Independente do Cosmos🪐
Última Atualização: 03/11/2024. Era sempre sobre ele. E aquilo a irritava profundamente.
Quando abriu a porta do dormitório, encontrou sua prima, Sally, já largada em sua cama com livros espalhados por todo canto e o ar relaxado de quem não precisava se preocupar com qualquer coisa.
Sally a olhou, arqueando uma das sobrancelhas.
— Que cara é essa? Já sei — fez uma pausa dramática. rolou os olhos, já sabendo que estava por vir. — outra vez, é?
largou a bolsa no chão com mais força do que o necessário, junto com os demais livros e se jogou na cadeira próxima à escrivaninha.
Era loucura se sentir daquele jeito por alguém que sequer trocava alguma palavra com ela.
— Ele nem sabe que existo. Não sei mais o que fazer, Sally — soltou, em um muxoxo. A prima continuava olhando. — Eu poderia atravessar o campus pegando fogo e ele não ia estar nem aí.
Sally quase deixou uma risadinha escapar com a feição amargurada de . Achava engraçado como ela morria de amores por .
— Já pensou em, sei lá… Parar de se preocupar com isso?
Sugeriu. No fundo sua voz tinha um quê provocativo.
riu, sem qualquer resquício de humor.
— É sério? Você sabe que não é tão fácil assim. Gosto dele, droga! E o fato de ele sequer me notar me deixa… Não sei, pequena? — passou as mãos pelo rosto, confusa com os próprios pensamentos.
— Pequena? — Sally arqueou a sobrancelha, outra vez. Se levantou da cama e caminhou até a prima, apoiando o corpo na mesa ao lado. — , você é uma bruxa! Pequena?! Só pode estar brincando… Se tem uma coisa que você não é mesmo, é pequena.
— Isso não ajuda! — bufou, revirando os olhos. — E o que você quer que eu faça? Saia jogando feitiços por aí só porque me sinto mal? Não é assim que funciona — cruzou os braços, apontando o nariz para o lado oposto de Sally. Até sentir o olhar dela queimando sobre si. E conhecia muito bem aquele olhar. — E se der errado? E se eu acabar mexendo com algo maior do que posso controlar?
— Ou talvez você consiga o que quer — disse, simples. Como se não fosse nada demais. franziu o cenho. Do que raios ela estava falando? — Um feitiço de amor, . Dã. Tenho certeza que já pensou nisso.
A mais nova apertou os lábios, nervosa só de pensar na ideia de mexer com feitiçaria outra vez. Faziam anos desde que se juntou com sua família para fazer algo do tipo, mesmo que a última vez ainda estivesse fresca em sua mente. Se lembrava perfeitamente do cômodo amplo e antigo da casa de suas tias, das velas acesas e espalhadas e dos sussurros das gerações de bruxas que vinham antes dela e Sally.
E claro que já havia pensado em fazer aquilo mais uma vez, só que nunca teve coragem de admitir.
Não para Sally, não em voz alta. A situação também não parecia ajudar muito em sua decisão.
— Já pensei, sim.
— E?
Sua prima cruzou os braços, como se achasse um absurdo ter que pensar muito sobre o assunto.
— Talvez possa funcionar. Não sei, talvez… me notaria — sentiu a garganta se fechar, quase em um nó. — Mas… Isso é loucura, Sally. Ele vai acabar gostando de mim só pelo feitiço e eu não quero forçar nada.
Sally ficou em silêncio por alguns segundos, observando a prima como se tentasse de alguma forma ler seus pensamentos. E entrar em sua mente.
— Ah, … Você tem poder. Poder de verdade. Só que com grandes poderes, vem grandes responsab—
— Você tá zoando que vai me falar uma frase de Homem Aranha?
— Vai mesmo me interromper, chata? — rolou os olhos. — Posso continuar?
balançou a cabeça, assentindo após.
— Quero dizer que isso não é um feitiço à toa. Você também não pode lançar um encantamento e esperar que tudo se resolva em um passe de mágica. Literalmente.
— Sei disso — rebateu, irritada. Mas, no fundo, sabia que Sally tinha razão. — Se eu continuar assim, vou pirar! E ele já me deixa louca só de existir.
A prima sorriu de canto, compreensiva, mas sem perder o ar de superioridade.
