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Independente do Cosmos🪐

Última Atualização: 07/09/2024

— Não é segredo que todos ficaram surpresos com a sua participação neste evento! — A entrevistadora abriu um sorriso.
Minha equipe de relações públicas já imaginava que teria alguma pergunta daquele teor, então preparamos uma resposta ensaiada.
— Me pareceu uma boa presentear meus fãs com a minha presença. — Abri meu melhor sorriso.
Eu amava meus fãs, mas odiava algumas coisas que precisava fazer para deixá-los felizes.
— E por que este evento para retornar aos palcos, ?
Eu só queria terminar a entrevista, mas eu não tinha escolha; eles estavam desesperados para saber por que finalmente eu tinha saído do buraco que havia me enfiado há trezentos e sessenta e cinco dias atrás.
— Uma premiação é sempre uma boa aparição, perfeito para me reencontrar com pessoas do meu mundo. — Minha resposta saiu fútil, como eu sabia que ela queria ouvir, seu sorriso a entregava.
— Nós adoraríamos saber sobre como foi este período de pausa e o que de fato te levou a causa dela... — Seus olhos eram de curiosidade e os meus, bom, de desespero.
Sua sugestão deixava claro que a história contada pela minha equipe de imagem não os tinha convencido.
Respirei fundo conforme passava a palma das minhas mãos, já suadas, sob a calça.
Parte do motivo para o meu hiatos ser um segredo me deixava inquieto, por isso procurei formas para desconversar, mas o nervosismo me paralisou. De repente, eu tinha esquecido qualquer desculpa ensaiada, ou resposta padrão.
— Eu… — minha fala foi cortada por mãos incrivelmente pequenas em minhas pernas e um peso se chocou contra elas.
Olhei para baixo sem entender muito bem o que acontecia e encontrei um par de olhos como a noite me encarar.
Não contive o sorriso ao vê-la me olhar com tanta ternura, como se nada mais importasse. A garotinha que parecia ter no máximo uns cinco anos ergueu as mãozinhas, e fez um sinal para eu me abaixar e ficar na sua altura.
, me desculpe. — A entrevistadora se adiantou, em uma tentativa falha de fazer a garotinha me soltar. — Alguém sabe onde estão os pais dessa criança?
Ri exasperado e me abaixei. Eu não me importava com a entrevista e, depois disso, menos ainda. Aquele ser humano tão pequeno na minha frente não tinha ideia de como me salvou em questão de instantes.
Tudo que eu menos queria era falar da razão para a pausa na minha carreira.
— Me desculpa, tio , eu não queria atrapalhar — a garotinha tinha uma voz baixinha e acanhada, bem diferente do que eu esperava.
Não contive a risada quando ela me chamou de tio, foi no mínimo engraçado. Eu não tinha sobrinhos e me sentia muito jovem para ter.
— Alguém pode procurar os pais dessa criança? — A mulher que me entrevistava antes de ser interrompida tinha um tom impaciente.
Eu entendia a grandeza da oportunidade para sua carreira, mas sua atitude me irritou.
— Tudo bem, nós já terminamos a entrevista. — Dispensei a mulher e meus seguranças logo nos cercaram. — Qual seu nome, menininha? — Voltei minha atenção para a criança na minha frente.
— Jamie! — Ela abriu um sorrisinho lindo.
— Certo, Jamie, onde estão seus pais? — Me certifiquei de me manter a uma certa distância.
— Eu acho que me perdi, tio. — Jamie olhou confusa para os lados e eu conseguia ver um certo receio em seus olhos.
— Certo. — Eu não conseguia acreditar na ideia que cruzou meu pensamento. — Eu posso te ajudar a encontrar seus pais, será que posso te carregar no colo? Tem muita gente e esse lugar é enorme…
Jamie levou uma mão até o queixo, como se pensasse na minha proposta e se afastou um pouco.
— Tudo que posso oferecer é segurar minha mão, papai disse que eu não deveria ir no colo de estranhos!
Achei engraçado ela me intitular como estranho, afinal, me chamou de tio mais de uma vez, mas fazia total sentido. Me conhecer pela minha fama, não significava que eu era de confiança.
Jamie tinha total razão e eu não levava jeito algum para ser tio.
O lugar do evento era gigantesco e a ideia de andar com ela no colo teria facilitado muito, então apenas segurei suas pequenas mãozinhas e passei a caminhar em busca de pessoas com traços parecidos com os de Jamie.
Também torcia para ela identificar seus pais.
Conforme andávamos, eu conseguia sentir os olhares sobre nós. Era nítido a expressão confusa de todos ao me ver segurando as mãos da garotinha. Todos sabiam que eu não tinha filhos e nem nunca havia tocado no assunto em qualquer entrevista já feita.
Nem me importei.
Continuei andando, mas parecíamos não ter sorte; aquele lugar estava lotado.
— Jamie! — Uma voz feminina e imponente gritou atrás de nós e eu senti um frio na espinha.
Antes mesmo de conseguir me virar, Jamie soltou minha mão e correu.
— Jamie, eu disse para ficar por perto, meu anjinho… — A voz mudou bruscamente para um tom doce e derretido.
Abri um sorriso. Afinal, como não? A garotinha era uma fofura.
Quando me virei fui fitado por olhos tão quanto os de Jamie, mas muito maiores, e que logo voltaram sua atenção para a criança.
— O tio estava cuidando de mim — Jamie avisou, em uma tentativa clara de acalmar o que parecia ser sua mãe.
— Tio… — A mulher rio exasperada. — Meu anjinho, já conversamos sobre chamar outras pessoas dessa forma, lembra? Elas podem não…
— Não me importo! — Fiz questão de deixar claro, sem conseguir desviar meu olhar da mulher deslumbrante.
Eu estava hipnotizado, como se tudo à minha volta tivesse congelado.
Então é assim que as pessoas se sentiam quando encontravam com o que parecia ser sua outra metade?
Puxei o ar em uma tentativa de controlar o que acontecia internamente.
A mulher deixou escapar uma risada nasalada, mas de repente foi como se a minha presença já não tivesse mais importância. Ela soltou apenas um “Obrigada” e se virou junto da menininha.
Eu não tinha dúvidas de que fiquei parado por algum tempo, a memorizar cada um de seus traços. Os cabelos , os lábios vermelhos e grossos...
Puta merda!
Meu coração parecia que iria saltar pela boca com as batidas fortes contra o meu peito.
!!! — O grito de uma voz que eu conhecia bem me tirou daquele transe maluco.
O que foi aquilo?
Porra, tá dormindo, ?
— Quem é essa mulher? Você sabe? — Continuei a encarar a multidão, como se ela ainda estivesse ali.
— Que mulher? Do que você está falando? — Conrad, meu grande amigo e produtor musical me encarou com cara de interrogação. — Não tem mulher nenhuma aqui...
— A com a criança, idiota! — Apontei para frente, mas ela já tinha sumido na multidão.
Conrad soltou sua clássica risada debochada e fechei a cara.
— Cara, esquece isso. Temos um after party e vai estar lotado de mulher! Bora? — Ele nem fez questão de disfarçar a cara de quem não prestava.
Mesmo a contragosto o segui, vez ou outra virando a cabeça para encontrá-la.
Não tive sorte alguma, mas não importava.
Eu faria qualquer coisa para ver aquela mulher de novo.



.


