✮⋆˙Independente do Cosmos✮⋆˙
Finalizada em: 15/01/2025
Não sei exatamente em que momento da minha vida surgiu o meu amor pela arte, mas, desde que me lembro, ela sempre esteve presente. Não importava se eu estava consumindo arte ou produzindo — mesmo que, na produção, eu fosse boa apenas escrevendo —, eu sempre estava orbitando ao redor da magia que ela representava. A arte era como uma força gravitacional, um campo invisível que me puxava para mais perto, que me envolvia e me fazia sentir viva, como se fosse capaz de transformar qualquer momento em algo extraordinário.
Era como se a arte me puxasse para sua órbita, e, provavelmente, essa era a razão de eu estar no campus da faculdade, quando poderia ter viajado até Nova Jersey para matar a saudade dos meus pais. Eles sempre me apoiaram em cada passo, mas, naquele momento, eu precisava da arte — precisava da vivência dessa magia que só a cidade e o ambiente universitário poderiam me oferecer.
Por isso, ali estava eu, assistindo a mais uma peça no Teatro Miller. A atmosfera era vibrante, cheia de vida, e o teatro estava lotado de estudantes. A peça era uma criação original dos alunos de teatro, com um nome tão complicado que eu sequer consegui entender — mas, em minha defesa, parecia mais um amontoado de letras aleatórias, como se uma criança tivesse batido repetidamente no teclado. A trama era estranha, mas engraçada, cheia de elementos inesperados que me fizeram rir alto.
Mas o destaque, sem dúvida, era o garoto magricelo de cabelos castanhos e expressões engraçadas. Ele parecia ser um daqueles tipos que conquistam o público com sua energia e timing cômico. Eu não sabia quem ele era, mas tinha certeza de que era novo ali. Minha vida universitária se resumia em orbitar ao redor do universo artístico da Columbia, da escrita à encenação. Eu estava constantemente em busca de novas inspirações, absorvendo o talento de quem estava ao meu redor. Se eu tivesse esbarrado nele em qualquer momento, eu me lembraria. Sua aparência era única, seus traços delicados e bem definidos, e seus gestos no palco eram tão autênticos que eu não conseguia desviar o olhar.
Meus lábios ainda riam de alguma piada que o desconhecido tinha feito quando uma ideia brilhou em minha mente: eu iria aos bastidores e descobriria seu nome. Eu me peguei imaginando uma amizade fácil e natural entre nós, como aquelas que surgem quando duas pessoas se conectam de maneira instantânea e genuína.
Nós seríamos amigos, ótimos amigos.
Pensei, e a simples ideia me fez sorrir.
— Alguém já te falou que você é insuportável? — questionei, deixando o livro cair sobre minhas coxas e focando meu olhar no meu melhor amigo. O sorriso dele era imbatível, sempre capaz de desarmar qualquer crítica que eu pudesse tentar fazer.
— Sim, você diz isso quase todo dia. — Ele respondeu com um sorriso brilhante, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e isso me fez rir involuntariamente.
Uma gargalhada sincera escapou dos meus lábios. Era verdade. Eu não perdia uma oportunidade de chamá-lo de insuportável — afinal, ele de fato era. Mas, por mais irritante que ele fosse, eu estava grata por ele finalmente ter arrumado um tempo livre em sua agenda para me visitar. Isso já era um pequeno milagre, considerando a agenda cheia e o caos em que ele vivia.
Seus olhos me encaravam com uma felicidade genuína, e o sorriso dele parecia iluminar todo o ambiente. Ali, parado à minha frente, estava , o meu melhor amigo, e não , o astro de Hollywood. Esse pequeno detalhe fazia toda a diferença para mim.
— Mas, é sério, vamos assistir Le Jour se Lève. — Seu sotaque francês, com aquele charme inconfundível, quase me fez ceder.
Neguei com um balançar de cabeça.
— A resposta continua sendo não.
Os olhos dele reviraram dramaticamente, como se eu tivesse acabado de cometer um crime.
— Você não sabe apreciar cinema de verdade. — O tom de voz dele foi altamente ofendido, mas o brilho travesso nos seus olhos entregava toda a diversão que estava sentindo ao tentar me irritar.
— Claro que sei — retruquei, um sorriso ladino surgindo nos meus lábios. — Apreciei bastante a fala de Paul Muad'Dib Atreides, Duque de Arrakis.
A minha frase causou uma mudança instantânea em sua postura. Seus olhos se arregalaram e, pela primeira vez, percebi um rubor suave tomando conta de suas bochechas. estava… acanhado? Eu não acreditava no que estava vendo. Era como se ele estivesse desconcertado pela lembrança daquela cena em Duna 2. Eu nunca imaginaria que ele ficaria tímido por algo assim. A cena tinha sido um sucesso absoluto, especialmente entre as fãs, que não paravam de comentar sobre o quão “gostoso” ele estava, e, embora eu me divertisse com a ideia, nunca imaginei que ele se importasse tanto.
Levantei do sofá e passei ao seu lado, batendo meu quadril em sua perna enquanto seguia em direção à pequena cozinha do meu apartamento.
— Eu estou tirando uma com a sua cara, relaxa. — Abri um dos armários e peguei dois pacotes de pipoca de micro-ondas. — Natural ou manteiga?
demorou alguns segundos para me responder, e quando virou em minha direção, seus olhos ainda estavam levemente arregalados, como se tentasse entender se eu estava brincando com ele ou não.
— Manteiga? — A resposta saiu como uma pergunta, e eu não consegui segurar a risada baixa, sem entender sua reação.
— Beleza, tira essa cara de paspalho e vai escolher um filme que não seja um clássico francês. — Falei, tentando disfarçar a curiosidade sobre o que exatamente o tinha deixado tão desconcertado.
Observei se afastar para escolher um filme, mas minha mente não conseguia parar de se perguntar o que tinha acontecido. Por que ele estava tão acanhado? A reação dele foi algo completamente diferente do qual eu estava habituada.
Não era novidade que sua fala como Paul Muad'Dib em Duna 2 tinha feito um sucesso estrondoso — especialmente entre as mulheres — que começaram a achá-lo magicamente atraente após aquela cena. Foi uma verdadeira febre. Eu não conseguia abrir nenhuma rede social sem ver um edit de “sendo gostoso” — palavras delas, não minhas — aparecendo na minha tela.
E, para ser honesta, eu sabia que não era mais o garoto magricelo e tímido que eu conheci após uma peça na Universidade Columbia. Ele estava diferente. A transformação física dele era inegável, e o mundo o via com outros olhos agora. Mas, no fundo, ele ainda era o meu melhor amigo, com quem eu compartilhava as piadas mais bobas e as conversas mais sinceras.
E nada iria mudar isso.
Mas, mesmo adorando o que via, minha mente continuava gritando que eu não deveria estar ali, que aquele não era o meu lugar. O reflexo no espelho me desafiava, mas eu não sabia se estava pronta para enfrentar o julgamento dos outros.
Não era a primeira vez que eu comparecia a um tapete vermelho com . Eu já sabia que, assim que as fotos saíssem — fotos dos paparazzis ou dos fãs na rua —, críticas e opiniões que eu nunca pedi estariam espalhadas por toda a internet. O simples fato de ser vista ao lado dele sempre gerava um furor, principalmente porque alguns ainda não conseguiam entender a natureza da nossa amizade.