— Acho que você só precisa de um empurrãozinho. E não precisa ser nada pesado. Só o suficiente pra ele te notar, pra ver que você sempre esteve ali.
Ela deu de ombros, ainda apoiada à mesa.
não respondeu de imediato e ficou alguns segundos observando a expressão de Sally. Ela parecia extremamente confiante, como se aquilo não fosse problema algum.
E invejava toda a calma e confiança da prima.
— E se der errado?
Sally riu fraquinho.
— É só um feitiço, . Se der errado, a gente resolve. Mas, e se der certo, hein? Você vai ter pro resto da sua vida!
ficou um pouco pensativa. A ideia de usar a magia que a garota tinha era tentadora demais, e seria uma solução e tanto para a questão que estava tirando sua paz.
Só que, algo dentro de si ainda a segurava, como um alerta enjoado bem no fundo de sua mente.
— Tudo bem, então. Vamos fazer isso.
estava sentada no chão do quarto com suas pernas cruzadas enquanto tinha alguns frascos e potes espalhados ao seu redor. A luz fraca do abajur jogava sombras sobre as paredes, enquanto o quarto era preenchido por um silêncio confortável.
Do seu lado, Sally mexia em um punhado de ervas e sua expressão era tranquila, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. E conseguia notar que os olhos da prima brilhavam diferente, como se aquilo a libertasse.
As duas sabiam o que estavam prestes a fazer. Só que sentia uma pontinha de nervosismo e curiosidade dentro de si.
— Tá pronta?
Sally perguntou, ainda inexpressiva. Seus olhos estavam focados no pequeno caldeirão à sua frente.
engoliu em seco, sentindo o coração acelerar. Aquela era uma escolha definitiva, algo que não poderia ser desfeito tão facilmente.
Observou as ervas verdes e a mistura colorida que começava a borbulhar levemente, um sinal de que as coisas estavam começando a tomar forma.
— Não sei… — iniciou, um pouco hesitante. — O que pode acontecer? E se isso sair errado e ele acabar me odiando? E se…
A frase pairou no ar, enquanto milhares de questionamento pairavam na mente de .
— , não é um feitiço que vai transformá-lo em alguém que ele não é. É só uma ajudinha pra ele ver o que já existe. Você se sente atraída por ele e ele pode se sentir atraído por você também. Não é nada demais.
A prima sorriu e seu tom otimista era quase contagiante.
E contagiante era o contrário de Sally Owen.
sabia que a prima possuía um jeito de encarar a vida que a fazia parecer leve, como se a gravidade não a afetasse. Era a típica bruxa alegre, sempre pronta para brincar com magia e explorar as possibilidades.
Ao contrário dela, que frequentemente se sentia presa em suas próprias inseguranças.
— Olha, só o fato de você estar aqui considerando a ideia, já é um grande passo — Sally continuou, colocando um pouco mais das ervas no recipiente. — O que você tá fazendo não é nada ruim. É amor! Só isso.
deixou um sorrisinho escapar, quase se esquecendo das coisas que lhe afligiam.
Talvez fosse exatamente isso o que precisava. Dar um primeiro passo.
— Vamos lá então — sentiu uma faísca queimar dentro do peito. — O que preciso fazer?
Sally sorriu, quase travessa.
— Primeiro vamos terminar de preparar a poção. Coloque um pouco das pétalas de rosa e o mel — apontou para os dois vidrinhos próximos à . Ela o pegou, deixando cair um pouco no caldeirão. — Isso. Agora, você vai precisar recitar algumas palavras do feitiço — ligou o display no celular, acendendo o bloco de notas com algumas frases escritas. Antes de passar para a prima, Sally ergueu o olhar. Parecia mais séria que o normal. — Não esqueça que o que você sente por ele precisa ser sincero. A intenção é tudo.
Com isso, Sally abaixou o olhar outra vez, desta misturando os ingredientes meticulosamente.
fez o mesmo, a ajudando. Só então sua atenção foi atraída para outra coisa.
A mistura no caldeirão começou a ficar mais espessa, iluminada e o aroma doce começou a preencher o quarto, o envolvendo em um ambiente quase mágico.
Era como se a própria essência do amor estivesse se materializando ali, diante delas.