Eu odiava reuniões com todas as minhas forças.
Toda aquela encheção de saco de sempre, regras e coisas que eu já sabia exatamente como deveria funcionar me deixavam com dor de cabeça.
Quem me dera fossem apenas shows e fazer a minha música…
Continuei assentindo como se me importasse com aquele novo “trabalho” que meu empresário havia me enfiado e me escorei mais contra a cadeira, mas seu olhar de reprovação foi imediato, então logo me preparei para o sermão.
Eu andava recebendo muitos, estava começando a me acostumar.
, você deveria ser o maior interessado nessa oportunidade — Oliver cuspiu áspero.
Respirei fundo para não ser grosseiro.
— Essa é a questão, eu não estou interessado. Falei isso mil vezes, Oliver — reforcei sem humor algum.
A frustração em seu rosto era evidente. Eu conseguia lidar numa boa com seus sermões, mas eu detestava a maneira dele em me tratar como criança, como se eu não fosse capaz de tomar minhas próprias decisões sobre os passos na minha carreira.
— meu empresário abriu um sorrisinho forçado, que eu não fiz questão alguma de retribuir. — Isso vai ser bom para o seu futuro, para o seu retorno. Você ficou um ano par....
— De novo isso? — o cortei; não iria ouvir mais nenhum comentário sobre minha pausa na carreira.
Agora todos na sala nos encaravam, esperando pelo que aconteceria a seguir e eu me sentia uma merda por causa daquele climão. Todos ali eram pessoas que eu gostava muito, faziam um trabalho excelente, mas eu odiava que qualquer um se metesse na minha vida pessoal como Oliver vinha fazendo desde aquele maldito dia.
— Eu sinto muito, , mas largar sua carreira não vai fazê-lo voltar.... — Seu olhar era de superioridade, como se eu não tivesse capacidade de entender.
Eu entendia, só era difícil de aceitar.
Oliver teve sorte que estávamos longe o suficiente para um dos nossos seguranças se colocar na minha frente. Aquele filho da puta não tinha o direito, não depois de tudo que eu passei no último ano e ter aceitado voltar sem nem ao menos questioná-lo.
Meu sangue ferveu e tudo que eu via na minha frente era a vontade de socar a cara dele.
— Tira ele daqui, Conrad! — Sabrina, minha RP, levantou-se da cadeira com sangue nos olhos.
Ela não tinha paciência alguma para Oliver na maior parte do tempo, e eu não poderia culpá-la. O cara sabia ser um pé no saco.
— Se acalma, — Conrad, que além de ser um grande amigo, era meu produtor musical, chamou minha atenção. — Anda logo, vamos tomar um ar.
Me dei por vencido porque não ia dar em nada e caminhei para sair da sala, mas não sem antes cuspir minhas últimas palavras.
— Você está demitido, Oliver!
Que merda estava acontecendo? Era como se eu não fosse mais capaz de me reconhecer.
— Mas que porra, ! — Conrad esbravejou. — Cadê aquele cabeça que eu conheço? — O cigarro que foi parar em seus lábios ao chegarmos no topo do prédio deixava ainda mais evidente sua irritarão.
Ele estava puto com razão.
Eu havia sido um babaca na frente de todo mundo.
— Ele não tinha o direito de jogar isso na minha cara... — Bufei frustrado.
— Eu sei, o Oliver é um filho da mãe sem noção, — Conrad fez uma careta de desgosto. — Mas ele é bom no que faz e demiti-lo está fora de cogitação.
Encarei a paisagem de prédios a nossa frente e respirei fundo por saber que ele estava certo em cada palavra.
Caramba, eu poderia estar aproveitando o raro dia de sol em Seattle, ainda mais no meio de fevereiro.
— Eu só queria produzir meu álbum... — admiti, sentindo todo peso das minhas palavras.
Eu precisava colocar tudo que me assombrava para fora e eu sabia que só conseguiria fazer isso através da minha música.
— Para isso você precisa colaborar, sabe? — Conrad riu e deu uma tragada forte na coisa nojenta.
— Isso ainda vai te matar — avisei em tom de reprovação, mas tudo que ele fez foi dar de ombros.
Respirei fundo ao pensar em suas palavras e então me senti mais relaxado, a briga já nem tinha mais importância.
— Vamos, ainda temos alguns detalhes para acertar. — Conrad jogou a bituca do cigarro no chão e o apertou com a ponta do sapato.
Nem questionei e só o acompanhei de volta para dentro do prédio.
Tio, hoje eu vou querer sorvete de morango. — A voz de uma garotinha chamou minha atenção, e fui levado a um momento específico, um mês atrás.
Nem tinha me dado conta de quanto tempo fazia até ouvir a vozinha fofa da menininha.
— Você conseguiu encontrá-la? — Conrad me olhou com cara de interrogação quando eu bati a porta do escritório com força, o impedindo de entrar.
Ri da cara dele.
— Qual a graça?
— A mulher do evento, conseguiu encontrá-la? — Eu precisava ser específico, ele conseguia ser bem lerdo às vezes.
— Você está de sacanagem com a minha cara? — Meu produtor deu uma bela revirada de olhos. — Eu não tenho nem uma foto da mulher, !
— Eu te dei uma...
— Você me deu um desenho! Como espera que eu encontre alguém através de um desenho? Tenho cara de detetive para você? — Dei de ombros.
Em partes ele tinha razão, mas eu não conseguia tirar a mulher da minha cabeça, até meus sonhos ela já tinha invadido.
— Agora anda logo e vê se esquece essa maluquice, que muito provavelmente você imaginou isso tudo! — Conrad avisou ao abrir a porta e desaparecer para dentro da sala.
Não, eu não podia ter imaginado, poderia?

Nem precisei descer todo o lance de escadas para sentir o cheiro de café e pão fresco, além do bacon e ovos mexidos.
Meus preferidos.
Minha mãe sabia exatamente como me agradar e eu sei que ela estava fazendo isso constantemente no último ano. Eu amava seu gesto, mas também estava se tornando cada vez mais difícil voltar para casa.
Eu precisava tomar uma atitude, mas não queria deixá-la sozinha.
A encontrei terminando de colocar as coisas sob a mesa e fui recebido com o maior sorriso do mundo ao notar minha presença.
A abracei e dei um beijo no topo de sua cabeça, como sempre fazia.
— Bom dia, mãe. — A apertei um pouco mais, como de costume. — Eu estava pensando…
— Que está na hora de voltar para sua casa? — Suas palavras me pegaram de surpresa, mas ela tinha um sorriso brincalhão no rosto. — Você sabe que pode ficar o quanto quiser, meu filho.
Fiquei sem palavras por um momento, eu não queria deixá-la, mas precisava começar a retomar minha vida normal se quisesse seguir em frente.
— Não quero te deixar — expliquei e me sentei na cadeira bem de frente a ela.
— Não seja bobo, . — Sua risada invadiu a sala de jantar e me deixou um pouco mais relaxado. — Além do mais, estou pensando em tirar umas férias!
— A senhora sempre me surpreende, dona Katherine — ri, me sentindo muito mais aliviado. — Vai ficar muito brava se eu disser que não terei tempo de tomar café?
Eu nem tinha me dado conta do horário, até meu celular apitar com uma mensagem de Conrad.
— Eu imaginei, por isso já empacotei tudo para você levar!
— Não precisava. — Dei um sorriso cúmplice. — Obrigado, mãe!
Dessa vez dei um beijo em seu rosto, enfiei meu celular no bolso e peguei o saco de papel que ela estendeu para mim, já indo em direção a saída.
— Ele estaria muito orgulhoso de você, ! — minha mãe gritou, e eu travei ao segurar na maçaneta.
Eu não queria causar um mal-estar entre nós, então apenas assenti com um sorriso ao dar uma última olhada para ela antes de abrir a porta e sair.

— Espero não estar muito atrasado. — Entrei no carro e encontrei Conrad digitando algo em seu computador.
Essa era uma das inúmeras vantagens de se ter um motorista: trabalhar quando se está indo para o trabalho.
— Um pouco, mas você acredita que a revista é bem do lado da casa da sua mãe? — Seu tom era de animação.
— Você está de muito bom humor para as oito e meia da manhã — ri, já sabendo exatamente qual era o motivo.
— Tive a melhor foda da minha vida ontem de noite, ! — Sua cara de desejo me fez querer vomitar.
Era cedo demais para ouvir sobre suas aventuras sexuais.
— Eu passo qualquer detalhe. — Fiz uma cara nojo.
Surpreendentemente ele ficou em silêncio e eu não fiz questão alguma de perguntar mais nenhum detalhe. Um certo nervosismo estava começando a crescer no meu peito e eu nem sabia o porquê. Era só mais um trabalho como tantos outros.
Exceto pela minha iminente falta de interesse, é claro.
— Você leu algo sobre a revista como te pedi? — Conrad voltou a falar, mas ainda concentrado no que fazia.
— Um pouco — fui sincero. — Por que a ? O cara é um escroto!
Eu sabia muito pouco sobre ele, mas todos no mundo da fama tinham perfeita noção que Paul era um lixo de pessoa.
Contudo eu não tinha vontade alguma de ter qualquer contato com aquele cara.
— Um escroto que pode render milhões para sua imagem, — Conrad constatou, mas logo revirou os olhos ao ver minha cara de poucos amigos.
Nada me convenceria a tolerar aquele homem, nada.
— Chegamos, senhores! — Mark, nosso motorista, avisou ao parar o carro de frente para um prédio gigantesco.
Saltei para fora antes do meu amigo dizer qualquer outra coisa, mas fui parado por ele ao entrar na minha frente, me impedindo de atravessar a entrada do local.
— A única informação que tenho é de que não é ele quem comandará esse projeto, então você não tem com o que se preocupar. — Conrad colocou a mão contra o meu peito, ao ficou claro que ainda não tinha terminado. — Quem sabe você não dá sorte com algumas mulheres inteligentes na equipe?
— Inteligentes? — indaguei rindo. — Você não presta, nem sei porque ainda sou seu amigo!
— Você não vive sem mim, !
Soltei uma gargalhada com a cara de pau dele e nem argumentei, então entrei naquele prédio de uma vez por todas.
Por dentro o lugar era ainda mais elegante, todo em móveis brancos e pretos. Vidros e espelhos para todo lado e de cara tinha uma recepção com um balcão alto e de madeira caríssima.
Eu não entendia porcaria nenhuma sobre mobília, mas qualquer idiota poderia notar que aqueles não eram pouca coisa.
Segui meu produtor musical até a bancada e não consegui conter a estranheza com a cordialidade dele diante da recepcionista, até ela ficou sem jeito.
Franzi o cenho e esperei nos sentarmos, como ela instruiu, para então dar um de curioso.
— Então, qual a história? — mandei na lata.
Estava na cara que ele já esteve aqui antes e tinha rolado algo com a recepcionista.
— Como é? — Conrad nem desviou o olhar e foi logo abrindo seu computador.
— Não faça o desentendido. — Fechei o computador dele com tudo e chamei sua atenção até mim. — Com a recepcionista.
— Não tem história, apenas flertei com ela. — Conrad parecia estranhamente nervoso e eu senti vontade de rir da cara dele.
— E?
— E nada, . Já te disse, apenas flertamos…
Não tive tempo de cutucar mais porque fomos chamados para subir ao sermos informados que Sabrina e Oliver já se encontravam no prédio.
Ou seja, só faltava eu e Conrad para começarem.
O elevador foi até que rápido para chegar ao décimo segundo andar e a recepcionista, que continuava encarando meu amigo com uma cara nada feliz, nos guiou por entre corredores imensos e cheio de pôsteres com celebridades.
— Bem-vindos á ’s Magazine! — Sorriu simpática ao abrir a porta de uma sala gigantesca e vi Oliver e Sabrina sentados de frente para uma mesa de vidro bem grande. — O senhor chegará em alguns instantes.
Senhor?
O filho da mãe do Conrad tinha mentido para mim?
— Senhor? — Soltei baixo.
— Cara, relaxa — meu amigo disse baixo e se afastou para cumprimentar Sabrina e Oliver.
Fiz o mesmo e me sentei ao lado dele logo em seguida.
De repente comecei a me sentir nervoso, seria meu primeiro trabalho desde o retorno com a minha carreira e apesar de não curtir muito, eu sempre me dedicava ao que me propunha a fazer.
— Nervoso, ? — A voz de Sabrina me tirou dos meus pensamentos conturbados. — Relaxa, eles fizeram o certo em te escolher! Essa capa já é sua!
Capa?
Quê?
Eu tinha mesmo me perdido na reunião com Oliver!
Antes de eu ter qualquer chance de questionar, um homem que aparentava ter no máximo uns trinta e cinco anos entrou na sala com um sorriso simpático no rosto, já vindo na minha direção.
— É um prazer tê-lo conosco, senhor . — Ele estendeu a mão para mim e eu a apertei, ainda meio confuso. — Sou Zack , mas pode me chamar apenas de Zack.
Sua formalidade era um pouco demais se fosse pensar na jovialidade que ele passava.
— Apenas . — Continuei chacoalhando a mão dele, que soltou uma risada. — Desculpa, eu não sabia que o Paul tinha filhos… — Para ser honesto eu não sabia nada relevante sobre ele.
Zack riu e foi cumprimentar os outros presentes na sala.
— Eu sei que é difícil acreditar, mas meu pai consegue ser bem discreto quando quer. — Riu sem graça.
Ele estava se referindo aos escândalos recorrentes. Paul era um bêbado incurável, além de brigão, se procurassem pelo nome dele no dicionário faltariam páginas para descrever o tamanho do problema que ele era.
Eu ainda não conseguia entender por que Oliver, mas principalmente Sabrina, aceitaria qualquer trabalho oferecido pela revista dele.
— Minha irmã esta presa na tempestade que começou a cair lá fora, mas ela logo deve estar aqui. — Eu nem tinha me dado conta do barulho da chuva.
— É um imenso prazer estar aqui — Oliver começou com a sua babação de ovo.
— Eu preciso pegar algo na sala dela e já volto, fiquem à vontade. — Zack nem deu ouvidos e saiu logo em seguida.
Irmã.
Não consegui conter a curiosidade e saquei o celular para ver se encontrava algo sobre a irmã de Zack. Ser curioso era um dos meus maiores defeitos, eu simplesmente não conseguia evitar.
Com o celular em mãos e a garganta extremamente seca eu ignorei a conversa que rolava entre os três sentados à mesa e me levantei para pegar um copo de água. Para minha infelicidade e provavelmente por causa da chuva a página do google estava levando uma eternidade para carregar.
— Carrega logo — balbuciei impaciente.
— Me desculpem, eu não estava esperando essa chuva terrível! — A voz que vinha atormentando meus pensamentos reverberou por toda a sala e eu gelei na hora.
Caramba, não podia ser!
O meu celular carregou a foto de uma mulher de olhos no instante em que eu senti toda minha roupa encharcar.
Mas que merda!
Eu tinha cuspido a água que estava na minha boca?
. — A mulher soou gentil, mas firme. — É um prazer finalmente te conhecer pessoalmente, !



