora estavam potencializados.
Eles já não sabiam mais o que eram naquele ponto do caminho. Mas, com certeza, não eram mais apenas amigos.
adorava passar todo o tempo possível com Bucky, mas algo chamava sua atenção. Ela notava — e em um desses muitos dias, conseguiu observar com clareza — uma porta mais distante das demais. Por algum motivo, Barnes nunca estava disposto a entrar naquela porta, nem sequer mencioná-la.
Era uma porta de carvalho, de um vermelho sangue intenso. , apesar dos protestos de James, já havia parado diante dela algumas vezes.
Em escritas distorcidas, como se tivessem sido feitas à mão, com unhas arranhando repetidamente a madeira grossa, havia uma palavra.
A última palavra.

Vagão de Carga.

Faltava apenas aquela porta e aquela palavra para que a programação e a influência do Soldado Invernal fossem completamente eliminadas da mente de Bucky. Tudo estava caminhando bem para que , com a permissão de Barnes, atravessasse aquela porta, o ajudasse a encarar o que estava ali dentro e a trancasse de uma vez por todas.
Até que, como mencionado, Erik Killmonger chegou a Wakanda e abalou não apenas o país, mas também o mundo inteiro de .
Na madrugada, às pressas, Ayo conduzia por corredores e passagens secretas dentro do palácio, para que ela fugisse com Bucky. seguia logo atrás da Dora, levando a criogenia de Bucky ao seu lado, suspensa por sua telecinese. A contragosto, ela havia iniciado o processo forçado e rápido de despertar de James. Enquanto acompanhava Ayo, ajustava novamente o dispositivo em suas têmporas para entrar na mente de Bucky.
Na época, ainda não sabia, mas não precisaria de nenhuma tecnologia para manipular a mente das pessoas. Contudo, naquele momento, Shuri havia desenvolvido aquele dispositivo, e Bucky também possuía dois deles implantados — um em cada têmpora — durante as primeiras semanas de tratamento.
Ayo a levou até uma cabana próxima à fronteira do país, perto da Tribo Jabari, e assegurou que, pela manhã, assim que conseguisse um transporte seguro para tirá-los de Wakanda, voltaria para buscá-los. Assim, passou a madrugada ao lado de Barnes, que ainda estava desacordado e suando frio, devido ao despertar urgente.
A cabana, no entanto, não era tão segura quanto Ayo havia previsto. Em algum momento da noite, quando o céu começava a ganhar tons alaranjados e o azul escuro se dissipava, dando à lua sua última hora de protagonismo, sentiu uma imensa quantidade de auras os cercando, como se fossem presas fáceis demais para serem caçadas.
Claro que, sendo , ela demonstrou a todos os enviados de Killmonger que mexer com ela e ameaçar aqueles que amava era uma péssima escolha. Enquanto estava conectada à mente de Bucky, se projetando telepaticamente para ele, saiu da cabana e lutou — não apenas fisicamente, mas também usando sua telecinese — contra todos os guerreiros que tentavam derrubá-la para chegar até James.
Ela não contou a Bucky os detalhes do que estava acontecendo, embora ele sentisse que algo estava errado consigo. apenas explicou que precisavam deixar o país com urgência. Não revelou que, enquanto o ajudava, lutava ao mesmo tempo contra o chefe de segurança da Tribo da Fronteira — também marido de Okoye — e seus soldados, criando um campo de força ao redor da cabana onde o corpo de Bucky estava, e se preparando telepaticamente para enfrentar o que havia por trás da última porta na mente dele.
Dentro da projeção telepática, Barnes, percebendo a urgência de , concordou que não havia mais como postergar. Juntos, eles atravessaram a porta vermelho-sangue com a inscrição "Vagão de Carga", feita em arranhões. Ao adentrarem o ambiente mal iluminado e úmido, Bucky o viu sentado no meio da sala, descansando na máquina de lavagem cerebral à qual tantas vezes fora forçado a se submeter.
Lá estava o Soldado Invernal, encarando e Bucky com um sorriso predatório e assassino nos lábios. Era por isso que Barnes temia entrar por aquela porta. Ao longo do tempo, ele havia enfrentado seus maiores medos e traumas, e fazia sentido que o pior e mais aterrorizante de todos fosse, justamente, seu cruel alter ego.
olhou ao redor e rapidamente entendeu que, para fechar aquela porta, o Soldado Invernal precisaria ser eliminado ali. Às pressas, explicou isso a James. Enquanto falava, por uma fração de segundo, sua projeção astral imitou o mesmo movimento de desvio que realizava fora da mente de Barnes, enquanto lutava contra os soldados que a atacavam.
