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✮⋆˙Independente do Cosmos✮⋆˙

Última Atualização:07/12/2024

Uma coisa que eu sabia desde que aprendi a falar era que, se estávamos — e com isso incluo os doze grandes deuses e mais alguns de nós — reunidos no grande salão de reuniões, não era por um bom motivo.
Nunca foi, e eu tinha plena certeza de que nunca seria.
A tensão que pairava no ar só servia para confirmar essa minha certeza.
Meus olhos percorriam os deuses sentados ao redor da grande mesa de mármore. Até mesmo Hades estava presente. O fato de o deus do submundo ignorar sua antipatia pelo Olimpo e estar ali só podia significar uma coisa: o assunto era sério. Muito sério.
E isso me deixava extremamente ansiosa.
— O que essa cabecinha já está pensando? — A voz serena de Hebe interrompeu meus pensamentos, atraindo minha atenção para ela.
— Que merda está acontecendo para estarmos todos aqui — murmurei, em um tom rabugento. Recebi apenas um sorriso calmo como resposta.
Às vezes, quando minha mente estava um caos — o que era quase sempre, graças à dualidade viva dentro de mim, herança dos meus pais —, e Hebe estava por perto com sua serenidade quase sobrenatural, eu não conseguia evitar o sentimento de inveja. Hebe era tão...
Calma.
— Não acho que deve ser nada muito sério — ela disse, como se tentasse me tranquilizar.
Lancei-lhe um olhar incrédulo antes que ela terminasse a frase.
— Você está catastrofizando a situação. Como, bem...
— Quase sempre — completei, direta, indo ao ponto que ela não teria coragem de admitir.
Infelizmente, ela não estava errada. Eu era especialista em esperar pelo pior. Culpa do meu pai, claro.
Olhei ao redor novamente, observando os deuses presentes. Mesmo com as doze grandes cadeiras ocupadas, uma ausência era notável: Hefesto. Em vez dele, Perséfone ocupava sua cadeira, o laranja vibrante simbolizando as labaredas de sua forja.
— Não deve ser nada tão grave. Hefesto nem está aqui — insistiu Hebe.
Soltei uma risada sem humor.
— Hefesto não dá a mínima para o que acontece no Olimpo há séculos. — Cruzei os braços, sentindo a ansiedade crescer. — Mas titio Hades está aqui. Alguma merda muito feia está prestes a acontecer.
Uma risada baixa soou próxima, e nem precisei me virar para saber que era um dos meus irmãos.
— Se Hades sonhar que você o chama assim, seu próximo destino será uma estadia indefinida nos Campos de Asfódelos — provocou Anteros ao se aproximar.
Dei de ombros, um sorriso desafiador brincando em meus lábios.
— Seria uma ótima oportunidade para começar uma guerra e redefinir o destino dessas pobres almas.
Anteros revirou os olhos, mas o brilho divertido em seu olhar refletia o meu próprio.
— Tão parecida com nosso pai.
Meu sorriso se ampliou. Não havia elogio maior para mim do que essa comparação.
— Para a infelicidade da mamãe — retruquei, arrancando risadas de Hebe e Anteros.
O som se dissipou rapidamente quando Zeus se levantou. O silêncio ansioso tomou conta do salão enquanto o deus dos céus varria o ambiente com o olhar.
— Sei que todos estão se perguntando por que os convoquei hoje. Muitos de vocês suspeitam que não seja por uma boa razão. Infelizmente, estão certos. — Sua voz ecoou firme. Um murmúrio baixo percorreu o salão, mas ele esperou pacientemente antes de continuar. — Ainda não enfrentamos um problema concreto, mas, se não agirmos agora, temo que possamos condenar o futuro do Olimpo como o conhecemos.
Condenar?
Puta merda, isso parecia pior do que qualquer cenário catastrófico que minha mente já tivesse inventado.
— E você nos dará a oportunidade de saber sobre o que está falando, irmão? — A voz fria e autoritária de Hades cortou o ar, e eu nem precisei olhar para confirmar que Zeus o encarava com a expressão carrancuda de sempre.
— Éris está planejando uma rebelião. — A declaração de Zeus fez meu estômago revirar. — Apolo confidenciou-me que foi previsto pelo Oráculo, e Hécate confirmou. Sua nova discórdia é destronar-me e tomar posse do Olimpo.
A revelação me atingiu como um golpe. Definitivamente, não era nada do que eu imaginava.
Um peso tomou conta de mim, a certeza de que uma guerra estava se formando. Minha mente começou a trabalhar, frenética, em tudo que precisaríamos.
Precisávamos detê-la. Precisávamos nos preparar.
E, acima de tudo, precisávamos de toda a ajuda possível.