Pensei ter encontrado um caminho
Pensei ter encontrado uma saída (encontrado)
Mas você nunca, nunca se vai (nunca se vai)
Então eu acho que tenho que ficar agora.

Lovely — Billie Eilish & Khalid


OLIVIA BELVEDERE.


— Merda! — rangi os dentes ao sentir a faca afiada rasgar a carne do meu dedo.
Meu dia tinha começado de mal a pior, mas eu tinha esperanças de que terminaria melhor, e pelo visto, não iria.
Puxei um pano qualquer que estava sobre a pia e segurei contra o meu dedo que latejava. Se minha mãe estivesse ali diria para enfiá-lo embaixo da água fria, mas eu odiava a sensação.
Desviei qualquer pensamento mórbido e caminhei pela casa em busca de um kit de primeiros socorros, eu sempre esquecia onde estava.
Talvez porque passava mais tempo no trabalho do que na minha própria casa.
— Não me diz que cortou o dedo de novo. — A voz grossa irrompeu atrás de mim.
Droga!
Ele não deveria estar em casa tão cedo. Eu tinha prometido que o jantar essa noite seria por minha conta.
— É bobeira, apenas um cortinho. — Neguei sorrindo e Avery selou nossos lábios ao me tomar em seus braços.
— Me deixa te ajudar com isso — sussurrou contra meus lábios ao segurar minha mão ensanguentada. — Não me parece apenas um cortinho. — Avery franziu a testa.
Nós seguimos em direção ao segundo andar, onde obviamente estavam todas as nossas coisas de primeiros socorros e eu fiquei sentada na cama enquanto Avery se encarregou de ir buscar tudo o que ele precisaria para um curativo.
Meu dedo não parava de latejar.
Eu não queria ir ao hospital e sabia que ele me faria, se estivesse muito feio.
Maldita mania de querer fazer tudo ao mesmo tempo, dar conta de tudo.
A demora dele só me deixava ainda mais nervosa.
— Está tudo bem aí? — Eu não conseguia parar de balançar as pernas.
— Eu só estava lavando bem as mãos.... — É claro que estava!
Avery estava em seu último ano de residência de medicina e ele era cheio de paranoias com esterilizar bem às mãos antes de tocar na ferida de qualquer pessoa, além de claro, sempre usar luvas antes de fazer o mais simples dos curativos.
Eu gostava como ele conseguia ser tão honesto, mas às vezes também achava irritante.
Apenas assenti com a cabeça e o deixei examinar meu dedo.
— Que faca você estava usando, hem? — Ele analisava o corte com cuidado.
— Por favor me diz que não precisarei ir ao hospital e você pode resolver isso para mim. — Minha voz tinha um tom ridículo de desespero, como se eu fosse uma garotinha de cinco anos impaciente e não uma mulher no auge dos seus trinta e dois anos.
Eu só não tinha tempo para aquilo, precisava terminar o jantar e mergulhar de cabeça na pilha de coisas do trabalho em cima da minha mesa.
— Você vai precisar de pontos, ... — Avery tentou ser cauteloso, mas não impediu minha irritação.
— Eu não....
Meu celular vibrou em meu bolso, seguido de uma cara feita do meu noivo ajoelhado à minha frente. Nós dois sabíamos muito bem o que as ligações tardias significavam.
Trabalho e nada de jantar por minha conta essa noite.
— Avery....
— Atende, pode ser importante. — Entrou no banheiro antes mesmo de me dar a chance para refutá-lo.
Bufei irritada ao fazer um malabarismo para pegar meu celular e atendê-lo.
.
— Qual é a sua dificuldade de atender a porra do telefone, ? — A voz do meu pai saiu ríspida e alta do outro lado da ligação.
Todo meu corpo paralisou.
Não nos falávamos há quase um ano e para ele me ligar não poderia ser coisa boa, ainda me lembrava da última vez em que recebi uma ligação dele e foi devastador.
— Além de incompetente é surda?
Retomei a consciência ao ouvir mais de suas ofensas e respirei fundo, ao me esforçar para não perder a paciência com ele.
Meu dedo parecia começar a latejar ainda mais.
— Como conseguiu meu número? — Essa era a pergunta mais idiota que eu poderia ter feito para Paul , mas eu não sabia o que dizer. — Aconteceu alguma coisa com Zack? Ou Jamie?
— Preciso de você em Seattle em no máximo 4 horas! — Sua exigência quase me fez engasgar e até o pano se desprendeu da minha mão.
O quê? Ele só podia estar bêbado.
Peguei o pano do chão de qualquer jeito e senti meu dedo sangrar ainda mais.
— Pai, eu não posso simplesmente voar de Los Angeles para Seattle em um domingo à noite — frisei em uma falsa tranquilidade. — Eu tenho que trabalhar amanhã e…
Avery entrou no quarto enquanto eu escutava meu pai bufar impaciente do outro lado da linha. Não tinha como a situação ficar pior...
, a precisa de você — Paul rosnou impaciente.
O que ele estava dizendo não fazia sentido algum, afinal meu pai sempre foi o responsável por me manter o mais longe possível da empresa da família.
, o que você está fazendo? — Avery sussurrou ao ver o estado da minha mão e o sangue na minha calça branca. — Me deixa cuidar disso…
Quem está aí com você? — A voz do meu pai se tormnava cada vez mais impaciente do outro lado da ligação.
Meus batimentos cardíacos estavam acelerados e eu sentia que as forças se esvaíram do meu corpo. Apesar da vontade de justificar com o corte no meu dedo, eu tinha plena consciência do culpado para o meu quase colapso.
Ele.
Meu pai.
Sempre ele.
Ele era o responsável por me desestruturar, mesmo tão de longe.
— Pai…eu preciso de uns dias, não posso ir assim do nada — murmurei, na tentava de me recuperar.
Meus olhos ardiam e minha cabeça parecia que ia explodir.
Avery arregalou os olhos como se estivesse em pânico.
— O jatinho já está preparado, te mandarei a localização por mensagem. — Era como se ele não fosse capaz de ouvir minhas palavras.— Se eu não te vir aqui em 4 horas, pode esquecer essa família e qualquer chance de um dia ocupar algum cargo na ’s!
Fiquei estática ao ouvir a ligação ser encerrada. Mesmo depois de ter me mudado e recomeçado a minha vida, de nada tinha adiantado. Eu continuava acorrentada às amarras de Paul e dessa vez eu conseguia senti-las rasgar a minha garganta.
Sibilei ao tentar puxar o ar e não encontrar nada.
Meus olhos esbugalhados como se eu tivesse visto um fantasma.
Merda!
Sai de onde estava em um supetão, ciente de que era seguida por um Avery aflito.
, o que você está fazendo? — A voz desesperada do meu noivo só tornava tudo ainda pior.
Eu precisava de espaço.
Peguei a primeira mala que encontrei, já não me importava com meu dedo machucado ou qualquer outra coisa. Tudo que eu via na minha frente era o desespero inconsciente de não desagradar Paul.
Ninguém o contrariava sem sofrer seus piores pesadelos.
— Você só pode estar de brincadeira…— Avery argumentava, conforme minhas mãos trêmulas agarravam itens de necessidades e os jogava em uma bolsa pequena. — Você não está considerando ir para Seattle agora, não pode estar!
Ignorei todas as suas palavras e passei por ele, seguindo para o closet e determinada a fazer minhas malas o mais rápido possível.
!!!! — Avery me segurou pelos ombros e arregalei o olhar, e só então me dei conta do quanto meu dedo latejava. — Ao menos me deixa cuidar do seu dedo…
Olhar para ele tão aflito partiu meu coração em pedaços, mas a constatação que veio a seguir foi ainda pior.
Eu não merecia alguém como Avery. Eu nunca mereci.

