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Independente do Cosmos🪐

Última Atualização: 13/08/2024

O homem sabia dos riscos que estava correndo, e, pior ainda, tinha consciência das leis que iria infringir só pra protegê-la, mas nada mais importava. A ideia de que algo poderia acontecer a ela era dilacerante demais.
Perdê-la por um tempo era melhor do que para sempre.
Mais uma vez estava enfrentando um dos momentos mais decisivos de sua vida e nele também viu os olhos negros de um bebê e sorriu.
Foi diante da nostalgia em seu coração que ele encarou o caos tomar conta de Asgard e aumentou o aperto em sua lança, então seguiu para o fim do salão. Seus homens abriram caminho para ele sem dificuldade alguma.
Cortou caminhou por entre elfos negros que tentavam atacá-lo, mas conseguiu derrotá-los com uma facilidade invejável. Fez sinal para receber apoio de seus bravos guerreiros quando percebeu que o tempo era escasso e logo avistou quem tanto procurava.
A dona dos cabelos como a noite lutava bravamente em nome de seu reino.
Sem perder tempo, o homem se aproximou e a tirou dali, arrastando-a por entre os guerreiros.
— O que está acontecendo? — Tinha confusão no olhar da garota quando ele fechou a porta do quarto secreto.
— Preciso que faça agora! — O homem ordenou e ela ficou ainda mais confusa. Afinal, acreditou ter apenas os dois ali dentro.
Então um rapaz de aparência jovem apareceu na escuridão.
Ela não o reconheceu.
— Pai, o que está acontecendo? — Pela primeira vez, ele viu medo naqueles olhos tão cheios de coragem.
— Faça! — O homem ordenou.
Estavam perdendo tempo demais.
— Nós podemos protegê-la. — O rapaz quase implorou e isso a fez franzir o cenho. — Você pode!
Por um momento, jurou conhecê-lo.
O mais velho estava irredutível.
Não existia outra maneira de salvar a vida da garota.
— Isto não é um pedido. É uma ordem! — A voz grossa reverberou no ambiente, arrancando arrepios da garota e um cerrar de punhos do rapaz.
— Se ela morrer….
Por que ele se importava tanto? Nem mesmo a conhecia….
A garota não conseguia compreender.
Fechou os olhos por um momento. Talvez fosse apenas um sonho e acordaria a qualquer instante.
Nada aconteceu.
Dessa vez era real.
Quando voltou a abrir os olhos, encontrava-se no mesmo lugar
— Fale comigo — ela se dirigiu ao homem mais velho. — Você está me assustando. O que está acontecendo? Nós podemos vencer, não tem com o que se preocupar.
— Escute, filho — o mais velho ignorou a garota, não conseguia olhá-la, ou mudaria de ideia. — Se a garota ficar aqui, ela morrerá. E talvez, todos nós teremos o mesmo fim.
A garganta da garota secou e ela caminhou para perto do mais velho e segurou seu rosto com força.
— Converse comigo, por favor. Me diga o que está acontecendo. — O desespero estampou seu olhar. — Asgard precisa de mim, e se eu tiver de morrer, que assim seja!
— Não! — o homem berrou. — Tem coisas sobre o seu passado, que você não será capaz de entender agora…. por favor, Kára, confie em mim.
Era a primeira vez na conversa que ele a chamava pelo nome, e por isso, soube que era sério.
Era uma ordem e ela cumpriria sem questionar.
— Me diga, e eu farei. — Mesmo com medo, ela se comprometeu.
O coração do rapaz se partiu com as palavras dela, mas sabia não ter escolha.
— Coloque isto — ele pediu, ao entregá-la uma capa preta.
O mais velho se aproximou da jovem e a ajudou a colocar o capuz. Os olhos marejados, o coração batendo forte.
Sabia que aquela seria a última vez que a veria, mas mesmo assim, decidiu ter esperança.
— Até que nos reencontremos, minha pequena. — Depositou um beijo no topo da cabeça dela.
— Até que nos reencontremos — ela sussurrou ao atravessar a porta.
O jovem a puxou pela mão e os dois passaram pelo caos como se não pudessem ser vistos. Guerreiros asgardianos lutavam bravamente por seu reino, sua casa e suas famílias.
Kára sentiu os olhos marejarem e uma dor lancinante lhe atravessar ao ver seu povo perecer nas mãos de tanta crueldade.
Corpos se acumulavam no chão.
Não conseguiu ignorar o sentimento de culpa que assolou seu coração, aquilo não estava certo, ela não podia simplesmente fugir.
E foi quando viu as duas pessoas que mais amava nesse mundo do outro lado do salão que ela se desvencilhou do jovem e retirou sua capa.
Se eu tiver que morrer, que assim seja.
Um grito ecoou no salão, mas ela não conseguiu compreender de quem era. Tudo foi muito rápido, a dor, o desespero.
A perda.
Kára estava morta.



Asgard — Dias atuais. A invasão.


O sentimento que pairava no coração de Thor naquela pacata tarde em Asgard não era desconhecido, mas incomum nos últimos anos. A última vez que experimentou tal sensação foi na primeira vez em que seus olhos caíram sobre a garota mais linda de todo o reino de Asgard.
Kára.
Se não fosse pelo corpo caído no chão, e a dor dilacerante em seu peito, ele até diria que tudo não tinha passado de um sonho, mas a lembrança ainda era muito fresca em sua memória, apesar dos anos que se passaram.
Por muito tempo fantasiou a garota em um lugar distante e que um dia a resgataria, mas sabia muito bem ser apenas uma ideia fantasiosa. Kára estava morta, e nem mesmo ele – filho de um deus poderoso – seria capaz de mudar isso.
Depois da partida de Kára, a paz reinou em Asgard. Foi algo até bem estranho, os elfos negros mais fracos caíram ali mesmo, alguns fugiram e outros desapareceram no ar como pó.
Tudo era muito suspeito aos olhos dele, mas nunca procurou investigar. Seu desejo era nunca mais se lembrar daquele dia.
Precisava seguir em frente.
Decidido a isso, Thor encarou seu reflexo no espelho e apertou seus olhos, mantendo-os fechados. Por uma última vez, ele queria se lembrar exatamente como era o rosto dela, o sorriso, a forma como se movia durante o treinamento ou como sua risada ecoava por todo o ambiente sempre que ele fazia graça.
A quem queria enganar? Ele jamais seguiria em frente.
De repente, foi como se ela estivesse bem na sua frente. Reparou primeiro nos cabelos bagunçados de Kára, com alguns fios caídos sobre a testa e as maçãs do rosto rosadas. Todos esses detalhes em conjunto lhe mostravam que ela estava em treinamento, com ele, só que mais novo.
Sentiu-se confuso por um instante, mas não conseguiu recuar.
Aproximou-se um pouco mais, e então, tudo se tornou um borrão e ele sentiu um vazio dilacerante.
Kára não estava ali, ela nunca estaria.
Tudo não passou de uma lembrança idiota.
— Se a nossa mãe descobrir que você andou pegando alguns dos ingredientes dela para fazer isso, você está ferrado, meu querido irmão. — Uma voz masculina soou do outro lado do quarto e arrancou de Thor uma reação brusca que o fez erguer uma das mãos e segurar o martelo logo em seguida.
— Loki. — Thor rosnou ao ver seu irmão aparecer mais adiante, e não conseguiu controlar; quando deu por si, já havia jogado o martelo em sua direção.
Mesmo sabendo que não o acertaria, pois Loki nem sequer se encontrava ali de verdade, ele não conseguiu resistir ao instinto.
Um sorriso tomou conta dos lábios de Loki ao ver as expressões do irmão.
— O que você quer? — Thor esbravejou.
Estava cansado daquelas brincadeirinhas.
Loki Laufeyson era um traiçoeiro insuportável.
— Especialmente hoje eu não quero nada. — O mais velho afirmou com um sorriso ladino nos lábios ao recostar-se na entrada do quarto. — É aniversário da nossa mãe, não quero estragar tudo.
— Loki, corta essa — Thor foi irônico. — O que você quer?
— Você não é o único que sente falta dela, Thor. — Laufeyson tinha um olhar triste. — Ela também era importante para mim.
O loiro deu de ombros. Estava cansado das aparições do irmão para trazer à tona a morte de Kára.
Jamais acreditaria nele.
Jamais confiaria em Loki de novo.
Como poderia confiar em alguém que sequer se dava o trabalho de estar ali?
— Eu tenho treino e pouco tempo para ficar gastando com você — Thor foi indiferente.
Loki, por outro lado, sentiu a raiva tomar ainda mais conta de seu coração.
— Não tinha nada que eu poderia ter feito — Loki nem soube o porquê, mas se justificou.
Thor soltou uma risada em escárnio.
— Apenas não estrague o dia da minha mãe e fique fora do meu caminho.