A incredulidade se misturava ao espanto e à preocupação nos rostos dos meus irmãos. Seus olhares fixos em mim deixavam claro que, para eles, eu havia acabado de cometer o maior ato de insanidade possível.
— Você só pode estar de sacanagem. Essa ideia é ridícula. — Photos foi o primeiro a quebrar o silêncio, balançando a cabeça como se tentasse afastar a noção absurda que eu havia acabado de sugerir.
Ridícula? A ideia não era tão ruim assim.
— Não é pra tanto — protestei, mantendo meu tom firme, mesmo enquanto cruzava os braços.
, fala sério. — A voz grave de Eros, meu irmão mais velho, ressoou com o peso da experiência. Ele sempre parecia carregar o papel de voz da razão, mas, naquele momento, só estava me irritando ainda mais. — Ninguém vai atrás de Hefesto. Nunca. Por um motivo muito claro. Ele se ressente da mamãe por ter escolhido o papai, e não suporta nenhum de nós. Sem contar a discriminação que ele sofreu de todos aqui no Olimpo. Ele não se importa com o que acontece aqui.
Bufei, deixando minha frustração transparecer. Era sempre a mesma coisa: os dramas do Olimpo, alimentados por histórias de amor e rejeição que se arrastavam por séculos.
Esse era um dos aspectos mais irritantes da imortalidade — os ressentimentos nunca desapareciam.
— Mas ele é o único que pode nos ajudar. — Respirei fundo, tentando manter a paciência. — Ele é brilhante, Eros. Eu li todos os livros sobre as criações dele, cada volume. Desde os primeiros autômatos até as ferramentas mais complexas. Se alguém pode criar uma arma capaz de deter Éris, é ele.
— Você acha que ler livros vai mudar a forma como ele vê o Olimpo? — Anteros, com seu deboche usual, rebateu, cruzando os braços e me encarando com uma sobrancelha arqueada. — Hefesto odeia todos nós, . E, sinceramente, não tiro a razão dele.
— Ele pode nos odiar quanto quiser, mas isso não muda o fato de que ele é a única pessoa que pode nos ajudar. — Dei um passo à frente, minha voz ganhando força. — Ou vocês acham que Zeus tem uma ideia brilhante guardada na manga?
O silêncio que se seguiu foi suficiente para me fazer sorrir, mesmo que levemente. Nenhum deles tinha uma resposta, e isso só reforçava o que eu já sabia: se o Olimpo tinha uma chance, por menor que fosse, ela estava nas mãos de Hefesto.
— Você não entende, . — A voz de Eros soou mais suave dessa vez, quase como um aviso. — Não é só sobre o que ele pode ou não fazer. É sobre o que você vai encontrar. Ele não vai te receber com boas intenções, não vai te ouvir. Pode até ser perigoso.
— Já lidei com coisas perigosas antes — retruquei, o olhar firme. — E, se ninguém mais vai tentar, eu vou.
A atmosfera no salão parecia se tornar ainda mais densa. A tensão era quase palpável, mas eu sabia que não recuaria. Não podia. Se Éris estava realmente planejando destruir o Olimpo, então eu faria o que fosse necessário para proteger o lugar que, por mais disfuncional que fosse, ainda era meu lar.
— Você é tão teimosa quanto a mamãe — Himeros murmurou, e havia algo entre exasperação e admiração em sua voz.
— E tão estratégica quanto o papai — completei, dando um sorriso irônico. — Uma combinação mortal.
Nenhum deles respondeu, mas o olhar de Eros entregava tudo. Ele sabia que eu já havia tomado minha decisão. Não importava quantos argumentos me jogassem, eu seguiria em frente.
Hefesto podia ser recluso, ressentido e temperamental, mas essa era minha única aposta.
E eu apostaria tudo.

