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Independente do Cosmos🪐

Última Atualização: 02/09/2024

GROVE CITY, OHIO — DIAS ATUAIS.


Um frio percorreu a espinha de à medida que observava o sangue espalhado por sua pele. A quentura do líquido fez todo seu corpo estremecer e sorriu ao ver o reflexo no vidro escuro de seu carro. O fim de uma caçada era sempre tão animador quanto o início, acabar com todos aqueles monstros era o seu passatempo preferido.
Nunca se cansaria.
Estava convicta.
O bombear do coração estava diferente, o sorriso no rosto havia mudado. Os últimos seis meses foram tão intensos que ela tinha certeza que poderia contar nos dedos as horas dormidas, mas isso nem a preocupava. Muito pelo contrário. As noites de sono estavam ficando cada vez mais difíceis; insônia e dores de cabeça pareciam ter se tornado seus maiores aliados, então se jogar no trabalho era a única saída para não surtar.
Não tinha nada neste mundo que gostasse mais de fazer. A caçada era sua vida. Seu legado.
— Meu Deus. — Uma voz feminina exclamou ao jogar um pano limpo em sua direção. — Você está horrível, sem contar o cheiro, é claro.
recostou-se no AUDI R8 estacionado no meio do nada. A garota encarou a amiga, que sorriu ao se limpar.
— Qual é! Eu adoro isso! — gritou empolgada. — Fala aí, Bobby, tem sensação melhor do que essa?
— Tem sim. — Bobby suspirou, estava exausto da caçada. — Uma vida normal. — O barulho do capô do carro ao fechar reverberou no vazio da noite junto a voz do velho amigo.
Era tudo o que Bobby Singer queria, não só para , como para a amiga da garota também. Uma vida normal em que não precisasse se preocupar com a morte precoce das duas.
— Caralho, Bobby. — não conteve a frustração, aquele papo já estava dando nos nervos.
Singer a repreendeu com o olhar, mas não disse nada conforme caminhou até seu carro.
— Tá, desculpa, mas eu não aguento mais você com esse papo de vida normal. — Suspirou frustrada. Não queria ferir os sentimentos do homem, que era como um segundo pai para ela, mas não conseguia disfarçar o incômodo. — Eu gosto dessa vida, Bobby, nasci para fazer isso, entende? O negócio da família!
permaneceu em silêncio, porque lá no fundo ela entendia as razões de Bobby e até gostava da ideia de se aposentar, mesmo sabendo que jamais o faria.
O que era para ser um momento descontraído e de conquista se transformou em um clima desconfortável.
— Fui criada nesta vida, Bobby, eu não…
— Porque seu pai não tem juízo algum — o homem esbravejou, interrompendo-a, o descontentamento estampado em seu rosto com rugas evidentes.
o encarou por alguns instantes. Nunca o tinha visto tão frustrado e incomodado com a vida que levava. Uma parte dela queria muito confortá-lo e dizer que nada aconteceria, mas estaria mentindo se o fizesse. Todos sabiam que caçadores tinham uma vida curta e imprevisível. Um dia você acordava feliz e ia dormir da mesma forma, no outro poderia não ser assim.
O barulho de notificação do aparelho de foi o responsável por quebrar o clima pesado.
— Coordenadas? — Van ficou empolgado quando Ally assentiu. — Ótimo.
— Ao menos façam um favor a esse velho aqui e tirem algumas horas de descanso. — Bobby puxou para um abraço apertado. — Se cuida, garota.
Com um beijo na testa de cada uma foi como ele se despediu das duas jovens e partiu em seu carro sem dizer mais nada.
— Van, você precisa pegar mais leve com ele — disse ao saltar para dentro do AUDI.
revirou os olhos e ligou o rádio no volume alto. Sua cabeça estava explodindo e ela não tinha paciência alguma para discutir com a amiga naquele momento, que pareceu entender o recado ao se recostar no banco e fechar os olhos.
Parte do efeito também era o cansaço. Uma coisa que parecia incapaz de realmente sentir nos últimos meses. Quanto mais caçadas faziam, mais energia ela produzia.
Sem se deixar pensar muito nos medos que a assolavam, ela pisou no acelerador sem dó. Afinal, tinham boas dez horas de viagem pela frente.

Universidade Stanford – Dias atuais.


A passos lentos, ele tentou seguir a garota misteriosa. Baixa visibilidade dentro do lugar não ajudava em nada e o cheiro podre tornava cada vez mais difícil respirar.
Não tinha ideia de onde estava.
Ele arrastou os pés em uma tentativa de não fazer muito barulho, mas o som estridente de uma madeira rangendo fez a dona dos cabelos virar-se bruscamente. O rapaz foi rápido o suficiente para se esconder atrás de uma porta.
Não sabia o porquê, mas não queria ser visto por ela. Não ainda.
Prendeu a respiração o máximo possível e só a soltou quando voltou a ouvir os passos da garota.
Caminhou por entre cômodos, mas não conseguia compreender muito bem o que estava fazendo ali e porque a seguia. Então tudo aconteceu muito rápido, o cheiro de enxofre invadiu seu nariz e mãos habilidosas o seguraram e, em segundos, sentiu a faca afiada contra seu pescoço.
— Por que está me seguindo? — A voz familiar soprou contra seu ouvido.
Não conseguiu compreender muito bem porque permaneceu parado, sem demonstrar resistência.
Algo parecia errado.
— Eu… não sei. — As palavras saíram de sua boca em forma de confusão.
Mas que merda ele estava fazendo?
Ela parecia tão confusa quanto ele e, ao sentir o agarre se afrouxar, ele se afastou e ficou de frente para a ela, pronto para atacar, mas paralisou ao olhar para seu rosto. O coração bateu forte e seus olhos não conseguiam acreditar no que via.
— Não…. — balbuciou em desespero.
Os olhos negros da garota se arregalaram e ela estava tao assustada quanto ele, mas não deixou isso transparecer em sua expressao.
Uma dor inexplicável se assolou no coração dela.
— Sam… — murmurou com a voz trêmula.
— Não! — Sam gritou em desespero. — Eu vou consertar isso… nós vamos….
Um estrondo os separou e seus olhos se abriram. Sam sentiu-se um idiota ao encarar o teto de seu quarto e dar-se conta de que tudo não passava de um sonho, ou melhor, um terrível pesadelo.
Não teve muito tempo para digerir o que viu em seu sonho, pois o estrondo se fez presente de novo e teve certeza de que dessa vez não estava sonhando.
Tinha alguém em seu apartamento.
Samuel saltou da cama e caminhou minuciosamente até o corredor a poucos metros da sala de estar. Se recostou contra a parede ao ver a sombra de alguém passar pela porta de entrada.
Deu a volta, mas foi pego de surpresa ao ser puxado por braços fortes. Sam chutou em direção ao alvo, mas não o acertou. Sem perder tempo, ergueu seus braços e iniciou uma luta com o desconhecido. Por mais treinado que ele fosse, acabou imobilizado sem dificuldade e jogado contra o chão.
Foi então que reconheceu o cara em cima dele.
— Dean?
Seu irmão mais velho abriu um sorriso presunçoso, e apesar do escuro, foi capaz de reconhecê-lo.
— Parece que perdeu a prática, irmãozinho. — Dean sorriu satisfeito.
Sam riu e se desvencilhou do irmão, virando-o e imobilizando Dean no chão.
— Ou não. — Dean sorriu.
Dean Winchester não havia mudado nada, mesmo depois de tanto tempo. Com o casaco esverdeado de sempre, calças surradas e o sorriso presunçoso nos lábios.
— O que você faz aqui? — Sam estava confuso. Não se viam há dois anos.
— Ah! É bom ver você também, Sammy. — O tom de Dean era de ironia.
O loiro soltou o irmão, ficou em pé e caminhou pelo apartamento. Dean observou o ambiente arrumado e sem nada fora do lugar e sorriu. O caçula não tinha mudado em nada nesses dois anos.
— Não disse que não estou feliz em vê-lo. — Sam o encarou, meio sem saber o que dizer. — E só que, tem sei lá o que, uns… — Procurou as palavras, mas não as encontrou.
Sua relação com o irmão mais velho nunca foi perfeita, mas o admirava e amava do seu jeito.
— Dois anos que não nos vemos? Sei. — O loiro riu. Estava tão desconfortável quanto Sam.
— Sam, aconteceu alguma coisa? — Uma voz feminina quebrou o clima tenso entre os irmãos.
Jéssica entrou na sala vestindo apenas calcinha e uma blusa com o desenho dos smurfs e parou ao lado de Sam.
— Oi. — Dean sorriu e aproximou-se. — Sou Dean, o irmão mais velho e mais bonito.
— É um prazer… — A garota sorriu e segurou a mão do rapaz.
— Sabe, você é muita areia para o caminhãozinho do meu irmão. — O mais velho brincou só para provocar Sam, que revirou os olhos.
— Acho melhor eu trocar de roupa….
— Não, tudo bem, adoro os Smurfs. — Riu de leve.
— Ta, já chega. O que você quer, afinal? — Sam estava impaciente.
Parte dele sabia que para Dean aparecer do nada após dois anos, coisa boa não era.
— Acho melhor conversarmos lá fora… — Dean apontou para saída e depois voltou a encarar Sam.
O mais velho sabia muito bem que o irmão jamais teria contado à garota sobre a sua vida antes de conhecê-la.
E era melhor assim.
— O que você tiver para falar, pode dizer na frente da Jess. — Sam passou os braços pela cintura da namorada e a puxou para mais perto de si.
Dean quase acreditou que ele não tinha nada para esconder.
— Tudo bem. — Soltou um riso nasalado. — O papai está caçando e não aparece em casa há dias.
— Você conhece o papai, ele deve ter se embebedado e está em algum lugar sem sinal no celular. — Samuel deu de ombros.
Dean soltou uma risada nasalada.
Ele só poderia estar de sacanagem, não é?
Tentou ser o mais discreto possível na frente da garota, mas Sam não estava colaborando, então por que ele deveria fazer o mesmo?
Respirou fundo e então mudou sua expressão e ficou sério.
— O papai, está, caçando, e não aparece em casa há dias, Sammy. — Sua voz saiu pausada e rouca, seus olhos focaram nos de Sam sem nem sequer piscar.
Sam contraiu o maxilar conforme a voz do irmão atingiu seus ouvidos. Ele sabia muito bem o que Dean queria dizer e não poderiam tratar do assunto na frente de Jéssica.
— Jess, pode nos dar licença?
A garota nem mesmo o questionou e foi para o quarto.