— Agora, sussurre as palavras. Vamos fazer esse amor acontecer — Sally incentivou, vibrando com o que acontecia.
respirou fundo, fechando os olhos brevemente.
Não teria mais volta.
— Desperta o desejo que está oculto, traz à tona o que o coração esconde. Que ele veja o que nunca viu, que ele sinta o que nunca sentiu… — a garota murmurava, quase em um sussurro. franziu o cenho, ainda recitando, mas algo parecia diferente agora. Era quase como se o desejo começasse a pulsar por suas veias.
O caldeirão começou a brilhar e borbulhar com fervor em um rosa profundo iluminando o quarto inteiro.
sentiu um frio na barriga. Parecia que a energia dançava pelo quarto.
— Quase lá… Só tem que adicionar o último ingrediente; a gota de essência do amor — Sally disse, baixinho para não quebrar a concentração da prima. Ela a observava atentamente.
hesitou por um instante. Aquela era a parte final, que definia tudo o que iria acontecer a partir do momento que ingerisse a poção.
Suspirou e com um movimento decisivo, virou o vidrinho com o líquido quase transparente. Assim que a gota caiu, o caldeirão estremeceu, deixando explícito que o feitiço funcionava.
— Tá feito, priminha — Sally disse, olhando a poção com admiração. — É só fazer com que beba isso até amanhã à meia-noite. Já pensou em como vai fazer?
mordeu o lábio, sentindo o coração acelerar dentro do peito. O que parecia ser um desafio divertido agora se tornava uma missão que poderia mudar o rumo de sua vida amorosa.
E a pressão de garantir que tudo saísse certo a deixava extremamente ansiosa.
— Bom, tem a festa de Halloween da universidade. Pensei em colocar na bebida dele por acidente…
Sally olhou para , com uma expressão engraçada no rosto. Segundos depois, desatou a rir.
— Por acidente? Você é louquinha, sabia?
— Ei! Foi você quem deu a ideia, Sally!
Retrucou, tentando esconder o embaraço que corava suas bochechas.
A verdade era que a ideia a aterrorizava e animava ao mesmo tempo.
— Claro, mas não sei se por acidente é a melhor estratégia. Não pode deixar isso à sua sorte — a prima cruzou os braços e balançou a cabeça, como se estivesse avaliando a situação. — Se fizer isso, pode acabar parecendo uma desesperada.
— Ok, gênio. E o que você sugere?
rolou os olhos. A última coisa que queria era dar a impressão de que estava se aproveitando de .
— Simples. É só se oferecer pra distribuir algumas bebidas. Você coloca no copo dele e tá feito. É só garantir que ele vá beber.
Ela sorriu, confiante.
considerou a ideia da prima. A festa seria a ocasião perfeita e a ideia não era lá tão ruim.
— E se ele não aceitar a bebida? — fez uma careta.
— Aí você se vira. Faz um charme, inventa alguma coisa — Sally deu um tapa no ombro de , que resmungou após. — Vai conseguir!
O coração de acelerou ao imaginar a cena. Se viu em meio aos convidados, com uma bandeja de bebidas na mão e ao seu lado, rindo e se divertindo. Com os olhos escuros brilhantes, os cabelos negros bagunçados como costumava estar…
A visão era tentadora, não podia negar.
— Ok. Vou tentar. No ruim você me salva de algum jeito.
Sally arqueou uma das sobrancelhas para a prima.
— Ótimo. Se for pra te salvar, vou ter que inventar algo melhor do que um feitiço do amor.
balançou a cabeça, rindo fraquinho das caras e bocas que Sally fazia. Sabia que a estava contrariando.
— Qual é, Sally. Eu tô levando isso à sério, sabia? E se essa brincadeira toda der errado? O que eu faço?
A prima rodopiou pelo quarto, guardando os fracos e parou na frente de , com os olhos semicerrados.
— Se der errado, você só vai ter que se reinventar como uma nova bruxa sem sorte no amor — piscou, exagerada. rolou os olhos. — Olha pelo lado bom, vai ter história pra contar. Imagina! E foi assim que eu tentei fazer se apaixonar por mim com uma poção de amor e acabei atraindo um gato no lugar…
franziu o cenho e desatou a gargalhar ao ouvir a prima a imitando, enquanto gesticulava de um lado para o outro.