Bucky a olhou confuso, pedindo que explicasse o que realmente estava acontecendo. No entanto, o tempo corria contra eles, e quanto mais rápido Barnes lidasse com aquilo, mais rápido conseguiria se concentrar em apenas uma tarefa. Sem perder mais tempo, ela avançou contra a persona do Soldado Invernal para neutralizá-lo. Talvez, se sua mente não estivesse focada em tantas coisas ao mesmo tempo, ela conseguiria ao menos nocauteá-lo. Não fazia sentido que o Invernal ainda fosse tão forte ali, não quando quase 90% do controle mental de Bucky já pertencia a ele mesmo, e não mais a ninguém.
Então, num lapso de entendimento, enquanto era atingida por golpes do Soldado Invernal e se preparava para ser enforcada pela mão de metal dele, olhou para Bucky Barnes. Ele ainda estava parado à porta, praticamente do mesmo jeito de quando entraram, com uma expressão de pavor e desespero. O Soldado Invernal estava ganhando porque o subconsciente de James ainda temia seu alter ego e sua crueldade. Sentindo-se sobrecarregada, tanto dentro quanto fora da mente de Bucky, , entre ofegos, disse a ele que o Soldado Invernal não tinha mais controle. Ele só estava vencendo porque Barnes deixava o medo prevalecer, e o Invernal se alimentava desse medo.
A luta, fora da mente de Bucky, onde continuava batalhando com maestria para protegê-lo, também se intensificava. Ela estava exausta, sua cabeça doía como se estivesse sofrendo uma hemorragia interna, e, ao conseguir um segundo para recuperar o fôlego, sentiu a primeira gota de sangue escorrer de sua narina. Isso só acontecia quando se sobrecarregava demais, e de fato, era o que estava acontecendo. Nunca antes havia usado todas as suas habilidades em conjunto e ao mesmo tempo.
usava a telepatia para se projetar na mente de Bucky, a telecinese para criar um campo de força ao redor da cabana onde o corpo inconsciente dele estava — além de usá-la para se defender naquele campo repleto de soldados caídos —, sua força física para o combate corpo a corpo, e sua mente para criar táticas de ataque e defesa.
Era demais. Tudo acontecendo ao mesmo tempo.
Muito mais do que ela conseguia suportar por tanto tempo. Por isso, em ambos os lados, ela começava a perder o foco e a força.
O Soldado Invernal estava vencendo dentro da mente de Bucky, enquanto os soldados da Tribo da Fronteira a derrubavam e tentavam, com golpes, destruir o campo de força que ela mantinha ao redor da cabana. Ela gritou por Bucky dentro da mente dele, pedindo uma ajuda que sabia que só ele poderia lhe conceder. Mas Barnes estava paralisado, olhando para o Invernal com receio e dor, como se não estivesse pronto para encarar seu pior pesadelo.
Talvez ele nunca estivesse.
No entanto, a voz suplicante de fez algo muito maior aplacar aquele sentimento de horror que dominava seu peito. Ele não entendia muito bem como ela conseguia se projetar na mente dele, ou como, mesmo sendo tudo mental, ele se sentia tão vivo ali dentro. Mas... o que aconteceria se o Soldado Invernal realmente a machucasse?
O que aconteceria no mundo fora da mente de Barnes, se, naquele momento, o Soldado Invernal a matasse?
Ele não queria saber. Deus, ele sequer queria imaginar.
Ele jamais estaria disposto a descobrir.
Por isso, no segundo seguinte, quando viu seu alter ego acertar o rosto de com o punho de metal, uma onda de coragem, determinação e raiva o atingiu de todos os lados. Quando Bucky piscou, já estava em cima de sua projeção, tirando o Soldado Invernal de cima da mulher caída e desorientada.
Nos dois planos — o astral e o real — sacudiu a cabeça, sentindo-se zonza. Limpou o rastro de sangue que escorria de seu nariz e se levantou com esforço.
Fora da mente de Bucky, viu os soldados que ainda estavam de pé, batendo suas lanças de vibranium contra o campo de força que ela mantinha para proteger James. Dentro da mente do Sargento, assistiu à luta entre ele e o Invernal, percebendo quando, como espelhos, Bucky e seu alter ego usavam os mesmos golpes e táticas de defesa. Desde o primeiro dia em que se projetou na mente de Barnes, havia notado que ele se via com o braço esquerdo normal, como era antes da queda — antes do metal frio e ensanguentado que a Hydra implantou nele.
E aquela luta — em ambos os lados — estava longe de ser justa.

— Parem — sussurrou, parada em ambos os planos, observando os diferentes cenários onde Bucky parecia cada vez mais em perigo. — Parem! — Ela repetiu, para ninguém em particular e, ao mesmo tempo, para todos, como um aviso de que não aguentaria muito mais.

E ela realmente não aguentaria.
Suas mãos foram até a cabeça, deslizando pelos fios curtos de cabelo e os puxando levemente no processo. A pressão dentro de si aumentava, como a lava de um vulcão prestes a explodir. Quanto mais tentava pedir para que parassem, mais a lava queimava seu interior a cada segundo.

— Parem… — Ela sussurrou novamente, fechando os olhos nos dois planos em que se mantinha firme, mas se sentia fraca.

