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Independente do Cosmos🪐

Última Atualização: 08/09/2024

No coração eterno de Roma, onde as pedras suspiram a história de amores inesquecíveis, os deuses, por vezes, decidem caminhar entre mortais.


O cansaço tomou conta do corpo de assim que a mulher colocou os pés no Aeroporto Internacional de Roma.
Sentiu o calor característico da cidade a envolvendo quando pisou fora do portão de embarque, provocando uma careta enquanto empurrava seus óculos de sol para cima do nariz.
não se afeiçoava ao clima quente. Preferia mil vezes o aconchego de um sobretudo nas temperaturas baixas de sua cidade natal, Manchester.
Continuou a arrastar suas malas, só então se dando conta de toda a agitação que se encontrava na porta de saída do lugar; milhares de turistas, assim como ela, demonstravam sua ansiedade e animação em conhecer a cidade.
O último, sendo contrário para .
Sua única ansiedade e animação era a de estar logo em seu hotel. Enquanto observava todas as pessoas a seu redor, seu olhar capturava cada movimento, cada momento, de qualquer que fosse a pessoa que passava por si. Cada viagem a trabalho era uma oportunidade única de explorar e desvendar a essência de um lugar através de suas fotografias. amava o que fazia, sem ao menos hesitar. O peso de sua câmera pendurada na bolsa que carregava era reconfortante; representava não apenas uma ferramenta, mas uma extensão de si mesma. Os rostos desconhecidos no aeroporto se tornavam potenciais protagonistas de suas fotografias. se perguntava sobre as histórias que cada pessoa carregava consigo, os momentos que poderiam ser congelados no tempo e as expressões que capturariam a verdadeira emoção de estar em Roma.
Suspirou. Sua profissão a deixava em êxtase.
As vozes de June e Arthur a trouxeram para a realidade. Os dois, além de serem seus colegas de trabalho, formavam um casal vibrante que contrastava com a visão pragmática da mulher. June, a loira dos cabelos esvoaçantes e ondulados, uma romântica inteiramente incurável. E Arthur, o moreno sorridente que deixava seu entusiasmo a cada lugar que passava com sua namorada.
— Você só pode estar brincando que vai continuar com esse olhar entediado no rosto, — June exclamou, ajeitando a bolsa nos ombros minúsculos. — Nós estamos em Roma e mesmo que a trabalho, esse lugar é perfeito para encontrar amor.
A animação da mulher era perceptível.
rolou os olhos.
— Claro, June. Porque é tão fácil encontrar o amor quanto tirar uma foto perfeita. — soltou, em ironia.
Ouviu a risadinha fraca de Arthur.
Sabia que irritaria a amiga ao falar daquele jeito. As duas tinham pensamento inteiramente opostos sobre o romance. Qualquer que fosse ele.
— Talvez você consiga os dois aqui, cuore. Nunca se sabe o que Roma pode te oferecer.
— Cuore?
a olho.
— É, coração. Andei estudando. — deu de ombros. e Arthur riram. — Você sabe que encontrar um amor — fez aspas com os dedos. — Não tá exatamente no topo da minha lista de prioridades, certo? June arqueou as sobrancelhas ao ouvir, desafiando-a com um olhar expressivo. Não perdeu o brilho em seus olhos ainda assim. Sabia que logo conseguiria convencer de que, de alguma forma, Roma tinha o poder de mudar até mesmo os corações mais céticos. — Pode negar o quanto quiser, mas o amor está em todo lugar. É só uma questão de estar aberta para enxergá-lo — piscou.
Arthur, já acostumado com o mesmo assunto que vivia a surgindo entre as duas, interveio, de forma leve. — Querida, você sempre vê o mundo por essas lentes cor-de-rosa do amor — ajeitou os fios loiros desajeitados da namorada com a ponta dos dedos. — Deixe encontrar o que quer que esteja a esperando, na hora certa. Ok? deixou um sorriso escapar, ao olhar o amigo. Uma forma de agradecer por sua ajuda.
As palavras de sua amiga trouxeram à tona um sorriso irônico nos lábios da mulher. estava tão acostumada com a natureza otimista e apaixonada de June, quase todo o tempo, mas sabia que as diferenças entre elas eram tão vastas quanto os séculos de história que Roma carregava.
Enquanto June se entregava de corpo e alma para qualquer que fosse a história de amor, faria o possível para correr dela.
Sem pensar duas vezes. — Tudo bem, vocês venceram. Mas só dessa vez — June apontou para os dois, antes de conseguirem um táxi.
Não demorou muito para que o trio colocasse suas bagagens no porta-malas.
se acomodou na janela aberta e enquanto o veículo percorria as ruas movimentadas da cidade, seus olhos captavam o traçado de Roma passando ao lado externo enquanto suas June e Arthur compartilhavam risadas abafadas a seu lado.
June olhou para a amiga rapidamente. Entendia perfeitamente que histórias de amor não eram exatamente o território em que ela se sentia mais à vontade.
Resolveu por deixá-la quieta, por enquanto, e não tocar no assunto.
A luz suave do fim de tarde banhava as ruas antigas, proporcionando uma atmosfera encantadora que contrastava com a intensidade do trânsito.
contemplava o cenário com um olhar distante, mergulhada nos próprios pensamentos; insistentes e incansáveis.
Conseguia ouvir, ao longe, sua amiga tagarelar sobre seus estudos e descobertas recentes, além de achar incrivelmente romântica a cidade, o que só fez o sorriso no canto dos lábios de crescer. A diferença entre as duas era notável.
O otimismo efervescente de June era contagiante, mas para , a realidade muitas vezes se manifestava de maneira mais complexa e intrigante.
Complicada demais. Enigmática demais.
Foi impossível não refletir sobre as escolhas que a trouxeram até ali.
Seus relacionamentos passados haviam sido como fotografias em preto e branco, cheias de momentos vazios e expressões desbotadas. Se lembrava das promessas quebradas, das palavras não ditas e das despedidas frias. Cada decepção deixada em seu coração se transformou em uma perspectiva inteiramente diferente do que ela tinha sobre o amor.
A ideia de se abrir novamente para a toda a vulnerabilidade emocional era algo que evitava a todo custo. Para , a solidão era uma companheira mais confiável do que o amor que poderia lhe quebrar em pedacinhos a qualquer momento.
O táxi se aproximou do hotel há poucos metros. A mulher olhou pela janela mais uma vez, observando as fachadas antigas e encantadoras que a arquitetura de Roma conseguia fornecer. Uma sensação de melancolia a envolveu. A beleza da cidade não seria suficiente para lhe fazer mudar de ideia.
Mercure Roma Centro Hotel, 19h28.