Sally sempre conseguia quebrar o gelo de alguma forma.
— Há-há. Engraçadinha. Mas, eu tô falando sério, tem que prometer que vai ficar de olho durante a festa. Vou precisar do seu apoio.
Sally parou de uma vez, deixando o olhar cair sobre . Mesmo com todas as brincadeirinhas e implicâncias, ela não pensaria duas vezes em estar lá pela prima.
— Tudo bem! — levantou as mãos em rendição. — Só se me prometer que, se acabar atraindo um gato de verdade ao invés de , vai ter que me deixar trazer ele pra casa!
— Sally!
Só que, ainda assim, seu peso parecia muito maior do que o frasco suportava.
Do seu lado, Sally vestia uma fantasia para a festa e mantinha uma tranquilidade irritante no ponto de vista de . Como se o que fossem fazer não fosse nada demais.
— Você tá nervosa, — comentou, sem olhar para a prima, como se tivesse lendo seus pensamentos com a mesma facilidade que lia um grimório.
— Eu tô?
A prima levantou o olhar, encarando por alguns segundos e arqueou a sobrancelha.
— Tá óbvio demais. Se continuar assim, vai acabar entregando o jogo antes mesmo de começar. Relaxa, priminha. A poção vai funcionar.
As palavras de Sally, apesar de todo o apoio e otimismo, só intensificaram o nó no estômago que sentiu. Sabia que estava se metendo em algo extremamente delicado. Feitiços de amor nunca foram tão simples assim. Tinham tantas variáveis, tantos e se rondando sua mente. E se não reagisse como ela esperava? E se ele descobrisse? E se, no fundo, estivesse fazendo tudo errado?
— Você faz tudo parecer simples demais, Sal — a mais nova murmurou.
Sally revirou os olhos, sorrindo de canto.
— Olha só, , só porque você tá nesse drama todo, não significa que o resto do mundo também tá — se aproximou, encostando a mão no braço de . — Precisa relaxar. A vida é exatamente sobre aproveitar e deixar as coisas acontecerem.
— Fácil falar, você é super despreocupada.
soltou uma risadinha nervosa.
— Isso não é só mais uma festa. É Halloween, baby! Todo mundo tá esperando algo divertido e você tá prestes a fazer algo que pode mudar sua vida amorosa. Olha como é épico!
A prima gesticulou com as mãos, quase como se estivesse contando uma história e a situação começava a deixar um pouquinho mais animada.
— E, falando em épico — Sally disse, mudando de assunto com um sorriso travesso. — Isso é absolutamente ridículo! Olha só pra você! Uma bruxa sexy e eu… Uma abóbora? Que raios é isso, ?
riu. Mais da expressão incrédula de Sally do que da própria fantasia que ela vestia.
— Ei! A abóbora é um clássico! — defendeu, com uma mão na cintura. — E você tá arrasando! Se tem uma coisa que todo mundo ama no Halloween, são as abóboras.
A prima fez uma careta, colocando uma das mãos no coração.
— Clássico? Parece até que saí de um filme de terror antigo, mas… Posso não ser a mais sexy da festa, pelo menos sou a mais… Nutritiva?
arregalou os olhos, gargalhando junto de Sally. Sua prima adorava falar besteiras para quebrar o clima tenso.
— Ok, abóbora. Vamos antes que eu perca minha chance.
O centro de eventos da universidade de Nova York estava imerso em uma música estrondosa, além das luzes neon iluminando todo o espaço decorado com teias de aranha falsas, abóboras sorridentes, apesar de assustadoras e faixas pretas e laranjas por toda parte.
conseguia ouvir as risadas, conversas animadas e a mistura de vozes que se misturava com a música que tocava ali.
Agora, estava parada perto da entrada do lugar, ainda segurando a garrafinha camuflada entre seus dedos enquanto os olhos escaneavam o salão inteirinho atrás de .
Quando parou em um ponto específico, a garota sentiu o coração derreter dentro do peito.
estava perto de seu grupo de amigos, rindo despreocupado. Seus cabelos negros estavam bagunçados, como ele gostava de usar e a fantasia de vampiro havia lhe caído extremamente bem.