Com a nossa amizade de anos, algumas fãs já sabiam quem eu era e não me consideravam “uma ameaça” — mais uma vez, palavras delas, não minhas — mas, ainda assim, alguns virais de ódio sempre surgiam, carregados de comentários venenosos. E eu odiava tudo isso. Não só por ser julgada por escolher o penteado errado ou por ler que estava me aproveitando de , mas por saber como ele ficava quando lia aquilo tudo. Eu não me importava com o ódio vindo de alguns desconhecidos, mas eu odiava a tristeza que sentia sempre que via uma ofensa direcionada a mim.
Mas, ainda assim, eu ia sempre que ele me convidava. Eu gostava de me sentir bonita em uma roupa que eu nunca teria condições de pagar ou sequer saberia onde usar, e gostava mais ainda de estar ao lado dele, prestigiando-o, oferecendo-lhe o apoio silencioso que ele nunca pedia. Não seria o ódio disfarçado de opinião de algumas pessoas que tiraria isso de mim.
— Você está… uau. — A voz de me tirou do transe, fazendo-me virar a cabeça em sua direção.
Ele estava lindíssimo com a calça de alfaiataria e o blazer brilhante, ambos pretos, combinando com seu sapato lustroso. O contraste entre a suavidade de seus traços e a sofisticação do traje me fez engolir em seco. Ele estava impecável.
— Você também não está nada mal. — Meu tom saiu desdenhoso, mas o sorriso sincero nos meus lábios me entregava. Era impossível não sorrir quando ele estava assim, com aquele brilho nos olhos.
passou alguns segundos em silêncio, seus olhos me encarando com um brilho diferente, um sorriso aberto que tornava seu rosto ainda mais bonito. O silêncio entre nós parecia ser carregado de algo mais profundo, algo que não estava exatamente no ar, mas sim na maneira como ele olhava para mim.
— Obrigado por ter aceitado estar aqui hoje, por me acompanhar. — Sua voz soou rouca, quebrando o silêncio e arrepiando os pelos do meu braço. — Eu sei o que vão falar mais tarde na internet, mas eu não concordo. Você é a pessoa mais incrível daqui, .
Revirei os olhos, querendo fugir da intensidade do seu olhar, mas ao mesmo tempo, não conseguindo tirar os olhos dele.
— Não, eu não sou.
— É sim, sem discussão. — O tom sério contrastava com o sorriso brincalhão. — E eu sou a pessoa mais sortuda do mundo. Obrigado, de verdade.
— Para de drama — retruquei, meus olhos se prendendo na pele nua que o blazer não cobria, já que estava sem camisa por baixo. O personagem dele em Duna 2 tinha lhe dado alguns músculos em seu corpo esguio e, de alguma maneira, ficou ainda mais bonito. Não pude evitar observá-lo por um momento, ignorando o fato de que estava secando meu amigo sem motivo algum.
Seus pés o guiaram até mim, meu olhar retornou para o seu rosto, e eu decidi ignorar a atração momentânea que surgia, sabendo que não era algo que eu queria ou deveria analisar.
— Prometo te recompensar por hoje — murmurou, seus olhos presos nos meus enquanto sua mão acariciava minha bochecha com cuidado, o toque suave e familiar me causando um arrepio leve.
— Você sabe que não precisa.
— E você sabe que eu gosto — respondeu com um sorriso encantador. — Como vai o processo de criação do livro?
Seus olhos me analisavam com uma sinceridade e curiosidade genuínas. Ele sempre soube como me fazer falar sobre meu trabalho, sobre o que eu estava criando, como se acreditasse de verdade no meu potencial.
Deixei que meus ombros se encolhessem de frustração ao responder:
— Uma merda — confidenciei, a palavra escapando com um suspiro exasperado. — Cheguei em uma fase onde preciso de completo silêncio para escrever, e você sabe que isso é quase impossível morando em Nova Iorque.
Uma risada misturada com um murmúrio de concordância escapou de seus lábios.
— Eu vou te ajudar com isso.
Arqueei as sobrancelhas ao ouvir sua frase, questionando-me como ele seria capaz de resolver o meu problema. Nova Iorque era uma cidade implacável quando se tratava de silêncio.
— Vai fazer igual o Thanos e estalar os dedos para sumir metade das pessoas? — perguntei, tentando aliviar a tensão com uma piada. — Só assim consigo imaginar NYC ficando menos barulhenta.
— Não. — Respondeu simplesmente, mas o brilho em seu olhar me dizia que já sabia o que faria. Ele sempre sabia.
— Então vai me contar o que vai fazer? — Perguntei, já sabendo que a resposta seria negativa.
— Não.
Revirei os olhos teatralmente, mas sabia que nada que eu fizesse ou falasse mudaria sua decisão de não me contar nada. adorava surpresas e, bem, eu não as odiava — ao menos as que vinham dele.
Antes de se afastar, ele quase eliminou toda a distância entre nós, pousando um beijo suave na minha cabeça, como costumava fazer sempre que estava próximo de mim.
— Você está linda, — soprou, sua voz suave e reconfortante conforme se afastava. — Vamos?
Peguei o braço estendido na minha direção, disposta a acompanhá-lo aonde quer que ele fosse. Naquele momento eu estava exatamente onde queria estar.
E eu estava com uma imensa vontade de jogar o notebook pela janela. Ou de me jogar da janela.
Meu celular tocou, tirando minha atenção da tela em branco, e pude ler o nome do meu melhor amigo no visor.
— Oi, . — Meu tom soou animado assim que atendi a chamada.
— Oi, ! Como estão as coisas aí na costa leste?
— O mesmo de sempre — respondi, simplesmente, já que eu não tinha nenhuma novidade. Infelizmente, minha incapacidade de continuar escrevendo o bendito livro não era uma novidade.
— Ainda travada? — questionou, atencioso, e eu apenas resmunguei em concordância. — Eu acho que uns dias longe da selva de pedra seriam ideais para você. Mudar um pouco a rotina, explorar sua criatividade de formas diferentes.
Um suspiro escapou dos meus lábios. Uma pequena viagem para um lugar diferente — mesmo que eu só fosse para o norte do estado de Nova Iorque — era o que eu precisava. Mas eu estava zerada; os freelancers que eu fazia serviam para me manter vivendo em um minúsculo apartamento no Queens de uma maneira aceitável. Viagens, especialmente as de última hora, não se encaixavam no meu roteiro.
— Vou precisar achar outra solução, então — resmunguei, querendo fugir do tópico viagem. — Como está a sua gravação atual?
— Bem, finalmente consegui uma pausa e vou poder descansar um pouco. — Seu tom estava animado, e eu não precisei de muita criatividade para imaginar o belo sorriso sincero que ele estava abrindo. — Mas não tente mudar de assunto, Morton, eu conheço suas táticas.
— Eu não estou tentando mudar. — Menti, sabendo que, mesmo pela ligação, saberia que eu não estava sendo sincera. Estranhamente, ele sempre sabia.
— Estou pensando em passar o fim de semana em Vermont. O que acha?
— É uma boa ideia, se você quer fugir do caos de Los Angeles. Como ainda não é inverno e não começou a temporada de esqui, acredito que será uma viagem bem calma e tranquilizante.
— Perfeito! Faça suas malas. — Seu tom resoluto me fez piscar os olhos, levemente perdida. Contudo, antes que eu pudesse retrucar, o característico som da ligação sendo encerrada soou, e eu fiquei ali, parada no meio do meu pseudo escritório, com o celular na mão.
Permaneci assim por alguns segundos, até decidir que aquilo era apenas uma péssima piada de mau gosto e liguei para . Que só atendeu na quarta tentativa.
— Você desligou na minha cara — reclamei assim que ele tentou me cumprimentar.
— Sim, afinal você precisa ir fazer as malas — respondeu calmamente.
— Para de palhaçada, .