Havia algo dentro dela que a fazia sentir como uma força da natureza prestes a explodir, uma bola de destruição que não conseguia explicar. E agora, enquanto seus pés pareciam presos no lugar e ela era forçada a observar sem poder fazer nada, a impotência despertava o desespero e a raiva.
E a raiva, para , sempre era o pior dos sentimentos. Pouco a pouco, o controle foi escapando de seus dedos. Se os soldados da Tribo da Fronteira tivessem prestado atenção nela, ou se até mesmo Bucky e o Invernal a olhassem no plano astral por um segundo, todos veriam pequenas rachaduras começando a se formar em sua pele. Por baixo desses cortes sutis, uma luz âmbar brilhava intensamente, tão potente quanto suas íris ficavam quando ela atingia o ápice de suas habilidades. A raiva aumentava por não ser ouvida, por tentar se mover e continuar presa, por aquela energia dentro de si esmagando seu peito e impedindo-a de respirar. As auras dos soldados, as auras de James e até mesmo a do Invernal, atingiam-na como milhões de facas cegas e enferrujadas.
Doía.
Machucava.
Despertava o pior dela.
Em um último aviso, antes que tudo ruísse, gritou:

— PAREM! — Suas mãos, que estavam em seu cabelo, se abriram no ar ao mesmo tempo em que uma explosão psiônica irradiava de seu corpo, destruindo tudo ao redor num rompante.

Os soldados da Tribo da Fronteira foram lançados metros adiante, e as grandes árvores ao redor foram arrancadas de suas raízes.
Dentro da mente de Barnes, naquela projeção astral, tanto ele quanto o Invernal foram lançados pela mesma explosão psiônica, que parecia ter abalado toda a estrutura. desmaiou um segundo depois, em ambos os planos — o astral e o real — deixando um rastro de destruição ao redor da cabana na floresta, perto da fronteira, e na projeção astral da última porta na mente de Bucky.





Quando o jatinho de Zemo pousou em uma pista privada, já era noite. não tinha ideia de que horas eram, mas aparentava ser tarde. Já estavam em Madripoor, era impossível não conseguir distinguir o ar e aspecto do lugar.
Era como estar em outro mundo sem precisar sair do planeta.
Embalados em um silêncio, dessa vez bastante agradável, todos se preparavam para levantar e finalmente poder respirar o ar fora do cubículo em que estavam presos nas inúmeras horas que se seguiram.

— Você trouxe um uniforme de combate, apenas por precaução? — Sam deu início a conversa, questionando a . Todos os olhares novamente a reação da mulher.
— Não. — Suspirou sincera. — Meu plano tinha sido elaborado em apenas prender o Zemo e dar uma surra em vocês dois. — Deu de ombros. — Bom, talvez não em você… — Meneou o queixo para Sam. — Mas nele, com certeza! — Pendeu a cabeça do lado, referindo-se a Barnes. — Esqueci de adicionar a possibilidade de uma mala de mãos para caso decidisse me juntar a criminosos e sair do país. — Debochou, cerrando os olhos na direção dele.
Outch! — Sam levou as mãos até o peito em um falso drama. — Para quem não me viu nos últimos onze meses, você não aparenta ter gostado muito do nosso reencontro.
— Barnes e eu não precisaremos de disfarce. — Zemo tomou a dianteira, imaginando que a discussão poderia tomar bastante do seu tempo. — Já tenho pessoas com algumas peças de roupas para vocês — comunicou a e Sam.
— Não quero nada vindo de você — declarou. Pensar na possibilidade de aceitar, por menor que fosse, qualquer ajuda do barão a deixava profundamente irritada. Por mais que Zemo tentasse a todo custo ditar que o passado tinha ficado para trás, era rancorosa demais e ela jamais esqueceria que Zemo não só tinha ativado a programação do Soldado Invernal em Bucky, no passado, como também ter o ordenado a matá-la.
— E pretende se misturar em Madripoor vestida desse jeito? — Bucky, já de pé, virou para ela, arqueando sugestivamente a sobrancelha em desafio.

Embora Barnes tivesse chegado a conclusão que não amaria ninguém como a amava, a constatação não alterava em nada o incômodo que crescia fervendo no seu estômago sempre que tinha que se referir a ele ou para ele.
Para ele não importava muito, para falar a verdade. Só queria, qualquer que fosse, a interação com ela, já que tinha percebido que seu silêncio e desprezo pareciam bem piores do que como a maneira que ela estava o tratando.
A ruiva, aproveitando do fato que seu sobretudo estava pendurado na parte de trás da poltrona que a aconchegava minutos atrás, levantou de imediato, esticando os lábios em um sorriso forçado e o encarou de olhos estreitos, antes de dizer:

— Não, Barnes. — Ela quase cuspiu o nome dele. — Não pretendo entrar em Madripoor assim. — Aceitando silenciosamente o desafio do sargento, a mulher simplesmente cruzou os braços ao redor do blusão de lã que estava por dentro da saia colada em seu corpo, e puxou a peça de roupa para cima. — Pretendo entrar assim. Está bom o suficiente para você? — Piscou debochada.