OSLO, NORUEGA — DIAS ATUAIS.


sabia que andar de um lado para o outro não mudaria em nada o nervosismo que estava sentindo. Tinha esperado muito por esse dia e não deixaria nada estragar seu momento. Para ela, tudo precisava sair perfeito e exatamente como ela havia planejado.
Se preparou por anos.
Merecia aproveitar cada minuto de sua conquista.
Apesar da pouca idade, já carregava uma bagagem de batalhas em sua vida. Era bom, para variar, ver algo dar certo.
Ela encarou seu reflexo no espelho e respirou fundo; sentia-se patética. Como conseguia colocar tanta confiança em suas personagens, mas sequer era capaz de fazer o mesmo consigo?
A mulher soltou uma risada de escárnio ao analisar as bolsas de olheira abaixo de seus olhos, devido às noites mal dormidas entre ansiedade e trabalho.
— Eu preciso relaxar, eu preciso relaxar. — repetiu como um mantra, ao notar sua aparência, que não estava ruim, mas também não a agradava cem por cento.
Uma risada reverberou bem ao seu lado e ela virou-se, com as sobrancelhas franzidas e uma careta.
— Não entendo porque está tão nervosa, . — Eillen, sua melhor amiga e empresária, recostou-se no batente da entrada do banheiro e a encarou com a mesma ternura de sempre.
— Talvez porque esse é o maior passo que darei na minha carreira? — Bufou, ao deixar seus ombros caírem levemente. — E se me acharem uma completa lunática? Uma esquisita?
— Impossível. — Eillen deu de ombros. — Você é uma das maiores escritoras da atualidade, não acho que eles ligariam mesmo se você aparecesse com uma melancia na cabeça. Eles te veneram!
sorriu ao ouvir as palavras da amiga. Sabia que ela estava certa, mas a insegurança sempre falava mais alto. Era quase insuportável ter que lidar com as expectativas colocadas sobre ela.
— Mas….
— Mas, nada! — Eillen a cortou. — Nem ferrando que vou deixar você se sabotar dessa forma, . Você só tem vinte e seis anos e olha tudo que conquistou, se dê um pouco de crédito, por favor. Acredite em si mesma, como sei que seus personagens acreditariam, como Kára acreditaria.
Kára.
não conseguiu se conter e a abraçou. Eileen era o mais próximo que ela tinha de família hoje em dia, havia perdido seus pais há seis anos e tudo que lhe restou foi a amiga e seu trabalho.
Era bom saber que a tinha em sua vida.
— Obrigada, mesmo! — Sentia-se realmente grata e aliviada e se afastou para olhá-la. — Certo. Você acha que pode ir na frente e me dar mais um tempinho?
Eillen riu, mas cedeu ao pedido da amiga e se retirou depois de roubar um abraço rápido.
esperou o barulho da porta no andar de baixo bater e voltou a se encarar no espelho.
— Certo, um banho vai ajudar…
Ligou primeiro a torneira da banheira e enquanto a deixava encher foi até seu quarto e abriu o notebook em sua escrivaninha. Mais uma vez foi tomada por uma de suas epifanias, onde ideais perambulavam por sua mente sem nenhum motivo aparente. Era quase como se pudesse ver as cenas bem diante de seus olhos.
E sempre que isso acontecia, ela precisava escrever.
Seus dedos dançam no teclado sem dificuldade alguma. Ali era onde nunca, jamais, seria capaz de se sentir insegura.
Ali ela não era apenas , era , uma escritora mundial.
“Loki levou a mão ao rosto da garota e a encarou como se fosse a última vez que a veria” — sussurrou ao digitar.
franziu o cenho por um instante, ao sentir um conforto preencher seu coração, como se fosse capaz de apreciar exatamente o mesmo que sua personagem. Como se ela já tivesse vivido exatamente aquilo.
— Que coisa mais esquisita. — Riu com um balançar de cabeça em negação e lembrou-se da banheira. — Droga!
Para sua sorte a banheira não chegou a transbordar e ela tratou de desligar a torneira. se despiu e entrou na água quente sem nem pensar duas vezes, e fez o de sempre, submergiu na água e fechou seus olhos para imaginar cenas de seus livros, acalmar-se e deixar a mente clarear.
Foi então que algo aconteceu.
Não era nada desconhecido por , mas já não acontecia há muito anos, desde que acordou naquele hospital. Era como se algo estivesse prestes a ser arrancado de seu peito e seus olhos sempre conseguiam visualizar coisas tão reais, mas que beirava a loucura acreditar que fossem.
Por alguma razão, Kára sempre vinha em seus pensamentos nestes momentos. Não sabia o porquê, mas em sua mente acreditava ser como Kára. Jamais na personalidade e bravura, mas na aparência, os mesmos cabelos, olhos... boca.
Kára era uma guerreira. E , bem, apenas uma escritora.
— Uma escritora de muito sucesso — esbravejou ao emergir. — Leen tem razão, preciso me dar mais crédito.
Sem perder mais tempo ela saiu da banheira e seguiu para seu quarto se arrumar, não podia mais se esconder, e nem queria.