— O que é, cara? Você aparece no meio da noite e quer que eu caia na estrada com você? — Sam tentava acompanhar os passos de seu irmão escada abaixo.
— O que é, Sam? Você não me ouviu, não? O papai sumiu e eu preciso da sua ajuda para encontrar ele! — Dean revirou os olhos; o egoísmo do irmão não tinha mudado em nada.
— Lembra do poltergeist em Airmaster? Da porta do Diabo em Clifton? Ele sumiu também. Ele sempre some e sempre fica bem.
Dean virou e o encarou. Não podia acreditar nas palavras do irmão. Nem sequer demonstrou um pingo de preocupação com o próprio pai. Entendia que os dois nunca se deram bem, mas isso era demais até para ele.
— Não por tanto tempo — frisou. — Você vem ou não?
— Eu não vou!
— Por que não? — Dean insistiu. Sabia que conseguiria encontrar seu pai sozinho, mas não queria.
— Jurei que não iria mais caçar. Nunca. — Sam parou ao chegar na portaria do prédio.
— Qual é, não foi fácil, mas também não foi ruim. — Deu as costas para o irmão e foi em direção a porta.
— É? Quando falei para o papai que tinha medo, ele me deu uma arma! — Sam esbravejou. Sabia que a discussão não ia levar a nada, mas era sobre como ele se sentia.
Não conseguia mais esconder sua frustração com a vida que levavam.
— E o que queria que ele fizesse?
Dean estava cansado e não queria discutir de novo.
— Eu só tinha nove anos. Ele podia ter dito para eu não ter medo do escuro! — A voz de Sam se alterou e ambos pararam.
— Não ter medo do escuro? Fala sério, sabe o que tem lá!
— É, eu sei, mas só pelo jeito que ele nos criou, depois que a mamãe morreu… a obsessão do papai em achar a coisa que a matou. E nunca encontramos essa maldita coisa. — Sam bufou. Ele não queria ferir os sentimentos de Dean, mas não conseguia esconder como se sentia. — Aí matamos qualquer coisa ruim que aparece?
Dean não disse nada e apenas encarou o caçula.
Por que tinha ido até ali mesmo? De repente pareceu uma péssima ideia.
— Acha que mamãe ia querer isso para nós? — Samuel provocou.
Dean nem se deu o trabalho de responder e abriu a porta, saindo antes de perder a cabeça com o irmão.
Sam o seguiu, os nervos à flor da pele. Ainda estava com raiva pelo irmão ter aparecido no meio da noite, por não respeitar suas escolhas e praticamente querer forçá-lo a ir com ele.
— Treino com armas, derreter prata para fazer bala? Qual é, Dean, fomos criados como guerreiros!
— E o que você vai querer fazer? Levar uma vida normal? — Dean debochou ao virar-se com os braços abertos. — É isso?
— Não, normal não. Segura. — Sam estava irritado e Dean sabia disso, mas a falta que sentia do irmão era maior do que a sensatez de apenas deixá-lo ficar.
Não era mais sobre o sumiço de seu pai, era sobre tudo. Quando Sammy foi embora, ele não pensou que duraria muito tempo, afinal, já tinha feito isso muitas vezes, mas o irmão sempre voltava. Contudo, a última partida durou longos dois anos.
Só o queria de volta em sua vida.
— É por isso que você fugiu?
Sam riu exasperado. Não conseguia entender a insistência exagerada por parte do mais velho. Dean nunca foi de implorar.
— Eu me mudei para estudar. Papai disse que se eu fosse, era para ficar longe. É o que eu estou fazendo.
— Mas dessa vez o nosso pai está em perigo, se é que não está morto. Eu sinto isso. — Dean fez uma pausa à medida que apertava os olhos. Pensar que seu pai poderia estar morto era doloroso, muito pior do que qualquer coisa que ele já havia enfrentado até agora. — Eu não posso ir sozinho.
— Você pode sim! — Sam insistiu.
— É, mas não quero. — Dean desviou o olhar e sentiu a vergonha lamber sua pele.
Sam bufou audível. Sabia que o irmão não ia desistir.
— O que ele foi caçar? — tentou quebrar a tensão entre eles.
Dean abriu um sorriso de ponta a ponta e caminhou em direção ao porta malas do velho Impala, o abriu e vasculhou seu arsenal, com nada menos que: armas, balas, estacas e tudo o que um caçador precisava para matar monstros.
Sam encarou tudo em silêncio.
— É…. Onde foi que eu coloquei aquela coisa? — Dean cochichou para si.
— Quando papai saiu, não deixou você ir com ele? — Samuel sentiu-se curioso de repente. Não era comum que Dean não fosse caçar com o pai.
— Eu estava fazendo outra coisa, um vudu em Nova Orleans — explicou, ainda vasculhando o arsenal.
— Espera aí, papai deixou você em uma caçada? Sozinho? — Sam tinha um tom surpreso.
— Oh, cara, eu tenho vinte e seis anos. — Dean o encarou, sem acreditar na pergunta idiota. — Aqui, achei. O papai estava investigando uma coisa em Jericho, Califórnia. Um cara, esse cara aqui, há um mês — ele passou os papéis para Sam. — Acharam o carro, mas o cara sumiu, completamente.
— Vai ver ele foi sequestrado. — Samuel deu de ombros ao ler o papel em sua mão.
— É, pode ser…. tem mais um em abril, outro em dezembro. Dois mil e quatro, três, noventa e oito, noventa e dois. Dez, nos últimos vinte anos. — Riu com ironia e puxou os papéis da mão do irmão. — Todos homens, em um trecho de oito quilômetros.
Sam o encarou. Estava surpreso com a dedicação de Dean em relação a caçada e tão aberto a pesquisar sobre o caso, afinal, era sempre ele quem caía de cara nos livros e ia a bibliotecas para conseguir informações. O mais velho sempre ficava com a parte da ação, procurar pistas e matar os monstros.
Passou tanto tempo em sua vida normal com Jess e a rotina de estudos para entrar na faculdade que tinha esquecido como era este tipo de adrenalina. Contudo, apesar da curiosidade, não queria voltar a caçar.
Gostava da sua vida normal.
— Começou a acontecer mais e mais. — Dean continuou enquanto abria um bloco de anotações e Sam não conteve a curiosidade, focando seu olhar ali. — Nosso pai foi investigar há umas três semanas. E ele não deu mais notícias, o que não é bom… Aí ontem eu recebi uma mensagem de voz. — Ele pegou um gravador e apertou o botão iniciar.
"Dean, alguma coisa está acontecendo, acho que é grave. Preciso descobrir o que é… é preciso, muito cuidado. Estamos em perigo. Muito cuidado…"
A gravação terminou e ambos se encararam.
— Descobriu alguma coisa nela? — Sam referiu-se a fita.
— Nada mal, Sam. Estou vendo que não perdeu o jeito. — Um sorriso largo tomou conta dos lábios de Dean. — Olha só, eu diminuí a rotação, processei a fita, tirei o ruído e veja o que achei.
Apertou o play de novo.
"Não posso voltar para casa…" — A voz de uma mulher saiu através da fita, como um sussurro.
— Não pode voltar…. — Sam observou, em uma tentativa de compreender o conteúdo das palavras.
Dean guardou tudo, fechou o porta malas e recostou-se ali. Mostrou tudo o que tinha para o irmão, provou que realmente tinha um caso, mas não podia obrigá-lo a ir com ele se não quisesse. Sam, por sua vez, apenas o encarou sem dizer nada e o único barulho capaz de se ouvir eram os das folhas das árvores sendo chacoalhadas pelo vento forte.
— Em quase dois anos, eu nunca aborreci você, nunca te pedi nada. — Dean foi o primeiro a falar, o coração indo parar na boca.
— Tudo bem, eu vou. — Sam bufou, frustrado. — Eu vou te ajudar, mas tenho que voltar até segunda, espera aqui — pediu e virou-se para voltar ao apartamento e pegar suas coisas.
— Por que na segunda? — Dean não conseguiu conter a curiosidade.
— Eu tenho uma… uma… — Sam queria uma forma de explicar sem precisar dizer muita coisa. — Tenho uma entrevista.
— De trabalho? Desmarca.
— Para a faculdade de Direito. É o meu futuro que está em jogo. — Sam revirou os olhos.
— Direito?
— Está combinado, ou não está? — Sam perguntou seco.
Dean fez um sinal positivo com a cabeça e saltou para dentro do Impala, escolhendo desta vez não falar mais nada, com medo do irmão acabar desistindo. Por ora, se contentaria com apenas um final de semana caçando ao lado do irmão.