Puta que pariu.
Talvez Bucky tenha esquecido como respirar, ou talvez seu coração tenha resolvido que aquela era uma boa hora para parar de bater.
tirou a porra da blusa, deixando a porcaria de um sutiã preto e rendado, que ia até metade de sua barriga, amostra. E que inferno era aquele, Barnes podia ver claramente seus bicos eriçados pelo frio repentino que ela provavelmente passou a sentir. Não foi só isso, no entanto. Os bicos estremecidos de seus seios avantajavam as extremidades de dois... objetos? em cada lado, não que Barnes conseguisse distinguir agora o que era aquilo, mas, definitivamente não eram só os bicos que ele tanto colocava a língua meses atrás…
Ok, ele se estapeou internamente vendo para onde seus pensamentos iam. Sacudiu a cabeça em negação e passou os olhos por ela, observando que agora, entre os peitos, um desenho novo chamava sua atenção.
A tatuagem era impressionante: uma serpente detalhadamente desenhada, suas escamas finamente traçadas, enrolava-se ao redor de uma espada. A lâmina da espada era fina e elegante, com a ponta ligeiramente avermelhada como se acabasse de perfurar algo. A serpente, com os olhos penetrantes e a língua bifurcada ligeiramente exposta, parecia viva, quase como se estivesse prestes a deslizar pela pele de .
Bucky ficou hipnotizado pela imagem, seus olhos traçando cada linha e curva. A combinação da espada e da serpente evocava força e perigo, simbolizando perfeitamente a complexidade de . Ele sentiu uma mistura de emoções ao ver aquela tatuagem, uma marca permanente que ela escolhera, um símbolo novo que ele não conhecia.
Quase teve vontade de perguntar quando tinha feito aquela. Barnes não gostava muito de agulhas, por motivos óbvios, mas não conseguia esconder o quão fascinado ficava a cada nova tatuagem que a mulher fazia em seu corpo. O desenho estava intrincado no centro do peito e acabava quase que na metade da barriga, o que o fez seguir, descaradamente, os olhos em linha reta até encontrar seu novo motivo de perdição.
E também de clareza para um questionamento não muito distante.
Seu olhar foi imediatamente atraído para a joia em seu umbigo. O pequeno cristal brilhava contra sua pele, destacando-se de uma maneira que fazia seu coração acelerar. Ele sentiu uma onda de ciúme e tesão passar, os sentimentos se entrelaçando e o deixando confuso e ansioso. O piercing no umbigo, tão inesperado e provocante, era um lembrete de como ela havia mudado e de todas as coisas novas sobre ela que ele ainda não conhecia.
Enquanto observava, a memória de um vislumbre anterior voltou à sua mente – os objetos que ele havia visto marcando os bicos dos seios dela. A conclusão atingiu-o como um raio: ela também tinha piercings lá.
O pensamento o deixou ainda mais louco de desejo e ciúme, imaginando quem mais tinha tido a chance de ver esses novos adornos e o que isso significava para ela.

— Nem fodendo. — James passou a língua pelos lábios que pareciam estar mais secos que o próprio Saara.
— O que você disse? — Sem tirar o sorriso debochado e vitorioso do rosto, o mirou, agora sendo ela a desafiá-lo.
— Eu disse que nem fodendo que você vai assim! — Barnes repetiu, se aproximando dela, muito menos adepto ao jogo que ele mesmo parecia ansioso para começar a jogar. O super soldado parecia ter esquecido que além de velho demais para isso, não havia um pingo de sanidade em sua mente.
— Sinto lhe informar, Sarg. estalou o apelidinho nos lábios. — Mas você não manda em mim. — Dito isso, e para aplacar o frio que eriçava seus pelos e seu tronco a amostra — sem contar os seus seios, como Barnes bem não parava de indiscretamente olhá-los — a ruiva passou o sobretudo vermelho pelos braços.
Mas o deixou aberto propositalmente.

Ao passar pelo corredor estreito, ela viu que ele estava parado bem no meio, bloqueando seu caminho. Sem hesitar, ela firmou os ombros e continuou em frente, decidida a não desviar. Quando chegou onde ele estava, ela o encarou brevemente antes de dar um passo firme à frente, batendo propositalmente o ombro contra o dele. O impacto foi suficiente para empurrá-lo para o lado, e ela seguiu em frente, sem olhar para trás.
O contato foi rápido, mas a mensagem era clara: ela não estava disposta a ceder.

— Sua beleza e seu condicionamento físico, certamente, agradarão muitos olhares. — Zemo iniciou, botando mais lenha na fogueira.