O dia em Oslo estava frio como já era de se esperar, mas amava o clima e o lugar, então aquilo não a desanimou. Era perfeito, na verdade. Toda a neve espalhada e a cidade em um branco lindo de se ver a deixava inspirada, renovada.
Seu dia tinha acabado de melhorar.
Não levou muito tempo até a editora apesar do trânsito e seguiu direto para o seu escritório, o dia seria cheio de compromissos.
Sorriu ao encarar sua sala, os quadros de premiações na parede e capas de seus livros. poderia ter dúvidas sobre muitas coisas em sua vida, mas não sobre sua carreira. Ser escritora e abrir uma editora sempre foi o seu maior sonho, então sentia-se mais do que satisfeita neste âmbito. Contudo, nem sempre conseguia deixar de lado as dúvidas sobre quem era, as perdas que teve e o porquê delas.
— Não tenho tempo para isso — riu, ao espantar o turbilhão de sentimentos e então, ao olhar para sua mesa, se deu conta.
Um buquê enorme de orquídeas brancas estava posto bem ao centro. Ela olhou ao redor — como se estivesse procurando por alguém — e caminhou até sua mesa, pegou-o para olhar mais de perto e respirou profundamente para sentir o cheiro agradável da flor.
Era sua favorita.
— Não tem cartão… — Torceu o nariz ao procurar por um e se perguntou quem poderia as ter enviado.
Eram lindas e pareciam lhe causar algum tipo de dèja-vu.
! — Eillen entrou na sala e a pegou de surpresa. — Uau!
— É, são lindas! — esboçou um sorriso de ponta a ponta. — Você sabe quem as deixou aqui?
— Com certeza algum admirador. — Leen riu da cara da amiga ao fazer uma expressão sugestiva e ganhou uma revirada de olhos por parte dela. — Pera, deve ter um cartão.
— Se tivesse, eu não estaria perguntando quem deixou as flores aqui — brincou.
— Ui, ela estava bossy hoje — Leen zombou de volta.
riu e sentou-se em sua cadeira, observando as orquídeas.
— Isso é estranho, ninguém além de você e meus pais saberiam que eu amo orquídeas.
— Amiga, eu sei que você quer muito saber quem foi, mas nós temos muitas coisas importantes para resolver hoje. Então vou pedir para alguém verificar isso, pode ser? — Leen sugeriu. — Também gostaria de saber se poderia sair um pouquinho mais cedo, surgiu uma coisinha com a minha pesquisa.
— O que eu faria sem você, Leen? — questionou retórica. — E nem precisa me pedir, claro que pode.
— Um: provavelmente desapareceria. Dois, você é incrível! — A mulher deu pulinhos de alegria, quase como uma adolescente e arrancou risadas de .
— Certo, a reunião é em 40 minutos. Acha que pode me dar um tempinho até lá?
— Claro, te vejo na sala de reuniões — Leen não se opôs e logo saiu da sala, deixando em seus mais profundos questionamentos.
jogou a cabeça para trás na companhia de um suspiro e rodou em sua cadeira. Por que estava tão obcecada em saber quem a tinha mandado aquelas flores? Já havia ganhado muitos presentes.
Decidiu por ora ignorar o enigma e se concentrou em se preparar para sua reunião. Um minuto se passou.
Dois.
Três.
Seus olhos então foram parar nas orquídeas agora mais para o canto de sua mesa. Não conseguia pensar em nada, a não ser no maldito buquê. Não sabia dizer o que tinha de tão especial em algumas orquídeas, mas elas estavam prendendo sua atenção quase como se tivessem uma conexão profunda.
Como se sua vida dependesse de saber quem era o destinatário das flores.
Riu de si mesma, mas não conseguiu evitar pegar o vaso de flores novamente. Dessa vez deu uma bela respirada para poder sentir melhor o cheiro. Por um momento, jurou que sua visão ficou turva e um cansaço a assolou, então afastou-as.
Era ridículo. Só podia estar delirando.
, esqueceu da reunião? — Eileen entrou na sala em um rompante.
a olhou confusa, afinal a amiga tinha acabado de sair de sua sala, mas ao verificar o relógio de pulso, percebeu que já estava dez minutos atrasada.
Mas o que….
?
— Meu Deus. — A mulher caminhou rápido até a amiga. — Eu perdi completamente a noção da hora.
— Você está se sentindo bem? — Eileen a olhava com cautela, conforme caminhavam para a sala de reunião.
— Eu… não, sim… — gaguejou mais do que gostaria. — Está tudo bem, Leen, não se preocupe. Vai dar tudo certo. Esse contrato já está fechado!
Ela adentrou a sala sem nem dar tempo para questionamentos.
Um cansaço tomou seu corpo e passou a se sentir até um pouco sonolenta.
E de repente, tudo o que viu, foram orquídeas ao redor da sala de reuniões.

Asgard — Dias atuais. A invasão.


Loki passou os olhos pelo salão e tentou ao máximo esconder o sorriso em seu rosto, afinal não queria deixar transparecer a verdadeira razão pela qual sentia-se tão feliz e completo depois de tantos anos.
O palácio estava mais cheio do que ele jamais havia visto, Asgardianos caminhavam de um lado para o outro com sorrisos em seus rostos e vozes de alegria reverberavam por todo o ambiente.
Ele quase se deixou levar pelo sentimento, se não fosse pela culpa que o assolava toda vez que tentava.
Do outro lado do salão, Odin se encarregava para tudo sair perfeito em um dia tão especial para sua amada. Era a primeira vez em dez anos que ela concordou em comemorar seu aniversário e ele não poderia estar mais feliz. Depois da partida de Kára ela nunca mais foi a mesma e isso o machucava mais do que tudo.
O único conforto, era saber que seus outros dois filhos ainda estavam ali, seguros, e nada poderia acontecer a eles.
— Pai? — A voz de Thor o tirou de seus pensamentos mais profundos.
— Sim, meu filho. — Um sorriso tomou conta do rei, não queria deixar transparecer a tristeza que o assolou momentaneamente.
Thor o encarou por alguns segundos, o seu poder de ler as pessoas era impecável e logo percebeu que algo incomodava Odin.
— O senhor parece preocupado. — Thor sorriu cúmplice.
O mais velho riu com o comentário, sabia que o filho era sempre muito observador.
— Eu tenho um reino inteiro para governar, Thor — pontuou ao começar a caminhar, seguido do filho que o acompanhava. — Viver preocupado é um dos muitos fardos que preciso carregar.
— Sim, claro. — O mais novo foi muito educado, como sempre. — Mas você parece preocupado de uma forma diferente.
— É a primeira vez que sua mãe aceita comemorar o aniversário dela em dez anos. — Odin rodou sem sair do lugar e então parou para encarar o filho. — Só quero ter certeza de que tudo sairá como o planejado.
Odin não queria mentir, mas precisava convencer o filho de que nada estava errado.
— Além do mais, preocupe-se com o que é sua obrigação — foi mais ríspido, talvez isso o convenceria. — Que é proteger Asgard, junto ao seu irmão.
Thor ficou em silêncio e desviou seu olhar até Loki, mas logo voltou a encarar seu pai.
— Sim, senhor, sempre.
Odin se virou, como se estivesse prestes a sair andando, mas então parou e encarou o mais novo.
— Eu estou contando com isso.
A palavras do pai o deixou confuso, com uma sensação de que algo poderia acontecer em um futuro muito próximo e um arrepio lhe percorreu a espinha.