O sol romano havia se posto
, deixando um crepúsculo rosado que tingia o céu com tons de laranja e púrpura. No hall do hotel, , June e Arthur se preparavam para explorar cada canto que pudessem da cidade à noite.
ajustava a alça de sua bolsa, onde sua câmera estava guardada, enquanto observava os detalhes elegantes do saguão do hotel. Sentia uma leve pressão em seu peito, uma mistura de ansiedade e expectativa.
E não sabia explicar o porquê de se sentir daquele jeito.
Desde que havia pisado no aeroporto, seu coração batia frenético como se algo importante demais fosse lhe acontecer.
Só não sabia se devia se preocupar com tal acontecimento.
Resolveu então focar sua atenção em apenas uma coisa: fotografar Roma e tudo o que pudesse até o fim daquela noite.
Aquilo até animaria, mais que o normal, mas a constante animação de seus amigos em relação ao romance a deixava um pouco desconfortável.
June, com seu vestido leve e os fios loiros esvoaçantes, continuava agarrada ao braço de Arthur, mantendo o sorriso radiante refletindo toda a excitação que sentia.
Arthur, sempre atencioso e com um olhar caloroso, segurava a namorada com firmeza, os dois parecendo um casal saído de um conto de fadas.
rolou os olhos, mas deixando um sorriso contido transparecer. Torcia muito pela felicidade dos dois, apesar de tudo.
— Céus, como pode um lugar ser tão lindo? — June exclamou, ajeitando a bolsa nos ombros minúsculos. — As ruas, as praças, as luzes... Tudo parece mágico demais!
assentiu, assim como Arthur.
Deixaria a amiga espalhar toda sua alegria e amor em paz.
Por enquanto.
— Concordo, amor. E tenho certeza de que vai capturar fotos incríveis.
Deu uma piscadela para a amiga que sorriu.
— Vou tentar fazer jus à cidade, pode deixar.
Os três saíram para a calçada, onde a brisa fresca da noite romana proporcionava um alívio muito bem-vindo após o calor do dia.
As ruas estavam vivas com o murmúrio de conversas, o som de música distante e o aroma tentador da culinária italiana. As fachadas dos edifícios históricos, iluminadas por luzes suaves, criavam um clima quase mágico.
Continuaram a caminhar pelas ruas estreitas de paralelepípedos e não pôde deixar de se sentir um pouco contagiada pela energia vibrante da cidade. As ruelas se abriam em praças encantadoras, onde artistas de rua exibiam seus talentos e pequenos cafés transbordavam de vida e risos.
Foi impossível não tirar a câmera da bolsa, instintivamente ajustando as configurações enquanto capturava a essência noturna de Roma.
A cidade, sob a luz das estrelas e das luminárias antigas, parecia um cenário de filme, cheia de vida e história.
— Olhem! — June sorriu, apontando para um violinista que tocava alguma música encantadora em uma esquina próxima. — Isso é tão romântico!
deixou uma risadinha escapar, achando graça em cada reação que a amiga esboçava. Parecia uma adolescente.
Arthur, contagiado pela empolgação da namorada, puxou June para mais perto.
— Vamos, , tire uma foto nossa com ele ao fundo! Será uma ótima lembrança.
— Com certeza. Se posicionem!
assentiu, posicionando a câmera e enquadrando cuidadosamente o casal na imagem. June e Arthur se encaixaram, sorrindo felizes, enquanto o violinista tocava uma canção suave ao fundo, criando a cena perfeita.
— Prontos? Um, dois, três…
Clique!
E, enquanto observava a imagem dos amigos à mostra na tela de sua câmera, não percebeu quando seu rosto mostrava um sorriso quase nostálgico.
June e Arthur eram um casal incrível.
Talvez fosse a magia da cidade começando a trabalhar em seu coração cauteloso.
Ela sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Quando notou, o casal já estava longe da mesma.
— Ei, esperem por mim, pombinhos!