Os quatro saíram um a um do jatinho particular e um carro bastante luxuoso já os esperava do lado de fora da pista. O barão precisava admitir que não estava em seus planos ser preso naquele momento em Berlim, ou que a adição de a equipe lhe agradava, no entanto, aquela parte mais ardilosa de Zemo parecia estar desfrutando, com prazer, aos efeitos que a ruiva causava em Barnes.

— Ah, você é realmente o exemplo perfeito de um cavalheiro, não é? — ironizou, não contendo o revirar de olhos.
— Vim de família nobre — Zemo justificou, mesmo notando o sarcasmo em sua voz.

Por um breve momento, foi esperado que Sam e James vestissem as roupas apropriadas para o que a noite aguardava. Zemo apressou os passos para sentar no banco da frente do carro quando Wilson e Buck voltavam já trajados, deixando os outros três decidirem como seria a logística atrás. Sam entrou primeiro, deixando impossibilitado que mantivesse distância de Barnes, pois, para falar a verdade, a possibilidade de ele sentar ao lado da carranca ambulante que era Bucky, também não o agradava em nada.

— Sei que não é necessário perguntar, mas todos sabem o que fazer caso algo dê errado? — Sam, sempre muito ameno e preocupado, questionou. Todos responderam em um murmúrio baixo e contido. — ... — Wilson a observou no meio do carro, notou que ela quase grudava o corpo ao seu, na inútil tentativa de não esbarrar um centímetro em Barnes. — Preciso que dê sua arma ao Buck — falou de uma vez, se odiando por não facilitar na sua reconciliação com a mulher.
— Nem pensar. — Ela vincou as sobrancelhas e respondeu de imediato.
— Qual é, … — Wilson, outrora tolerante às brincadeiras, agora exibia uma expressão cansada e decidida. — Você sabe que precisamos disso. Só dê logo sua arma para ele. — Seus olhos, antes cheios de leveza, agora refletiam uma seriedade pesada, como se estivessem carregados com o peso de muitas frustrações. Uma tensão se formava em sua mandíbula, denotando a determinação de mudar o tom da conversa.

A tensão entre os dois amigos era como uma névoa pesada que pairava no ar, obscurecendo a atmosfera alegre que costumavam compartilhar. Sam, com um olhar sério e determinado, fazia uma solicitação à mulher, que embora se movesse para cumprir o pedido, exibia uma postura rígida e emburrada.
A ruiva colocou a mão por dentro da saia e tocou no final do coldre que prendia a arma em seu corpo, a expressão de irritação clara em seu rosto. Só tinha consigo aquela arma e mais duas pequenas facas para se defender.

— Escolha de lugar interessante — Bucky alfinetou, os olhos traidores seguindo como cães famintos para onde a mão dela foi. A voz firme, mas com uma ligeira rouquidão traía sua fachada de indiferença.
— Continue olhando para cá e logo descobrirá onde escondi minhas facas também! — desprendeu a arma e jogou sob seu colo.

Bucky engoliu em seco, algo dentro dele se debatendo para saber onde as malditas facas estavam guardadas e se, quem sabe, ele poderia tocá-las — ou deixá-la usá-las nele, ele ainda não tinha entrado em um consenso interno quanto aquilo. —
Puta merda, ele estava muito fodido.
James ajeitou a pistola entre os dedos e a segurou, sentindo o quão quente o metal estava.
Todo aquele calor vinha dela, vinha do meio das pernas dela…
Ele sentiu a corrente elétrica de um pensamento inapropriado percorrer sua mente, mas, com um gesto rápido, balançou a cabeça em negação, como se quisesse afastar aquela ideia. Foi como se estivesse tentando dissipar as nuvens escuras que se formavam, o movimento foi uma tentativa desesperada de manter sua mente focada e suas intenções puras, mesmo diante da tentação que ameaçava desviá-lo do caminho correto.

— Vamos lá, não fique com todo esse bico. Armas e facas? Todos nós sabemos que você é muito mais poderosa sem isso! — Sam ofereceu um sorriso leve e ousou empurrar delicadamente a amiga emburrada.

ouviu as palavras de Wilson, sabendo o que o homem queria dizer e, instantaneamente, sentiu um frio percorrer sua espinha. Seus olhos arregalaram por um breve momento antes de conseguir controlar sua expressão. A ruiva disfarçou a inquietação repentina, mas suas mãos, que antes descansavam em seu colo, ficaram trêmulas e se pegou procurando por refúgio nos bolsos do sobretudo, escondendo-as. O sorriso confiante que tentou formar antes de responder o Falcão, não chegou ao olhos:

— Eu sou, não é mesmo? — confirmou, tentando manter a voz firme.