🌹🌹🌹🌹


Dentro do jatinho particular dos Belvederes eu tentava entender o que faria meu pai me arrancar de Los Angeles aquela hora da noite.
Como uma boa jornalista, procurei por todas as notícias que pudessem envolver a Magazine, mas não encontrei nada.
A última informação foi de como a revista estava prosperando cada vez mais.
Nenhum escândalo. Nada.
Rodei nervosa a aliança em meu dedo direito com uma pedra de diamante discreta. Avery não tinha respondido a nenhuma das minhas mensagens e eu sabia que não tinha nada ver com seu sono.
Ele estava decepcionado.
Respirei fundo para não me deixar levar pelos sentimentos. Retomei minha postura de uma verdadeira e me levantei para retocar a maquiagem.
O piloto logo anunciaria o pouso.
Apesar de ser quase meia noite, eu sabia que não teria tempo de ir para um hotel, dormir e me preparar. Teria que ir direto para a mansão da minha família como fui instruída na mensagem.
Nem o corretivo que eu havia passado era o suficiente para esconder minha expressão de cansaço.
— Você consegue fazer isso, — abri um sorriso fraco de frente para o espelho.
Eu teria dado risada se não estivesse tão atordoada. Sequer me lembrava da última vez que ri de verdade.
Me apoiei contra a pia do banheiro e fiquei repetindo dentro da minha mente que conseguiria dar conta.
— Senhorita, ? — Uma voz irrompeu meu silêncio.
Era provavelmente uma das aeromoças.
— O avião irá aterrissar em poucos minutos, preciso que retorne para o seu assento...
— Já estou indo — avisei.
Foi um alívio escutar seus passos se distanciar.
Terminei de passar um batom e sai do banheiro com o melhor sorriso que consegui, na tentativa de me convencer que minha vida não estava prestes a desmoronar.

A mansão dos Belvederes continuava a mesma. Vazia e sem vida.
Contudo não podia negar o quanto amava a arquitetura gótico vitoriana, mas com um belo toque de modernismo. Minha mãe sempre teve um excelente gosto e não errou nem um pouco na última reforma.
Era estranho me lembrar dela, sempre me esperando na porta de entrada quando voltava do colégio.
O motorista parou no exato momento em que me preparei para não pensar em coisas do passado e anunciou que Paul já me esperava em seu escritório.
Saltei do carro antes mesmo de ele ter a chance de abrir a porta para mim e fui em direção a gigantesca entrada. Como eu sabia que sempre estava estava aberta, entrei sem fazer cerimônias.
— Tia !! — a criaturinha que eu mais amava nesse mundo agarrou minhas pernas.
Foi um alivio saber que ela estava bem.
— Oi, meu anjinho. — A peguei no colo e estalei um grande beijo em sua bochecha. — Como você está?
— Eu estou bem, tia . — Ela tinha um sorriso de ponta a ponta. — Mas você parece triste. — Um biquinho se formou nos lábios da minha sobrinha.
Meu coração se derreteu com sua percepção e observei como ela parecia cansada.
— Jamie! — A voz de Zack irrompeu e meu irmão apareceu ofegante. — Vamos, eu já disse que a senhorita precisa voltar a dormir…
— O que esta acontecendo, Zack? — Não consegui evitar a pergunta.
Tudo era muito suspeito.
— Dora? — meu irmão gritou para a baba que sempre cuidava de Jamie quando ela estava na casa do meu pai. — Pode coloca-la para dormir, por favor?
A mulher irrompeu o ambiente e eu entreguei minha pequena nos braços dela, mas não sem antes lhe dar mais um beijo.
Eu sentia tanto a falta dela.
— Zack, o que esta acontecendo? — Voltei a perguntar quando Dora sumiu pelo enorme corredor. — Para Jamie estar acordada a esta hora eu só consigo pensar em algo muito ruim.
A expressão do meu irmão mudou drasticamente após a partida de sua filha.
— Você conhece o senhor Paul, ele adora fazer uma tempestade em copo d’agua — riu fraco, mas tinha algo em seu rosto e eu percebi. — Estou tão perdido quanto você.
— Precisa ser algo bem importante para ele me tirar de Los Angeles de maneira tão repentina — argumentei impaciente.
Zack respirou fundo ao apertar os olhos, então me pegou de surpresa ao me tomar em seus braços e me abraçar com força. Eu nem sabia que precisava tanto até senti-lo beijar o topo da minha cabeça.
— É bom te ter aqui, pequena — Zack murmurou. — Eu e a Jamie sentimos muito a sua falta.
— Você sabe que eu sou mais velha, né? — ri da minha piada.
— Por três minutos, — meu irmão resmungou ao me soltar e ambos caímos na gargalhada.
Ele fazia muita falta na minha vida também.
Ter irmãos era a melhor coisa do mundo, mas ter um gêmeo era uma conexão de alma. Dividíamos muito mais do que o mesmo DNA.
— Vamos, ele está nos esperando na sala de reuniões!
A droga da sala de reuniões!
Eu já tinha ido até ali e não poderia dar para trás. Engoli todos os meus demônios e o acompanhei entre os enormes corredores.
Por dentro a casa parecia ter ainda menos vida, sem decorações, sem vasos de flores. Apenas um vazio. Aquilo só me fez odiar ainda mais o lugar que um dia chamei de lar.
Eu conseguia contar nos dedos as lembranças boas.
O tilintar do gelo caindo sobre um copo de Uísque invadiu meus ouvidos e senti o frio percorrer minha espinha.
Aquele maldito som.
— Pai, a já está aqui! — Zack anunciou ao empurrar a porta de madeira escura.
— Minha filha! — Paul soou alto ao caminhar na minha direção com os braços abertos.
Bastava uma gota de álcool para sua verdadeira personalidade ser mascarada, ao menos por alguns minutos.
— Por que me trouxe aqui, Paul? — Desviei de seu abraço.
Eu podia suportar sua presença, mas contato físico estava fora de cogitação.
— Você sempre tão parecida com a sua mãe. — Seu comentário ridículo me fez querer sair dali, mas permaneci estática.
— Acho que o senhor já bebeu um pouco demais… — Zack tentou tirar o copo da mão dele, mas sem sucesso, é claro.
A expressão do meu pai mudou, o que eu já esperava, e ele caminhou em direção a sua mesa e jogou uma pasta pesada em cima.
O estrondo me fez dar um pulo.
— Já que gosta mais dessa minha versão, que seja.
Zack não disse nada.
— O que é isso? — questionei ríspida.
Se fosse possível teria um ponto de interrogação desenhado bem no meio do meu rosto. Eu odiava aqueles joguinhos e eles pareciam satisfazer o homem sádico.
— Este é o maldito contrato que você sempre quis tanto. — Eu não entendia onde ele queria chegar. — Um contrato para você, , se tornar a nova editora chefe da Magazine e, posteriormente, Presidente.
Zack estava tão surpreso quanto eu, mas sua reação foi menos evidente do que a minha.
Uma gargalhada forte irrompeu a sala e eu levei alguns instantes para me dar conta de que havia sido eu.
Dessa vez, ele tinha ido longe demais. Isso era muito baixo, até para Paul .
— Você só pode me achar muito idiota, Paul. — Eu estava fervendo de raiva. — Me tirou de Los Angeles para isso?
— É pegar ou largar.
— Achei que Henry Devault estava fazendo um excelente trabalho como editor chefe — cuspi irônica.
Zack se aproximou e eu conseguiu ouvir sua respiração acelerada.
Ao menos eu não era a única chocada com a maluquice toda.
— Henry está morto. — Meu pai deu a noticia com frieza e meu queixo caiu.
— Eu procurei notícias sobre a , não encontrei nada sobre a morte dele — argumentei ainda em choque.
Zack andava de um lado para o outro.
As palavras de Paul não faziam sentido algum e eu precisava de mais respostas.
— Eu pedi vinte e quatro horas para a imprensa antes de divulgar a morte dele. — Paul não demonstrava sentimento algum ao falar do homem. — A causa da morte é delicada…
— Delicada como?
— Ele se suicidou e deixou uma carta pedindo perdão por ter desviado milhões da nossa empresa. — Suas palavras me fizeram perder o ar.
— O cara se suicidou e você acha um bom plano colocar como a nova editora chefe em menos de vinte e quatro horas da morte dele? — Zack tinha um tom de voz perplexo. — Você é inacreditável, Paul !
Aquilo não o abalou; tudo que ele fez foi pegar uma caneta e estender na minha direção.
Minha cabeça rodou e meu estômago parecia ter uma bomba dentro. A sala começou a parecer pequena demais, mesmo com tanto espaço.
Senti as pernas fraquejarem por um momento, mas me forcei a me recompor. Aquilo tudo era muito mais sério do que todas as teorias que havia criado na minha cabeça.
— Por que não me colocar como presidente de uma vez?
Zack apareceu na minha frente e colocou a mão nos meus ombros.
, não faz isso — meu irmão implorou. — Olha só tudo que você conquistou saindo daqui…
O afastei e me aproximei da mesa sem tirar os olhos da pasta, a abri e passei os olhos nas primeiras páginas.
— Por que? — Levei meu olhar imponente de volta para Paul.
— Porque os acionistas me pediram assim, eles querem ter certeza de que você estará pronta em um ano. — Meu pai deu um gole generoso em seu Uísque. — Até lá, eu serei o presidente da Magazine.
Franzi o cenho ao tentar entender o que aquilo queria dizer, afinal, meu pai nunca teve interesse algum em ser o presidente da empresa. Ele gostava apenas da imagem que a revista lhe trazia, o dinheiro e os benefícios.
Respirei fundo, sentindo a apreensão de Zack nas minhas costas e o peso de tudo em meus ombros.
Eu estava encurralada.
Mas quando foi que estive livre de verdade?
Sem pensar muito, peguei a caneta da mão de Paul e fiz a minha assinatura evidente na primeira página do contrato.
Uma batida estrondosa da porta me fez dar um pulo. Zack havia saído da sala e tudo que encontrei depois disso foi o sorriso vitorioso de Paul .