💘🏟️


A Fontana di Trevi estava à vista, sua grandiosidade refletida pelas luzes noturnas que iluminavam a água cristalina, realçando a beleza das esculturas de Netuno e seus tritões. A praça ao redor da fonte estava movimentada, cheia de turistas tirando fotos e fazendo desejos, mas isso só aumentava a magia daquele momento.
, June e Arthur caminhavam devagar, aproveitando o ambiente único. Estavam degustando um gelato, que de acordo com June, era o doce italiano perfeito para uma noite como aquela que aproveitavam.
saboreava um sorvete de pistache, enquanto June tinha uma combinação de morango e limão, e Arthur havia escolhido o de chocolate e baunilha.
O trio passou a andar mais devagar.
Arthur, que estava a alguns passos à frente, resolveu se afastar das amigas e fazer algumas anotações para o trabalho, como sempre costumava fazer. E, enquanto as duas ficaram sozinhas, June aproveitou a oportunidade para puxar conversa sobre um assunto que estava há muito tempo em sua mente.
, — iniciou, com a voz suave e delicada. não se deu ao trabalho de virar o olhar para a amiga. Murmurou um “hm”, a fazendo continuar. — Porque sempre evita falar de sua vida amorosa?
revirou os olhos, já antecipando o rumo da conversa.
— Você sabe que não acredito nessas coisas. Já passei por relacionamentos vazios demais para achar que vale a pena investir nisso outra vez, June.
A amiga suspirou, lançando um olhar compreensivo ainda assim.
— Sei que teve experiências ruins. Mas não acho que você deveria desistir. O amor verdadeiro está por aí, pode ter certeza. Realmente torço para ver você encontrar alguém especial.
deu de ombros, tentando desviar a conversa.
— Não precisa se preocupar com isso. Estou bem assim. Prefiro focar no meu trabalho e nas coisas que posso controlar.
June parou de andar e olhou diretamente nos olhos de , seu olhar cheio de sinceridade. O gelato permanecia em suas mãos.
— Eu entendo, amiga. Entendo de verdade. Mas só quero que você esteja aberta para a possibilidade. Quem sabe o que te espera?
suspirou, chegando à borda da Fontana di Trevi. Seus pensamentos rodeavam as palavras de June quase sempre, sobre encontrar alguém e o que a esperava.
Não notou quando June retirou uma moeda de seu bolso e um sorriso travesso tomou conta de si.
— Acho que podemos resolver isso.
— June…
— Não. É sério, — levantou o indicador. Estendeu a moeda. — Não quer fazer um desejo? Agora é a hora.
— Sabia que essa é uma das coisas que também não acredito?
arqueou a sobrancelha, em descrença.
June não se deixou abater pelo ceticismo da amiga e, mantendo o sorriso travesso no rosto, segurou a moeda com firmeza, determinada a não deixar escapar dessa tradição.
— Sei bem. Mas um pouquinho de fé não faz mal a ninguém, não é? — piscou. — Vai lá, faz um desejo. Quem sabe?
soltou outro suspiro, balançando a cabeça. Mas sorriu com tamanha insistência de sua amiga.
Pegou a moeda das mãos de June, sentindo a frieza do metal contra sua pele. E enquanto olhava para a água da Fontana di Trevi, a mulher ponderou sobre o que realmente queria.
Fechou os olhos por um momento, deixando que um pensamento sincero tomasse forma em sua mente.
Não seria de todo mal desejar algo como aquilo, certo?

Se o amor verdadeiro realmente existe, como todos dizem, quero ver com meus próprios olhos.


A frase ecoou por sua mente uma única vez.
Com um gesto rápido, lançou a moeda na fonte, a vendo descer para o fundo se misturando com as outras milhões que tinham ali.
O som suave da água se misturou ao burburinho dos turistas ao redor e sentiu uma estranha sensação de alívio.
Ao olhar para June, viu a amiga comemorando, os olhos brilhando de alegria e esperança, em uma dancinha para lá de engraçada.
— Sim! — exclamou a amiga, dando um pequeno salto de felicidade. riu. — Isso mesmo, ! Agora é só esperar.
— Esperar o quê, June?
riu, contagiada pelo entusiasmo de sua amiga, e sentiu uma leveza inesperada. Apesar de seu ceticismo, a cidade eterna parecia ter um jeito de fazer até mesmo os corações mais endurecidos acreditarem em um pouquinho de magia.
— Como assim o quê, oras? Esperar seu desejo se realizar.