Ela desviou o olhar, fixando-o em um ponto indefinido no chão do veículo, como se estivesse procurando por alguma resposta ali. Um leve rubor coloriu suas bochechas, expondo o turbilhão interno que tentava esconder. Suas respostas, a partir daquele momento, se tornaram mais curtas, quase monossilábicas, a mulher sequer deu o trabalho de prestar atenção nas informações que Zemo passou a detalhar minutos depois.
O nó crescia latente e avassalador em seu estômago, gostaria de acreditar que o motivo de não abrir o jogo agora era porque conseguia dar conta sozinha, e não por vergonha.
A verdade, no entanto, era outra: ela só não estava pronta para assumir ainda.
Bucky estreitou rapidamente os olhos, sendo incapaz de não observá-la atentamente. Por mais que odiasse admitir, a conhecia bem demais para não notar que, algo na sua fala e nas ações seguintes, parecia estranho. Antes que conseguisse descobrir o que tinha desencadeado aquela reação na ruiva ao seu lado, porém, o veículo foi perdendo velocidade e, pelas janelas fumês, a Cidade Baixa de Madripoor foi ganhando forma. Eles haviam chegado e o que quer que Barnes tentasse descobrir, teria que ficar em segundo plano.
Primeiro, ele teria que deixar sair algo que ainda sussurrava palavras cruéis e confusas na sua mente.
Antes de qualquer coisa, Bucky Barnes deveria voltar a ser o Soldado Invernal.





— Precisava mesmo ter deixado o sobretudo no carro? — O tom falsamente controlado de Buck não conteve o ciúme que escorria por seus lábios.
— Olhe para essas pessoas, soldado. — rebateu, andando ao lado de Zemo. Já tinham saído do veículo e agora caminhavam por uma rua repleta de pessoas. — Eu chamaria mais atenção com aquela peça vermelha do que estou chamando agora. — A ruiva completou, sorrindo de canto.
— Não é o que está parecendo — Barnes murmurou mais para si mesmo.

Seus olhos vidrados na imagem de só a deixando para encarar um idiota ou outro que continuava a olhando como se fosse devorá-la. era a mulher mais linda e sexy que Barnes teve o prazer de conhecer, e tudo piorava ainda mais porque a mulher não só parecia ter ciência, como também se aproveitava disso.
E por Deus, aquela fenda na mini saia colada de couro, a bota indo até acima dos joelhos… Ela andando por aí apenas com aquele sutiã completamente rendado e com tecido suficiente para cobrir um pouco mais que os mamilos.
Como Barnes conseguiria se concentrar assim? O Soldado Invernal deveria ser apático e não esboçar reação nenhuma. Mas Barnes tinha a ligeira impressão de que, mesmo se estivesse sendo controlado pelo Invernal agora, até ele estaria deslumbrado e profundamente incomodado com a situação.

— Chegamos — Zemo alertou adentrando o pub um pouco lotado e avistando o bartender que os levaria até Selby. — Lembrem-se, continuem no personagem.
— Vou me misturar e fazer a varredura do local. — deu três passos mais rápidos em direção aos homens e disse um pouco mais baixo, apenas para que eles a ouvissem. Zemo e Sam assentiram sem olhar para trás, entendendo o que ela estava fazendo. Barnes, por outro lado, a olhou por cima dos ombros refreando os passos, não a deixaria sozinha nem fodendo.
Pronto para obedecer… Soldado Invernal? — Barão Zemo o chamou alto em russo, sem olhá-lo. Não era um bom momento para deixá-lo próximo à ruiva, Zemo constatou.

A máscara apática e rígida de Barnes escondia suas feições, mas não conseguia esconder a tempestade que começava a aumentar e rugir dentro dele. Seguiu Zemo e Sam a contragosto, encostando no balcão que separava o bar do restante do ambiente assim que pararam. Girou os calcanhares ficando de frente para Wilson e Zemo, e meneou a cabeça para os lados, a procurando como um predador faminto por sua presa.
Assim que conseguiu encontrá-la, dançando sob a música alta que agora começava, se arrependeu de começar a procurá-la em primeiro lugar.
Ela dançava de forma provocativa, atraindo olhares de todos ao redor. Homens se aproximavam com sorrisos insinuantes, tentando captar sua atenção, e mulheres observavam com uma mistura de inveja e admiração.
Seus olhos seguiam cada passo que dava, e o sentimento de ciúme queimava mais ferozmente a cada vez que ela passava as mãos pelo corpo e rebolava os quadris.
Reconhecimento do perímetro uma porra, ele pensou, agitado e com as pupilas dilatadas, o sargento teve que conter o ímpeto de jogar tudo para o alto e arrastá-la o mais longe possível dos olhares ao redor.
Ele cerrou os punhos, tentando manter a compostura. Sob o disfarce, ninguém poderia ver o músculo que saltava em sua mandíbula tão tensa. Ele sabia que deveria agir normalmente, que qualquer demonstração de emoção poderia deixar tudo a perder. Mas era impossível ignorar a onda de ciúme que o inundava.
James Barnes tinha noção de que Zemo e Wilson conversavam algo com o bartender, que os dois homens tentavam um encontro com a tal Selby a quem Zemo tanto mencionou ter poder e ser a chave para descobrirem quem estava por trás do supersoro e do retorno da HIDRA. Nada, para o sargento, parecia ter mais importância do que gravar cada movimento que fazia.