Dean saiu da loja de conveniência do posto carregado de cerveja, salgadinhos e doces. Sem dúvida aquela era a sua parte preferida de cair na estrada.
Sam abastecia o Impala quando ele se aproximou com a expressão de uma criança que tinha acabado de ganhar seu doce favorito.
Era quase fofo.
Os irmãos não trocaram muitas palavras durante a viagem e nenhum dos dois parecia saber muito bem como conversar, ou sequer interagir para melhorar o clima.
— E aí, quer tomar café? — Dean tentou quebrar a tensão.
— Ainda nessa de cartões falsos, Dean? — Advertiu Sam ao terminar de abastecer o carro.
— O que eu posso dizer? As caçadas não são bem uma carreira. — Deu de ombros enquanto ria e voltou para dentro do carro.
John Winchester ensinou Dean como forjar cartões de banco para poder sobreviver nessa vida de caçador. Diferente de Sam, ele não se sentia culpado por usá-los ou pelas identidades falsas, afinal, para ele, estava fazendo um bem maior salvando o mundo dos monstros.
— Aí, vou te mandar a real, tem que melhorar essa tua coleção de fitas — Sam zoou conforme mexia na velha caixa do irmão, já dentro do carro.
— Por que?
— Bom, primeiro, porque são fitas — riu sarcástico. — E depois, Black Sabbath? Motorhead e Metallica? Maiores sucessos do rock brega.
Dean apenas arqueou as sobrancelhas diante da ousadia do irmão, mas não conteve a risada com a brincadeira.
Gostava mais dele assim do que calado.
— É? — indagou ao retirar a fita da mão de Sam e enfiar no toca fitas. — Normas da casa, Sammy: quem dirige escolhe a música, a arma cala os protestos!
— Se liga, Sammy era um garoto de doze anos. Agora é Sam, valeu?
Dean apenas riu e aumentou o volume.
— Desculpa, eu não escutei, a música tá muito alta — Dean riu e deu partida, seguindo viagem.
Samuel revirou os olhos e abaixou o volume. De repente, algo cruzou seu pensamento e achou uma boa ideia trazer à tona com Dean devido ao clima bom entre eles.
— Qual foi, agora? — Dean resmungou.
— Me diz uma coisa, você alguma vez cruzou com a por aí nas caçadas?
Dean sentiu o coração acelerar, a boca secar, mas permaneceu inexpressivo. Jamais deixaria transparecer que apenas a menção do nome da garota o deixava desnorteado, não depois do que ela fez.
— Quem? — Se fez de desentendido.
Samuel até teria acreditado na encenação do irmão, se não o conhecesse tão bem.
— Não se faz de maluco, Dean, sabe muito bem de quem eu estou falando — insistiu. — .
Dean engoliu em seco. Não falava ou pensava na garota há anos e bastou uma simples menção do nome dela para sua cabeça sair do lugar e seu coração saltitar no peito.
Era ridículo pra caralho se sentir um adolescente de novo.
Não podia permitir.
— Por que quer saber?
— Sim ou não? — Sam era insistente pra caramba e Dean sabia que ele não pararia até ter uma resposta.
— Não, eu não a encontrei — foi seco; não queria prolongar o assunto. — Por que isso agora?
— Sei lá, pensei que seria legal poder reencontra…
— Vira essa boca pra lá, Sam — Dean esbravejou. — A última coisa que eu quero é ver essa garota na minha frente, entendeu?
— Se você diz….
Dean estava puto, mas não queria descontar no irmão, então aumentou o volume da música até o último e pisou no acelerador.
Só uma boa caçada poderia acalmar seus ânimos depois do nome da maldita garota.
era passado e jamais deveria se tornar presente de novo.