💘🏟️


No alto das nuvens de Roma, onde o ar é rarefeito e o tempo parece fluir de maneira diferente, , um cupido esbelto e focado em seu trabalho, repousava em uma almofada macia de vapor, observando a terra um pouco mais abaixo.
era gracioso e encantador, com olhos que refletiam a luz das estrelas e um sorriso que irradiava uma calma ancestral, inexplicável. Suas asas, grandes e branquíssimas, se moviam suavemente como uma brisa ancestral, enquanto observava o mundo humano com uma atenção quase meticulosa.
A cidade de Roma, eterna e mística, estava especialmente iluminada naquela noite em específico. As ruas estreitas e os edifícios antigos pareciam brilhar sob a luz das estrelas e das lâmpadas. , fascinado pela beleza e complexidade da cidade, estava atento aos pedidos que surgiam de cada canto.
Analisava cada um com paciência e cuidado, chegando até a achar graça de alguns que eram feitos pelas mentes mais simples e vazias.
Quero ter mais dinheiro.
Quero ter uma carreira de sucesso.
Quero conquistar o mundo.
Os desejos, embora compreensíveis, muitas vezes eram desprovidos de profundidade e de um verdadeiro entendimento do que era mesmo a felicidade. Ele, como um cupido designado a atender os pedidos mais sinceros do coração, tinha uma missão mais elevada: ajudar os humanos a encontrar e compreender o que existe no fundo de seu coração.
Sabia que esses desejos materiais frequentemente ocultavam uma busca mais profunda por conexão e sentido.
E, enquanto continuava sua vigília celestial, algo diferente e curioso chamou sua atenção. Um brilho suave e dourado emergiu da Fontana di Trevi, um sinal claro de um desejo sincero e poderoso.
se inclinou para frente, os olhos ainda fixos na fonte. Sentiu um puxão suave em seu coração, algo que indicava que aquele pedido merecia atenção especial e sorriu.
— Que interessante…
Murmurou para si mesmo.
Era raro encontrar um pedido tão puro e sincero, especialmente em uma cidade cheia de turistas e desejos superficiais. E ainda mais fascinante era o fato de que não acreditava no amor verdadeiro.
A ironia disso despertou um sentido de desafio em .
Se sentiu tentado a mostrar à mulher que o amor realmente existia, sim, que era mais do que apenas uma fantasia ou uma história contada em filmes e livros.
E que a pessoa responsável por aquilo era .
se levantou da sua almofada de nuvem, suas asas se estendendo majestosas enquanto ele descia em direção à Terra, ainda invisível aos olhos humanos. Pairou sobre a Fontana di Trevi, observando que se afastava com seus amigos, June e Arthur.
A mulher estava sorrindo, mas podia ver a barreira emocional que mantinha erguida, o escudo que protegia seu coração de todas as decepções.
tinha uma beleza sutil e elegante. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caiam suavemente sobre os ombros, captando a luz das lâmpadas da cidade e criando reflexos dourados. Seus olhos, de um profundo tom esverdeado, carregavam uma intensidade e uma melancolia que achou intrigante.
Eles eram janelas para uma alma que havia conhecido tanto a dor quanto a esperança, revelando uma profundidade emocional que ela escondia cuidadosamente atrás de um sorriso ligeiramente irônico.
se encantou não apenas pela aparência de , mas pela aura que a mulher emanava. Havia algo profundamente humano e real nela, uma combinação de força e vulnerabilidade que o cupido achou irresistivelmente fascinante.
Se aproximou um pouco mais, mesmo não conseguindo vê-lo e não podia estar mais decidido.
— Parece que seu pedido será atendido, .



Entre sussurros do destino e um jogo invisível de coincidências, o amor sutilmente tece sua presença, desafiando até os corações mais incrédulos.