— E quem disse que eu estou? — bufei, frustrada, sem paciência para a brincadeira. — Já que você não foi fazer as malas, então pelo menos abra a porta para o seu melhor amigo.
A ligação foi encerrada sem que ele esperasse a minha resposta, mais uma vez, e não pude evitar um grunhido. Ele não poderia estar falando sério, mas a batida na minha porta segundos depois me fez atravessar meu apartamento em um piscar de olhos.
Guardei o celular no bolso e abri a porta, dando de cara com , parado pouco após o batente. Seu cabelo estava um pouco maior do que da última vez que o vi — pouco mais de cinco meses atrás, no tapete vermelho — e o corte lhe caía extremamente bem.
Eu podia admitir que meu amigo estava mais... atraente com os pequenos cachos que enfeitavam seu cabelo sempre que ele o deixava crescer?
Corri em sua direção e me joguei em seus braços, que não tardaram em me enlaçar fortemente. O abraço de me trazia uma sensação reconfortante, como um copo de chocolate quente depois de aproveitar uma manhã na neve.
— Senti sua falta. — Sua voz soou doce, e seus braços me apertaram ainda mais.
— Eu também — murmurei, deitando minha cabeça em seu peito. — Hollywood está tentando te roubar de mim.
— Nunca vai conseguir. — Depositou um beijo em meus cabelos e rompeu o abraço, me afastando pelos ombros apenas até conseguir encarar meus olhos. — Pronta para nossa viagem?
— Você está falando sério? — questionei, mesmo sem ter motivos para duvidar dele. Era só que viagens de última hora, mesmo para destinos próximos e em baixa temporada, não eram meus planos para um fim de semana qualquer.
— E por que não estaria?
Sua pergunta veio acompanhada do seu sorriso de lado, o meu preferido, então apenas dei de ombros como resposta. Decidida a apenas existir naquele sorriso por alguns segundos.
— Vamos arrumar suas malas então, — falou, passando por mim, entrando no meu apartamento e indo em direção ao meu quarto. — Estacionei meu carro em um lugar que com certeza não deveria, e não quero ganhar uma multa.
O olhar de estava preso na estrada à nossa frente. A estrada vazia e cinza contrastava com as árvores amareladas e alaranjadas do meio do outono, que cercavam ambos os lados da pista. Já estávamos há pouco mais de cinco horas e meia dentro do carro, mas o GPS mostrava que estávamos bem próximos ao nosso destino final.
— Ainda não acredito que eu ganhei uma multa. — A reclamação de cortou o silêncio, me fazendo gargalhar diante de sua incredulidade. Desde que deixamos o Queens, ele já havia reclamado sobre isso mais de três vezes.
— Não é como se o dinheiro fosse te fazer falta — rebati, com um sorriso malicioso.
— E não vai mesmo, mas é uma questão moral, — resmungou, sua mão direita deixando o volante para bagunçar ainda mais os cachos desarrumados. — Eu sou um nova-iorquino, é uma vergonha ganhar uma multa na cidade.
Sua frase me fez rir.
— Eu nunca ganhei uma multa.
— Claro, você não dirige. — Seus olhos me encararam rapidamente, logo voltando o foco para a estrada. — Acho que está na hora de você tirar a sua carteira.
Revirei os olhos, não era a primeira vez que tocava nesse assunto.
— Não tem a mínima necessidade — resmunguei, desejando urgentemente que mudássemos de assunto. — Quando eu era mais nova, sempre quis vir para Vermont durante o inverno para esquiar.
— Podemos voltar em janeiro — respondeu, simplesmente. — Mas, sobre a sua carteira, eu posso pagar todo o processo.
Tombei a cabeça no encosto do banco, bufando contrariada. não desistia dessa ideia. Pagar para tirar a carteira era um gasto totalmente desnecessário, e eu não queria que ele bancasse tudo pra mim — já bastava ele ter pago por essa viagem.
Morar em Nova Iorque faz com que ninguém precise de um carro. O trânsito era sempre caótico e engarrafado, além do fato de que eu gastaria muito mais com um carro do que gasto com o metrô, cuja estação mais próxima fica a apenas sete minutos de distância.
— Você não precisa e não deve pagar tudo para mim, eu sou sua amiga, . — Virei os olhos na sua direção, observando-o me olhar rapidamente.
— Então se você fosse minha namorada eu poderia te dar tudo o que eu quisesse?
Revirei os olhos, dando um tapa fraco em sua perna, notando se enrijecer. O encarei confusa, não entendendo sua reação, e afastei a mão.
— Mas eu não sou sua namorada — falei, ao mesmo tempo em que ele estacionava o carro em frente à nossa hospedagem para o fim de semana.
Tirei o cinto e saí do carro sem esperar por ele, parando em frente à cabana luxuosa que seria nossa pelo fim de semana. Agradeci mentalmente por ele ter pago tudo, porque nem juntando todo o meu dinheiro pelos próximos cinco anos eu conseguiria pagar metade da minha parte.
A cabana, uma verdadeira obra de arquitetura rústica e moderna, parecia se erguer em perfeita harmonia com a paisagem ao redor. Feita de madeira escura, com enormes janelas de vidro que se estendiam do chão ao teto, a estrutura se integrava suavemente ao cenário de outono, onde as folhas douradas das árvores dançavam ao vento. As luzes interiores, ainda acesas, criavam um brilho acolhedor que contrastava com o ar gelado da noite que começava a cair. O som suave do vento e o farfalhar das folhas completavam o cenário idílico, enquanto as montanhas distantes pareciam observar a tranquilidade do lugar. Era impossível não sentir que, ali, o tempo passava de forma diferente, mais devagar, como se o próprio ambiente pedisse para que nos desconectássemos do mundo.
O som de folhas sendo amassadas indicou que tinha saído do carro e caminhava em minha direção. Não me assustei quando sua voz soou ao meu lado:
— O que achou? Acha que vai conseguir aproveitar a paz daqui para escrever?
Concordei afobadamente com a cabeça, ainda deslumbrada com a beleza e a magnitude da casa, e ainda mais tocada pelo gesto do meu melhor amigo. Eu não sabia o que esperar quando ele me convidou para esse lugar, mas nada poderia ter me preparado para a tranquilidade quase palpável que eu sentia ali. O lugar parecia respirar calma, como se o ar tivesse sido cuidadosamente moldado para acalmar a mente e o espírito.
Era o local perfeito.
Era o que eu precisava e não sabia, mas ele, de alguma forma, adivinhou. Como se, sem palavras, soubesse exatamente o que minha alma precisava para se reencontrar, para se reabastecer. O silêncio ao redor era diferente de qualquer silêncio que eu já tivesse experimentado. Ele não era vazio ou desconfortável. Era acolhedor, como um abraço suave que envolvia todos os meus sentidos e me fazia querer fechar os olhos e simplesmente existir ali, sem pressa, sem pressões, apenas respirando e sentindo.
Talvez fosse a natureza ao redor, com suas árvores imponentes e as montanhas distantes que pareciam observar em silêncio. Ou talvez fosse a casa em si, com seu design que misturava rusticidade e modernidade de uma maneira que trazia uma sensação de equilíbrio e harmonia. Mas, no fundo, eu sabia que era quem tinha transformado tudo isso em algo ainda mais especial. Ele sempre soubera como me surpreender, como fazer com que eu me sentisse única e cuidada, sem jamais pedir nada em troca.
— Muito obrigada — murmurei, minha voz soando mais chorosa do que eu queria, como se as palavras não fossem suficientes para expressar a gratidão que eu sentia naquele momento.
riu baixo, a risada suave e reconfortante, e me puxou para mais perto, envolvendo-me em um abraço lateral. Seu queixo se acomodou no topo da minha cabeça, e eu senti uma sensação de segurança instantânea.