Do outro lado do castelo Loki sabia que o que estava fazendo ia contra todas as regras impostas por seu pai, mas não era como se pudesse controlar o que seu coração sentia. Já havia esperado tempo demais para reencontrar a única que conseguiu ver algo de bom nele, e sentia falta de conseguir enxergar-se da mesma forma.
Ver o sorriso dela ao receber um presente que para ele não era nada comparado ao que a mulher merecia de verdade, fez seu coração apertar, mas ao mesmo tempo lhe trouxe esperança de que as coisas poderiam ser como ele havia imaginado por tanto tempo.
Sem se importar com mais nada, ele deu início ao que faria.
Loki sabia dos poderes de Kára, mas provocá-la, era particularmente divertido para ele, gostava de testar os limites da garota. Sem piscar, o príncipe a observou trocar a posição da lança em sua mão e rodá-la lentamente enquanto parecia tentar ler cada movimento seu.
Ficou atento a precisão e a calma da garota.
Ela nunca tinha pressa e isso o frustrava de uma certa forma.
— Você sabe que isso é golpe baixo — A voz de Thor reverberou no salão em que eles estavam e Loki revirou os olhos.
Sabia exatamente do que o irmão estava falando.
— Ele não é nem louco — Kára avisou, dando a entender que entendia ao que o loiro se referia.
Thor soltou uma risada e cruzou os braços, na esperança de assistir o irmão ser derrotado.
A guerreira aproveitou o momento de distração de Loki e seu movimentou furtiva, rodou sua lança três vezes no ar ao passo que rodopiou e caiu bem ao lado de seu oponente, com o objeto pontudo colado ao rosto dele. Loki a encarava sem nem sequer piscar. Kára tinha certeza da surpresa dele, estava estampado em seu rosto.
Então um sorriso divertido tomou os lábios de Laufeyson.
Ele estava imóvel.
— Parece que você está ficando lento com o passar dos anos, Laufeyson — Kára provocou.
Ela o encarou bem no fundo dos olhos, e então se viu perder o equilíbrio, ao sentir mãos agarrarem sua cintura conforme sua lança caiu.
— Como pode ver, eu estou mesmo aqui — Loki soprou contra o rosto dela.
Thor engoliu em seco ao encarar a cena, sentindo-se profundamente desconfortável com a proximidade dos dois e viu seu irmão por um momento desviar o olhar até ele por leves segundos, como se quisesse provocá-lo.
— Não duvidei que estaria — a garota rebateu, sem desvencilhar-se dos braços de Loki.
— Ótimo — Loki a puxou para mais perto. — Porque eu nunca quebraria uma promessa feita a você.
Seus olhos tremularam com a lembrança, mas ele seguiu com o plano. Nada a tiraria dele de novo.

Noruega, Oslo — Dias Atuais.



A reunião de foi muito melhor do que ela esperava. Tudo tinha corrido exatamente como o planejado, mas ela ainda sentia-se extremamente cansada e com a sensação de que iria botar para fora tudo que tinha em seu estômago a qualquer instante.
As orquídeas não saiam de sua cabeça, em especial as que estavam na sala de reunião.
Ir para casa e cancelar toda sua agenda foi a melhor decisão a se tomar quando Eileen disse que se encarregaria para tudo ser remarcado.
respirou fundo quando finalmente entrou em sua casa e livrou-se não só do frio, como da neve mais intensa. Apesar de amar, naquele momento era tudo o que não precisava. Sem nem pensar duas vezes ela foi direto para o segundo andar da casa, onde tomou um banho quente e depois se jogou na cama já com seu notebook em mãos.
— Vamos ver o que a noite de hoje me reserva. — Sorriu ao abrir o Word.
A empolgação de escrever já se fazia presente, era sempre assim.
Por sorte estava muito melhor do que quando havia chegado em casa, então, respirou fundo, e começou o que fazia de melhor: escrever.
O início do processo de escrita não foi nada difícil, afinal já tinha escrito uma cena mais cedo e logo se viu digitando e inserida em seu mundo favorito.

“A morte chega para todos. Eu sempre soube disso, e mesmo assim sentia um medo inexplicável todas as vezes que pensava em quando a minha chegaria e como seria deixar para trás todas as pessoas que eu amava e tanto me preocupava. Contudo, o privilégio de ser quase imortal me dava a vantagem de não ter que me preocupar com isso.
O meu poder era temido e conhecido por muitos, e talvez isso tenha me dado ao longo dos meus cem anos de vida confiança o suficiente para não temer nada, e acredito que, esse foi um dos maiores erros que cometi ao longo da minha jornada. Me achar imbatível tinha me custado muitas coisas, das quais eu não me importei em perder ao longo do caminho, preocupada demais com o império que poderia construir.
E, de fato, eu havia construído um império.
Porém, quando se ergue algo assim às custas de sangue, suor e lágrimas de inocentes nada de bom é capaz de sair dali. E como era de se esperar, eu havia criado muitos demônios e agora eles estavam me caçando, da mesma forma que eu havia feito com eles em busca dos meus próprios ganhos.
Eu estava reconhecendo meus erros, mas a questão era: Será que eu estaria pronta para minha redenção? Ou, pior ainda, para a morte iminente?”

encarou o texto à sua frente e sorriu satisfeita. Mesmo depois de um dia cansativo e cheio de coisas para resolver ela conseguiu produzir e, melhor ainda, um material ótimo. As palavras eram profundas e a tocaram a ponto de quase deixar algumas lágrimas caírem. Às vezes, era como se ela e sua personagem fossem uma só.
Aproveitou a nostalgia para escrever por mais algumas horas, até sentir-se cansada demais e perder a batalha para a exaustão. Nem se deu muito trabalho, apenas empurrou o notebook para o lado e caiu em um sono profundo muito rápido.
Sono esse que foi interrompido algumas horas depois por uma sensação estranha e a boca excessivamente seca. tatetou a escrivaninha, mas tinha se esquecido de pegar um copo de água naquela noite e praguejou-se por isso.
Odiava sair da cama no meio da noite, mas não teve escolha. Sua boca a castigava a cada minuto sem beber alguma coisa.
se arrastou pelos corredores de sua casa até a cozinha, e quando chegou lá tomou um gole longo de água e colocou um chá para fazer. Já tinha mesmo perdido o sono, então por que não aproveitar para tomar uma de suas bebidas favoritas?
E foi quando ela se recostou em sua bancada que uma sensação lhe arrepiou a espinha. não era do tipo paranoica, em especial por saber que Oslo era um dos lugares mais seguros para se viver. Contudo, ali, naquele momento, teve certeza de que era observada.
Ou pior, como se alguém estivesse ali tomando nota de cada movimento seu, sem ser capaz de vê-lo.
— Você só está com sono, — tentou convencer-se ao ir até seu fogão para desligar o fogo.
A escritora passou as mãos no rosto ao deixar um bocejo escapar e virou-se para a porta que lhe dava visão perfeita da sala de estar e então congelou. De forma embaçada, ela viu a estrutura de um homem tomar forma até sua visão desembaçar por completo.
Para sua surpresa, ela não se desesperou e correu como uma pessoa normal faria. apenas permaneceu estática ao encará-lo. Talvez, bem lá no fundo, ele não fosse um estranho.
— Ainda é exatamente como eu me lembrava… — A voz dele soou na cozinha como um sussurro.
Ele ainda encontrava-se parado à entrada da cozinha.
não conseguiu evitar e se viu tomando nota de cada detalhe do homem. Os cabelos escuros, os olhos carregados de uma escuridão avassaladora, e claro, o sorriso sarcástico que ela sabia existir.
E foi nessa fração de segundos que o reconheceu.
Porém, reconhecê-lo lhe dava um atestado de loucura. Um dos bem grandes.
— Isso não pode ser real — finalmente, ela conseguiu colocar para fora o que estava entalado.
O homem sorriu com a perspicácia da mulher.
— Por que não?
engoliu em seco e fechou os olhos, imaginando que se os abrisse depois, acordaria em sua cama, porém, não foi o que aconteceu.
Ele ainda estava lá. Olhando-a, imponente, com fome.
Com uma força inabalável.
— Porque você é um personagem do meu livro…


"No one bad is ever truly bad.
And no one good is ever truly good."


