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✮⋆˙Autora Independente do Cosmos✮⋆˙

Última Atualização: 13/12/2024

Todos que moravam em Aredhel, cresceram ouvindo que a magia era algo proibido. Desde pequenos, aprendiam que ela corrompia, destruía e que a paz no reino de Aredhel só havia sido mantida graças ao esforço contínuo de erradicar esse mal pela raiz.
Aos oito anos de idade, ainda não havia cruzado com alguém amaldiçoado. No entanto, ao longo da vila, os adultos contavam histórias sobre conhecidos de um conhecido que haviam ouvido falar de alguém que teria vendido a alma em troca de poder. E, talvez, naquele dia, ela estivesse prestes a ver um amaldiçoado pela primeira vez.
O dia da Vistoria da Alma tinha chegado.
Duas vezes ao ano, em sua busca incessante por eliminar qualquer vestígio de magia, o rei Arwen ordenava vistorias em toda Aredhel. Todos os habitantes com mais de oito anos — idade em que se acreditava que a magia começava a se manifestar — eram obrigados a comparecer à praça principal.
O aperto mais forte em sua mão trouxe-a de volta à realidade. Sua mãe, parada ao seu lado, olhava para frente com apreensão. Embora tivesse sido testada inúmeras vezes ao longo dos anos, sem jamais demonstrar nenhum sinal de magia, havia casos em que o poder despertava tardiamente, e, por isso, todos sempre precisavam passar pela vistoria.
sentia o suor gelado na palma da mão de sua mãe. Sabia que aquilo era medo, receio de que as separassem, e chegou para mais perto da matriarca.
— Queria que você não precisasse passar por isso. — O tom de sua mãe soava como um sussurro.
— Está tudo bem. — Devolveu o aperto, tentando oferecer conforto. — Vai dar tudo certo! Ficaremos juntas, mamãe.
O restante da manhã foi marcado pelo silêncio tenso que pesava o ar. A fila extensa diminuía lentamente e, perto do horário do almoço, finalmente chegaram à entrada da construção onde ocorria a vistoria. A porta se abriu, revelando um cavaleiro em uma armadura branca tão brilhante que seus olhos arderam e uma pontada de dor atravessou sua cabeça.
— Próximo! — A voz do guarda trovejou abafada pela armadura.
deu um passo à frente, mas o aperto em sua mão tornou-se mais firme, impedindo-a de avançar.
— Ela é só uma criança, por favor, deixe-me acompanhá-la — implorou a mãe, ainda segurando em sua mão. — Não interferirei, só quero estar ao lado dela.
— Ordens são ordens, senhora — respondeu o cavaleiro, antes de separá-las e escoltá-la para dentro.
O caminho foi silencioso. seguiu atrás do guarda até que ele parou diante de uma porta, abriu-a e indicou que entrasse. O cômodo era limpo, vazio, sem adornos além das grossas paredes brancas.
A dor em sua cabeça aumentou assim que deu os primeiros passos para dentro. Um grito escapou de seus lábios, ecoando pelo ambiente. Um movimento repentino atrás de si chamou sua atenção, e, ao se virar, encontrou um homem parado na entrada.
— Por favor, isso dói... me ajuda! — suplicou em meio aos soluços, vendo-o se aproximar.
— Sinto muito, criança, mas sua alma está manchada.
A voz do homem não carregava nenhum traço de pesar. Nem sua expressão, nem o brilho frio da arma branca que balançava em sua mão. Sem hesitação, ele atravessou o espaço entre os dois e desferiu um golpe em seu braço.
O impacto trouxe uma dor lancinante, como se seu braço estivesse em chamas. Ela se jogou no chão, incapaz de conter as lágrimas que corriam livremente por seu rosto. Clamou pelos deuses, chamou pela mãe, implorou por ajuda. Mas sua voz ecoava sozinha no vazio até que a escuridão finalmente a envolveu.