— Não precisa agradecer, . Estou sempre disposto a te dar tudo o que você quiser e precisar. — Sua voz era mansa e firme, como se essa fosse a coisa mais natural do mundo para ele. E, de algum modo, naquele momento, parecia mesmo ser.
Eu me aconcheguei mais contra ele, respirando fundo, sentindo o calor do seu corpo e o conforto que só ele sabia me proporcionar. Naquele abraço, senti que, por mais que o mundo ao redor fosse imprevisível e caótico, pelo menos naquele instante, eu estava exatamente onde deveria estar.
As cenas em minha mente se convertiam em palavras que lotaram o arquivo outrora branco. Passei o resto da minha sexta escrevendo, trancada no pequeno escritório que tinha ali. apareceu algumas vezes por poucos segundos, fosse para me trazer uma nova garrafa d’água ou algo para eu comer. Ele entrava e saía silenciosamente, mas o olhar que ele me dava parecia uma mistura de orgulho e algo mais, algo que eu não conseguia identificar completamente.
O som da digitação era a única coisa que quebrava o silêncio da noite, e o tempo parecia fluir sem eu perceber. Cada parágrafo me envolvia mais e mais, e as palavras se conectavam de uma forma tão natural que eu me perguntava como consegui passar tanto tempo travada.
Eu fiquei acordada até às três da manhã, parando de escrever apenas quando encontrei outro empecilho…
Eu não fazia a mínima ideia de como transformar a relação de amigos dos protagonistas em um romance. Toda a dinâmica deles era complexa, com uma amizade profunda, mas o fio que conectava essa amizade a algo mais romântico estava se mostrando difícil de encontrar. Eu sabia que as peças estavam ali, mas como encaixá-las? Como fazer a transição de amigos para amantes de forma orgânica e convincente?
Respirei fundo e fechei o laptop, sentindo uma pontada de frustração. Talvez fosse hora de dar um tempo. Eu sabia que a solução estava perto, mas precisava de mais tempo, mais clareza. E talvez, só talvez, uma perspectiva externa.
— Por que essa cara de bunda? — me saudou assim que adentrei a cozinha, pouco depois das onze da manhã.
— O livro — resmunguei, jogando-me no primeiro banco da bancada, sentindo o peso da frustração.
Os olhos confusos de focaram em mim, e ele pareceu surpreso com o tom de desânimo.
— Mas você parecia uma máquina ontem. Estava escrevendo a todo vapor.
Dei de ombros, a ironia da escrita não me poupava. Nem todos os dias eram iguais. Em alguns, as palavras fluíam como se eu fosse a própria enciclopédia, em outros — como hoje — eu sentia que estava apenas batendo na parede. Isso era normal, mas ainda assim era difícil não me sentir péssima quando estava travada. E o pior de tudo era que ele estava me pagando tudo isso, esse final de semana em Vermont, para eu conseguir escrever, enquanto eu simplesmente não conseguia avançar.
— Eu cheguei numa parte que não sei bem o que posso fazer para resolver — confessei, apoiando a cabeça nas mãos, sentindo o cansaço pesado.
— Qual parte? — perguntou, agora com os olhos focados em mim, seu tom suave e curioso.
— Já ouviu falar de tropes? Elas servem para classificar temas de um livro. O que eu estou escrevendo é um friends to lovers, isso significa que eles eram amigos e depois viram um casal, sabe? — Expliquei, tentando simplificar, mas ainda sentindo um nó na garganta.
O aceno de concordância de veio acompanhado de uma leve corada nas bochechas, que me fez levantar uma sobrancelha. Ele parecia um pouco… desconfortável? Mas não era possível, afinal, estávamos falando sobre um clichê de romance — nada que deveria fazer se sentir assim.
— Então, eu simplesmente travei aí. Não sei como fazer essa troca da amizade para o romance parecer algo natural — completei, me sentindo meio perdida.
ficou em silêncio por alguns segundos, a expressão dele suavizando de forma que eu não conseguia identificar direito. Como se ele estivesse ponderando suas palavras com muito cuidado. E, por mais que eu tentasse não notar, percebi como ele evitava olhar diretamente para mim, o que só aumentava a minha curiosidade.
O que estava acontecendo ali?
— Você está querendo que eles se apaixonem de forma suave, certo? Sem forçar a barra? — ele perguntou, com a voz mais baixa, um tom quase hesitante.
Assenti, finalmente levantando os olhos para ele. Mas, ao fazer isso, vi o modo como ele me observava, os olhos um pouco mais intensos, como se algo não dito estivesse pairando no ar entre nós. Eu tentei ignorar a sensação, mas uma leve faísca de inquietação percorreu minha espinha.
Algo estava diferente.
— Eu acho que… — começou, e hesitou. Então, sorriu com um pouco de timidez, o que quase nunca acontecia. — Que ao invés de um grande momento de revelação, você criasse pequenos momentos de cumplicidade. Tipo… saber que estão sempre ali, mas de uma forma mais natural. Uma troca de olhares, uma ajuda inesperada. Algo que se constrói aos poucos.
Fiquei em silêncio, absorvendo o que ele disse. O jeito que ele falou parecia tão pessoal, como se estivesse se referindo a algo que ele já tivesse vivido ou sentido. A ideia era simples, mas muito mais profunda do que eu esperava. Eu nunca tinha pensado em fazer a transição da amizade para o romance de uma forma tão sutil.
Eu sorri, aliviada.
— Você sabe que é um gênio, né? — brinquei, mas, ao olhar para ele, percebi que ele estava corando de novo.
— Não é nada disso — ele respondeu rápido demais, tentando esconder o rosto.
Eu ri baixinho, ainda percebendo como ele estava se desconcertando. Como ele podia ficar assim por algo tão simples? Mas, ao mesmo tempo, algo na sua reação me fez perceber o que estava acontecendo ali. não era só um bom amigo. Ele estava dando dicas que pareciam vir de um lugar muito mais pessoal.
Era capaz que ele fosse apaixonado por alguma atriz com a qual contracenou e ela o visse apenas como amigo…
Eu apostava todas as minhas fichas na Florence Pugh.
A conversa com me ajudou a avançar um pouco, mas ainda não estava fluindo como no dia anterior. Pelo menos eu já estava conseguindo desenvolver a história, mesmo que a sensação de algo prestes a mudar estivesse me incomodando. Talvez fosse a cena da declaração? Muito provavelmente.
Eu relia, tentava ajustar, mas algo não parecia certo. Eu queria que fosse natural, mas ao mesmo tempo impactante, algo que não fosse clichê, mas que tivesse aquele peso.
E talvez por isso, todas as minhas ideias estivessem soando horríveis.
Até que, como uma lâmpada se acendendo na minha cabeça, encontrei a cena perfeita. Eu poderia simplesmente pedir para recriar a cena para mim, testar se a ideia funcionava na prática. Por que ficar quebrando a cabeça tentando encontrar as palavras certas se eu poderia ver isso acontecer ao vivo? Isso era muito mais interessante.
Sem perder tempo, saí correndo em direção ao quarto de . Não bati na porta, apenas entrei, sem me importar com as convenções. O espaço amplo, decorado em tons claros de marrom, logo foi invadido pela minha presença. saiu do banheiro naquele exato momento, com o cabelo molhado e vestindo apenas uma boxer, a toalha jogada sobre os ombros.
Ele estava diferente.
Não era mais o magricelo que eu tinha conhecido na faculdade. Ele estava mais maduro, o corpo mais firme, o olhar mais confiante. Por um segundo, meu cérebro piscou, mas rapidamente o ignorei.