Um completo pedaço de mau caminho.
Ele parecia confortável, diferente de que sentia o estômago revirar a cada segundo que se passava. A poção, guardada na garrafinha, ainda estava presa em suas mãos.
— Relaxa, . Só entrega a bebida como se não fosse nada. Se lembre que você é uma bruxa sexy e confiante — virou o rosto, como se fosse questionar qualquer outra coisa e Sally respirou fundo. e os “e se” dela. — Nem começa. E é melhor ir agora, porque se continuar enrolando, vai acabar desistindo. Vai por mim.
— Argh… Tá. Mas fica de olho. E não sai daqui!
deu um passo hesitante em direção às pessoas que dançavam e o som da música parecia aumentar iguais as batidas de seu coração.
— Não vou sair daqui, . Não vai dar pra perder nada, né? Eu tô vestida de abóbora gigante, caramba!
quase engasgou uma risadinha ao ouvir a reclamação de Sally. Seu nervosismo se misturava com a ansiedade que sentia.
E talvez fosse melhor daquele jeito mesmo, tentando levar a coisa de um jeito leve, sem pensar muito, mesmo que no fundo quisesse muito pensar um pouquinho mais se deveria continuar com a ideia maluca de conquistar com um feitiço ou não.
Respirou fundo, passando entre os alunos no salão e seus olhos estavam focados em não perder de vista. O rapaz tinha o corpo apoiado em um bar improvisado, o sorriso fácil nos lábios enquanto conversava com um amigo. E a cena até a fez achar que seria fácil demais fazer o que queria.
Mais alguns passos e finalmente estaria perto o suficiente de . O barulho da música abafava o som de sua respiração entrecortada e só esperava o momento certo.
Agora, ela só precisava…
— Olha só quem resolveu aparecer.
Uma voz conhecida e incrivelmente irritante interrompeu qualquer linha de raciocínio na mente de . , com um sorrisinho arrogante e os fios escuros balançando em frente à seus olhos, a observava. Seu brilho no olhar era de puro sarcasmo e diversão.
Ela se virou, já rolando os olhos. Qualquer fio de esperança e animação que tinha dentro de si, desapareceu assim que se aproximou.
Sua expressão era a mesma de sempre. Pronto para provocá-la como se fosse seu passatempo favorito.
— Veio de bruxa? Cadê sua fantasia, ?
suspirou, se sentindo ainda mais irritada a cada palavra que ouvia do garoto. Ele nunca perdia uma oportunidade de fazer comentários ridículos, como se sua vida girasse em torno de perturbá-la.
E nada mais.
— E você veio de idiota? Ou isso é natural? — retrucou. não estava com a menor paciência, sem contar que as horas estavam praticamente contadas para que bebesse a poção.
O sorriso de se alargou ainda mais, claramente satisfeito com a resposta da garota.
— Ah, você me feriu, — disse, colocando a mão no peito como se estivesse prestes a desmaiar. — Não sabia que tinha tanto talento pra ofender.
Ela rolou os olhos, seu coração quase explodindo em ódio. conseguia irritá-la profundamente.
— Não é talento, é prática — comentou, cruzando os braços enquanto o encarava. — Você me dá muitas oportunidades.
Sally observava tudo de longe até então. Rolou os olhos e resolveu se aproximar sabendo que perderia a paciência em um piscar de olhos.
Se aproximou rapidamente, empurrando algumas pessoas.
— E aí, . Tá carente de atenção? — a prima perguntou, no mesmo tom sarcástico de sempre. pressionou os lábios, contendo a risadinha pela expressão no rosto do garoto.
virou o olhar preguiçosamente para Sally, aquele sorrisinho irritante nos lábios.
— Não começa, Sally. Ninguém te chamou aqui.
— E você acha que eu me importo? Só vai embora de uma vez, garoto. Tá na cara que você só veio aqui pra provocar. Ninguém quer sua energia negativa por perto, tá? Chô, se manda. observou a prima espantá-lo, como um cachorrinho e cruzou os braços, com todo aquele ar de superioridade. E era até engraçado, já que ela era consideravelmente mais baixa que o rapaz à sua frente.