Fico um pouco tenso.
Quando eu penso em você.
Fico um pouco animado…

Shawn Mendes — Nervous.


O olhar daquela mulher me tirou do eixo e nem a minha blusa encharcada foi o suficiente para eu me recuperar de toda a nossa proximidade. me encarava com expectativa, até que uma expressão de choque tomou conta da sua feição.
Enquanto isso, tudo que eu fiz foi parecer um idiota na frente dela.
Saco!
Eu precisava me recompor e agir profissionalmente. Ela claramente nem sequer lembrava de quando nos vimos no evento e “salvei” sua filha.
— Desculpa, eu não sei onde estava com a cabeça — balbuciei, sem saber onde enfiar a cara.
Que papel mais ridículo, !
— Você se molhou! — fez a observação e deixou as coisas dela sobre uma mesa no canto da sala, então voltou sua atenção para mim. — Você precisa de um momento para se secar, ? Eu posso esperar.
Abri a boca para responder, mas fui cortado por Conrad.
— Ele vai ficar bem, ! — Meu amigo falou ao se levantar da cadeira e ir na direção da mulher, que abriu um sorriso imenso ao vê-lo ali. — é desastrado assim mesmo, você se acostuma.
Eles se conheciam?
Não consegui disfarçar minha expressão surpresa ao observar os dois quando se abraçaram.Aquele filho da mãe tinha umas boas explicações para me dar.
— É muito bom te ver de novo, Conrad. — estava genuinamente feliz em vê-lo.
Sabrina e Oliver encaravam como se não fosse surpresa alguma, e eu continuava estático desde a entrada dela, com a camisa ainda ensopada.
— Aqui, para você secar essa blusa. — Sabrina me estendeu um papel e tomei um susto ao perceber sua presença ao meu lado.
— Valeu — agradeci, ainda meio atordoado com todos os acontecimentos.
Peguei os papéis e me sentei na primeira cadeira que encontrei, dessa vez afastado de Conrad, que tinha um sorrisinho maldoso em seu rosto. Nem dei bola para os seus joguinhos e me virei para procurar por ela.
— Eu preciso apenas de alguns minutos — informou e a vi separar algumas coisas e colocar uma pasta bem pesada sobre a mesa, antes de se afastar de novo.
passou bem ao meu lado e um perfume doce invadiu minhas narinas, me distraindo mais uma vez de tudo o que acontecia à minha volta. Tentei me conter, mas não consegui evitar olhar em sua direção para observar um pouco mais.Nossa interação no evento não tinha sido o suficiente.
Um milhão de coisas se passavam na minha cabeça, o principal era como ela conseguia ser tão bonita. Seus cabelos hoje estavam presos em um rabo de cavalo bem alto, seus lábios contemplavam um batom de cor nude, e o vestido longo que adornava seu corpo era de um azul que fazia um contraste perfeito com a sua pele.
Meu deus!
Eu nunca tinha reparado em tantos detalhes ao observar uma mulher.
me deixava nervoso e ainda mais curioso do que eu já era por natureza.
— Todos prontos? — Sua voz irrompeu e eu dei um pulo na cadeira.
Qual era a droga do meu problema?
Conrad soltou uma risadinha e eu o fuzilei com o olhar.
Ela não pareceu se importar com a minha reação, pois deu continuidade.
— Me desculpa o atraso. — Zack entrou na sala com algumas coisas em suas mãos, provavelmente o que tinha ido buscar a pedido de . Ela sorriu para ele, que se sentou em um canto da sala.
— Sejam todos bem-vindos a Magazine! sorriu simpática. — Eu vou começar com uma apresentação da empresa e, em seguida, falaremos sobre o que temos em mente para você, .
Sua atenção estava sobre mim, então tudo que consegui fazer foi assentir com um sorriso.
começou explicando como a s funcionava;aparentemente eles escolhiam para suas capas apenas os artistas mais consolidados. Fosse no ramo da música, atuação ou qualquer outro. Todos já estavam em uma faixa etária acima dos trinta anos.
— Como você pode ver, será o mais jovem a entrar para o nosso catálogo. — Ela apontou para a tela onde apareceu uma imensidão de famosos renomados.
De repente, me senti inseguro.
Parecia uma responsabilidade muito grande e me martirizei ainda mais por não ter me atentado melhor àquela reunião.
— Sua carreira é impecável para alguém tão jovem. — Só consegui me atentar à maneira como ela ressaltou a minha idade.
Não podíamos ter tanta diferença de idade assim, poderíamos? aparentava ter por volta de, no máximo, uns vinte e oito anos, e isso a faria quatro anos mais velha do que eu. Ou três, considerando que logo eu completaria vinte e cinco.
— Sem escândalos, nenhum namoro polêmico…devo dizer que é de se admirar! — sorriu impressionada. Um sorriso que fez meu coração disparar.
— Obrigado — agradeci meio sem graça, ao tentar não demonstrar meu nervosismo.
— Ele está tentando competir com Chris Evans — Conrad debochou da minha cara. — Um grande fã do garoto.
Todos riram, mas eu apenas neguei com a cabeça. Às vezes eu me esquecia que ele tinha quase trinta anos, porque parecia um adolescente muitas vezes.
— Bom, agora vamos falar dos planos para você, como vai funcionar sua participação na nossa revista — respirou fundo e pareceu pensar em algo, mas logo voltou à expressão anterior.
Fiquei preso em sua feição por alguns instantes; parecia uma mistura de tristeza com recordação. Eu adoraria saber o que estava se passando na cabeça dela.
— Nossa proposta é de cobrir todo seu retorno para o mundo musical. — agora sentou-se em um banquinho alto, onde, de frente, tinha uma bancada que ficava o teclado para ela controlar os slides. — Nossa intenção é mostrar quem é , o que ele faz, gosta, pensa...tudo. Cada detalhe de sua vida.
A ideia era simplesmente incrível. Eu gostava daquilo, muito. Eu não tinha o costume de dar muitas entrevistas; a grande maioria eram exclusivas, mas ultimamente eu sentia que precisava me conectar mais com meus fãs. Desde todo o turbilhão do último ano, eu queria poder contar a eles como realmente me sentia, a verdadeira razão para o meu afastamento.
Não contive a expressão satisfeita em meu rosto e me endireitei melhor na cadeira para atenção em todas suas palavras e os slides que passavam.
— O ponto mais alto dessa revista será a produção do seu álbum.
— Álbum? — Fiz uma expressão confusa; não estávamos produzindo álbum algum.
Oliver já tinha sido mais do que claro que ele queria me ver focado em reconstruir a minha imagem no mundo da música, fazer contatos.
Olhei tanto para ele quanto para Conrad e os dois tinham sorrisinhos tortos estampados. Aquilo me deixou intrigado. Tinha algo que não estavam me contando?
— Agora eu vou deixar o Zack assumir — avisou, me deixando ainda mais confuso, e eu apenas acompanhei com o olhar.
— Eu acho que não me apresentei apropriadamente quando cheguei. — Zack riu ao se aproximar. Ele tinha um jeito bem despojado, com as mãos nos bolsos da calça jeans e um sorriso no rosto. — Não trabalho para a Magazine, tenho meu próprio negócio e sou atualmente um grande produtor musical. Vocês me conhecem muito provavelmente comoZackary Ryvel.
Todos ficaram tão chocados quanto eu, o cara era uma lenda.
— Conrad é um grande amigo, por isso aceitei fazer esse trabalho e revelar a minha verdadeira identidade. Com muitas assinaturas de confidencialidade, é claro.
Mais uma surpresa: ele não só conhecia como também era bem próximo do irmão dela. Eu teria me preocupado com essa informação, se não fosse minha confusão em entender qual era o papel dele dentro de toda minha participação na Magazine.
— Eu estou levemente confuso — admiti com um riso nervoso, então me virei para poder encarar Oliver e Conrad. — Eu achei que não teria produção alguma de álbum....
— Você deveria me ouvir mais quando digo que precisa ser paciente, — Oliver piscou para mim.
Conrad permaneceu em silêncio, mas eu deixei bem claro com o olhar que ele não sairia dali sem me explicar essa história toda. — Bom, a ideia é juntar o melhor dos dois mundos. Meus conhecimentos com os de Conrad e trazê-lo de volta ao topo, — Zack constatou cheio de confiança.
Eu estava sem palavras; tudo que eu mais queria era voltar a produzir minha música, me reaproximar dos meus fãs, e aquela seria a oportunidade perfeita.
— Se você estiver de acordo com tudo que foi explicado aqui, acredito que já tem conhecimento o suficiente sobre a proposta e podemos fazer todos os trâmites de fechamento de contrato hoje mesmo — voltou a ser parte da conversa e eu me senti mais à vontade; a voz daquela mulher era como música para os meus ouvidos.
Assenti, mesmo sabendo que precisaria me atualizar melhor, já que tinha agido feito um babaca na última reunião com meu empresário.
— Por mim fechamos hoje mesmo! — Eu estava empolgado. Aquela tinha sido a melhor notícia do meu dia, do meu ano. Eu finalmente poderia voltar para o que tanto amava.
— Aqui está o contrato e tudo que conversamos nessa reunião — ela pegou a pasta pesada que havia jogado na mesa lá no início e colocou bem na minha frente. — Eles já foram revisados pelos seus advogados juntamente com seu empresário, já que estávamos em negociação desde o último mês. Também inclui os contratos para a produção do álbum com Zack.
Eu realmente havia me perdido no tempo; faziam dois meses que eu a tinha visto naquele evento — que ela claramente nem lembrava — e um mês desde que Oliver apareceu com a proposta, e eu nem tinha me dado sequer o trabalho de analisar de fato o que era.
Assenti mais uma vez, sem saber o que dizer.
— Certo, darei um momento para vocês ler e assinar tudo, e depois eu gostaria de ter um tempo a sós com você, . — Foi aí que minha garganta secou e eu senti o ar desaparecer ao meu redor.
Como é que eu ia ficar sozinho com aquela mulher sem fazer papel de bobo?
— Claro.... — murmurei, sem confiança alguma.
então foi a primeira a sair da sala, e eu acompanhei cada passo que ela deu até desaparecer porta afora e levar todo meu ar junto com ela. Foi como se tudo à minha volta tivesse parado, me deixando com a incerteza se tudo que aconteceu foi real.
— Te vejo em breve, . Foi um imenso prazer. — Zack me tirou da bolha com a sua despedida, acenando para os restantes na sala, e depois desapareceu como sua irmã.
Puxei o ar com força, ainda tentando assimilar a presença daquela mulher. Parecia até que tinha um imã que se encaixava perfeitamente em mim e me puxava cada vez que eu a olhava ou escutava.
Eu fui forte o suficiente para conter meus pensamentos e olhares na sua presença.
Puta merda.
Foi um teste de resistência.
Minha vontade era de bombardeá-la com perguntas, descobrir se, bem lá no fundo, ela se lembrava da primeira vez que nos vimos.
Ri exasperado.
Não tinha como ela se lembrar; mal trocamos meia dúzia de palavras.
— Por mim está tudo certo — Sabrina avisou, me arrancando da bolha ao meu redor. — As propostas para a imagem dele são ótimas, bem alinhadas com o que fizemos até agora....
Ela já tinha lido aquela papelada toda?
— Bom, já que estamos todos de acordo com ambos os contratos, agora só falta sua assinatura, — Oliver informou ao se levantar da cadeira.
Eu tinha me distraído tanto assim?
Aquela mulher tinha tirado toda minha sanidade, só poderia ser isso.
— Claro — respondi já puxando a pasta pesada, não queria deixar transparecer meu devaneio.
Eu confiava em todos eles, então nem me dei o trabalho de ler tudo. E a verdade é que não importava, porque era uma oportunidade para conhecer melhor , e eu aceitaria mesmo se fossem os termos mais horríveis.
Assinei tudo o mais rápido que consegui e então passei a pasta para Oliver.
— Estou muito orgulhoso de você, — Oliver me elogiou com um sorriso genuíno no rosto. — Agora preciso ir para o escritório, tenho muitas coisas para resolver.
— Eu também! — Sabrina se manifestou logo em seguida. — Parabéns, !
Os dois saíram e restou apenas eu e Conrad na sala. Era agora que eu ia cobrar umas boas explicações do meu amigo traidor. Estava na cara que ele sabia que era a mulher que eu estava tentando encontrar e adorou fazer seu teatrinho, me acusando de estar maluco.
— Conrad, tem um minuto? — Zack enfiou a cabeça na fresta da porta, mas não se deu o trabalho de entrar.
Merda!
— Tenho até mais para você, lindão — Conrad brincou, e então se levantou já saindo da sala, mas não sem antes me lançar um sorriso ladino.
Filho de uma mãe!
Ele ainda ia me explicar aquela história toda.