Descansar, soldado — Zemo o chamou, ficando frente a frente com Barnes e atrapalhando sua visão. O Barão semicerrou os olhos discretamente olhando, por cima dos ombros, para onde o soldado não parava de encarar. — Fique aqui e não o deixe fazer nenhuma besteira. — O barão se direcionou a Wilson. Embora não fosse adepto a ter reações mal educadas, Zemo bufou baixinho.
— Você deveria ir dançar com ela. — Sam se aproximou com um copo de whiskey puro na mão, apontando com o objeto discretamente para . Só o sabor marcante e forte daquela bebida seria capaz de tirar o gosto do que quer que ele tenha sido obrigado a beber segundos atrás, por culpa de Zemo.
— Eu não danço — Barnes respondeu ríspido, de imediato.

Quando jogou a cabeça para trás, inclinando o corpo para se encostar no homem atrás de si e teve a cintura fina coberta pelas mãos masculinas, envolvida na música e na batida sensual que a fazia remexer o quadril devagar, Barnes sentiu uma pontada aguda de dor. Ele odiava o modo como todos refletiam magneticamente atraídos por ela, como se ele não estivesse ali, invisível e impotente. O sentimento de possessividade era avassalador, conflitante com a necessidade.

— O cara atrás dela também não, mas ele não parece se importar muito com isso. — Sam tentou, outra vez mais, abrir os olhos do amigo. Não sabia o que tinha acontecido com eles, mas a cada segundo que passava ao lado dos dois, ficava mais nítido que o assunto mal resolvido entre eles era, nada mais, nada menos, do que um sentimento que nunca havia partido.
— Ela não me quer por perto, Sam. — James suspirou alto. Ele tentou desviar o olhar, focar em outra coisa, mas seus olhos sempre voltavam para ela. A máscara apática do Invernal oferecia um escudo, mas não era suficiente para esconder a intensidade de suas emoções. A cada gesto provocante de , o ciúme aumentava.
— Eu aposto que na verdade ela o quer bem perto, só não sabe como pedir. — Wilson abriu um sorriso malicioso e o empurrou de leve.
— Não posso sair do disfarce. — Uma parte dele queria atravessar a sala e reivindicá-la, afastando todos aqueles que ousavam desejá-la. Mas ele sabia que não poderia. Não agora. Não sob disfarce. Então, ele continuou a observar, lutando contra o desejo de protegê-la, de tê-la só para si.
Sam bufou, cruzando os braços enquanto via dançar com outro homem. Buck, do seu lado, parecia prestes a morrer de ciúmes. Wilson revirou os olhos, tendo uma ideia logo em seguida, que o fez sorrir de canto:
— Bom, eu posso. — Sam virou sua dose de uma vez, batendo o copo no vidro do balcão propositalmente. Deu o primeiro passo em direção a amiga quando a mão imponente e de vibranium de Barnes o segurou no ombro e o prendeu no lugar.
— Se aproxime dela e eu te mato. — O soldado rosnou, alternando os olhos estreitos entre o amigo e a ruiva, permitindo que Wilson soltasse uma risada alta e descrente, não levando sua ameaça a sério.

E então, como se soubesse que estava sendo observada, olhou em direção a Bucky, seus olhos brilhando por um momento antes de ela desviar o olhar novamente, se amaldiçoando por ter sido pega o fitando.
Bucky sentiu um raio de esperança, uma conexão silenciosa que talvez só ele pudesse perceber. Mas a dúvida persistia, corroendo sua confiança. Será que ela sabia que ele estava quase morrendo de ciúmes por vê-la dançando com outro homem? Será que ela sentia mesmo isso ou tudo era fruto da sua imaginação? Será que seu corpo também respondia aos mesmos efeitos que o deles quando estavam próximos ou quando estava o observando?
Estava fodido.
Barnes respirou fundo, tentando conter a careta que lutava para se formar em seu rosto. O disfarce poderia cobri-lo do mundo exterior, mas não poderia cobri-lo de suas próprias emoções. E ali, naquele bar, cercado por olhares desejados e sorrisos insinuantes, James desejou baixinho que Sam estivesse certo. Que também o quisesse tão perto quanto ele a queria naquele momento.
E em todos os outros, pelo resto de sua vida.
dançou mais alguns segundos com o homem que quase marcava sua pele, tamanha era a força que aplicava em sua cintura, e se desvencilhou de seus toques quando ele tentou beijá-la. Essa atitude repentina não condizia com o comportamento que vinha tendo nos últimos onze meses. Na realidade, esteve em tantas camas e com tantas pessoas, que a mulher nem lembrava-se do rosto de cada um. Desesperada para sentir algo que não o vazio que ecoava em seu peito, quando não estava atolada de trabalho, ela se metia em festas para beber até esquecer seu nome e parar na cama com alguém.
Cada encontro casual era uma tentativa desesperada de manter a mente ocupada, uma fuga temporária da dor constante. Mas naquele bar, ao sentir a proximidade de outro alguém, algo dentro dela paralisou. Ela sabia que ele estava ali, observando-a com uma intensidade que a queimava por dentro, e isso a incomodou mais do que gostaria de admitir.