JERICHO, CALIFÓRNIA — A MULHER DE BRANCO.


reduziu a velocidade ao ver a placa "Bem-vindo a Jericho" ser ultrapassada enquanto ouvia reclamar da maneira como ela falou com Bobby mais cedo. Apesar de reconhecer o quanto foi dura com ele, não sentia-se culpada, pois já havia deixado muito claro para o homem que jamais trocaria sua vida de caçadora por uma normal.
Indo contra o pedido do velho amigo, as duas não descansaram. dormiu no banco do passageiro a maior parte da viagem e preferiu dirigir por todo o caminho, apesar da insistência da amiga para ela dormir por algumas horas.
— Delegacia primeiro? — Van sugeriu empolgada.
— Por Deus, ! — resmungou ao fechar seu notebook sobre o colo. — Eu preciso de um banho e você também!
revirou os olhos, mas se deu por vencida. Realmente o cheiro dentro do carro estava insuportável, pois o máximo que conseguiu foi parar em um posto de quinta e usar uma mangueira para se livrar de todo aquele sangue e colocar uma roupa limpa.
— Nada de enrolar, viu? — avisou entre risadas e pegou um desvio ao ver a placa para um motel próximo de onde estavam.
Ally apenas deu o dedo e aproveitou para dar uma checada em seu celular, nem dando muita atenção para as gracinhas da amiga.
teria continuado a irritar a amiga – já que era seu passatempo favorito – se não fosse o peso que se assolou em seu coração. Foi como se um buraco se abrisse bem em seu peito, sem explicação nenhuma, exatamente como vinha acontecendo nos últimos seis meses.
Odiava a sensação, mas ainda não tinha conseguido descobrir como parar, então apenas ignorou e seguiu dirigindo até chegar ao motel caindo as pedaços bem na entrada do centro da cidade.
— Vou pegar um quarto pra nós, consegue descarregar as malas? — Van avisou e seguiu em direção a entrada do motel.
Na recepção ela encontrou um homem que parecia ter por volta dos seus quarenta anos, uma cara rabugenta e que resolveu implicar com o cartão oferecido.
Era tudo que ela não precisava.
— Algum problema? — indagou impaciente.
Tinha um caso para resolver e não queria perder tempo com banalidades.
— Nada, só achei o nome engraçado. — O homem provocou. — Gertrudes…
revirou os olhos, mas nem se deu o trabalho de discutir.
— Quarto A617. — O homem entregou as chaves com a carranca estampada no rosto, mas ela não deu a mínima e saiu de lá sem nem olhar para trás.
sabia muito bem o que a reação do homem queria dizer e por isso achou importante ficar esperta com qualquer chegada da polícia.
— Vamos levar só o necessário para o quarto. — Avisou a Ally assim que retornou para o estacionamento. — Parece que o velho ficou desconfiado….
— Droga, Van! — resmungou. — Eu disse para pagar em dinheiro.
— Relaxa, ok? Não vai dar em nada, pegue apenas o necessário e se os policiais brotarem aqui, caímos fora antes mesmo de sermos pegas — tranquilizou a amiga e jogou apenas sua pequena mochila sobre os ombros. — Vai na frente, eu vou pegar uma coisa na máquina de conveniência e te encontro no quarto A617.
A caçadora nem se deixou ser questionada e seguiu de volta para a pequena recepção do motel. não gostava de ser paranoica, mas poderia jurar que alguém a observava de longe, por isso comprou bebidas, salgadinhos e sem olhar muito para os lados – queria parecer distraída –, foi em direção ao seu quarto.
Ela dobrou os corredores a passos lentos, sem muita pressa. Precisou conter a vontade de olhar para trás e deixar quem quer que estivesse a seguindo saber que ela estava em alerta. Discretamente enviou uma mensagem de aviso para , com um código que sempre usavam para situações assim, e começou a andar em círculos pelo lugar.
Com uma rapidez invejável, ela despistou quem quer que a estivesse seguindo e ficou atrás de dois rapazes altos.
— O quê? Ela estava aqui mesmo…. — um deles falou, confuso.
franziu o cenho, meio sem acreditar no que via e, então, quando os dois chegaram a um corredor sem saída, evidentemente confusos, ela colocou a arma na cabeça do moreno, enquanto apareceu, fazendo o mesmo com o loiro.
— Olá, rapazes — soou irônica.
— Soltem as armas! — avisou ao ver o loiro pegar a dele.
— Por favor, meninos — Van brincou, achando graça no que acontecia.
Ninguém a seguia sem ser pego antes.
— Agora virem com calma e não façam nada, eu odiaria machucar seus lindos rostinhos — avisou em um tom de voz mais sério.
Os dois homens se viraram, e então a expressão de se transformou em puro choque.
? — O moreno balbuciou com uma expressão de espanto em seu rosto.



A carranca de Dean deixava bem claro o seu descontentamento ao reencontrar a garota. Enquanto Sam tentava processar os seus sentimentos ao revê-la.
Ninguém teve coragem de falar muito por todo o percurso até o quarto alugado de e .
O clima pesado era quase tangível.
— Já pode abaixar a arma, viu? — Dean se referiu a . — Não vamos te machucar…
A garota olhou para , que assentiu em um recado silencioso de que não estavam mais em perigo.
Na verdade, nunca estiveram.
— Eu nem acredito que é mesmo você… — Sam estava atordoado com a presença da amiga, sem acreditar na coincidência do sonho e encontrá-la.
A caçadora sorriu e uma pontada de culpa rasgou seu peito.
— É bom te ver também, Sam. — Suas palavras eram sinceras, mas Dean revirou os olhos com aquela palhaçada toda.
Sam só poderia estar de sacanagem. Ser legal com essa garota? Sério?
— Ok, vamos cortar a palhaçada e fingir que algo que sai da sua boca é verdade. — Riu irônico ao ignorar o olhar de repreensão por parte do irmão. — Por que está na cidade, ?
o ignorou; não devia satisfações de sua vida a ele. De forma despretensiosa, ela caminhou para pegar uma cerveja, mas foi pega de surpresa quando uma mão a interrompeu de abrir a geladeira.
— Por que está na cidade, ?
foi rápida o suficiente para apontar a arma na direção de Dean e não hesitou em engatilhar.
Ele a conhecia o suficiente para saber que ela não hesitaria em atirar nele se precisasse.
— Primeiro, não encosta em mim. — O olhar de repousou sobre a mão dele em seu braço. — Segundo, eu não te devo satisfações, Winchester. Não tente agir como John, porque você não chega nem aos pés dele.
O olhar frio do rapaz a atingiu como um soco, mas ela se manteve impassível.
…. — Ally não sabia qual era o nível de relação dela com os rapazes, mas só pela expressão dos irmãos soube que ela tocou em uma ferida profunda.
— Cara, para com isso… o foco é o caso — Sam pediu ao puxar o irmão pelo ombro, que se afastou de .
— Podem ir embora, nós cuidamos do caso — Dean avisou e logo em seguida o som de porta batendo reverberou no quarto.
— Ótimo — Sam resmungou baixo. — Ele vai mudar de ideia, não vá embora, … por favor. — E então ele saiu atrás do irmão.
Tudo que ele não precisava era um Dean furioso.
soltou o ar auditivamente quando ambos deixaram o quarto, encontrá-los era a última coisa que ela esperava, sempre se atentava o bastante para não cruzar com nenhum dos Winchesters, mas dessa vez foi descuidada e iria pagar o preço por isso.
— O que foi isso? Você e os Winchesters? — estava boquiaberta; a amiga nunca tinha mencionado nada sobre eles. — Quando ia me contar?
revirou os olhos e foi até sua mochila; precisava de um banho e cair de vez nesse caso. Não queria falar sobre os malditos Winchesters e muito menos seu passado ao lado dos irmãos.
Nos últimos quatro anos não precisou de nenhum deles e não era agora que isso mudaria.
— Vai me deixar no escuro? Sério? — Ally insistiu.
— Ally, não tem nada para contar. — Deu de ombros. — Resolvemos alguns casos e eu aprendi que não se deve confiar em um Winchester, fim de papo.
A caçadora entrou no banheiro sem dar qualquer chance para continuar a discussão. O estrondo da porta foi tão alto quanto o deixado por Dean. Ela estava puta da vida.
Quem aquele filho da puta do Dean achava que era para intimidá-la daquele jeito? Pensava que ela ainda era a mesma garotinha que o viu pela última vez?
Ele não tinha o direito de aparecer e a tratar como criança, não depois de tudo.
Seus nervos estavam à flor da pele, por isso optou por um banho gelado. Precisava se acalmar, manter a cabeça no lugar e cuidar do caso.
Nenhum Winchester a mandaria embora da cidade.
Nem fodendo.