— Tudo bem. Vocês venceram. Mas, só vou embora depois de — respirou fundo, em uma pausa dramática. franziu o cenho tentando entender o que acontecia. — Pegar isso aqui!
Em um movimento rápido e imprevisível, se aproximou de , puxando a garrafinha da poção que ela segurava com tamanha avidez.
arregalou os olhos, quase sentindo o coração parar.
— Ei! — exclamou, sem conseguir disfarçar o susto. Tentou recuperar a garrafa, mas a estendia no ar, olhando para o líquido cintilante dentro dela como se fosse um troféu.
— O que é isso? — perguntou.
Ele tinha um sorriso travesso nos lábios.
Sally olhou para a feição quase pálida da prima e se aproximou do garoto, tentando reverter a situação.
— Nada com que você tenha que se preocupar. Devolve.
— Agora sim pareceu interessante demais pro meu gosto…
Sally franziu o cenho, inteiramente preocupada. estragaria tudo se fizesse o que ela estava pensando.
— , tô falando sério. Devolve isso.
— Só um golinho, abóbora. Esses drinks estão ficando cada vez mais criativos, sabia?
Ele balançou a garrafa no ar, rindo, completamente alheio à tensão no rosto das primas.
deu um passo à frente, visivelmente nervosa com a situação. Se pegou dividida entre avançar em para pegar o frasco ou estapeá-lo até o garoto dizer chega.
E, antes que pudesse decidir, ele levou a garrafinha à boca e, em um gole exagerado, tomou o líquido de vez.
O mundo pareceu parar por um segundo enquanto as duas assistiam, horrorizadas.
— NÃO! — gritou, sentindo o pânico tomar conta. Ela avançou, mas já era tarde demais.
fez uma careta, olhando para a garrafa como se fosse uma bebida azeda.
— Argh! O que é que tinha aqui dentro? — limpou a boca com as costas da mão. — Que negócio ruim.
— Você é — Sally se aproximou, começando a estapeá-lo. — Um completo — bateu em sua cabeça, enquanto tentava afastá-la. — Imbecil!
— Ei! Ficou maluca?! Esse drama todo por conta de uma bebida da festa?
até então ainda estava paralisada, repassando tudo o que havia acontecido em sua mente.
além de ter um inteiro idiota, tinha acabado com suas chances com .
Idiota! Mil vezes idiota!
— Você não devia ter feito isso, … — murmurou, em um resmungo sofrido. Seu coração batia descompassado, quase escapando do peito.
Ainda sem entender a gravidade da situação, ele deu de ombros, rindo como se fosse tudo uma grande piada.
notou os olhos do rapaz com um brilho diferente sob as luzes coloridas da festa, inteiramente alheio ao caos que havia se metido.
— Que exagero. Preciso de outra bebida…
Resmungou, passando uma das mãos pelos cabelos lisos e negros, antes de se afastar, sendo engolido pela multidão de universitários que estavam ali.
tentou dar um passo à frente, sentindo sua mente embolar em um milhão de pensamentos, mas suas pernas pareciam presas ao chão, como se ao menos tivesse forças para fazer alguma coisa.
Sentiu o olhar de Sally queimando sobre si, talvez em preocupação ou até mesmo em uma pontinha de desespero pelo que acontecia.
De relance, observou de um lado do centro de eventos, bebendo como costumava fazer e do outro, curtindo a festa como se não houvesse amanhã.
respirou fundo.
O que quer que estivesse prestes a acontecer, não tinha mais volta.
Sally puxou para um canto menos movimentado, observando nitidamente o quanto sua prima estava paralisada, totalmente em choque com o que havia acontecido há poucos segundos.
— , respira — sussurrou, tentando manter a calma, apesar de sua própria voz sair meio falha pela tensão que sentia. — A gente vai dar um jeito nisso, mas você precisa manter a cabeça no lugar.
tinha seus olhos arregalados, sem conseguir focar em nada específico. Sua mente era um borrão e o som abafado da festa ao fundo fazia parecer que tudo estava distante, como se não fizesse mais parte da realidade. Mal ouvia Sally.
Tudo o que conseguia pensar era no brilho estranho nos olhos de .
— Não tem como consertar isso! — sussurrou, a voz vacilante. Quase deixando seu desespero vir à tona. — O feitiço... Ele não... A gente nunca testou isso! Não tem como desfazer assim, simplesmente! O que eu vou fazer, Sally?!