— Vou pegar uma bebida. — Disse hesitante, seus lábios incapazes de corresponder ao beijo que se aproximava. O olhar penetrante, que parecia queimar todo o seu corpo, a prendia, como uma corrente invisível que a impedia de seguir em frente. Não parecia certo com ele a observando daquela forma.

A ruiva não deixou que o homem protestasse ou tentasse segurá-la, apenas saiu o mais rápido possível e seguiu para o balcão do bar, se aproximando discretamente de Wilson.

— Nem todos estão armados. — bebericou o drink que chegou a alguns minutos. Sua boca sendo escondida pelo copo colorido. — Contei cinco guardas, até agora. Dois ao norte, um atrás de Barnes e dois próximos à saída. — Completou seu raciocínio, tomando um gole relativo da bebida.
— Uau. Você conseguiu ver isso tudo enquanto deixava aquele cara se esfregar em você? — James olhou para com um sorriso irônico, seus olhos, embora tentassem continuar apáticos, transbordavam um brilho de irritação.
— O que? — A ruiva fingiu surpresa. Um sorriso sardônico criou vida em seus lábios, virou o resto do drink e ainda com aquele maldito sorriso, se inclinou para perto dos rapazes. — Acho que viu errado, porque claramente quem estava se esfregando nele era eu.

A tensão entre eles, dessa vez, tinha ficado quase insuportável. A música alta e as risadas ao redor não conseguiam mascarar a eletricidade que passava nos olhares trocados. Uma guerra silenciosa de quem desviava o olhar primeiro se iniciou e Sam riu em escárnio observando a dinâmica, mas sem achar tanta graça assim. Era engraçado e patético, e se pudesse comparar, diria que estava numa comédia romântica de roteiro ruim e previsível: eles acabariam na cama a qualquer momento.
Um burburinho cresceu por todo o bar, os obrigando a interromper a guerra silenciosa que travavam, e Zemo apareceu em seu campo de visão, com um homem o segurando pelo cotovelo e o empurrando até o bar. ainda não tinha se revelado como parceira dos três, então pediu outro drink e encarou o que acontecia, pronta para lutar, se necessário.

— Você não é bem vindo aqui. — Ele rosnou em tom de ameaça ao barão.
— Não tenho negócios com o Mercador do Poder. — Zemo começou, puxando com certa brutalidade e força seu braço do toque dele. — Mas se ele insiste, pode vir falar comigo… — Apontou sugestivamente para Barnes, que endireitou a postura e mirou o homem que ameaçava seu suposto dono. — Ou traga Selby para falar comigo. Diga que já estou cansado de andar por esse bar de procedência duvidosa à sua espera.

No meio tempo, o mesmo homem que dançava com apareceu a segurando por trás e depositando beijos por seu pescoço e colo, aproveitando-se da vantagem de ser quase o dobro do tamanho dela. se deixou levar pelas carícias que agora não despertavam nenhuma reação positiva ao seu corpo. Precisava continuar deixando ser tocada, pois estava perto o suficiente para ouvir a conversa de Zemo com os rapazes sobre o Mercador do Poder e algo relacionado a todo reino precisar de um rei. Ela revirou os olhos, sem saber exatamente se para o drama do “Rei de Madripoor” ou para o homem com cheiro de álcool que falava, ao pé do ouvido, coisas que deveriam deixá-la excitada, mas que agora só fazia seu estômago embrulhar.

Soldado Invernal. Ataque. — O ar ficou carregado de tensão e adrenalina quando Zemo ordenou que o Invernal atacasse.



CONTINUA...


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Nota da autora: Oiii! Só queria deixar registrado aqui que Echoes é uma continuação direta de Dark Mind Program (para quem um dia chegou a ler), então por isso, existirão sim spoilers sobre a vida da nossa Ravzinha e de todos os outros vingadores nos últimos anos. DMP ainda é meu projeto pessoal e eu não desisti dele, porém, por ora, deixo vocês com minha filhinha caçula.

Esta autora jura que está tentando escrever um Enemies to Lovers bom, mas enquanto a Raven está no enemies, o Bucky nunca nem saiu do lovers! Fica muuuuuito difícil assim!
Vocês já viram que agora nós temos uma caixinha para votação dos nossos persoagens favoritos?! Ficsverse fazendo tudo e curando onde dói desde Julho/24!
Então, além de pedir um comentáriozinho, peço também que votem nos seus personagens favoritos!! Um beijo e até a próxima <3

Leia também:
We Can Learn To Love Again — Spinoff de Echoes para o Especial do Dia do Sexo



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