("Ninguém que é mau é verdadeiramente mau.
E ninguém que é bom é verdadeiramente bom.") — Loki Laufeyson




encarou o estranho diante dela, ainda tentando compreender o que acontecia ali. Nem em seus sonhos mais insanos achou que seria possível aquilo estar acontecendo, e, em meio a uma risada nasalada, ela levou as mãos até os olhos e os coçou, convicta de que acordaria em sua cama.
Não foi o que aconteceu.
O homem que a encarava, no entanto, deixou um sorriso ladino formar-se em seus lábios, conforme acompanhava a reação da mulher. Ele achou um tanto quanto engraçado.
Usualmente, ele teria feito algum comentário irônico ou piada sem graça, mas o tempo que tinha ali era escasso e decidiu aproveitar ao máximo.
Não conseguia parar de olhá-la e sentiu o ar fugir de seus pulmões quando seus olhos se cruzaram com os dela. E então, permitiu-se observá-la de maneira mais precisa. Ele desviou daqueles olhos cheios de mistérios para a boca dela, até chegar ao corpo de Liz, dando-se conta de que ela vestia apenas uma camisola.
Como se despertasse de uma espécie de transe, ele ergueu o olhar ao dar um sobressalto inesperado. Sem conseguir se conter, o homem deixou escapar um muxoxo, afetado e frustrado pela maneira como se sentiu ao vê-la daquele jeito.
ainda permanecia em silêncio, com os olhos tão fixos ao homem, que, se fosse possível, o teria queimado com tal ato.
E foi então que Loki ignorou qualquer autocontrole e aproximou-se da mulher. não recuou, mesmo que a sua mente gritasse a todo momento que havia um estranho em sua cozinha no meio da noite. Ela manteve-se firme, impassível, até sentir um formigamento em suas bochechas quando a mão dele tocou sua bochecha.
Era como se algo queimasse, bem no fundo de sua alma.
Loki quase explodiu em êxtase e precisou fechar os olhos para não se deixar levar pela emoção. Seu maxilar ficou tenso, o pulso acelerou, mas ele se manteve calmo externamente.
Sua vontade era de poder contar a ela o porquê de realmente estar em sua casa, mas não seria nem louco; protegê-la era tudo que importava.
E com a mesma rapidez que se aproximou, ele se afastou da mulher.
abriu a boca, pronta para dizer algo, e, quando se deu o direito de fechar os olhos por uma fração de segundos, ao abri-los novamente, viu-se completamente só em sua cozinha.

acordou com um sobressalto, e seu coração batia tão forte que ela pensou que sairia de seu peito. Sua respiração estava descompassada, a pele encharcada pelo suor e seu corpo tão cansado que parecia ter lutado com alguém a noite inteira.
A mulher piscou algumas vezes ao tentar recobrar a onde estava, e, gradualmente, conforme olhava ao seu redor, constatou que era seu quarto.
Estava segura e bem.
Mas porque sentia um vazio tão grande?
A escritora riu, sentindo-se ridícula, e, ainda em meio à confusão, levou as mãos aos cabelos, que estavam encharcados.
Sem pensar duas vezes, ela empurrou as cobertas pesadas e começou a caminhar em direção ao banheiro. Com uma pressão incomum, abriu a torneira para encher a banheira e se despiu.
Como demoraria algum tempo, ela foi até o espelho do banheiro; algo parecia errado, e ela queria poder ver com seus próprios olhos. Ao se encarar, não conseguiu se reconhecer: suas pupilas estavam dilatadas, as bochechas vermelhas, e, por um momento, demorou a se reconhecer. Até seus cabelos pareciam mais escuros.
Era como se, de alguma forma, fosse alguém completamente diferente do que conhecia.
A mulher soltou um suspiro audível enquanto corria os dedos pelos lábios, olhos, maxilar e cabelos.
Aquilo só podia ser algum delírio de sua mente, e, com a mesma pressa que procurou pelo reflexo, ela se afastou dele.
não pensou duas vezes ao ver a banheira cheia e, então, entrou. Ela estremeceu levemente ao sentir a alta temperatura bater contra sua pele, mas não se importou nem um pouco e logo estava com todo o corpo submerso na água.
pensou sobre sequer ter checado as horas, mas nem precisava; só de olhar para a janela, soube que ainda era madrugada, estava escuro do lado de fora.
Como de costume, a mulher fechou as pálpebras e submergiu por completo na água.
Aquele era seu momento de paz, onde nada e nem ninguém poderia atormentá-la.
Tudo ia bem, até que sentiu uma pressão contra o peito. Ela se debateu em desespero dentro da banheira, mas, de repente, algo mudou.
A floresta à sua volta parecia familiar de alguma forma, mas não conseguiu se lembrar quando a tinha visitado. Então, o peso de suas roupas a fez olhar para baixo, e a atitude lhe arrancou um sobressalto. Uma roupa de couro preto adornava seu corpo, e seus olhos se arregalaram ao constatar o que estava em suas mãos.
Uma lança? Questionou ao olhar o objeto e focou nele para poder analisar com mais precisão.
Como uma escritora poderia portar aquilo? O que estava fazendo em uma floresta? Que roupas eram aquelas? Por que não sentia frio?
Os questionamentos bombardearam a mente de , mas, ao mesmo tempo, parecia ter todas as respostas na ponta da língua. Ela sentiu o coração bater mais forte e, apesar da hesitação — e o medo —, deu alguns passos por entre as enormes árvores que a cercavam e projetou o corpo em posição de defesa.
Ataque!
não era alguém que sabia lutar, então porque raios se encontrava naquela posição?
Nada daquilo parecia importar, pois continuou o caminho como se soubesse exatamente onde ir. E, após andar alguns metros, avistou um castelo enorme em cores douradas.
Finalmente estava em casa.
. Kára.
Escutou uma voz chamando seu nome — e não somente ele. Uma voz que conhecia, mas que, por alguma razão, não conseguiu identificar.
Eu sabia que voltaria para nós. Venha até mim.
— Kára! — gritou ao emergir e ver-se sentada em sua banheira, com água espalhada por todo o banheiro.
A temperatura estava estranhamente elevada, e, por um momento, ela pensou em sair da banheira. Porém, de uma maneira estranha, aquilo não lhe causava qualquer resquício de dor.
Ela respirou fundo e, então, como uma espécie de instinto, ela procurou pela janela. E o que constatou a deixou apavorada: O sol raiava lá fora.
— O-q-uee — gaguejou baixinho, sentindo-se perdida. — Você só perdeu a noção do tempo, …— Tentou convencer a si mesma, e então saiu da banheira.
Ainda meio confusa, ela colocou o primeiro pijama que encontrou e uma vontade lhe atingiu: Um chá.
Junto com essa vontade, veio a lembrança do homem em sua cozinha.
E mais uma vez, , acordou com saúde em sua cama e em completa confusão mental.