continuava a pairar pela cidade, seus pés mal tocando o chão enquanto observava com uma atenção cuidadosa.
Tinha um vinco formado em sua testa com os olhos atentos, ainda que calmos, em direção à mulher. caminhava pelas ruas movimentadas e estreitas de Roma, sua câmera nas mãos enquanto capturava detalhes que passariam despercebidos por qualquer um que não tivesse os olhos tão concentrados como os dela.
Os olhos escuros do cupido a seguiam, invisíveis para o mundo mortal, mas intensamente focados em cada gesto da mulher.
A cada lugar que parava, observava com atenção. Parava em frente a uma banca de flores, examinando os tons vibrantes das pétalas coloridas. Ela inclinava a cabeça, observando o contraste de cores e, em um movimento suave, levantava a câmera capturando a imagem com precisão.
sorriu minimamente ao ver sua concentração, ainda que notando que havia algo mais ali. Não era apenas a forma como a mulher trabalhava, imersa em sua própria bolha.
Era como, mesmo em meio à multidão, parecia tão... Sozinha. Havia um brilho sutil em seus olhos, um leve franzir de sobrancelhas que ele reconhecia bem, mesmo sem saber exatamente o por quê.
— Engraçado. Está tentando se esconder, — murmurou para si mesmo. cruzou os braços. — Mas, o que exatamente está tentando esconder?
Ela deu alguns passos para longe das flores, ajustando a alça de sua bolsa. Retirou seu celular do bolso, começando a digitar algo na tela do mesmo, o que deixou curioso. Provavelmente uma mensagem para June ou Arthur.
conseguia imaginar com precisão o tipo de conversa que poderia estar rolando ali; June, sempre otimista, insistindo para que sua amiga fosse em algum encontro às escuras que havia conseguido em algum barzinho na cidade. E Arthur, tentando atenuar a pressão, como sempre fazia.
— Ah, June, eu não vou — Ele ouviu a mulher sussurrar para si mesma, enfiando o aparelho novamente na bolsa, sem se dar ao trabalho de responder à mensagem da amiga. — Não adianta insistir.
inclinou a cabeça, intrigado. Havia algo nos olhos esverdeados de , uma mistura de teimosia e tristeza, o que o deixou extremamente inquieto.
Já havia visto pessoas céticas antes, em todos os milênios como cupido, pessoas que custavam a acreditar o amor de todas as maneiras.
Era seu trabalho, afinal. Mudar todas essas mentes.
Mas alguma coisa ali parecia diferente do que estava acostumado. Não era como se fosse simplesmente cética. Havia uma barreira ao seu redor, algo que ainda não conseguia definir.
E aquilo o intrigava mais do que deveria.
Ela continuou caminhando, agora em direção à Sant'Eustachio Il Caffè, uma cafeteria conhecida no lugar em que estavam. Ao lado externo do lugar, se sentou em uma mesinha reservada e começou a folhear algumas fotos na câmera, revisando seu trabalho do dia. se aproximou um pouco mais, como se pudesse entrar no fluxo dos pensamentos da mulher e se deparou com um minucioso momento de vulnerabilidade.
A expressão no rosto dela suavizou enquanto olhava para uma foto em particular; a imagem de June e Arthur juntos, sorrindo um para o outro de forma despretensiosa. Não conhecia um casal mais apaixonado que seus amigos.
— Eles são felizes — murmurou, quase como se estivesse admitindo algo a si mesma. — Mas isso não é pra mim.
sentiu o ar mais pesado, algo que não costumava sentir. Nem deveria, já que seu trabalho era evitar que justamente aquilo acontecesse.
Era estranho.
E mais estranho ainda era se familiarizar de tal forma com um caso como aquele. Suas missões sempre eram claras; fazer com que acreditassem no amor e com que encontrassem seus destinados. E, para isso, precisava permanecer imparcial, alheio às emoções que seu alvo poderia despertar.
Mas com , a cada dia que passava, se via mais envolvido do que deveria. O cupido aproveitou para sentar na cadeira à frente de , ainda na mesma mesa. Ela não o veria de qualquer forma.
— Não parece ser apenas ceticismo — comentou consigo mesmo, analisando a mulher. — Ela tem… Dor. E isso…
Parou por breves segundos. franziu o cenho.
Interessante.
— Isso é o que a faz acreditar que não merece ser amada.
Soltou um murmúrio, analisando toda a situação. Seus olhos traçavam toda a postura de , notando como seus ombros caíam levemente sempre que parava para pensar sozinha. Era um gesto quase imperceptível, mas que carregava um significado. Como se estivesse lutando contra algo invisível, como uma batalha interna que mais ninguém conseguia ver.
Exceto .
— Você não está sozinha, — inclinou levemente a cabeça, observando a expressão da mulher que ainda olhava as fotos que havia tirado. — Eu posso te ver.