O calabouço era frio e úmido, um lugar onde a luz parecia morrer antes mesmo de alcançar as paredes cobertas de musgo. Quando acordou, a dor em seu braço era apenas um eco distante em comparação à sensação de vazio que agora a preenchia. Ela não sabia onde estava, mas sentia que não sairia dali.
Correntes pesadas prendiam seus pulsos à parede, e seus pés mal tocavam o chão gelado. Passos ecoaram pelo corredor do calabouço, e a luz de uma tocha iluminou a cela. Dois homens entraram. O primeiro, com uma coroa dourada delicadamente esculpida sobre a cabeça, ostentava uma capa azul rica e imaculada. Sua presença era inconfundível.
O rei Arwen.
O outro era o homem que ela havia visto antes da dor a consumir. Sua postura era rígida, e seus olhos claros carregavam uma severidade calculada. Ele era mais que um simples soldado.
— Então, a pequena impostora acordou. — Sua voz era baixa, mas carregada de desprezo.
tentou falar, mas a garganta estava seca, e as palavras não vinham.
O soldado desconhecido deu um passo à frente, sua armadura emitindo um som metálico. Ele era alto e tinha uma presença opressora. Seu olhar estava vazio de qualquer compaixão.
Um tremor dominou todo o corpo da criança.
— Está confusa, não é? — ele falou, com um sorriso cínico. — Deixe-me esclarecer as coisas. Você não pertence ao povo de Aredhel, você é impura.
— Eu... eu não fiz nada! — A voz de finalmente saiu, mas soou fraca e trêmula. — Não sou má, não sou... isso que vocês dizem.
O rei Arwen soltou uma risada fria, um som que pareceu encher o espaço com um peso ainda maior.
— Você acha que sua ignorância a absolve? — perguntou ele, inclinando-se ligeiramente para frente. — Não importa o que você pensa ou sente. Sua existência é uma afronta à ordem divina que governa este mundo. É uma afronta ao meu reinado.
— NÃO! — gritou , as correntes chacoalhando enquanto ela tentava se soltar. — Eu só quero voltar para minha mãe!
O general deu uma risada curta e amarga.
— Sua mãe? — Ele balançou a cabeça, como se o pedido fosse ridículo. — Sua mãe, se é que podemos chamá-la assim, não tem poder aqui. Nem os deuses o têm. Você pertence a nós agora, criança.
O rei ergueu uma mão, silenciando qualquer outro protesto.
— Esta será sua casa até o dia em que sua alma estiver livre da imundície que carrega. Até lá, viverá na escuridão, onde pertence.
Ele fez um gesto, e o general retirou algo de uma bolsa de couro presa ao seu cinto. Era um anel prateado com uma pedra branca — dolorosamente parecido com as paredes da última sala que tinha pisado. A joia parecia brilhar de maneira cruel.
recuou o máximo que as correntes permitiam, mas não havia para onde ir.
— Não... por favor... — implorou, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
O general segurou sua mão com força brutal, deslizando o anel em seu dedo. A pedra brilhou intensamente, e gritou enquanto uma dor lancinante irradiava por todo o seu corpo, como se algo estivesse arrancando pedaços de sua alma.
— Este anel — começou o rei, a voz agora quase calma, como se explicasse algo trivial — foi feito da essência da própria ordem. Ele subjugará sua natureza corrupta, inibirá sua capacidade de invocar as degradações que residem em você.
— É mais misericórdia do que você merece — acrescentou o soldado. — Mas somos homens justos, cumprindo a vontade d’Ele.
A dor em sua cabeça intensificou-se até se tornar insuportável, enquanto uma fraqueza tomou conta de seu corpo. O brilho da pedra branca parecia pulsar em um ritmo sobrenatural, drenando algo que ela mal conseguia compreender. tentou erguer o olhar, mas sua visão já se turvava. O mundo girou ao seu redor, e antes que pudesse emitir um som de protesto, sua consciência foi arrancada dela, mergulhando-a em uma escuridão implacável.