Eu já estava esperando há meia hora pelo retorno de quando ela apareceu ofegante na porta.Confesso que eu já tinha perdido todas as esperanças. Só de vê-la ali, eu nem me importei com toda a espera; afinal, era o meu dia livre e eu não tinha nada para fazer, e mesmo que tivesse, desmarcaria só para poder ficar mais tempo com ela.
— Me desculpa, — ela suplicou, mesmo sem precisar. — Surgiu algo que apenas eu poderia resolver.
— Não esquenta com isso — afirmei, dando meu melhor sorriso para lhe passar confiança.
Ela sorriu e então pareceu pensar em algo.
— Você se importaria de conversarmos na minha sala?
Neguei com a cabeça e ela fez sinal para acompanhá-la. Eu a segui por um longo corredor com uma centena de salas iguais à que estávamos, até que, ao chegarmos ao fim, ela abriu uma porta alta, de um tom de madeira escura, revelando sua sala.
O ambiente da sala dela era diferente de tudo que imaginei.Era todo rodeado por enormes janelas, que proporcionavam a visão perfeita da cidade de Seattle, com uma mesa bem grande no centro, sofás no canto direito e uma mesa menor no esquerdo, que ela provavelmente usava para reuniões mais intimistas. O espaço também era contemplado com um pequeno bar e uma área para café, além de uma estante cheia de livros. Tudo muito minimalista e em cores nudes.
— Fique à vontade — apontou para as poltronas em frente à sua mesa e sentou-se em uma delas. — Você aceita uma água? Um café?
— Não se preocupe comigo. — Sorri ao encará-la, não queria deixar transparecer o quanto eu estava nervoso por ficar a sós com ela.
Seus olhos me encaravam sem sequer piscar, como se estivesse tentando me decifrar de alguma forma. Não que ela precisasse, eu daria o que aquela mulher me pedisse.
— Eu gosto de ter um contato direto com quem escolhemos para ser a capa do ano. — se inclinou um pouco para deixar seu celular sob a mesa de centro. — É o meu estilo de trabalho desde que entrei nesse ramo e decidi fazer o mesmo com a Magazine.
Eu gostava de como seu tom era profissional e direto, mas também me deixava ainda mais nervoso.
— Claro que você não trabalhará apenas comigo, teremos toda uma equipe montada exclusivamente para esta edição — explicou. — Me desculpa, se às vezes eu falo muito, gosto de deixar tudo muito bem esclarecido. Você tem alguma pergunta, ?
Era impressão minha ou o ar tava quente pra caramba?
— Vamos passar muito tempo juntos? — As palavras saltaram da minha boca sem me dar a chance de segurá-las, e pareceu tão confusa quanto eu. — Digo...quantas horas por semana precisarei me dedicar a este projeto?
A temperatura do meu corpo pareceu se elevar ainda mais.
Que droga de pergunta era aquela?
Eu estava sufocado pelo efeito que me causava, um sentimento bom, mas desconhecido por mim.
— Os primeiros meses serão intensos, mas só começaremos daqui um mês. E nesse tempo eu gostaria que você separasse materiais que possam ajudar na montagem da revista... — explicou, inclinando-se para me mostrar um papel cheio de anotações. — Essas são algumas coisas que pensei, talvez te ajude.
Um mês.
Aquela informação martelou na minha cabeça, como um alerta. Isso significava que eu só a veria de novo em um mês, que até lá não teria notícia alguma sobre ela.
Desejei ter alguma ideia para reverter aquilo, mas não consegui.
? — chamou pelo meu nome, e só então me dei conta de que a encarava enquanto ela segurava o papel em mãos. — Bom, eu não vou tomar mais do seu tempo. Eu só queria ter uma conversa mais dieta e ter certeza de que não ficou nenhuma dúvida.
Nos levantamos ao mesmo tempo e segurei sua mão estendida.
Precisei de muito autocontrole quando nossas peles se tocaram, pois cada pelo do meu braço se arrepiou, e senti um certo tremor da parte dela. Franzi o cenho e não contive o sorriso quando ela soltou minha mão apressadamente.
— Foi um prazer, . — desviou o olhar e eu não deixei de olhá-la nem por um instante. Eu queria deixar sua reação gravada em minha memória.
— Um prazer, ... — minha voz saiu arrastada enquanto me virei para deixar a sala.
Não sei o que me deu, mas quando cheguei na porta não consegui rodar a maçaneta. Eu precisava dizer uma última coisa, deixar saber que ela esteve em meus pensamentos nos últimos meses.
— Diga a Jamie que foi um prazer ajudá-la naquele dia, ela é uma garotinha incrível! — Sorri, satisfeito com o choque em seu rosto.
E, mesmo contra a minha vontade de deixá-la, o fiz.