— Preciso da sua ajuda! — As palavras saíram rápidas e impulsivas, antes mesmo de eu ter tempo de processá-las direito.
arregalou os olhos ao me ver e apertou ainda mais a toalha sobre seu corpo, como se eu fosse um intruso em seu espaço pessoal. Meus olhos rapidamente o examinaram — o cabelo molhado, as gotas de água escorrendo pela pele — e eu não pude evitar o pensamento: quantas pessoas gostariam de estar no meu lugar agora?
Mas eu tentei focar.
A minha ideia era mais importante. Não era?
— ! — Ele disse meu nome, surpreso com a minha invasão.
— Desculpa! — respondi rapidamente. — Nossa conversa ontem me ajudou a avançar no livro, obrigada, mas agora estou travando de novo em uma parte. Eu pensei em uma cena e pensei que você poderia me ajudar a encenar. Você faria o meu personagem principal, puxando a protagonista para uma conversa e se declarando para ela.
Eu mal parei para respirar, tão animada com a ideia, e notei que a cada palavra minha, os olhos de ficavam mais arregalados.
Ele parecia um pouco atordoado.
— Eu posso te aju…
— MUITO OBRIGADA! — Eu já estava correndo em sua direção antes que ele terminasse de falar, e o abracei sem pensar nas gotículas de água que escorriam pelo seu abdômen nu. parecia ainda mais surpreso, sem saber como reagir. Seus braços não me envolveram como normalmente faziam, e só então me toquei do motivo.
— Ah, desculpa, esqueci que você estava assim. — Afastei-me rapidamente, gesticulando para o corpo desnudo dele, tentando parecer mais natural. — Não quero fazer você se sentir desconfortável, mas você seria perfeito para encenar essa cena.
continuava com a mesma expressão de surpresa, seus olhos ainda mais arregalados, e uma leve palidez tomava seu rosto, como se ele estivesse prestes a desmaiar.
Não foi difícil notar o quanto ele aparentava estar nervoso e, num impulso, decidi quebrar o silêncio que se formava.
— Desculpa falar isso, mas... eu percebi ontem que talvez você estivesse querendo viver um friends to lovers, sabe? — As palavras saíram rápidas, como se eu estivesse me apressando para justificar a pergunta. não disse nada, mas a forma como me olhava fazia meu coração acelerar. — Não precisa me encarar assim. Eu adoro a Florence, de verdade.
— Florence? — A confusão na voz dele era óbvia.
— Sim, Florence Pugh. Não é por ela que você está apaixonado? — A pergunta saiu mais inocente do que eu pretendia, e ao dizer as palavras, uma parte de mim ficou apreensiva. Será que tinha tocado num ponto sensível sem querer?
Ele permaneceu em silêncio por um tempo, sem responder imediatamente. Eu podia ver que ele estava tentando processar o que eu havia acabado de dizer, mas seus olhos agora estavam evitando os meus, como se não soubesse como lidar com o que acabara de sair da minha boca.
O clima ali parecia mais tenso a cada segundo, e, de alguma forma, eu sabia que tinha tocado em algo que não parecia estar preparado para compartilhar. A revelação escapou de forma quase involuntária, e, agora, eu me via tentando entender os olhos de — um misto de surpresa, confusão e algo que eu não conseguia nomear de imediato.
Ele continuou me olhando, quase como se tivesse sido pego em flagrante, seus olhos se movendo de mim para o chão e de volta para mim novamente. A palidez que tomava seu rosto parecia se intensificar.
— Não sei o que você está… — Ele começou, mas logo parou, como se suas palavras estivessem saindo sem controle. Ele olhou para a toalha em seus ombros, mexendo-a nervosamente. — Eu… não sei o que você está falando, .
De alguma forma, aquilo só aumentou a minha confusão. O que estava acontecendo? não estava apenas desconcertado, ele parecia estar em pânico. Mas por quê? Eu apenas tinha mencionado Florence, alguém que, até onde eu sabia, ele tinha muita admiração, uma colega de trabalho, uma amiga.
— Você não precisa me encarar assim. Eu só achei que você estivesse... você sabe, se sentindo atraído por ela. Afinal, são tão próximos, e eu só fiz essa ligação — tentei explicar, dando-lhe uma saída, mas, no fundo, algo me dizia que havia algo mais ali.
finalmente se afastou de mim, caminhando até a janela, como se precisasse de um momento para pensar, para respirar. Eu o observei, sentindo uma estranha tensão no ar. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas, de alguma forma, ele parecia mais distante agora. Mais fechado.
Ele olhou para o lado, e quando voltou a me encarar, havia algo diferente em seus olhos. Algo mais vulnerável.
— Eu... — Ele hesitou, e o silêncio se estendeu entre nós, fazendo o ambiente parecer mais tenso do que realmente era. Eu esperava por uma resposta, mas ela não vinha, até que finalmente ele respirou fundo e falou com a voz baixa, quase como se estivesse se preparando para revelar algo importante. — Eu vou trocar de roupa e a gente pode encenar, tá bom? Só… esquece isso da Florence.
Eu apenas assenti com a cabeça, meu estômago revirando. O arrependimento tomou conta de mim por ter tocado naquele assunto. Talvez eu tivesse ultrapassado algum limite. Afinal, como eu poderia saber o que realmente estava acontecendo na cabeça de ?
Eu estava sentada na cadeira do escritório, tamborilando os dedos na mesa, visivelmente menos empolgada do que deveria com a cena. Quando apareceu na porta, devidamente vestido, mas descalço, senti um nó estranho se formar no meu estômago.
— Me desculpa, não quis invadir sua privacidade — murmurei, antes mesmo que ele tivesse a chance de dizer qualquer coisa.
Eu estava me sentindo culpada. Não imaginava que ficaria tão sem jeito com a conversa. Talvez devesse ter previsto isso, considerando que ele sempre evitava falar sobre seus relacionamentos ou questões amorosas. Mas a empolgação em trazer à vida uma cena do meu livro havia me deixado tão feliz quanto uma criança na manhã de natal.
Ele ergueu uma sobrancelha, inclinando a cabeça para o lado.
— Não tem nada pelo que você precise se desculpar, . De verdade. — Sua voz era baixa e firme, mas havia algo mais ali. Seus olhos pareciam determinados, e isso me deixou ainda mais desconcertada.
— Que tal me contar como você imaginou a cena?
Engoli seco, assentindo, e comecei a descrever a cena entre Julian e Carmim. Falei sobre como Julien segurava o pulso de Carmim, impedindo-a de sair, e como ele despejava palavras de amor e desespero, com a paixão de quem já não podia mais esconder seus sentimentos.
não disse uma palavra enquanto eu explicava. Apenas manteve os olhos fixos em mim, com uma intensidade que fez minhas mãos tremerem. Mas, em algum momento, ele pareceu... distante, como se estivesse se perdendo em pensamentos que não pertenciam ao contexto da cena.
— Tudo bem — ele disse, simplesmente, quando terminei. Sua voz era calma, mas havia um peso estranho ali. — Vamos fazer assim: você finge que está saindo do escritório, e eu entro. Pode ser?
— Perfeito. — Minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria, e comecei a me perguntar se essa ideia tinha sido um erro.
Ele saiu do cômodo e deixou a porta entreaberta. Respirei fundo, ajustei minha postura e preparei-me para a cena. No entanto, nem todas as respirações do mundo poderiam ter me preparado para o que aconteceu a seguir.