O vento soprava suavemente, carregando consigo o aroma doce de flores silvestres que se espalhavam pelo campo verdejante. O céu era de um azul cristalino, pontilhado por nuvens delicadas que pareciam algodão flutuando. Ao longe, árvores altas e majestosas balançavam suas copas ao ritmo da brisa, enquanto os raios do sol filtravam-se por entre as folhas, pintando o chão com manchas douradas.
estava sentada no centro do campo, os pés descalços sobre a grama macia. Ela não sabia como havia chegado ali, mas a beleza ao seu redor era tão deslumbrante que não se atrevia a questionar. As flores, de todas as cores imagináveis, formavam um mosaico natural ao seu redor. Algumas eram tão grandes quanto sua mão, enquanto outras eram pequenas e delicadas, como se feitas de vidro.
Ela estendeu a mão e acariciou uma flor de pétalas brancas e bordas douradas, sentindo a textura sedosa sob seus dedos. O mundo parecia em paz, como se nada pudesse tocar aquele lugar.
Como se o último dia não tivesse sequer existido.
— Você gosta delas?
A voz inesperada fez sobressaltar, e ela se virou rapidamente. Um garoto, talvez dois ou três anos mais velho do que ela, estava parado a poucos metros de distância. Ele tinha os cabelos ligeiramente bagunçados, como se o vento tivesse brincado com eles, e olhos a encaravam com um sentimento que ela ainda não sabia reconhecer.
Ele usava roupas simples, mas havia algo nele que não combinava com a simplicidade do lugar. Talvez fosse a maneira como ele olhava para ela, como se já soubesse quem ela era, ou o sorriso suave que pairava em seus lábios, como se estivesse completamente à vontade em sua presença
— Quem é você? — perguntou, a voz baixa e cautelosa.
O garoto deu alguns passos à frente, caminhando com a leveza de alguém que pertencia àquele cenário. Ele se ajoelhou próximo a ela, seus dedos acariciando a mesma flor que ela havia tocado.
— Meu nome não importa, pelo menos por enquanto. Mas eu sei quem você é, .
Ela recuou ligeiramente, o coração batendo mais rápido.
— Como você sabe meu nome?
O garoto riu, uma risada baixa e gentil que parecia se misturar ao canto distante dos pássaros.
— Eu sei muitas coisas. Sei que você é especial, que carrega algo dentro de si que os outros temem. E sei que isso não faz de você uma ameaça, como eles acreditam.
— Então você também acha que sou... impura? — perguntou ela, com a voz trêmula.
Ele balançou a cabeça, o sorriso desaparecendo de seus lábios.
— Impura? Não. Você é algo que eles não entendem, e o medo os torna cruéis. Mas aqui, neste lugar, você é apenas você. Livre de julgamentos.
olhou ao redor, como se o campo pudesse oferecer alguma resposta para as perguntas que surgiam em sua mente.
— Onde estamos? — questionou, receosa que tudo não passasse de um sonho.
Queria que aquela fosse a sua nova realidade, não ansiava voltar para as masmorras e o domínio do rei.
— Em um lugar que não pertence a ninguém — respondeu ele, sua voz agora baixa, quase como um sussurro. — Um refúgio. Talvez você tenha criado isso sem perceber. Ou talvez ele sempre tenha existido, esperando por você.
Ela franziu a testa, tentando entender o significado de suas palavras, mas antes que pudesse perguntar mais, ele estendeu a mão.
— Venha.
Ela hesitou por um momento, mas algo no olhar dele era reconfortante, como uma promessa de que, ao menos ali, ela não precisava temer. Com um suspiro, ela aceitou sua mão, sentindo um calor inesperado percorrer seus dedos.
O garoto parou de repente, o olhar fixando-se em algo em sua mão.
— Por que está usando isso? — Ele apontou para o anel com a pedra branca em seu dedo.
Seguindo o olhar dele, franziu a testa. Tinha se esquecido do anel em seu dedo. Parecia que, desde que chegara ali, nenhuma dor era capaz de afligi-la e o desconforto que a joia lhe causava, já não existia mais.
— Eles colocaram em mim no calabouço. Disseram que isso era... necessário.
Ele suspirou, parecendo frustrado, mas não com ela.
— Esse anel carrega uma pedra chamada Lolthar. Foi criada pelos humanos para inibir os poderes dos feéricos.
— Inibir? — perguntou, a voz baixa e hesitante.
— Sim. Ela não só bloqueia sua magia, mas também causa dor e enfraquece qualquer um de nós que a use. É um símbolo de tudo o que eles temem, de tudo o que desejam erradicar. — O olhar que ele lhe dirigia era temeroso. — Não tente tirá-lo sozinho.
Ela observou a pedra brilhando sob o sol, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.
— Então é por isso que me sinto... estranha.
— Sim. Mas não tem nada de errado com você — disse ele, a voz firme. — Eles querem que você esqueça quem é, que acredite que não pode lutar contra eles.
— Eu não posso — confidenciou em um sussurro, tentando conter o tremor em sua voz.
Ele se aproximou, os olhos encontrando os dela com intensidade.
— Lembre-se de que esse anel não define você. O que eles tiraram de você não é eterno. Você ainda tem força dentro de si, mesmo que eles tentem apagá-la.
olhou novamente para o anel. A pedra parecia mais pesada agora, quase como se zombasse dela.
— Como você sabe tanto sobre isso?
O garoto sorriu, um sorriso melancólico que não combinava com suas feições.
Antes que pudesse lhe dirigir outra pergunta, ele tocou levemente a pedra com um dedo. Um brilho sutil irradiou do anel, mas, em vez de machucá-lo, o garoto parecia absorver o impacto com serenidade.
— Não se preocupe, . Um dia, você será livre. Um dia, esse peso não estará mais em você.
Ele a ajudou a se levantar, e juntos caminharam pelo campo, as flores se abrindo ainda mais sob seus passos. Enquanto seguiam, o garoto olhou para ela por sobre o ombro, um brilho curioso em seus olhos.
— Há algo que você sempre precisa lembrar, .
— O quê?
Ele parou e virou-se para ela, segurando suas mãos com firmeza.
— Nunca deixe que eles definam quem você é. Você é muito mais do que eles jamais poderão compreender.
Antes que ela pudesse responder, o vento soprou mais forte, as flores ao redor começaram a se desvanecer, e o campo inteiro pareceu se dissolver em luz. A última coisa que ela viu foi o sorriso do garoto, e então, tudo desapareceu.


Continua...


Qual o seu personagem favorito?


Nota da autora: Finalmente tomei vergonha na cara e apareci por aqui!!! FOR têm como inspiração a música Who's Afraid Of Little Old Me da Taylor Swift e Trono de Vidro, eu olhei para os dois e pensei "hm, por que não juntar?". Dito isso, os primeiros capítulos não vão ser dos mais agardáveis, mas prometo que não vai ter nada pesado!

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A Week In Bali [Liam Payne — Restritas — Shortfic]
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Endless Winter [Mitologia — Restritas — Longfic]
Heavenly Flames [Mitologia — Restritas — Longfic]
I'll Never Let You Fall [Originais — Restritas — Shortfic]
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