💘🏟️


O sol começava a se pôr em Via Flamínia quando encontrou com June e Arthur, na Piazza del Popolo.
Os dois a chamaram arduamente para se aproximar e, por um momento, pôde ver uma pequena faísca de felicidade no sorriso da mulher, mesmo que passageiro.
Logo, seu sorriso murchou e voltou à sua personalidade mais reservada como costumava ser.
— Você não quer mesmo ir com a gente? — June insistiu, animada como sempre. — Vai ser divertido. Não é todo dia que somos convidados pra uma festa em Roma. E você precisa sair um pouco também!
respirou fundo.
— Não sei, June. Sabe que não sou muito fã de festas assim — desviou o olhar, claramente desconfortável com a ideia. Resolveu focar a atenção nas pessoas ao redor.
— Vai ser bom. Confia! Quem sabe até mesmo conhece alguém interessante?
Arthur riu baixinho, percebendo a tensão de . Olhou para a namorada e lançou um olhar brando, quase como se pedisse para pegar mais leve.
— Querida, vai encontrar alguém quando estiver pronta. Não force a barra — sorriu, olhando de June pra . A fotógrafa agradeceu. — Se não quiser ir, tudo bem. Mas se quiser, estaremos por lá.
sorriu de volta.
— Bom, eu vou pensar. Prometo.
Os três continuaram ali, observando a praça imersa em luz dourada pelo entardecer enquanto conversavam sobre coisas triviais.
June, com o olhar sonhador, prestava atenção em um casal de idosos que estava sentado em um banco próximo à fonte. Eles seguravam as mãos um do outro, um gesto simples, mas cheio de paixão.
— Isso é o que eu quero, sabe? — Suspirou, um sorriso gentil no rosto. — Amor eterno.
revirou os olhos, não conseguindo esconder seu ceticismo.
Pfff, amor eterno.
— Se durar tanto assim, com certeza um deles está cedendo mais.
A amiga retrucou, com o tom ácido de costume. June resmungou algo que ela não conseguiu entender pelo som da música ao redor e da água que caía da fonte próxima à eles.
Arthur se divertia com a diferença perceptível das duas.
Riu com um pouco de surpresa, mas logo percebeu o olhar desaprovador da namorada. E, sentindo a necessidade de suavizar a situação, colocou a mão sobre a de June, dando um leve aperto reconfortante.
— Não é que a não acredite no amor. É só que… Ela tem uma visão mais realista das coisas.
pressionou os lábios, evitando uma risadinha, já que sabia como aquilo irritaria June de tal forma.
Observou a amiga com um sorriso leve, provavelmente reconhecendo a dificuldade de convencer sua amiga. Sabia que a amiga poderia ser dura como uma pedra, mas aquilo não a impedia de continuar tentando.
observava a interação com cuidado. se esforçava para manter uma fachada, para ser a amiga presente e agradável, mas por dentro, ele via os muros que a mulher erguia.
Ela queria tanto se proteger que acabava se isolando.
conseguia sentir uma mistura de frustração e ternura crescendo dentro de si. Queria ajudá-la, já que via como ela merecia e também reconhecia que, por trás de sua postura defensiva, havia alguém que desejava desesperadamente ser compreendida e amada.
Ele observava como olhava para a fonte e para os casais que passavam, sua expressão mudando sutilmente. Havia uma vulnerabilidade que a mulher não conseguia esconder completamente. E um desejo de se conectar com algo mais profundo do que a fachada cínica que apresentava ao mundo.
— Por que tem tanto medo? — se perguntou, pairando ao redor dos três. — Por que acha que não merece os amigos que tem? Por que acha que não merece o amor deles?
June e Arthur tentavam a todo custo fazer com que se sentisse parte do grupo, suas palavras cheias de carinho e afeto.
Depois de algumas risadas, o silêncio era quebrado pelo pouco vento no local e pelas vozes ao redor das pessoas que caminhavam por ali. June, sentia seu coração apertado só de pensar que, mesmo que talvez não fosse acontecer, sua amiga poderia terminar sua vida sozinha. Sem ninguém ao seu lado.
— Sabe, … Você sabe que isso não é só sobre a festa — começou baixinho. — É sobre estarmos aqui para você, sempre que precisar.
a olhou para June, seus olhos claros deixando evidente a emoção que imediatamente tentou esconder. Havia algo na expressão da mulher que fez o coração de derreter minimamente. Aquilo fez uma grande onda de empatia invadi-lo.
Tinha alguma coisa bem dolorosa que tentava proteger.
E esconder do mundo.
— Sei que se preocupa — disse. Seu tom de voz se misturava com gratidão e tristeza. — E realmente aprecio isso. Só que… Algumas vezes é difícil. Sabe, aceitar que as coisas possam ser diferentes alguma hora.
A amiga a olhou. Seu olhar estava imerso em compreensão.
— Todos nós enfrentamos momentos difíceis. E, sabe… Não é fácil acreditar que merecemos algo bom. Mas é exatamente nesses momentos que precisamos lembrar que somos dignos de apoio e amor. E você é, .
sentiu seu coração celestial quase chacoalhar dentro do peito ao ouvir as palavras de June Watson. Ele sabia que a dor de não era só sobre o que acontecia em seu presente, mas sobre alguma experiência passada que a havia levado a essa visão cética sobre o amor no geral.
A situação o deixava ainda mais curioso e interessado por sua missão.
— O que foi que aconteceu com você, ?
questionou, observando a mulher que agora se levantava junto a seus amigos. June parecia ainda mais animada que antes e achava graça junto à Arthur por vê-la tão cheia de vida.
— Aproveitem a festa, e se divirtam por mim.
June abraçou a amiga, não deixando de sorrir após.
— Não se esqueça de que estamos aqui, tá? — comentou, ajeitando os fios escuros de . — E se mudar de ideia sobre a festa, vai correndo pra lá!
Arthur acenou com a cabeça, concordando com a namorada.
— Exatamente. Divirta-se na sua caminhada. E se precisar de algo, é só nos ligar. acenou com a cabeça, ainda mantendo um sorriso, embora um pouco mais desbotado. Observou o casal se afastar, de mãos dadas para longe dela.
No fundo, queria se sentir tão à vontade e confiante quanto os dois.
Deu de ombros e se virou, pronta para conhecer e fotografar um pouco mais da cidade eterna.