☪ ✷


Dean estava irredutível.
Ele queria fora da cidade e deixou claro para Sam, em uma discussão bastante acalorada, que não se esforçaria em esconder.
Os dois escutaram no rádio que os policiais estavam averiguando o local do crime e seguiram para lá. Queriam focar no caso que, segundo Dean, era a única coisa que ele queria pensar sobre. Uma mentira tão deslavada que o fez se sentir patético, uma farsa.
Quem ela achava que era falar com ele daquele jeito? Porra!
E que merda tinha a ver John? Quem disse que ele queria se parecer com o pai? Em que mundo ele sequer disse isso a ela?
Puta merda!
Não passou nem cinco minutos do lado de e ele já estava questionando a si mesmo e seus próprios pensamentos e vontades.
Se não fosse por Sam, ou o resto dos habitantes da cidade, ele seria capaz de explodir aquela merda só para ver a garota desaparecer.
— Você não precisava ter falado daquele jeito com a . — Sam advertiu o irmão, ao vê-lo estacionar próximo de uma ponte velha, onde uma movimentação policial chamava atenção.
Dean nem deu ouvidos.
— O que você pensa que tá fazendo? — Sam olhou boquiaberto para o irmão ao vê-lo pegar identidades falsas do FBI dentro do porta luvas.
— Tem uma ideia melhor? — Sam permaneceu em silêncio, sem esconder a indignação. — Foi o que pensei.
Os dois caminharam despretensiosamente em direção ao carro — que parecia pertencer a vítima — onde dois policiais locais conversavam sobre o que parecia ser a namorada do rapaz desaparecido, informação que ambos obtiveram durante a longa viagem de carro ao ler os noticiários.
Dean encarou os agentes da lei com desprezo; odiava o péssimo trabalho que eles faziam.
— Vocês tiveram um caso como esse no mês passado, não foi? — Dean caminhou em volta do carro para poder observar.
Sam não conseguia esconder seu nervosismo, se fossem pegos usando identidades falsas estavam ferrados.
— Quem são vocês? — um dos agentes indagou.
— Polícia Federal — Dean foi seco ao mostrar o distintivo.
— Não são meio jovens para federais? — O agente os encarou de cima a baixo.
Samuel sentiu as mãos suarem, mas permaneceu na encenação do irmão.
O que mais poderia fazer?
— Ah, obrigado, é muita gentileza sua. — Dean sorriu irônico.
Os caras não tinham ideia do que estavam fazendo.
— Tiveram mais alguns além do mês passado, certo?
— Isso mesmo, cerca de 1,5 km daqui…. — O agente pareceu relaxar. — E outro antes….
— E quanto a vítima? — Sam o cortou, algo parecia não se encaixar. — Vocês a conheciam?
— A cidade é pequena, todo mundo se conhece…
— Alguma….
— Não podem entrar aqui, mocinhas. — O agente de repente falou com uma voz alterada e os dois Winchester desviaram seus olhares.
Dean nem disfarçou ao fechar a cara, puto da vida, mas respirou fundo para não perder a cabeça. Ele estava fingindo ser um Agente Federal e não podia simplesmente surtar no meio do trabalho.
Maldita seja . Foi a primeira coisa que ele pensou, mas não falou.
— Polícia Federal — mostrou o distintivo e sorriu vitoriosa na direção de Dean.
Se ele achava que ia se livrar dela tão fácil, estava bem enganado.
Sam não conseguiu conter o sorriso. Não queria a garota longe, gostava do reencontro com ela.
— O que é isso? Um grande evento da Polícia Federal? — O agente local olhou irritado.
— Não, apenas gostamos de fazer o nosso trabalho com qualidade — alfinetou, o que arrancou um belo sorriso de Dean.
Ele não odiou admitir, mas tinha gostado da garota naquele momento.
— Alguma ligação entre as vítimas, além de serem homens? — Dean continuou a pergunta que iria fazer antes de ser interrompido. Por mais que a vontade de degolar fosse grande, precisava focar no caso.
Se resolveria com ela depois.
— Não, até agora nada.
— E qual é a teoria? — perguntou ao caminhar e observar todo o sangue dentro do carro.
Bela merda de trabalho. Ela pensou.
Sam deu meia volta e usou o EMF por todo o carro, que não parou de captar as ondas.
Ao menos uma resposta tinham: era um caso de fantasma.
— Honestamente? Não sabemos. Serial Killer? Sequestradores? — O agente tinha quase um ponto de interrogação bem no meio da testa.
— É, é bem o tipo de trabalho de segunda que esperamos de vocês. — Dean sorriu irônico, mas precisou engolir seco quando Sam lhe deu um pisão no pé.
não conseguiu conter a risada quase audível que saiu de sua boca. por sua vez estava boquiaberta.
— Obrigado pela atenção — Sam não sabia onde enfiar a cara. — Senhores.
Dean estava ficando louco falando daquele jeito com o agente da lei?
O mais velho estava puto; odiava que chamassem sua atenção.
— Por que fez aquilo? — Sam esbravejou ao receber um tapa na cabeça.
— Precisava pisar no meu pé? — Dean revirou os olhos.
— E aquilo é jeito de falar com um policial?
— Tanto faz, os caras não tem ideia do que tá acontecendo… — Dean perdeu o raciocínio de sua justificativa ao ver e a amiga passarem por eles apressadas.
O loiro deixou o irmão falando sozinho e as seguiu a passos largos. Se achava que teria qualquer envolvimento neste caso, ela estava muito enganada.
Em um rompante de impaciência, ele agarrou o braço de e a puxou junto com ele conforme ela tentava se soltar de seu agarre, mas dessa vez ele estava mais preparado para não ser ameaçado com uma arma. Ao vê-la levar a mão à cintura, segurou-a e ficou com o rosto bem próximo ao dela.
— Dessa vez não, — avisou, puto da vida.
— O que você pensa que tá fazendo, Winchester? — A caçadora rosnou.
— Eu disse para você sair da cidade. — Dean tinha ódio em seus olhos, apesar do abalo em seu coração com a proximidade.
— Eu não vou sair de cidade nenhuma, porra! — queria gritar, mas não podia, então tentou ser o mais firme possível sem alterar a voz.
Ainda estavam muito perto dos outros policiais.
— Dean, larga ela — Sam avisou ao se aproximar, com em seu encalço.
Ele nem mesmo escutou o irmão. Ia arrastar para fora da cidade se fosse preciso.
— Solta ela, agora! — Sam levou a mão até o peito do irmão e praticamente se colocou entre os dois.
O temperamento do mais velho o tirava do sério.
estava boquiaberta com a atitude de Sam, e ficou ainda mais quando Dean a soltou. Ao olhar para o mais velho ela teve certeza que ele cuspiria fogo nela se pudesse.
— Isso acaba aqui e agora — Sam avisou ao encarar Dean. — Esse caso parece complexo, precisamos de ajuda.
— Você tá de sacanagem, Sam? Não preciso de nada dessa garota! — O loiro explodiu.
— Deus, qual é o problema do seu irmão? Você não tem medicado ele, não? — esbravejou.
Não importava qual era o problema dele com , ela ficaria do lado da amiga, porque o cara era simplesmente insuportável.
Quem ele achava que era? O dono da cidade? Por Deus!
— Filha da p… — Dean rosnou, mas foi interrompido antes de completar a frase.
— Parem todos vocês! — Sam esbravejou. — Dean, você me chamou para essa caçada porque disse que não podia fazer isso sem mim, certo? Ótimo, então é assim que vai ser. e…
.
— repetiu o nome dela. — Elas ficam para caçar com a gente. Eu estou enferrujado e nós precisamos de ajuda. Ou é isso, ou eu prometo que vou pegar o primeiro ônibus de volta para casa. — Samuel deu o ultimato.
Dean bufou puto da vida e caminhou em direção ao seu carro sem responder nada. Afinal, sabia bem que o irmão cumpriria com a sua promessa se ele não colaborasse.
Precisava de Sam, por mais que tê-lo incluísse conviver com o diabo em pessoa.
, você vai com Dean. , você vem comigo.
Ninguém se opôs a nada do que o mais novo disse, não depois de ele tomar controle da situação daquele jeito.
Dean deu graças a deus que ao menos ele não teria que ir no carro com , e ela, bem, não se importava quem fosse fazer parte da caçada contanto que resolvessem o caso e ela pudesse encontrar seu pai vivo e bem.
Não era uma orgulhosa filha da puta como Dean, por isso entrou em seu carro com Sam quando ele informou que iriam até uma tal de Amy.