Reino de Asgard — Antes do sombrio.




Kára caminhava vagarosamente, como se não tivesse preocupações, e, apesar de ter algumas que ressoavam em sua mente, havia acordado decidida a focar nos treinos e no baile que aconteceria naquela noite.
Com a mesma calma, ela passou o olhar por todo o reino e cumprimentou diversas pessoas. Então, encaminhou-se para o seu lugar de interesse — e favorito — no reino e pegou-se pensando o quanto gostava dali. Apesar de saber que não era uma Asgardiana de sangue, Asgard havia se tornado seu lar, e acreditava que não poderia ter nenhum lugar melhor.
Ela era plenamente feliz ali. Tinha uma família que amava, e, bem…duas pessoas muito especiais, com quem adorava dividir a maior parte dos seus dias.
Com um sorriso nos lábios, e sem dificuldade alguma, ela empurrou a porta pesada do salão e ficou animada ao encontrá-lo completamente vazio. Não que não gostasse de companhia, mas suas habilidades em sociar eram um tanto quanto limitadas, principalmente quando tratava-se de treinar seus movimentos e estratégias de batalha.
A guerreira precisava de total concentração naqueles momentos, não dava a mínima para plateias. E, por razões óbvias, seus pensamentos se direcionaram aos irmãos asgardianos que adoravam se exibir, mas que eram sua companhia preferida — e única.
Kára sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha diante dos pensamentos e respirou fundo; precisava de concentração. Então, ignorou sua mente e foi em direção ao local onde sempre deixava sua lança, junto de muitos outros aparatos de guerra.
Com sua arma em mãos, caminhou para o meio do campo de batalha improvisado e ficou em posição de ataque. Como sempre gostava de fazer, Kára fechou os olhos e buscou se concentrar no cheiro, nos barulhos…na atmosfera à sua volta.
Aquela era sua parte preferida: se conectar com o mundo à sua volta sem necessariamente vê-lo com os próprios olhos.
Seus pés se moviam estrategicamente, e, como se tivesse uma centena de oponentes no salão, ela se moveu com destreza e precisão. Mesmo de olhos fechados, ela sabia onde estava.
Tinha uma janela à sua direita.
Ainda de olhos fechados, ela tombou a cabeça e analisou em sua mente tudo à sua volta, sabendo que, se errasse o lado de ataque, iria parar bem na janela. Ficou assim por mais alguns minutos, até ter certeza do que faria, e, quando se sentiu pronta, atacou.
Kára projetou-se para a frente ao passo que sua lança foi jogada na mesma direção. Seu corpo girou três vezes no ar, e ela sorriu ao cair exatamente onde havia planejado, com o objeto pontudo à sua frente.
Tudo tinha saído exatamente como planejado, exceto pelo barulho de uma respiração que não lhe pertencia.
— Loki — Kára soprou baixo, ao abrir os olhos e ver e ver órbitas de um verde cristalino a encarar, junto de um sorriso de canto estampado nos lábios. — Eu poderia ter te machucado — repreendeu.
E, sem pensar duas vezes, endireitou-se e deixou a lança cair no chão.
— Mas não o fez. — Laufeyson sorriu calmo, com uma convicção invejável no tom de voz. — Você é muito bem treinada, Kára. Não cometeria um erro assim. — Um sorriso largo tomou os lábios do rapaz dessa vez e, como sempre fazia, levou os braços para trás do corpo e caminhou ao redor dela.
Kára respirou fundo e sentiu como se o peso da atmosfera tivesse aumentado.
— Além do mais, sei que pode sentir minha presença. — A boca de Loki estava bem próxima ao ouvido da garota, que pôde sentir o bafo quente contra sua pele.
O arrepio foi inevitável, assim como o choque diante das palavras dele.
— Como você…
Ela não se lembrava de um dia ter contado aquilo a ele.
— Eu sei de muitas coisas, Kára. — A intensidade de sua voz a fez virar para poder encará-lo novamente. Loki tinha uma expressão neutra, como sempre, mas que, no fundo, continha um jeito ousado que ela tanto gostava, mesmo sem admitir. — Parece que algo lhe incomoda…
Ela sentiu o coração bater mais forte.
Como ele conseguia ler cada detalhe dela tão bem?
— E não me conta muitas delas — Kára o repreendeu, com um certo rancor em sua voz, mesmo sem essa ser sua intenção. — Apenas nervosa para o baile — desconversou.
Loki a encarou por alguns instantes e, então, em um piscar de olhos, aproximou-se da garota.
— Você pode esconder o quanto quiser — sussurrou baixo, com os olhos fixos aos da guerreira. — Mas eu sempre sei quando algo está errado. Quando quiser me contar, estarei aqui, princesa.
Ela abriu a boca em busca de uma resposta, mas foi interrompida pelo barulho da porta do salão sendo aberta, e tanto ela quanto Loki desviaram seus olhares para lá. Thor caminhava em direção a eles, os olhos cravados em Kára, sem dar a mínima para a presença do irmão.
— Acho que esqueceu do que combinamos ontem à noite, princesa. — Thor advertiu brincalhão, o que arrancou um franzir de cenhos em Loki. — Quando fui ao seu quarto — completou com um sorriso, ao ver as bochechas de Kára corarem.
— Mudei de ideia. — Ela deu de ombros. — Espero que esteja melhor do seu machucado, mas Odin não vai gostar nada de saber que andou nas florestas proibidas, Odinson. — A garota então afastou-se dos dois, de forma que pudesse encará-los ao mesmo tempo.
Thor riu com a provocação da garota e apenas riu.
— Muito menos de saber que depois disso foi ao quarto de Kára — Loki se intrometeu, com um sorriso falso, sem se preocupar em deixar transparecer seu incômodo.
A guerreira riu exasperada, acompanhando a risada de Thor.
— Eu te convido da próxima vez, irmão — Odinson provocou com ironia e sorriu ainda mais ao ver Loki o fuzilar com os olhos semicerrados.
Kára revirou os olhos com aquela provocação e caminhou para onde havia deixado sua lança, colocando-a de volta no lugar.
— Os meninos eu não sei — começou a dizer, conforme caminhava até a porta para sair dali —, mas eu tenho um monte de coisas para fazer até a hora do baile.
— Podemos ir juntos! — os irmãos disseram em uníssono, o que arrancou um sorriso largo da garota.
Ela então virou-se para encará-los.
— Bom, seria uma honra ter os dois ao meu lado.
E partiu, ao deixar os irmãos sem resposta.