A porta se abriu com um empurrão rápido, e, antes que eu pudesse reagir, segurou meu pulso com firmeza, prensando-me contra o arco da porta. O movimento foi rápido, mas cheio de cuidado, e meu coração disparou no peito, como se ele tivesse apertado um botão invisível.
Seu corpo estava perto demais. Quente demais. Seu perfume, uma mistura de algo amadeirado e cítrico, tomou conta do ar, e o calor de suas mãos na minha pele parecia queimar.
— Carmim, você não pode continuar fugindo disso. Não é possível que só eu veja isso, que sou o único atormentado com pensamentos do que poderíamos ser. — Sua voz soou baixa, quase um sussurro desesperado. Seus olhos estavam fixos nos meus, e a intensidade que vi neles me deixou completamente imóvel. — Eu sempre estive aqui, eu sempre te vi.
Respirei fundo, tentando lembrar que isso era apenas uma cena, mas então ele continuou, e algo em sua voz e expressão começou a me desconcertar.
— Você acha que eu não percebo como você franze a testa quando está concentrada? — começou ele, o tom carregado de emoção. — Ou como você morde o canto do lábio quando está tentando esconder que está nervosa?
Meu coração disparou, mas me forcei a lembrar que ele estava apenas improvisando. Era isso. Ele era um ator incrível.
— E aquele jeito desajeitado que você dança quando está feliz? — continuou ele, a voz ficando mais firme. — Como você nunca consegue decidir se prefere chá ou café, porque gosta de ambos na mesma medida. E o som da sua risada... Deus, , eu poderia viver só para ouvi-lo todos os dias.
O erro com meu nome não me passou despercebido, mas minha mente girava. Isso estava muito específico. Muito... real.
— Eu amo como você defende o que acredita, mesmo quando está com medo. — Ele soltou meu pulso e trouxe a mão até meu rosto, os dedos deslizando delicadamente pela minha pele. Meu coração estava batendo tão rápido que eu tinha certeza de que ele era capaz de ouvir. — E como você sempre sabe o que dizer para me acalmar, mesmo quando nem eu sei o que estou sentindo.
Eu tentei respirar, mas cada palavra dele me puxava mais para uma espiral de dúvidas e... algo que parecia muito mais profundo.
— Eu amo o jeito que você fala sobre seus personagens como se fossem reais. Como se cada um fosse parte de você. — Ele sorriu, mas seus olhos brilhavam com uma vulnerabilidade que fez meu peito apertar. — E como você me olha quando acha que eu não estou vendo.
Minha garganta estava seca. Aquilo não parecia mais ser sobre os protagonistas do meu livro, não. Parecia que estava abrindo seu coração para mim. Por mim.
— Julien não sabe disso tudo sobre Carmim — murmurei, minha voz fraca, como se eu estivesse tentando me segurar em algo.
Ele deu uma risada curta, suave, mas havia algo dolorido ali. Seus olhos não desviaram dos meus, e sua mão permaneceu firme, gentil, contra meu rosto.
— Eu sei que ele não sabe.
Meu estômago revirou. A maneira como ele me olhava... aquilo não parecia atuação.
— Porque isso não é sobre a Carmim.
Antes que eu pudesse processar o significado das palavras, inclinou a cabeça e seus lábios encontraram os meus.
O mundo ao nosso redor desapareceu. Não havia mais escritório, mais cena ou livro. Apenas o calor dos lábios dele contra os meus, suaves e hesitantes no início, como se ele estivesse esperando que eu o afastasse.
Mas eu não fiz isso, eu me entreguei ao beijo. A e ao que quer que aquilo significasse.
Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse decidir, e meus dedos se fecharam na frente de sua camisa, puxando-o para mais perto. O beijo se aprofundou, lento e cheio de emoção, como se ele estivesse tentando me dizer tudo o que não conseguia colocar em palavras, mesmo que suas palavras quase me tivessem feito chorar.
Quando ele finalmente se afastou, apenas o suficiente para encarar meus olhos, sua respiração estava entrecortada, e a minha seguia o mesmo ritmo.
— Eu fiquei em choque quando você falou no quarto que sabia sobre os meus sentimentos. Achei que sempre tinha mantido-os bem escondidos — ele soprou contra os meus lábios, a testa ainda colada na minha. Sua respiração quente era uma mistura de nervosismo e alívio, e seus olhos pareciam mergulhar nos meus, como se buscassem alguma confirmação de que aquilo era real. — E aí você falou da Florence...
Senti meu rosto esquentar. Um misto de vergonha e confusão tomou conta de mim, e meu olhar se desviou por um segundo, mas ele não deixou que eu escapasse.
— Fez sentido na minha cabeça — resmunguei, tentando soar casual, mas a voz saiu fraca, quase inaudível.
deu uma risada curta, incrédula, mas não se afastou nem por um segundo. Seus dedos deslizaram até minha nuca, um toque suave que fez meu coração disparar ainda mais.
— Na minha não fez — ele respondeu, a voz carregada de emoção. — Como eu poderia estar apaixonado por qualquer pessoa que não fosse você?
Engoli em seco, mas antes que pudesse pensar em algo para responder, ele continuou, a intensidade em sua voz crescendo.
— , eu tenho esperado por esse momento desde... sei lá, desde a primeira vez que você apareceu na minha vida com aquele sorriso e aquele brilho
nos olhos que fazia tudo ao meu redor desaparecer. Desde a primeira vez que você chegou no camarim e começou a falar sobre seus livros, como se o mundo inteiro fosse feito de palavras que só você conseguia ver.
Sua voz falhou ligeiramente, mas ele não desviou os olhos dos meus. Era como se estivesse despejando anos de sentimentos reprimidos ali, entre nós, e eu me sentia incapaz de desviar o olhar.
— , você é a única pessoa que sabe quem eu realmente sou. Não o ator, não a imagem que o mundo construiu de mim, mas eu. O que é um desastre na cozinha, que sente falta da vida em Nova Iorque e que, por algum motivo, sabe todas as músicas de The Neighborhood só porque você é fã e eu adoro conversar por horas sobre isso com você, só para definirmos qual música se encaixa em cada situação que vivemos.
Ele fez uma pausa, seus dedos deslizando gentilmente pela minha nuca, como se temesse que eu fosse desaparecer, como se suas palavras pudessem me assustar.
E eu acreditava que deveriam.
Meu melhor amigo estava se declarando para mim, e isso significava que nossa relação nunca mais seria a mesma. O medo do desconhecido deveria me paralisar, deveria me fazer recuar, mas não me assustava. Na verdade, não havia nenhum outro lugar onde eu me sentisse tão em casa quanto nos braços dele.
— Você me conhece mais do que qualquer pessoa já conheceu. E, mesmo assim, você continua aqui, me vendo, me aceitando...
Meu coração apertou no peito, e eu senti meus olhos arderem com lágrimas que eu não sabia que estavam lá.
— , eu não sei mais como esconder isso. Eu não quero mais esconder isso. — Sua voz ficou ainda mais baixa, quase um sussurro. — Eu te amo.
Ele não esperou pela minha resposta. Antes que eu pudesse sequer processar suas palavras, seus lábios estavam nos meus de novo, quentes e firmes, como se ele estivesse tentando me mostrar tudo o que sentia, tudo o que não podia colocar em palavras.
Dessa vez, não havia hesitação. Suas mãos desceram até minha cintura, onde apertaram fortemente, enquanto seu corpo se aproximava ainda mais do meu. Eu deveria me afastar. Dizer algo. Qualquer coisa. Mas, ao invés disso, meus braços se ergueram quase por instinto, se embrenhando em seus cabelos enquanto me rendia completamente ao beijo.