— O Dean é um idiota, me desculpe — Sam tentou quebrar o clima silencioso dentro do carro. — Os últimos anos não foram fáceis para ele.
Não era desculpa, mas era a verdade.
— Relaxa, Sam, não me importo com o que sai da boca dele. — deu de ombros sem tirar os olhos da estrada. — Mas obrigada por me defender.
— Sempre que precisar. — Um sorriso tomou conta do rosto dele ao olhar para ela.
Estar com naquele carro era como voltar no tempo, quando eram dois jovens de dezoito anos caçando por aí como uma verdadeira família, uma época em que ele até chegou a considerar ficar na caçada e seguir os negócios da família.
Bons tempos.
— Então, qual é a dessa Amy? — tentou interagir.
— Namorada da vítima.
— Uma suspeita?
— Duvido muito. — Sam respirou fundo, o que chamou a atenção de . — A garota parece inofensiva e gosto de pensar que é algo sobrenatural. Já tem tanto mal no mundo, gosto de acreditar no melhor das pessoas.
precisou conter o sorriso com as palavras dele. Não poderia demonstrar qualquer coisa por um dos Winchesters, eles não eram confiáveis.
— É o que descobriremos agora. — Ela estacionou ao ver duas garotas caminhando na calçada, uma delas parecia a tal Amy, e então saltou para fora do carro. — Espera, cadê a Ally e o Dean?
— Os mandei para fazer umas pesquisas. — entortou o nariz com a resposta. — Relaxa, ela está segura com Dean. Além do mais, ele deve estar puto com isso. — Sam riu, vingativo.
tentou se conter, mas dessa vez não controlou a boa gargalhada que ele arrancou dela.
— Pode apostar.
o acompanhou decidida a deixar ele interagir com as duas garotas. Samuel sempre foi o melhor com as palavras, sabia exatamente como respeitar os sentimentos das pessoas. Ela era boa em partir para ação, encontrar pistas e matar os monstros.
Pessoas não eram bem a praia dela.
— Você deve ser Amy. — Sam sorriu simpático para a garota espalhando cartazes.
A pouca interação já foi o suficiente para deixar desconfortável, que levou as mãos até os bolsos da jaqueta e suspirou.
— Troy falou de você, somos primos dele. — O Winchester apontou para , que apenas assentiu. — Eu sou Sam, essa é a .
— Ele nunca me falou sobre vocês. — Amy nem deu muita bola para os dois; estava cansada de repórteres estranhos se passando por familiares para saberem mais sobre o caso.
— É que a gente não vem muito aqui… moramos bem longe — se apressou em dizer.
— Legal pra vocês.
— Ei, escuta — não tinha muita paciência para ladainhas. — Nós só estamos preocupados, a polícia não parece saber de nada… só queremos encontrar o Troy. Podemos te pagar um café?
— Oi, tá tudo bem? — Uma garota com roupas góticas e cabelos escuros apareceu, aproximando-se de Amy, e só então os dois repararam que ela tinha o mesmo estilo.
e Sam conheciam bem garotas como elas, gostavam de pagar de duronas usando símbolos que achavam remeter ao diabo, mas no fundo eram umas medrosas.
Em suas cabeças, descartaram ali mesmo a possibilidade de Amy ser uma suspeita, mas ainda assim decidiram lhe fazer algumas perguntas; talvez ela dissesse algo que os levassem a algum lugar.
— Tá sim… — Ela sorriu fraco. — Certo, vamos lá.
Os quatro caminharam para dentro de uma lanchonete do outro lado da rua e sentaram-se em uma mesa afastada, algo estrategicamente escolhido pelos caçadores. As perguntas deles podiam ser um pouco estranhas e não queriam chamar a atenção de outras pessoas.
— Eu estava no telefone com o Troy… — Amy começou a falar antes mesmo de eles começarem as perguntas. Seu olhar era triste, vazio. — Ele ia pra casa, disse que ia me ligar em seguida e nunca ligou…
— Ele não disse nada estranho ou fora do comum? — Sam sugeriu.
— Não, nada de que eu me lembre… — Amy parecia estar sendo sincera.
A garota parecia visivelmente abalada.
— Bom, é o seguinte, do jeito que o Troy desapareceu, tem alguma coisa errada — passou a falar. Gostava muito do jeito gentil do Sam, mas não era como conseguiriam descobrir alguma coisa. — Então se ouviram alguma coisa…
Sam não disse nada, não gostava muito de ser tão invasivo, mas preferiu confiar na amiga.
E bingo!
A expressão da outra garota que estava com Amy logo ficou suspeita.
— O que é? — Sam indagou.
— Pode confiar na gente — se moveu no assento, apoiando-se e ficando mais próxima da garota para olhar bem no fundo dos olhos dela.
Intimidá-los sempre funcionava.
— Bom, com tantos caras sumindo… O pessoal fala.
— O que elas falam? — Os dois amigos perguntaram em uníssono.
— Bom, é uma lenda local. Uma garota foi assassinada na rodovia há décadas. Ao que parece ela ainda está por lá.
e Samuel se entreolharam.
— Ela pega carona… E quem lhe dá carona, bom… Desaparece para sempre.