⚔️♠️


Kára fez uma careta ao encarar seu reflexo no espelho. Era sempre estranho ver-se com vestidos longos, penteados e todos os adereços para os bailes organizados pelo rei.
Se fosse de sua vontade, não iria a nenhum deles.
— Eu sei que está me observando — Kára falou baixo, ao se virar.
Loki encontrava-se próximo à porta de seu quarto, com o mesmo sorriso ladino de sempre, e carregava algo pendurado em seus braços que chamou a atenção da guerreira de imediato.
— Você nem mesmo chegou ao baile e já parece entediada. — O rapaz sorriu zombeteiro. — Está belíssima, a propósito.
— O que faz aqui, Laufeyson? — Kára o encarou com firmeza e deu alguns passos na direção do príncipe.
Loki não disse nada, apenas caminhou em direção à garota, observando-a, e então, depois de dar algumas voltas ao redor dela, colocou uma espécie de capa sobre os ombros de Kára.
— Eu gostaria de te levar a um lugar — confessou finalmente, o que trouxe a atenção dela diretamente para ele. — Caiu perfeitamente em você.
— Suponho que não podemos ser vistos. — A guerreira colocou o enorme capuz, que impediria qualquer um de ver seu rosto, e sorriu.
Mesmo indo contra as regras, sentiu-se animada com a ideia de estar em qualquer lugar que não fosse o baile.
Os dois saíram furtivamente do quarto e seguiram um longo corredor, que os levaria para uma parte menos movimentada do castelo. Loki conhecia cada entrada do lugar e, principalmente, as saídas mais secretas, por isso, dificilmente seriam pegos.
Ainda assim, Kára sentia a adrenalina correr em suas veias.
Os dois alcançaram o lado de fora do castelo sem muita dificuldade, e ela sentiu o ar mudar bruscamente quando a brisa do vento soprou em seu rosto. Era sempre indescritível a conexão que tinha com a natureza e o mundo à sua volta.
— Onde estamos indo? — Kára balbuciou ao adentrar uma floresta densa.
Loki nem mesmo respondeu e a segurou pela mão, para então guiar o caminho, que parecia ficar cada vez mais escuro. E antes que ela conseguisse fazer qualquer outro questionamento, adentraram uma caverna.
A guerreira perdeu a fala, e seus olhos brilharam. Um lago de uma água tão azul quanto o céu da manhã chamou sua atenção, e ela deu alguns passos.
— Como você encontrou este lugar? — O brilho em seu olhar apenas aumentava ao tentar tomar nota de tudo à sua volta.
Era como se estivessem dentro de uma pedra gigante. Da água parecia reluzir uma espécie de luz, e era possível ver exatamente o fundo.
Kára desejou entrar naquele lago, mas nada disse e não se conteve em abaixar-se e tocar a água cristalina.
— Você sabe que tenho meus métodos. — Loki sorriu, convencido.
Ele estava concentrado demais nas expressões da garota para elaborar uma justificativa melhor.
— Só me pergunto se eles são os mais corretos. — Ela riu, ao repreendê-lo falsamente. — É uma das coisas mais lindas que eu já vi em toda minha vida, Loki.
Laufeyson não conseguiu conter o sorriso largo que tomou conta de seus lábios ao ouvir as palavras da guerreira. Vê-la encantada com a beleza do lugar e saber que compartilhavam aquele segredo o preenchia de formas inexplicáveis.
Então, ainda com os olhos focados nela, ele se aproximou de Kára.
— Se não for, você vai embora? — Sua pergunta continha um duplo sentido. — Exatamente como você — acrescentou, referindo-se ao elogio que ela havia feito ao lugar.
Kára sentiu o coração bater mais forte ao ergueu o olhar em direção ao rapaz, e, com um sorriso estampado de ponta a ponta em seus lábios, ela se levantou para ficarem frente a frente.
— Você sabe a resposta, Laufeyson, mas parece que sempre precisa me ouvir dizer — soprou calma, ao fixar seus olhos nos dele. — Eu jamais iria.
Loki sorriu com a resposta e diminuiu qualquer distância entre eles. Sem pensar muito em seus atos, retirou o capuz que agora cobria apenas parte dos cabelos de Kára e, então, levou uma de suas mãos ao rosto dela.
A guerreira tentou, mas não conseguiu disfarçar o quanto era afetada pela presença dele. Os olhos verdes e penetrantes a intrigava, mas jamais poderia assustá-la como acontecia com a maioria.
Sentia-se mais segura do que em qualquer outro lugar quando estava ao lado dele.
— Eu gostaria de poder nadar… — confessou baixinho, meio sem saber o que dizer diante do momento.
— Você pode, princesa. — Loki a encarou no fundo dos olhos. — Pode tudo o que quiser.
Kára sentia-se incerta sobre o que fazer, afinal, como iria se despir na frente do rapaz?
— Não vou olhar, eu prometo. — E com rapidez ele se afastou, ficando de costas para a guerreira.
Ela o encarou por alguns instantes, ao ponderar se era uma boa ideia. Confiava em Loki de olhos fechados, sabia que ele jamais tentaria espiá-la, e estava realmente tentada a entrar na água. Então, respirou fundo, buscando a coragem que sabia existir dentro de si, e passou a se despir.
Como estava de vestido, não foi muito difícil; bastou empurrar as alças em seus ombros e a peça de roupa caiu sobre seus pés, deixando-a somente de calcinha e sutiã e com algumas peças de jóias, que ela rapidamente se livrou.
Sem esperar, ela mergulhou no pequeno lago cristalino, e foi então que Laufeyson virou-se de imediato.
Ele estava encantado, perguntando-se como era possível que a beleza dela estivesse ainda mais em evidência, com os cabelos e molhados jogados para tras de os olhos iluminados pela cor da água.
— Obrigada — Kára sussurrou, mas ele permanecia entorpecido pela beleza dela.
— Você não deveria ter que me agradecer por isso — o príncipe falou calmamente. — Mas claro, sempre que precisar, princesa.
Loki se aproximou um pouco mais e observou quando ela submergiu e passou a nadar.
A lembrança de quando encontrou aquele lugar penetrou sua mente, pois ele sempre soube que ela se encantaria pela pequena caverna. Sentia-se verdadeiramente satisfeito por ter acertado, mas ainda mais por vê-la tão radiante.
— Você não vai entrar? — Kára questionou ao retornar para a superfície. — Não vou olhar, eu prometo. — Um risinho escapou dos lábios da garota, que foi acompanhado por ele.
Ao contrário dela, ele não hesitou em momento algum e retirou as roupas com pressa, pulando na água logo em seguida. Loki nadou rapidamente até a garota, emergindo da água bem atrás dela, que se virou tomando um susto.
— Não tem graça! — A guerreira o empurrou levemente pelo ombro, e os dois riram.
Ele sentia falta de momentos assim ao lado dela.
E ela, bem, não se sentia muito diferente.
— Minha intenção não foi te assustar. — Foi sincero, os olhos fixados nos dela. — Melhor do que o baile?
— Sem dúvidas. — Kára abaixou-se um pouco, deixando parte de seu rosto dentro da água.
Tudo o que ele conseguia focar eram os grandes olhos .
— Então já pode me dizer o que há de errado. — Aproximou-se ainda mais, o maxilar rígido e o olhar ainda mais intenso do que antes.
Kára o encarou por alguns instantes, ponderando se deveria compartilhar o que se passava dentro dela. Confiava em Loki, então por que toda aquela apreensão?
— Loki, eu…
— Seja o que for, eu estarei sempre aqui, Svartálfar. — O sobrenome dela, ligado à sua origem, soou calmo e sem julgamos na voz dele.
Ela estremeceu.
O nervosismo lambendo seu âmago como uma navalha.
— Preciso que me prometa… — Ela ficou tão próxima dele que conseguia sentir sua respiração quente e o hálito cítrico, e Loki apenas assentiu diante do pedido, mantendo-se em silêncio, mas sem desviar o olhar. — Este lugar será nosso. Tudo o que acontecer ou for dito dentro dele nunca sairá daqui.
— Então, temos um acordo, princesa.
— Eu não tenho conseguido dormir… — Sua voz saiu trêmula, a confissão era dolorosa, como uma adaga cravada em seu peito. A vergonha lambeu sua pele, e ela precisou desviar o olhar momentaneamente, deixando seus olhos passearem pela caverna.
Preferia olhar para qualquer ponto que não fosse ele.
— Continue… — Loki instruiu, mas sem forçá-la a olhá-lo, ainda não.
— Meus sonhos parecem reais. E são coisas horríveis…das quais não me orgulho. — Ele não pôde ver, mas ela fechou os olhos por alguns instantes. E foi como se Kára pudesse ver tudo diante deles de novo e, então, deu um sobressalto, voltando a abri-los.
Um silêncio se formou entre os dois, e ao notar que ela ainda permanecia com os olhos distantes, Loki segurou o queixo da guerreira e virou o rosto dela para si.
— Eu macho as pessoas, Loki. Usando um poder que eu sequer sei que existe dentro de mim. Sinto uma escuridão terrível. Existe algo em mi….
— Feche os olhos! — Loki pediu firme, mas manteve o mesmo tom de voz de sempre. Kára estreitou o olhar diante das palavras dele. — Você confia em mim?
Então, sem nem proferir uma resposta, ela fechou os olhos.
Em um movimento preciso e lento, Laufeyson envolveu a cintura da garota com um de seus braços, enquanto usava a outra mão para segurá-la com mais firmeza. Ele a moveu na água com calma e destreza, encarando-a atentamente. Os olhos fechados, os cabelos molhados e a boca entreaberta. Nem mesmo se ele quisesse, conseguiria ver qualquer traço de escuridão em Kára.
— Me diga o que sente, Svartálfar — pediu calmo, e ela pôde sentir o bafo quente que saiu da boca do rapaz.
— Eu sinto a temperatura da água passar através do meu corpo. — Ela respirou fundo, como se quisesse sentir cada odor presente no ambiente. — E o cheiro refrescante que exala.
Não estava se referindo ao lugar, mas Loki sabia disso.
— E o que mais? — insistiu, enquanto ainda a segurava.
— A natureza passando por nós….a energia que ela é capaz de produzir. — Os olhos dela tremeram levemente, como se fosse abri-los, mas não o fez.
Ele abriu a boca para responder, mas foi impedido ao sentir um tremor forte percorrer o corpo de Kára, e a segurou com ainda mais firmeza, puxando-a para tão perto que ela envolveu as pernas na cintura dele.
— E agora?
— Eu sinto você. — Kára abriu os olhos e encontrou o verde profundo dos olhos de Loki, que a estudava calmamente. — Algo que não sei explicar o que é, mas tem luz, nada de escuridão.
— Ah, Kára — Loki sussurrou baixo, sua voz afetada, e ele quase se viu perdendo a postura, então apertou-a contra si. — Mesmo que tivesse, você ainda me sentiria.
Ela ficou sem palavras, estava completamente tomada pela energia que os conectava. E teria dado uma resposta à altura, se não fosse o barulho de passos entre as folhas que a tiraram de sua bolha. Do que acontecia ali.
A garota se desvencilhou de Laufeyson, que sentiu como se agora todo o vazio do universo o rodeasse.
— Precisamos ir para o baile. — As palavras dela saíram apressadas, enquanto ele acompanhou com o olhar quando ela saiu da água, pegou suas roupas e pertences, e passou a se vestir, mesmo com a pele molhada.
— Certamente, princesa.
Ele queria dizer muito mais do que as palavras que saíram da sua boca, mas sabia que não era momento apropriado. Então, saiu da água e fez o que ela queria.
Sempre faria.