💘🏟️


caminhava pelas vielas iluminadas da cidade com sua câmera pendurada no pescoço como uma extensão natural de si mesma.
A noite agora era serena, e as luzes das ruas refletiam nas pedras antigas das ruas estreitas. precisava confessar que a cidade estava ganhando seu coração pela beleza.
Ela estava absorta em seu trabalho, capturando a vida noturna com uma precisão artística que só ela entendia. Cada clique da câmera era um registro das pequenas histórias que se desenrolavam ao seu redor.
Como por exemplo, os casais que caminhavam de mãos dadas, suas risadas ecoando por ali.
capturou também a imagem de um casal jovem, rindo juntos enquanto compartilhavam um sorvete, a cena mais clichê do mundo.
Ajustou a lente e tirou a foto. Sua expressão ainda era neutra enquanto o clique ecoava à noite.
À medida que avançava, passou por um bar onde um grupo de amigos trocava olhares furtivos e sorria com seus drinques coloridos.
fez mais uma captura, tentando congelar a essência do que acontecia ali. Logo, capturou uma praça movimentada, onde um pedido de casamento acontecia.
A ocasião tirou um sorriso sincero da mulher. A noiva, com lágrimas de alegria, aceitava o anel com um sorriso radiante.
clicou a foto rapidamente, como se tentasse apressar o processo para não se perder na emoção do momento.
Se afastou um pouco, continuando a caminhada até uma área mais tranquila da cidade. Ali, avistou um músico de rua tocando uma melodia suave em seu violino, e um casal dançava na calçada ao ritmo da música. O cenário era quase mágico e a música romântica envolvia ainda mais a atmosfera do lugar.
Ela abaixou a câmera, deixando os olhos focados no casal que dançava. Seu coração acelerou por um breve momento, a fazendo sentir a emoção da cena que acontecia bem à sua frente.
Mas, assim que percebeu a intensidade de sua própria reação, rapidamente voltou à sua postura indiferente, pegando a câmera de volta e ajustando o foco mais uma vez.
— Só mais uma cena para mostrar a saturação de amor que você não precisa, — murmurou para si mesma, cínica. E, enquanto voltava a fazer um trajeto sem muito destino, , invisível e fingindo caminhar a seu lado, por mais que não precisasse já que ele poderia flutuar por aí, observava com um sorriso satisfeito.
Ele estava começando a achar graça com a forma como estava começando a ser tocada pelos momentos ao seu redor, mesmo que ainda tentasse resistir a isso.
Oh, olha lá — comentou, com a voz brincalhona. Como se esperasse que ela pudesse ouvi-lo. — Mais um casal dançando. E ainda bem que a câmera está capturando tudo isso, não é? Bom, estava quase me preocupando que você não visse a beleza no amor ao seu redor.
Ela soltou um resmungo, em desdém.
Argh… É só o meu trabalho.
riu baixinho, continuando a brincar com suas observações.
— Claro. Seu trabalho. Só não vem dizer depois que seu coração está começando a amolecer…
continuava a resmungar sobre suas idealizações e de como todo o romance ali era barulhento demais para ela. Ele não pôde evitar de sorrir.
A cada murmúrio de ceticismo da mulher, via como a resistência dela estava começando a vacilar, mesmo que de forma sutil.
— Sabe, … Você pode tentar fingir que não se importa — mencionou, o tom de voz leve e esperto. — Mas parece que essas cenas estão começando a fazer você pensar um pouco mais sobre essa coisinha que está guardada a sete chaves em seu coração. E, como um bom cupido, eu só tenho que acrescentar algumas coisas...