passou todas as informações para assim que ela e Sam terminaram com as perguntas e, então, os dois amigos seguiram para a ponte em que tinham visto o carro de Troy mais cedo. Aparentemente, a tal garota assassina poderia estar lá.
Era um tiro no escuro, mas não podiam desperdiçar.
— Eu estou surpresa de te ver caçando, Sam. — não soube o porquê, mas precisava matar a curiosidade.
Tinha escutado boatos de que o rapaz havia largado as caçadas.
— É apenas um caso, — Sam explicou ao tentar se acomodar no banco do passageiro. — Eu volto para casa na segunda.
— É sempre só um caso. — Ela fez a observação e desligou ao estacionar próximo da ponte.
O Impala de Dean ainda não estava ali, então eles permaneceram dentro do carro. Sam não conseguiu dizer mais nada e pensou sobre o que ela tinha dito. Para ele, era apenas um caso e iria embora. Mas e se algo mudasse completamente o curso das coisas?
Um medo assolou seu coração.
Em um rompante ele pegou o celular e digitou o número de Jess. Chamou, chamou e chamou, mas a garota não atendeu.
Ele tentou novamente.
Nada.
Sem perceber, bufou alto o suficiente para chamar atenção da caçadora.
— Eu tenho certeza de que está tudo bem, Sam. — Ele não precisava dizer nada, ela sabia se tratar de alguém especial.
Conhecia bem o amigo para saber que ele estava preocupado.
— Não sei, …. — Sam passou a mão nos cabelos, o nervosismo rasgando sua pele. — Ela não é de ficar longe do celular. E se alguma coisa aconteceu?
— Olha, Sam — se virou em seu banco e ficou de lado para poder encarar o amigo. — Me fala uma coisa que ela faz sempre que você fica longe de casa.
— O quê? — Sam riu.
Do que ela estava falando?
— Fala logo — exigiu.
— Cookies.
— Você adora eles — ela riu.
De repente foi como se tivessem voltado no tempo.
Muito antes de tudo ruir.
— O que isso…
— Feche os olhos agora e imagine ela…
— Jess.
— Jess — repetiu o bonito nome. — A imagine lhe fazendo cookies e então, você vendo essas delícias prontas ao chegar em casa.
— Você só pode estar de sacanagem. — Uma risada escapou de Samuel.
— Anda logo…
O Winchester fechou os olhos e respirou fundo. De repente foi como se pudesse sentir os cheiros de cookies e ver o rosto de Jess.
Um alívio tomou conta de seu peito; era como se sentir em casa de novo.
— Eu sempre fazia isso, era uma forma de me sentir mais perto do meu pai e acreditar que ele sempre voltaria pra casa. — encarou o amigo, que abriu os olhos e a estudou.
— Tem algo de errado, não tem? — Sam indagou. — Com Andrew?
não queria contar para ele que o pai estava desaparecido. Não podia confiar nele e se livrou de mais explicações, quando um estrondo no vidro do carro a assustou.
Dean os encarava com uma expressão de poucos amigos.
revirou os olhos e saiu do transe que tinha se enfiado com Sam; ela não sabia muito bem porque sugeriu tudo aquilo, mas pareceu o certo.
já estava na ponte e os três seguiram naquela direção.
— Então foi aqui que Constance deu seu último mergulho — Dean comentou irônico.
— Acha que o papai esteve aqui?
— John? Por que John viria atrás de um caso como esse? — se intrometeu.
— Cuida da sua vida, . — Dean rebateu.
Não queria compartilhar nada com aquela garota, que o fuzilou com o olhar.
Porra, ele não podia simplesmente dar um tempo? Ela não estava nem aí com o paradeiro de John, mas sim como isso podia impactá-la.
Afinal, seu pai não dava notícias há dias.
, me ajuda a pegar umas coisas no carro? — Ally sugeriu; claramente, elas estavam ali de intrusas. O assunto era pessoal.
queria ficar, mas dessa vez escolheu por seguir a amiga ao invés de dar bola para as merdas de Dean.
— Sério, Dean?
— Continuando, Sammy. — O loiro deu de ombros. — Ele está atrás da mesma história e nós estamos atrás dele.
— Tá, e agora?
— Continuamos procurando, talvez demore. Não sei, Sam — Dean caminhou para longe do parapeito da ponte, ficando mais próximo de seu carro, que estava estacionado bem no meio.
— Dean, eu já disse, tenho que voltar até segunda…
— Segunda, tô sabendo. A entrevista.
— É.
Dean não queria discutir, mas toda essa pressão em suas costas o estava corroendo por dentro.
O sumiço do pai.
O reencontro com .
Era muita coisa para digerir.
— Você tá levando isso a sério, né? — Dean riu fraco. — Acha que vai mesmo virar advogado? Casar com a garota?
— Por que não? — Sam não entendia onde ele queria chegar.
— A Jéssica sabe a verdade? Ela sabe das coisas que você fez?
— Não e ela nunca vai saber! — A raiva consumiu Sam.
Onde isso era da conta dele?
— Hm, muito saudável. — Dean riu sem humor. — Pode fingir o quanto quiser, Sammy, mas cedo ou tarde vai ter que encarar quem você é. — O mais velho deu as costas ao irmão. Aquilo era ridículo pra cacete.
— E quem eu sou?
— É um de nós!
— Não — Sam esbravejou e caminhou para frente do irmão. — A minha vida não vai ser assim!
— Tá tudo bem aqui? — perguntou ao se aproximar junto de Ally. Pelo tom de Sam, as coisas não pareciam nada bem.
Ela sabia muito bem como as brigas entre os dois irmãos acabavam mal.
— Com o papai? E a cruzada dele? — Sam nem mesmo deu atenção a , estava com os nervos à flor. — Se não fosse pelas fotos eu nunca ia saber como era a mamãe. E que diferença faz? Mesmo se encontrarmos a coisa que a matou, ela se foi e ela não vai voltar.
— Sam… — soprou; ele tinha ido longe demais.
Dean agiu como ele sempre fazia nessas horas: com raiva.
— Não fale assim dela — exigiu ao segurar Sam pela gola da blusa e o empurrar contra a grade da ponte.
— Gente, eu não quero… — tentou avisar.
— O que é? — Dean esbravejou, mas suavizou a expressão ao ver para onde a garota apontava.
Uma mulher usando um vestido branco e descalças estava bem em cima do parapeito da ponte. Ela os encarou por alguns instantes e, então, se jogou na água.
Os quatro correram naquela direção para ver onde a mulher tinha caído, mas não ouviram nenhum barulho de corpo se chocar contra a água e muito menos viram nada lá embaixo.
Então o barulho do motor do Impala e as luzes do farol deixaram os quatro caçadores em alerta.
— Droga — Dean resmungou.
— Quem tá dentro do carro? — A pergunta vinda de Sam foi retórica.
Dean ergueu as chaves.
Todos sabiam que não tinha ninguém dentro.
Seja lá o que controlava o Impala, acelerou na direção dos quatro caçadores. Eles estavam muito longe do fim da ponte, logo não teriam outra escolha a não ser pular. Dean e caíram direto na água, já Sam foi mais esperto ao apenas segurar-se do lado de fora e agarrou , que ficou levemente pendurada.
Os quatro estavam com os nervos à flor da pele. Por um instante, todos pensavam estar mortos.
— Dean? ? — Sam gritou desesperado.
— Onde eles estão, Sam? — sentiu o desespero tomar conta.
Se não estivesse tão envolvida com os dois irmãos, nada teria acontecido com a amiga. Ela deveria estar mais atenta.
Sam a puxou e os dois pularam a grande, voltando para a ponte.
— Não sei, você pulou bem ao meu lado, foi instinto te segurar — ele explicou, ainda atordoado, e caminhou para ver se encontrava algum sinal deles na água.
— Obrigada, a propósito. — sorriu para o amigo.
Sam a observou por um momento. Para ele, era óbvio que a salvaria, mas para ela não parecia ser e isso o machucou.
— Ei, estamos aqui! — gritou.
Os dois olharam para um ponto mais longe da água e viram a garota jogada na grama, enquanto Dean se encontrava com metade do corpo ainda no rio.
Já do lado de cima, Dean se recostou em seu carro, pensando na ironia de passar por aquilo bem ali na frente de uma das pessoas que mais detestava. Era muita humilhação mesmo. Queria muito mandar ela embora dali, mas estava cansado demais para isso.
— Bom, está tudo bem com o carro pelo menos, Dean — Sam brincou, arrancando uma risada das duas caçadoras.
— Ah, muito engraçado, SAMMY!
Sam o repreendeu com o olhar. Detestava o apelido.
— Cara, vocês estão com cheiro de esgoto. — disse ao olhar para Dean e .
Por um momento ela até gostou da forma como Dean riu, mas fechou a cara assim que seus olhares se cruzaram.
Onde estava com a cabeça?
— Ah, valeu espertinha — Ally deu um tapa no braço da amiga.
— Ô, mulherzinha maluca — Dean gritou ao tentar se livrar da gosma em sua roupa.
— Bom, pelo visto ela não quer a gente por perto — Sam pontuou.
— Acho melhor irmos para o motel, esses dois precisam de um bom banho…. — debochou ao tampar o nariz.
e Dean reviraram os olhos, mas não discordaram.