Oslo, Noruega — Dias Atuais


atravessou a porta do prédio desejando que o dia passasse com a mesma velocidade que a sua noite: em uma lentidão quase torturante, pois tinha incontáveis coisas para fazer antes do evento.
Acenou para algumas pessoas — como sempre fazia — e percebeu os olhares confusos por vê-la de óculos escuros no ambiente fechado. Ela também achava a atitude um tanto quanto incomum, mas não conseguia suportar a claridade, seus olhos pareciam mais sensíveis do que o normal.
Não se importou com os olhares, nada poderia ser pior do que a noite passada.
Parecia não ter certeza de qual era a realidade.
Sem delicadeza alguma, a escritora jogou suas coisas sobre a mesa ao chegar em seu escritório e sentou-se rapidamente na sua cadeira. Precisava focar em seu trabalho, afinal, naquilo era realmente boa.
Puxou o primeiro manuscrito que precisa revisar e ativou o som para iniciar uma música ambiente, pois sempre a ajudava a relaxar. Começou lendo uma, duas, três…algumas páginas,mas sua atenção parecia ser desviada a todo momento por sons que ela antes jurava nunca ter escutado.
Barulhos de espada.
Gritos de guerra.
A voz de um homem.
Ele.
— O que…— tentou proferir as palavras, mas seus olhos foram desviados até o vaso com as orquídeas em sua mesa.
As pétalas balançavam levemente, apesar da falta de vento, e ela teve a sensação, por um momento, de que conseguia escutar o barulho delas em movimento. Insegura, aproximou-se um pouco mais, tocando-as delicadamente, e foi como se um choque percorresse a palma de sua mão, fazendo-a recuar.
Sua atenção só foi retirada das flores porque seu celular começou a tocar. O barulho era ensurdecedor, como se rasgasse seus tímpanos, e ela logo tratou de atender.
— Sim?
! — A voz de Eileen soou estranhamente preocupada do outro lado da linha.
— O que aconteceu? — O coração de bateu forte.
Algo estava errado.
Eu encontrei! — A mulher do outro lado da linha parecia empolgada.
— O quê? — não conseguia compreender. — Do que você está falando?
— Eu achei a passagem para outros…— Eileen não terminou o que iria dizer, pois a ligação foi encerrada.
— Eileen? — chamou pela amiga, porém não obteve resposta.
Os eventos que vieram a seguir quase fizeram a cabeça de explodir. Sua secretária entrou na sala como sempre fazia, mas dessa vez acompanhada por um homem.
— Desculpa, ele não me deixou anunciá-lo. — Mary, a secretária, avisou apreensiva.
piscou algumas vezes, então reparou nas roupas do homem diante dela. Ele vestia uma espécie de manto nas cores preto e dourado, tinha cabelos e os olhos profundamente verdes.
Os trajes eram idênticos aos que ela havia desenhado para seu livro. O homem diante dela era seu personagem encarnado.
— Não temos tempo para banalidades — o homem se manifestou, dando um passo à frente.
A escritora permaneceu em silêncio, encontrava-se em estado de choque. Então piscou mais algumas vezes e viu o homem fazer sinal para que Mary se retirasse da sala. A mulher obedeceu de imediato, como se ele tivesse feito uma espécie de mágica.
Tudo rodou à volta de ; a cabeça doía, e o estômago avisava que colocaria tudo para fora se não voltasse à consciência.
Princesa, olhe para mim — o homem pediu firme, agora bem de frente para ela. — Você precisa vir comigo. — Então a pegou pela mão.
— O que você disse? — E foi tudo o que conseguiu dizer antes de tudo ficar escuro.



Continua...


Nota da autora: Dmeorei, mas voltei! Espero que voces gostem dessa att tanto quanto eu! <3