A prima mordeu o lábio inferior, claramente preocupada. Sabia que tinha razão. O feitiço era conhecido por ser traiçoeiro, difícil de controlar e ainda mais difícil de reverter. Elas tinham se arriscado demais.
— Tá, eu sei. Mas... Talvez exista alguma forma de... Desacelerar os efeitos? — sugeriu, desesperada, puxando os cabelos para trás enquanto tentava pensar em alguma solução. — Vou procurar nos livros das tias. Deve ter algo sobre isso.
Antes que pudesse continuar, a voz de ecoou mais uma vez, fazendo o estômago de afundar.
— Ei, — a chamou, com o mesmo sorriso largo de sempre. A diferença é que agora não tinha o desdém das outras vezes, e sim o olhar inteiramente encantado sobre ela. Não parecia mesmo o que ela conhecia. — Por que tá se escondendo de mim?
Se aproximou, os olhos brilhando de um jeito intenso e perturbador, como se ela fosse a única pessoa no mundo.
deu um passo para trás instintivamente, sentindo o desespero crescer dentro de si.
— , por favor…
— Espera, eu… Só queria dizer algo — ele respirou fundo, desviando o olhar rapidamente. podia jurar ter visto suas bochechas enrubescer. — Não sei porque demorei tanto pra perceber como você é…
— Ei. Já chega! Tá bom? Vai curtir a festa, .
Sally interviu, notando a expressão aflita e abalada de sua prima.
sequer havia desviado seu olhar para Sally. Era exatamente como se só existisse em seu mundo.
— , eu nunca senti isso antes… Deixa eu te confessar uma coisa — sua voz saiu baixa, quase como uma confissão sussurrada, e sentiu seu coração acelerar, não de forma romântica, mas de puro pavor. — Posso tentar te fazer feliz, ?
Sally quase engasgou ao ouvir a frase saindo da boca do garoto.
sentiu o chão desaparecer sob seus pés. As palavras de , que em outro momento teriam sido doces, agora soavam como uma sentença. Cada segundo que ele passava olhando para ela com aquele brilho intenso nos olhos só fazia o pavor crescer dentro da garota.
Não era amor verdadeiro, e ela sabia disso.
Era a poção. Um erro.
— , isso não é você!
— Claro que sou eu! — rebateu, com a expressão óbvia. — É como se eu tivesse te visto pela primeira vez de verdade hoje, . Me deixa tentar. Me deixa te fazer feliz.
Os olhos da mais velha se arregalaram. iria enlouquecê-las.
— Isso não tá certo. Você não quer isso de verdade. E a … — ela parou, olhando para a prima com os olhos implorando por uma saída. — Ela não quer isso também.
mal conseguia respirar. Sentia o olhar de queimando sua pele, esperando por uma resposta que jamais poderia dar. O som abafado da festa ao redor parecia um eco distante, enquanto sua mente se afundava no pânico.
— , por favor... Você precisa parar.
Mas ele não parava. Nem mesmo podia.
Estava cego pelo feitiço e cada palavra que saía de sua boca apenas tornava a situação ainda mais insuportável.
— , só me dá uma chance. Sei que posso...
tentou pegar sua mão, mas antes que pudesse tocá-la, deu um passo para trás, o movimento rápido e quase desesperado.
— Não!
Suas palavras saíram antes que pudesse controlá-las, a voz mais alta do que pretendia. O silêncio que se seguiu foi pesado, e por um segundo, algumas pessoas à volta olharam na direção deles.
Ele piscou, como se tentasse entender o que estava acontecendo. A confusão nublou seu olhar brevemente e deu um passo para trás, claramente abalado pela reação de .
E, aproveitando a confusão no olhar do rapaz, aproveitou a brecha.
— A gente precisa sair daqui, Sally — sussurrou, seus olhos fixos no chão, evitando o olhar de . — Agora.
Sally não pensou duas vezes em segurar no braço da prima, a puxando para longe da festa.
não olhou para trás. Não podia.
Droga de poção do amor.
Seu coração batia apertado e descompassado, deixando ainda mais claro que aquilo era só o começo do seu pesadelo.