Quando ele finalmente se afastou, apenas o suficiente para que seus olhos encontrassem os meus, ele sorriu, um sorriso pequeno e hesitante, mas cheio de esperança.
— Você não faz ideia de como é bom finalmente dizer isso.
Ainda estava perdida nas emoções que ele havia desencadeado, mas, naquele momento, soube que algo entre nós tinha mudado para sempre. E eu gostava disso.
O calor que emanava de parecia envolver cada parte de mim, e a necessidade de mais começava a dominar meu corpo, como uma chama incansável. O espaço entre nós desapareceu, e agora eu podia sentir sua respiração quente no meu pescoço, a mão dele deslizando pela minha pele com uma suavidade que contrastava com a intensidade do que estava acontecendo, seu corpo prensando no meu.
Ele me olhou nos olhos, seu olhar prometendo tudo o que seus lábios não confessavam. A cada toque, a cada beijo, eu me entregava mais e mais a ele, à necessidade crescente que parecia nos consumir por dentro.
— ... — ele sussurrou de novo, agora com a voz rouca, baixa, como se estivesse tentando controlar o que estava prestes a acontecer. Mas eu sabia que não havia mais controle. — Precisamos parar. Passei anos te desejando em silêncio. Agora que eu te tenho, vou cruzar ainda mais linhas se continuar te beijando.
— Podemos criar novas depois — falei, não me importando com as consequências.
Em um impulso, minhas mãos foram até seu peito, empurrando a camisa dele para cima, querendo sentir cada pedaço dele mais de perto, como se o simples toque fosse o suficiente para me perder ali, entre os seus braços.
Os lábios de encontraram os meus de novo, dessa vez com mais urgência. Não havia mais hesitação, apenas o desejo cravado em cada movimento. Eu sabia que ele estava tão perdido quanto eu, cada beijo mais profundo, mais desesperado, como se estivéssemos tentando apagar toda a distância que ainda existia entre nós, uma distância que não fazia mais sentido.
Minhas mãos subiram por suas costas, sentindo os músculos tensos debaixo da pele quente, e ele se inclinou para me beijar com mais força, sem mais palavras, apenas ações. Quando ele me puxou para mais perto, todo meu fôlego escapou ao sentir sua ereção roçando em minha barriga, aumentando meu tesão ao notar o quão duro ele estava.
As mãos de foram para minha cintura, e com um movimento rápido e preciso, ele cortou a distância até a escrivaninha, me colocando contra a mesa, sem tirar os olhos de mim, ainda buscando uma confirmação silenciosa de que eu também queria isso.
E eu queria. Eu queria mais.
Queria tudo o que ele estivesse disposto a me dar.
Eu sabia que aquele momento era definitivo. A maneira como seus olhos estavam fixos nos meus, buscando algo mais do que consentimento — talvez uma confirmação de que ele não estava sozinho nessa — fez meu peito apertar.
Ele desceu os lábios até o meu pescoço, e um estremecimento percorreu minha pele. A sensação de sua boca em mim, o calor de seu corpo contra o meu, estavam me levando a loucura.
Eu nunca tinha imaginado transar com o meu melhor amigo, mas naquele momento, eu ansiava que tirasse minhas roupas e me fizesse dele. Bem ali, naquela mesa em que eu escrevia uma história que poderia ser a nossa.
O desejo ardia em meu corpo de uma forma que eu nunca havia experimentado antes. Cada toque, cada suspiro, parecia me levar a um lugar onde as palavras já não tinham mais importância. Eu estava completamente entregue ao momento, perdida na intensidade do que estávamos criando juntos. Era como se cada gesto dele tivesse o poder de revelar algo dentro de mim que eu nem sabia que existia. E, ainda assim, sabia que estava profundamente conectado ao que sentíamos.
Eu estava tão confortável com o que se desenrolava ao nosso redor que era como se finalmente estivesse descobrindo um sentimento guardado que sempre esteve ali, esperando para se revelar. Algo tão visceral, tão real, que não podia mais ser ignorado.
Enquanto os dedos dele deslizavam pela minha pele, a pressão de suas mãos, seu toque urgente, era uma confirmação de que ele também se sentia assim. O desejo que havia entre nós parecia ter vida própria, crescendo e se tornando mais forte a cada segundo. Eu sabia que não havia mais como voltar atrás.
E eu não queria.
O puxei para mais perto, para cima, e ele me seguiu, seus lábios encontrando os meus com uma urgência que apenas intensificava o calor que já nos consumia. O som de nossas respirações ofegantes se misturava, como se estivéssemos em um ritmo único, um compasso que nos guiava por aquele momento em que não havia espaço para dúvidas ou arrependimentos.
rompeu o beijo, nos afastando o suficiente para que se livrasse da minha blusa. Seus olhos brilharam ao contemplar meus seios desnudos, arrepiados de antecipação, com os bicos rijos, apontando em sua direção e implorando por atenção. Ele respirou fundo, quase como se estivesse se recompondo, mas não conseguia desviar o olhar.
— Caralho, ... só… caralho.
Sua voz estava carregada de desejo, quase reverente, como se estivesse maravilhado com o que via, mas também completamente sem controle. O modo como ele me olhava fazia meu corpo se aquecer ainda mais, a expectativa crescente a cada segundo.
se aproximou lentamente, seus dedos traçando um caminho delicado sobre minha pele. Seus gestos eram cautelosos no começo, como se estivesse testando minha reação, mas logo se tornaram mais firmes, mais urgentes, enquanto a respiração dele se tornava mais pesada.
Um gemido sôfrego escapou de seus lábios, enviando uma reação diretamente para minha boceta, fazendo-me contorcer enquanto desejava que ele descesse mais suas mãos. Seus lábios desceram até meu seio, sugando e mordiscando a pele sensível, e meus olhos rolaram de prazer. Como se escutasse meus pensamentos, sua mão livre desceu até o meio das minhas pernas, pressionando meu clitóris e arrancando um palavrão de mim.
Tombei a cabeça para trás e deixei que meu gemido soasse pelo cômodo, em uma tentativa de fazê-lo reconhecer todo o prazer que ele estava me proporcionando. Seus dedos começaram a estimular meu ponto inchado e sensível, arrancando todos os meus suspiros e gemidos. Meu corpo estava a um ponto de se desfazer, ansiando por mais, ansiando sentir seus dedos ou seu pau na minha boceta, quando finalmente supliquei:
— , por favor.
Seus olhos se fixaram no meu rosto, com um olhar que mesclava carinho e desejo de uma maneira tão intensa que ninguém jamais tinha me encarado daquela forma.
— O que foi, ? — Seus dedos abandonaram meu peito e, com uma suavidade quase hipnotizante, subiram até meus lábios, traçando o contorno. — A demora está te incomodando?
Concordei com um leve aceno de cabeça.
— Eu sou paciente, aprendi isso ao longo dos anos em que te amei em silêncio. Agora que finalmente te tenho e posso fazer o que quero, não tenho pressa. Vou aproveitar cada segundo. — Sua voz e seu olhar carregavam o mesmo peso, a promessa de que pretendia me devorar.
Seus dentes capturaram meu lábio inferior com delicadeza, fazendo-me soltar um gemido involuntário.
— Mas posso abrir uma exceção para você. Não há nada que você me peça que eu não faça. Ele se aproximou ainda mais, seus lábios agora roçando os meus, e sussurrou com uma voz carregada de desejo:
— Me diz, ... o que você quer que eu faça agora?
— Me fode — supliquei.
Seus olhos queimaram de desejo e, em um movimento rápido, me levantou da escrivaninha, mantendo-me no chão apenas por tempo suficiente para se livrar do resto das minhas roupas. Não demorou para voltar a me acomodar no tampo de orvalho, abrindo minhas pernas com um gesto firme, antes de se colocar entre elas e se ajoelhar.