Eu tenho estado sob pressão.
Eu não vou deixar isso me moldar.
Não, Não, Não.
Eu não vou deixar isso assumir o controle.


Under Pressure — Ashley Tisdale




Do sofá da sala de Zack, eu conseguia ver meu irmão cozinhar, enquanto Jamie desenhava apoiada na mesinha de centro, e eu rolava a tela do meu iPad para ler todas as informações que eu tinha sobre o novo rosto da minha próxima publicação: .
“Diga a Jamie que foi um prazer ajudá-la naquele dia, ela é uma garotinha incrível!”
A frase ainda reverberava na minha mente. Como foi que eu não conectei com a pessoa que encontrou Jamie naquele evento?
Eu não consegui nem dar uma resposta apropriada; fiquei completamente atônita com as suas palavras e o deixei sair, mais uma vez, sem sequer agradecer.
Meus pensamentos estavam presos a desde o momento na minha sala. Havia algo intrigante sobre ele, não sei se era a maturidade para alguém tão jovem ou a curiosidade em saber um pouco mais sobre sua vida e o que o levou a ser quem era. O artista que ele era.
Soltei um riso nasalado diante dos meus pensamentos.
Então, retomei meu foco e rolei a tela para ler mais algumas matérias sobre . A grande maioria era sobre a pausa dele no mundo da música, mas isso foi algo que preferi pular. Eu gostaria de saber mais sobre isso conhecendo-o.
Eu nunca lia matérias sensacionalistas sobre quem eu escolhia para trabalhar, gostava de tirar minhas próprias conclusões. A convivência com Paul me ensinou a ler as pessoas, reconhecer as maçãs podres.
— Ainda trabalhando, Ollie? — Zack me repreendeu. Do outro lado da bancada da cozinha, ele conseguia ter uma boa visão das minhas ações.
Ele estava certo, mas eu continuei concentrada na minha leitura.
— Apenas lendo... — desconversei.
Eu não estava olhando para o meu irmão, mas tive certeza de que tinha um sorrisinho em seus lábios.
— Sobre o ? — Desde a reunião mais cedo, Zack falava sobre ele como se fossemos todos íntimos.
Guardei meu iPad para ter uma conversa apropriada com ele e me virei, me apoiando nas costas do sofá. Os braços cruzados com o queixo sobre ele, dessa forma eu podia ter uma visão perfeita do meu irmão cozinhando.
— O cheiro está delicioso — elogiei. Ele era um cozinheiro exemplar.
Só pelo cheiro, eu sabia que ele estava fazendo uma das minhas comidas preferidas: macarrão com frango ao molho Alfredo.
— Algum interesse em particular? — Eu sabia muito bem onde ele queria chegar e eu não iria alimentar suas ideias malucas.
— Você precisa que eu leve a Jamie para lavar as mãos? — Nem esperei por uma resposta e me levantei, abaixando-me para chamar a atenção dela. — Anjinho, hora de lavar as mãos e comer.
Como sempre, ela me recebeu com um sorriso imenso em seu rosto e me estendeu aquela mãozinha tão pequena. Zack não disse nada, apenas soltou uma risada ao negar com a cabeça minha atitude em não dar trela para aquela conversa.
Não precisei ir muito longe, pois tinha um lavabo bem perto da cozinha.
— Eu adoro que agora moramos todos juntos, tia Ollie — Jamie expressou enquanto eu lavava suas mãos.
Meu coração sempre se derretia com suas demonstrações de afeto. Jamie era uma parte muito importante da minha vida; ela me salvou de uma maneira que eu nem saberia colocar em palavras.
O dia em que ela veio ao mundo foi o mais devastador da minha vida, mas também o mais feliz.
Às vezes, eu nem acreditava que já tinham se passado quase cinco anos.
— Eu também, meu amor. — Dei um beijo no topo de sua cabeça e terminei de secar suas mãos.
Os pratos já estavam postos quando retornamos. Zack tinha colocado meu prato no meio e o dele e de Jamie nas extremidades; essa era a forma como ela gostava quando fazíamos qualquer refeição
Um serzinho tão pequeno, mas que podia ter muitas exigências.
— Algo de interessante na sua pesquisa? — Zack não ia deixar aquele assunto de lado.
— Não. é realmente muito reservado, se eu quiser saber mais a fundo sobre ele terei que perguntar. — Dei a primeira garfada na minha comida; estava simplesmente divino.
— Talvez fosse uma boa chamá-lo para uma conversa mais íntima. — Meu irmão tinha um tom sugestivo, e eu revirei os olhos.
— Você sabia que foi ele quem encontrou Jamie aquele dia no evento? — Mudei o tópico da conversa, mas sem fugir completamente.
Ainda estava intrigada por não me lembrar; eu tinha uma ótima memória.
— Sim, Jamie não parou de falar sobre ele desde aquele dia. — Zack soltou uma risada e olhou para a filha, que comia sua pasta com perfeita maestria para uma criança da idade dela. — Ela passa horas escutando as músicas dele...
Não contive a risada.
Jamie era mesmo uma criança muito especial.
— Espera aí — Jamie irrompeu a conversa com um tom de surpresa. — É com o tio que vocês vão trabalhar, papai? — Seus olhinhos brilhavam.
Dessa vez, não a corrigi sobre o termo “tio”; era até bem fofo ouvi-la dizer a palavra junto ao nome dele.
— Sim, borboletinha. — Zack tinha um sorriso enorme no rosto.
Ele usava com Jamie o mesmo apelido que minha mãe me chamava todos os dias. Gostava de dizer que cabia muito bem, já que o inseto representava transformação. e era isso que ela fazia todos os dias na vida dele.
Jamie era a melhor coisa que tinha acontecido na vida do meu irmão; era muito fácil notar isso ao ver a forma como ela olhava para a filha.
Definitivamente, um amor difícil de se explicar.
— Posso ir para o trabalho com você um dia, papai? — Seus olhinhos brilhavam. — Por favor, por favor...
— Claro, meu amor.
— Você pode ir comigo também. passará bastante tempo na — avisei e ela passou a bater palminhas.
— Agora vamos terminar de comer, mocinha, porque já já é o seu horário de ir para a cama dormir. Amanhã você tem escola bem cedo! — Zack lembrou, e de canto de olho vi Jamie torcer o nariz.
Nós dois caímos na gargalhada com a sua reação.
— Você sabe de quem ela puxou isso, né? — Zack perguntou baixinho, próximo do meu ouvido.
O cutuquei com o cotovelo porque aquilo era uma mentira deslavada.