O peso da decisão ainda pairava no ar enquanto eu ajustava as tiras da mochila sobre os ombros. Mapas, mantas para o clima frio e um punhado de frutas secas pesavam o tecido de linho. Se tudo desse errado, talvez eu precisasse mais do que palavras para convencê-lo.
Estava quase pronta para sair quando três batidas firmes na porta interromperam meus pensamentos.
Suspirei, largando a mochila sobre a cama. Se fosse qualquer um dos meus irmãos, eu não duvidava que precisaria socá-los para poder sair. E eu estava ansiosa por isso.
— Pode entrar.
A porta se abriu lentamente, revelando a figura imponente de meu pai. Ares não era o tipo de pessoa que entrava em um lugar sem que todos percebessem sua presença. Mesmo ali, parado na soleira da porta do meu quarto, com os olhos ternos e a postura relaxada, ele parecia ocupar cada centímetro do espaço.
— Achei que seria Eros ou Photos — comentei, franzindo o cenho. — Ou melhor, os dois juntos, tentando me convencer a desistir. Eles foram me dedurar?
Ares deu um pequeno sorriso, raro e enigmático.
— Eles não precisaram me dizer nada, . — Sua voz era grave, mas carregava a suavidade de sempre que ele se dirigia a nós, sua família. — Eu sei quando alguém está se preparando para uma batalha. Especialmente quando se trata de um dos meus filhos.
Franzi a testa, confusa.
— Pai, isso não é uma batalha. Eu só vou... conversar. — O tom de dúvida na minha própria voz era inegável.
Ares deu alguns passos para dentro, fechando a porta atrás de si.
, batalhas nem sempre são travadas com espadas ou lanças. Às vezes, as armas são palavras e convicções. E, pela sua determinação, posso dizer que você já está armada.
Engoli em seco, sentindo o peso de suas palavras.
— Então não vai tentar me impedir?
Ele inclinou a cabeça, pensativo.
— Por que eu faria isso? Você já tomou sua decisão, e tentar te convencer do contrário seria perda de tempo. — Ele se aproximou, tirando algo do bolso de sua armadura de couro. — Além disso, acredito em você.
Ele abriu a mão, revelando um medalhão de ouro maciço, gravado com runas antigas e o símbolo de um elmo de guerra.
— Tome. — Ele estendeu o medalhão para mim. — É um amuleto de proteção. Use-o perto do coração. Ele não pode deter todas as ameaças, mas pode ajudar nos momentos mais críticos.
Peguei o medalhão com cuidado, sentindo o peso e o calor contra minha palma.
— Obrigada, pai. — Minhas palavras eram um sussurro, carregadas de gratidão.
Ele apoiou uma das mãos em meu ombro, sua força firme e reconfortante.
— Hefesto está vivendo no Bosque de Pérsia, entre o mundo dos homens e o submundo. Ele construiu sua forja lá, cercada por armadilhas para manter visitantes indesejados longe. Tenha cuidado. Ele não confia em ninguém, especialmente em alguém vindo do Olimpo.
Minha mente disparou com a informação. Era um desafio, claro, mas pelo menos agora eu sabia onde encontrá-lo.
— E, ... — meu pai inclinou a cabeça, seus olhos fixos nos meus de maneira profunda, como se buscasse algum sinal de hesitação. — Não importa o que Hefesto diga ou faça, mantenha-se firme. Ele pode ser genioso e desconfiado, mas você é mais forte do que pensa.
Assenti, apertando o medalhão entre os dedos. A minha confiança pareceu aumentar com a bênção de meu pai. A benção de Ares. O medalhão, agora em minha mão, era o toque final de confiança que eu precisava.
Eu não falharia.
— Vou trazer ele de volta, pai. — Minha voz estava firme, determinada.
Ele sorriu, mas de um jeito quase imperceptível, como se um pequeno segredo estivesse escondido naquele gesto.
— Vá, antes que sua mãe volte e descubra o que você está planejando.
A tensão no meu peito aumentou ao pensar em Afrodite.Eu não gostava de mentir para ela, mas eu sabia que ela nunca deixaria que eu fosse atrás de Hefesto. E essa missão era mais importante do que as regras da minha mãe.
O futuro do Olimpo dependia disso.
Diminuí a distância entre nós e, sem dizer mais nada, me joguei nos braços do meu pai, buscando o conforto que sempre encontrei em sua presença. Seus braços eram firmes e me transmitiam a sensação de proteção que nunca deixara de existir. No silêncio, ele depositou um beijo suave no topo da minha cabeça.
— Boa sorte, filha. — Ele me soltou com delicadeza, mas seu olhar ainda estava carregado de seriedade. — E lembre-se, coragem nem sempre é ausência de medo. Coragem é enfrentar o medo de cabeça erguida.
As palavras ecoaram em minha mente como um mantra silencioso, reforçando meu propósito. Ele me olhou uma última vez antes de virar-se e sair do quarto. Fechou a porta suavemente, mas a sensação de sua presença ainda permanecia, como se ele tivesse deixado parte de sua força comigo.
Fiquei alguns segundos apenas existindo, os olhos fixos no medalhão que agora brilhava ao redor do meu pescoço. Ele era mais do que um simples amuleto; era a conexão com meu pai, a lembrança de que, apesar de tudo, ele acreditava em mim e sempre me protegeria.
Com um suspiro profundo, enfiei o medalhão sob minha blusa e peguei minha mochila. Era hora de seguir em frente.
Respirei fundo mais uma vez, sentindo a pressão aumentar.
O Olimpo precisava de uma arma, e Hefesto, por mais distante que estivesse, era a chave para isso.
Era hora de recuperar um deus e impedir uma guerra.


Continua...


Qual o seu personagem favorito?


Nota da autora: Quem é vivo sempre aparece né... Voltando aqui com a minha família favorita do Olimpo, espero que vocês curtam essa fic!

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