A visão do meu melhor amigo, com a cara no meio das minhas pernas, me encarando como se eu fosse a sobremesa mais deliciosa, não era algo que eu esperava vivenciar.
Mas, porra, ter ali era como estar diante de um sonho esquecido que enfim se realizava. Até que sua língua tocou minha boceta, e, naquele instante, experimentei algo que beirava a insanidade.
Arqueei minhas costas para trás, embrenhando minhas mãos nos cabelos escuros de , buscando aumentar a pressão em meu sexo quando ele começou a lamber e chupar meu clitóris. A sensação era maravilhosa, era absurdamente bom no que estava fazendo, mas eu precisava de mais.
Puxei seus fios encaracolados, forçando-o a se afastar e me encarar. Seus olhos subiram de encontro aos meus, me encarando como se eu fosse uma maldita divindade a qual ele possuía o maior prazer em servir.
— Você falou que faria o que eu quisesse — murmurei, manhosa.
A risada fraca que escapou de seus lábios bateu diretamente na minha boceta molhada, arrepiando todos os pelos do meu corpo e me fazendo ansiar para sentir dentro de mim o mais rápido possível.
— E eu farei — respondeu. — Só descobri que gosto muito de ter você implorando para que eu te foda.
Um sorriso malicioso enfeitou seus lábios que brilhavam graças a minha lubrificação. E, sem sombra de dúvidas, aquele se tornou o meu sorriso favorito de .
Sem esperar por uma resposta, ele enfiou a cabeça outra vez no meio das minhas pernas, lambendo toda minha boceta e me arrancando um suspiro dengoso. Sua língua focou em meu clitóris e seus dois dedos me penetraram, fazendo movimentos rápidos de vai-e-vem e aumentando ainda mais o tesão que ele me proporcionava. Arqueei as costas outra vez, rebolando contra seus dedos e sua língua, ansiando que me penetrasse ainda mais fundo.
Meus gemidos escapavam sem qualquer restrição, minhas mãos passavam por seus cabelos — ora alisando, ora puxando — e por seus ombros, arranhando-os sempre que ele alcançava o ponto que quase me fazia gritar.
A cada segundo que passava, eu me esforçava mais para manter meus olhos abertos, focados nos olhos de , que estavam presos aos meus enquanto me proporcionava o maior prazer que eu já tinha sentido.
Seus dedos aumentaram o ritmo, me fazendo morder os lábios e fincar as unhas nas costas de , ao notar que eu estava muito perto de ter um orgasmo. Minhas coxas tremeram e meu quadril, involuntariamente, balançou para frente. As reações do meu corpo não passaram despercebidas pelo meu amigo, que sorriu ainda com os lábios em minha boceta e se empenhou ainda mais em me fazer gozar.
Perdi a noção de tempo com seus dedos e sua língua em mim, poderiam ter se passado minutos ou horas e eu não saberia dizer. Meu abdômen tensionou e minha boceta pulsou nos dedos de quando eu finalmente gozei, gemendo e tombando minha cabeça para trás.
Senti sua língua passar por toda a minha intimidade uma última vez, disposto a lamber todo o prazer que ele tinha me proporcionado, e murmurei manhosa, ainda sensível pelo meu orgamos.
Seus braços me enlaçaram, apoiando meu corpo fraco e trazendo-o mais para a beirada da escrivaninha, ao mesmo tempo que ficava em pé entre minhas pernas, seu pau roçando em minha boceta.
— Cruze as pernas na minha cintura, meu bem.
A ordem foi dada em tom carinhoso, mas a investida forte arrancou todo o meu fôlego. não esperou por minha resposta ou sequer por uma ação, enfiando todo o seu comprimento de uma só vez.
A sensação foi tão boa que parecia ultrapassar os limites do aceitável.
E melhorou ainda mais quando ele começou a se movimentar, me fodendo exatamente do jeito que eu precisava. Enlacei minhas ao redor da sua cintura, permitindo-o ir mais fundo. Meus gemidos voltaram a soar, criando uma sinfonia em conjunto com o som produzido pelo impacto dos nossos corpos e os grunhidos de . Minhas unhas deslizavam pelos seus ombros e costas, arranhando-as sem dó nem piedade, do mesmo jeito que ele me fodia. Seus lábios desceram pelo meu pescoço, distribuindo beijos, mordidas e chupões que, sem dúvida, deixariam marcas mais tarde. Mas eu não me importava. Como poderia me importar, quando estava ali, me dando exatamente o que eu precisava?
Parecia um universo distópico estar ali, beijando meu melhor amigo, em uma viagem que, à primeira vista, parecia não ser diferente de tantas outras que já havíamos feito no passado. Mas a maior diferença, sem sombra de dúvida, era que, naquele momento, eu era dele de uma forma que nunca fui antes.
O pensamento aumentou o tesão que eu sentia, me fazendo contorcer e rebolar ao redor do pau de . Um gemido baixo escapou de seus lábios e seus olhos focaram no meu rosto.
Sua mão direita abandonou o aperto em meu corpo, seguindo até meu clitóris inchado e sensível, começando a masturbá-lo em movimentos circulares enquanto seu pau me fodia.
— Goza pra mim, … Goza comigo. — Sua voz soou rouca e suplicante.
aumentou ainda mais a velocidade das investidas, me deixando à beira do precipício. O som de nossos corpos se chocando ficou ainda mais alto e minhas pernas começaram a perder a firmeza ao redor de sua cintura. Finquei as unhas no ombro de Ben enquanto colava meu rosto em seu peito, sem me importar com o suor.
Minha boceta contraiu uma última vez antes que um orgamo, mais forte que o anterior, me deixasse fraca. mordeu meu ombro, gozando logo em seguida e colando ainda mais meu corpo contra o seu.
Permanecemos em silêncio por alguns longos minutos, nossas respirações ofegantes e entrecortadas sendo os únicos sons que preenchiam o cômodo agora quieto e carregado de uma tensão quase palpável. Eu sentia o calor do seu corpo ainda próximo ao meu, como se o simples ato de nos afastarmos fosse quebrar algo delicado e precioso entre nós.
— E agora? — perguntei, minha voz saindo tão baixa, quase inaudível, que não passou de um sussurro. Eu estava com medo de que tudo aquilo fosse um sonho estranho, mas delicioso, como se a mínima mudança na dinâmica pudesse fazer desaparecer, como uma ilusão que se desvanecia ao primeiro toque.
Ele me olhou com aqueles olhos tão profundos, como se lesse minha mente, e sorriu de forma suave, quase segura de si.
— Agora? Se tudo correr como eu espero, você aceita ser minha namorada.
Arregalei os olhos levemente, um misto de choque e uma felicidade inexplicável tomando conta de mim. As palavras dele pareciam surreais, como se minha mente ainda estivesse tentando processar a magnitude do que ele acabara de dizer. Mas, no fundo, eu sabia, eu sentia: eu queria isso. Queria mais do que qualquer outra coisa.
Eu sabia que, se fosse me entregar de verdade a alguém, não haveria pessoa melhor do que ele, meu melhor amigo. Ele me conhecia por completo, sabia das minhas inseguranças e dos meus sonhos mais secretos. E, de alguma forma, naquele momento, ele fez com que o amor deixasse de ser só uma palavra, tornando-se algo real, construído aos poucos, com risos, olhares e toques que, embora nunca tivessem acontecido antes, pareciam completamente naturais.
Com isso em mente, não havia dúvidas de que eu aceitaria ser sua namorada.