— Vamos, mocinha, hora de escovar os dentes! — Zack gritou do banheiro.
— Posso fazer minha rotina com a tia Ollie? — Jamie me encarou com um sorriso no rosto. Estávamos sentadas em sua cama, onde eu sempre penteava seus cachos antes de dormir.
— Tudo bem para você? — Zack saiu do banheiro já com a escova de dentes em mãos.
— Isso é pergunta que se faça? — O encarei com uma falsa indignação e arranquei a escova de sua mão.
Meu irmão riu e então se retirou do quarto; eu sabia que ele ainda tinha uma pilha de louça pela frente e colocar Jamie para dormir seria de grande ajuda.
Ela me acompanhou até o banheiro e me certifiquei de escovar muito bem seus dentes, assim como usar um enxaguante bucal para sua idade. Logo já estávamos de volta ao quarto.
— Qual será o livro da vez? — Era um ritual ler antes de dormir.
— O Mágico de Oz! — Jamie deu palminhas animadas.
Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha lido aquele livro; era o meu preferido desde criança e me deixava de coração quentinho vê-la gostar tanto.
Busquei o livro na estante e então me sentei na cama bem ao seu lado. Então, a coloquei deitada com a cabeça em meu peito.
Estávamos na parte em que o espantalho conversava com Dorothy sobre não ter um cérebro, apenas palha, e por isso não poder opinar, e ela fazia uma excelente observação sobre como pessoas com cérebro falavam um monte.
Às vezes um monte de besteiras.
Continuei a leitura com ela sobre o meu peito e toda vez que fazíamos isso eu sentia como se o mundo todo parasse. Se eu pudesse, ficaria ali com ela para sempre. Era o meu safe place, um lugar onde nada nem ninguém poderia me machucar.
Mesmo a contragosto, eu sabia que já tinha passado a hora de colocá-la para dormir e apagar as luzes; então fechei o livro e o coloquei em sua mesa de cabeceira.
— Por que você sempre deixa o livro naquela mesinha? — Jamie observou minha atitude.
— Minha mãe sempre fazia isso — falei ao aconchegá-la nas cobertas. — Ela dizia que dessa forma Dorothy e seus amigos poderiam me proteger sempre que ela não estivesse por perto.
Jamie me encarava fascinada.
— Gosto de pensar que eles farão o mesmo com você, meu anjinho. — Dei um beijo em suas mãozinhas.
— Eu te amo, tia Ollie. — Jamie esticou os braços e me tomou em um abraço gostoso.
— Eu também te amo, Jamie, muito. — Meus olhos marejaram ao dizer aquilo, mas também por ouvir.
Terminei de aconchegá-la e então me levantei para apagar as luzes e finalmente sair do quarto.
— Tia Ollie?
— Sim, meu amor? — Eu já estava quase saindo, mas me virei para olhá-la.
— Tio é tão bonito. — Não contive a risada.
— Ele é muito velho para você, meu amor. — Brinquei com ela.
Jamie riu com as mãozinhas em seu rosto. Adorável.
— Mas não para você! — ela sugeriu ingênua.
— Boa noite, anjinho — falei por fim, rindo ao sair de seu quarto.
Sua percepção era algo que sempre me surpreendia, igualzinha ao seu pai.
— Ela tem razão, sabe? — Zack quase me arrancou um grito.
Caramba!
— Zack! — Dei um tapinha de leve em seu braço. — Está querendo me matar do coração? Eu achei que estivesse limpando!
— Não resisto em ver como você cuida tão bem da minha menininha. — O brilho nos olhos dele estava sempre presente.
Sorri ao ouvi-lo dizer aquelas palavras e então me afastei do quarto de Jamie e fui em direção à cozinha; falar de frente para o quarto dela poderia atrapalhá-la a cair no sono.
— Ela é meu pacotinho de felicidade, sabe disso — pontuei ao começar a tirar os pratos da bancada.
— Eu sei...
Terminei de retirar tudo e comecei a procurar por potes para guardar o que tinha sobrado. Conforme fazia isso, eu conseguia sentir os olhos de Zack em mim; ele acompanhava cada um dos meus movimentos.
Não era sobre Jamie que ele queria falar.
— Desembucha logo — avisei.
Ele diria uma hora ou outra, então que fosse de uma vez.
não parou de te encarar naquela reunião. — Zack não fez rodeios; ele sempre foi muito direto.
Meu irmão estava delirando e eu não alimentaria suas loucuras.
— Claro, era eu quem estava apresentando — desconversei.
Zack riu e pegou da minha mão o prato que eu estava prestes a colocar na máquina de lavar louça.
, ele estava tão nervoso que eu achei que fosse se engasgar. — Zack soltou uma gargalhada.
E como não estar? Ele estava prestes a assinar um dos melhores contratos da vida dele.
Era apenas isso.
— Você se diverte criando essas coisas na sua cabeça? — Entortei o nariz, e aquilo o fez rir.
Terminei de colocar as coisas na máquina e então a fechei; o melhor que eu poderia fazer era ir dormir. Eu teria um longo dia pela frente amanhã.
— Só estou dizendo que vocês poderiam se conhecer melhor. — Zack esticou os braços em sinal de rendição.
— Boa noite, Zack! — Segui para o corredor que daria no meu quarto, antes de dar a chance para o meu irmão continuar com seu papel de cupido.
Mesmo de longe, eu conseguia ouvir suas risadinhas.
nunca seria nada além do que mais um famoso a ser publicado por mim. Eu poderia fazer uma lista de razões pelas quais eu jamais me envolveria com ele, a começar porque iríamos trabalhar juntos, e depois, sua idade.
Além, é claro, eu o destruiria, assim como fiz com todos que entraram na minha vida.



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— Eu estou encantada! — afirmei ao girar meu corpo para observar cada detalhe do lugar que, sem dúvidas, se tornaria meu lar em algumas semanas.
O apartamento era perfeito.
Era contemplado por uma sala enorme com janelas que rodeavam todo o ambiente e a cozinha conectada a ela com uma bancada de mármore branco, do jeito que eu tinha imaginado.
O andar de cima era todo aberto, o que dava uma visão perfeita de todo o ambiente embaixo.
— Aqui para trás da cozinha fica a área de serviço e a despensa, enorme por sinal. — Arthur, meu corretor, sinalizou.
O segui para aquela direção e ele tinha razão; eu teria espaço de sobra.
— Pronta para ver o segundo andar? — Arthur passou por mim e foi até a escada.
Eu tinha uma paixão por apartamentos de dois andares.
— Com certeza!
A escada tinha um corrimão maravilhoso de vidro e, ao chegar no andar de cima, fiquei boquiaberta. Logo de cara, tinha um espaço enorme onde eu já conseguia imaginar uma área com sofás, um tapete confortável e uma estante de livros.
Também daria para colocar brinquedos e fazer uma área em que Jamie pudesse brincar quando viesse passar a noite ou alguns dias comigo.
— Os quartos ficam para o final do corredor e, depois dele, tem uma área de lazer particular! — Arthur apontou para um imenso corredor.
— Área de lazer particular? — Eu não lembrava de ter visto nada sobre no site.
— Imagino que você tenha visto as fotos, mas pensou que poderia ser uma área comum do condomínio.
Ele acertou na mosca.
— Este é o seu quarto para convidados, mas você tem outros três que são idênticos, além do escritório. — O homem abriu uma porta branca com um grande vidro escuro no meio. — Não tem varanda, mas possui essa linda vista da cidade através dessas enormes janelas, como no primeiro andar.
Eu estava mais uma vez boquiaberta.
Não tinha como esse apartamento ficar melhor!
Não era para menos que estava sendo vendido por uma fortuna, mas eu não me importava. Precisava de um lugar confortável para fazer valer a pena minha mudança para Seattle.
Eu sentia falta dos dias quentes e ensolarados da Califórnia.
— Possui um closet e logo atrás dele fica o banheiro…fique à vontade para olhar!
O banheiro era todo moderno, com um box bem grande e uma pia larga. Tudo em tons claros e os detalhes em preto.
Saímos de lá e ele me levou em direção ao que seria o meu quarto. Quando a porta se abriu, eu fiquei boquiaberta; a vista era simplesmente esplêndida.
Eu sabia de alguém que morreria por aquele quarto.
Não sei se foi ironia do destino, mas meu celular tocou naquele mesmo instante.
O nome na tela me causou arrepios, um nervosismo…
Avery…
— Ei… — Foi tudo que eu consegui dizer.
Você está muito ocupada? Eu nunca sei a melhor hora para te ligar. — A voz de Avery era calma como sempre.
— Não, na verdade você ligou no momento perfeito! Você se importa se nos falarmos por FaceTime? — Nem esperei por uma resposta e fiz o pedido.
Eu queria muito compartilhar aquela conquista com ele.
Fiquei sem palavras quando ele apareceu na tela do celular. Sua barba estava muito maior do que o habitual, os cabelos loiros jogados para trás e sua boca vermelha como sangue.
Me perdi em seus olhos verdes.
Então…qual é o momento perfeito? — Avery me tirou dos meus devaneios.
— Deixarei a senhorita à vontade — Arthur avisou baixinho e se retirou do quarto.
— Finalmente encontrei onde morar! — Voltei minha atenção para Avery. — Olha essa vista!
Passei a mostrar o quarto para ele, que tinha uma vista linda da cidade assim como a sala de estar. Janelas enormes rodeavam todo o espaço.
E do meu quarto, eu tinha acesso à área de Lazer, onde tinha uma piscina…
! — Avery chamou meu nome em um tom alto. — Desculpa…eu estou para entrar em uma cirurgia, preciso ser rápido…
— Claro! — Engoli seco.
Meu coração palpitou; ele tinha algo sério para me dizer. Suas feições agora o entregavam, seu maxilar estava rígido e ele não sorria como no início.
Dr. Avery, a sala está quase pronta. — Escutei uma voz feminina avisar e o vi confirmar com um aceno.
Me desculpe, . Eu estou realmente feliz por você, mas preciso ir direto ao ponto. — Em seus olhos, eu conseguia ver como aquilo estava sendo difícil para ele.
Apenas assenti.
Eu achei uma pessoa interessada na compra do nosso apartamento e…
Tudo à minha volta parou.
Ele queria mesmo vender o apartamento em Los Angeles?
Comecei a caminhar na tentativa de processar suas palavras. Ao chegar no primeiro andar apenas disse para Arthur que ligaria para ele logo pela manhã e saí do apartamento.
Oliva, você me ouviu? — A voz de Avery rompeu minha bolha.
— Eu achei que íamos conversar sobre isso. — Não consegui esconder minha frustração. — Lembra?
Nós já conversamos uma centena de vezes, . — Avery bufou impaciente.
Eu é quem deveria estar irritada!
— Por que vender o apartamento? Você ainda pode morar nele e quando eu volt…
Para, ! — Avery apertou os olhos. Ele estava frustrado. — Nós dois sabemos muito bem que você nunca irá voltar.
Suas palavras foram como adagas no meu peito e passei a andar apressada em direção ao elevador. Minhas pernas estavam moles, meu coração espancava meu tórax.
Massacrei o botão do elevador. Eu precisava sair dali. Necessitava de ar.
E eu estou me mudando de qualquer forma. — Aquela informação era nova.
Quando foi que ele deixou de me contar as coisas?
Talvez quando fui uma egoísta e o deixei sem nem poder participar da minha decisão.
? — Uma voz suave chamou meu nome. Aquela não pertencia ao Avery, então me dei conta de que a porta do elevador estava aberta.
estava encostado na parede e me encarava como se tivesse visto um fantasma.
Aquele era um péssimo momento para encontrá-lo.




Continua...


Nota da autora:


Oi, meus amores! Tudo bem? Eu voltei mais rápido do que o esperado com uma att e espero que gostem!!!