💘🏟️


A caminhada de volta ao hotel em que estava hospedada continuava tranquila.
Mesmo que para , algumas coisas parecessem coincidência demais.
Ela estava imersa em seus pensamentos, com a mesma sensação de ceticismo e frustração pairando sobre seu coração, quase como uma nuvem pesada. Seu percurso até o Mercure Roma Centro Hotel estava sendo quase uma provocação do universo, mostrando como o amor poderia ser lindo de várias formas.
Mas não seria daquele jeito que mudaria sua concepção sobre ele.
O primeiro sinal do que suspeitava ser o destino brincando com a mulher surgiu quando passou por uma esquina e viu um casal jovem se beijando apaixonadamente.
A cena era um retrato vibrante de amor: mãos entrelaçadas, sorrisos bobos e olhares que pareciam carregar promessas de um futuro juntos. O beijo parecia durar uma eternidade e era uma demonstração de afeto intenso que não pôde evitar observar.
— Isso é ridículo — bufou, quase revirando os olhos outra vez. — Não há nada que vá me fazer acreditar em alguma ideia romântica absurda.
permanecia andando junto à ela, mais próximo do que antes, o que o fez sentir o aroma leve do perfume de .
Deixou uma risadinha escapar. Achava engraçado como os pequenos eventos que havia plantado no caminho da mulher estavam começando a fazê-la questionar sua própria perspectiva.
— Ah, o amor jovem. Sempre tão animado e direto ao ponto — falou para si mesmo, em meio às piadinhas. — Parece que Roma está bem empenhada em te fazer ver o que você está tentando ignorar, .
E foi então que uma chuva leve começou a cair. Aquilo criava uma cortina d’água que misturava as luzes amarelas da cidade em um efeito surreal.
Ela não se importou com a chuva. , que já havia guardado sua câmera — e deu graças aos céus por isso — levou as mãos livres ao alto da cabeça, para tentar se proteger em vão.
Em meio a sua pequena corrida até uma tapagem mais próxima, avistou outro casal abraçado um ao outro enquanto riam pela provável chuva que caia.
Como é engraçado! ironizou.
E, ao virar a esquina, sua visão parou em um homem, sem aviso, se aproximando de uma mulher que estava se abrigando da chuva sob um toldo. Ele entregou um buquê de flores, acompanhado do sorriso radiante.
A surpresa e a alegria nos olhos da mulher eram evidentes enquanto recebia o presente e seus lábios se curvaram em um sorriso de felicidade genuína.
A expressão de era puro desdém.
— Sério? — reclamou, batendo as mãos na lateral de seu quadril. — Flores em uma noite chuvosa? Que raios você quer dizer com isso, hein, Roma?
tinha os olhos escuros pousados na mulher e, com os braços cruzados, não deixava de sorrir satisfeito por ter causado o impacto que queria.
— Ah, você tem que admitir… Flores e chuva? Isso é praticamente a definição de romance clássico! — Ele balançou a cabeça, ainda rindo. — Quer dizer, é Roma. A cidade quase respira esse tipo de coisa.
Ela bufou outra vez, batendo os pés contra as pedras molhadas enquanto continuava a caminhar pela rua. Seu olhar agora era fixo no chão à sua frente, determinada a chegar no hotel o quanto antes.
— Vou enlouquecer assim!
Talvez sim, talvez não… Mas, vai ser um tipo divertido de loucura, posso garantir — O cupido olhou ao redor da cidade com um brilho malicioso nos olhos. Mexer com estava sendo seu melhor hobby. — Quer dizer, se for para perder a cabeça, que seja aqui, certo? Com flores, chuva e casais apaixonados a cada esquina.
deixou uma gargalhada sincera ressoar na viela.
apertou os olhos, claramente irritada com a situação. A cada passo, era como se a cidade estivesse conspirando contra ela, jogando na sua cara exatamente aquilo que sempre quis evitar. Até o som distante de um músico de rua tocando uma melodia suave parecia querer forçá-la a aceitar algo que simplesmente não conseguia.
Suspirou.
— Isso não pode ser coincidência.
, satisfeito, se apressou ainda invisível, desta vez flutuando, mas se divertindo demasiadamente com a situação.
Se inclinou para sussurrar como se ela pudesse mesmo ouvi-lo.
— Coincidência? Bellissima, você não faz ideia do que sou capaz.
Sua voz estava carregada de uma leve provocação, o tom brincalhão que adorava usar. já tinha as bochechas rosadas, pelo estresse e irritação. A chuva, antes leve, começava a engrossar, a deixando ainda mais frustrada por toda a situação. Ela acelerou o passo, mas parecia impossível escapar dos ridículos acontecimentos que Roma insistia em lhe mostrar.
À sua frente, um casal de idosos atravessava a rua. O senhor segurava uma rosa atrás de suas costas como se a qualquer momento fosse surpreendê-la.
— Devo confessar que mereço um prêmio por essa — comentou, se divertindo. — Amor maduro, carinho sutil e uma rosa. Não é o máximo?
A mulher desviou o olhar rapidamente como se aquilo não pudesse afetá-la. Mas pôde ver, bem de relance, a emoção em seus olhos.
Um brilho que tentava esconder a todo custo.
— Isso não pode ser real. Devo estar no hotel, já no meu terceiro sono e tendo um pesadelo daqueles.
riu suavemente, achando graça com seus pensamentos.
— Que maldade com o meu trabalho! — Retrucou, ainda com uma risadinha fraca. Deixou seus olhos pousarem no rosto de . — Vamos lá, . Admito que posso ter exagerado um pouquinho, mas precisa reconhecer que há uma beleza nisso tudo.
A mulher apertou o passo, claramente querendo escapar da sequência interminável de cenas românticas que Roma parecia estar jogando em sua cara sem nem mesmo uma pausa.
sabia que por trás da expressão irritada e dos passos rápidos, havia algo mais.
não estava apenas tentando escapar das cenas ao seu redor; parecia estar fugindo de si mesma, dos próprios sentimentos que, de alguma forma, começavam a vir à tona só de olhar as cenas de filmes ao seu redor.
— Por que continua lutando? — sussurrou outra vez, com o corpo mais próximo à ela. — Por que não pode, só por um momento, acreditar que o amor pode ser bom? Que ele pode ser real, pra você também?
respirou aliviada assim que avistou o hotel há poucos metros de si.
Parou por um momento em frente ao lugar. Seus olhos percorriam as janelas iluminadas, as luzes da cidade refletindo na chuva que caía e ao clima ameno que a noite lhe oferecia.
observou sua feição, cansada e tristonha. Quase como se sua própria expressão respondesse sua pergunta.
Porque o amor é complicado, — Ele respondeu a si mesmo, falando com o coração de , como se soubesse as palavras que a mulher não diria em voz alta. — E ela já se machucou antes.
piscou, encarando a porta do hotel à sua frente. Havia algo em seu peito que ela não conseguia ignorar.
Algo que o cupido já havia percebido há muito tempo.
— Cenas românticas? Chuva? Amor? Pff, devo realmente estar ficando maluca.
Murmurou, adentrando o saguão antes de seguir até seu quarto.
continuou parado ali, a observando se afastar enquanto os sentimentos confusos de ainda permaneciam presentes e vívidos no cupido.
Então, sorriu satisfeito, sabendo que seu trabalho começaria a surtir efeito logo.
— Vou te dizer uma coisa, ... — Iniciou, sua voz agora mais séria, mesmo que ainda com um sorriso esperto no canto dos lábios. — Estou aqui por um motivo, e não vou desistir. O amor vai encontrar um caminho até você. Mesmo que tente fugir dele.




Continua...


Nota da autora: Cheguei com uma att quentinha para vocês! Espero que gostem e não deixem de comentar o que acharam ;)