☪ ✷


Dean jogou o cartão na bancada da recepção do motel enquanto o recepcionista olhava estranho para ele. Sabia que não era só por causa da aparência horrível de quem parecia ter saído do lixo, mas também pelo cheiro.
— Esse trabalho no lixão está acabando comigo. — Dean ironizou.
Sam segurou a risada.
— Hm. — O homem resmungou ao analisar o cartão. — Tem uma reunião ou algo assim?
— Como é?
Sam olhou confuso.
— Outro cara, Butter Afreimam, chegou e alugou um quarto por um mês inteiro para ele e o parceiro. Número A315.
— Parceiro? — Sam indagou e algo lhe ocorreu.
Dean não disse nada, pegou o cartão da mão do homem e saiu da recepção. Se seu pai estava ali e foi embora no meio de um caso era porque algo muito sério tinha acontecido; aquilo era uma ótima pista.
— Dean, espera! — Sam o segurou. — Eu acho que sei quem pode ser o parceiro….
Ele não precisou dizer mais nada, Dean sabia muito bem de quem Sam estava se referindo. Sem dar qualquer chance ao irmão de dizer mais alguma coisa, ele caminhou pisando firme em direção ao quarto de . Se o pai dela tinha alguma coisa a ver com o sumiço de seu pai, ele queria respostas.
Aquele filho da puta não era nem um pouco confiável.
— Dean, desse jeito você vai derrubar a porta — Sam advertiu ao ver o irmão socar a porta do quarto.
— Mas que p…. — nem teve tempo de terminar a sentença ao abrir para os dois irmãos.
Dean entrou como um foguete no quarto, o rosto vermelho e uma raiva evidente em seu olhar.
— O que sei pai tem a ver com o sumiço do meu pai? — Ele a prensou contra a parede, o maxilar rígido e os olhos furiosos.
arregalou os olhos.
Não tinha ideia do que ele estava falando. Apesar de ter pensando na possibilidade quando Sam mencionou algo sobre John estar desaparecido, não sabia de nada.
— Dean, se afas….
— Chega, Sam. — Dean estava furioso. — Cadê a loirinha? Fazendo algo que não podemos saber?
— Qual é a porra do seu problema? — explodiu. Estava sendo mais do que paciente com ele, mas não aceitaria que falasse ou a tratasse daquela forma.
— Onde ela está, ? — Ele a pressionou ainda mais contra a parede.
Sam não sabia o que fazer, pois se partisse para cima do irmão os resultados não seriam bons, e além do mais, sabia se defender.
— O que tá acontecendo aqui? — A voz de Ally irrompeu o ambiente e todos a olharam.
A garota estava de toalha e com uma expressão confusa.
— Agora me solta, porra! — empurrou Dean.
— Isso não muda nada, — Dean avisou. — Você ainda não respondeu minha pergunta.
— Eu não te devo satisfação — estava puta da vida. — Mas se isso te faz sentir melhor, eu não sei onde o seu papai está e também não me importo.
Sam precisou segurar Dean.
— Jura? Engraçado você dizer isso, porque parece que seu pai se importa bastante — Dean debochou.
— O que? — ficou boquiaberta.
Ally a encarou com um ponto de interrogação. O pai de tinha envolvimento com os Winchester? Essa história toda só parecia ficar melhor.
— Do que ele está falando, Sam? — o encarou.
Samuel apertou os olhos. Sentia-se um traidor, pois o tinha ajudado e comprometeu algo que era do pessoal dela e entregou de bandeja ao Dean.
— Me desculpa…
nem deu bola para ele, não estava nem um pouco surpresa. Por que porra ela foi ajudá-lo e deixar transparecer que algo estava errado? Mais uma vez tinha sido burra pra caramba ao confiar em um Winchester.
— Meu pai nunca trabalharia com John de novo. — Ela disse ao encarar Dean.
— É o que descobriremos. — Dean saiu porta a fora.
Sam fez que ia segui-lo, mas ela o segurou pelo braço.
— Você fica com a dessa vez, ela conseguiu descobrir o endereço do marido de Constance — avisou ao encarar os dois, e viu a amiga apenas assentir. — Eu sei lidar com Dean.
— Ele foi para o quarto A315. — Foi tudo que escutou Sam gritar.
A caçadora saiu do quarto e seguiu à procura de Dean. Rodou pelo motel, até conseguir se localizar como os quartos eram organizados. A315 ficava bem longe, pois era praticamente do outro lado do lugar, mas ela não demorou muito para achar.
Dean estava de frente para a porta do quarto e tentava abrir a porta de qualquer jeito, seja lá o que tinha ali, parecia ser importante.
E se era importante para ele, também seria para ela.
Se seu pai estivesse trabalhando com John, poderia encontrar pistas sobre ele e seu paradeiro.
Mesmo com a raiva a consumindo dos pés à cabeça, respirou fundo e se aproximou. Se tentasse matar Dean, suas chances de conseguir qualquer pista, estariam arruinadas.
— Deixa que eu faço isso — ela sussurrou ao empurrá-lo para o lado.
— Mas que merda — Dean esbravejou.
— Fala baixo — alertou. — Tá querendo ser pego?
— Acha que eu não sei…
— Prontinho — disse ao abrir a porta.
Dean a puxou com rapidez para dentro do quarto ao ouvir passos se aproximarem. Estava pronto para começar mais uma briga, mas quando acendeu as luzes do quarto, ele ficou estático e sem palavras.
Tinha folhas de papéis para todos os lados, imagens de jornais e anotações espalhadas por todas as paredes, além de roupas e restos de comida no chão.
Sem dúvidas, John esteve ali, e pior do que isso, tinha saído às pressas.
— Sal — disse, abaixando-se próximo ao parapeito da janela. — Eles estavam preocupados.
— Então você sabia que seu pai esteve aqui. — Dean a encarou.
— Não, idiota — ela revirou os olhos. — Essa é a letra do meu pai — apontou para uma folha na parede bem atrás da cabeça dele.
Dean olhou de relance para onde ela apontou, mas não disse nada. Sabia bem que aquela não era a letra de John, mas não argumentou. Não ia cair no papinho dela de que não sabia sobre nada.
não era confiável.
Ele deixou a garota de lado e caminhou pelo quarto em busca de mais pistas, então, um tapete todo bagunçado chamou sua atenção e ele o puxou.
— Armadilha do diabo.
— Parece que não era com a mulher de branco que eles estavam preocupados — observou ao encarar o desenho no chão.
Dean sentiu o coração apertar e mal sabia ele que compartilhou daquele sentimento com a caçadora.
— Vamos dar o fora daqui — Dean avisou.
Ao saírem do quarto, viram dois policiais dobrando bem naquele corredor. Dean segurou a caçadora pela mão e a puxou para que caminhassem o mais rápido possível, mas logo viu um dos homens ir na direção deles.
Dean não pensou duas vezes e sacou o celular.
— Sam, fomos pegos, dá o fora com a . — Foi tudo que conseguiu dizer antes de sentir uma mão em seu ombro.
— Ei, vocês!
— Algum problema? — se fez de inocente.
— Sim, vocês estão presos pelo assassinato de Troy Scott — informou o policial. — E pelo de outros diversos homens.
arregalou os olhos e então encarou Dean.
— E qual a prova, posso saber? — Ela perguntou enquanto o policial os encaminhava para fora do motel.
não queria desacatar o policial, mas odiava a incompetência deles. Sempre prendendo a pessoa errada.
— Falsos cartões, falsos federais. Tem alguma coisa de verdade?
— Meus seios — Dean riu e não conseguiu se controlar.
Ele era mesmo um idiota.
Sem paciência alguma, o policial jogou Dean contra o capô do Impala e algemou suas mãos.
— Tem o direito de ficar calado — informou. — E você, vem comigo também.
por um momento cogitou a ideia de dar um mata-leão no policial, mas preferiu apenas segui-lo. Não queria piorar a situação dos dois e, além do mais, sabia que Sam e fariam algo para tirá-los dali.

Os dois caçadores foram colocados em uma sala fechada, com apenas uma janela. Ambos estavam sentados de frente para uma mesa vazia e nenhum dos dois tinham coragem de dizer alguma coisa.
tentava digerir toda a reviravolta diante do sumiço do seu pai. Afinal, por que ele voltaria a caçar com John? Passou os últimos quatro anos dizendo que eles jamais poderiam confiar em um Winchester de novo e garantindo que seus caminhos não fossem cruzados com o deles.
Então por que estavam caçando juntos?
Por outro lado, o Winchester só conseguia pensar em encontrar seu pai, nas pistas que achou e no alívio por seu velho não estar morto.
Ainda assim, era muita coisa para digerir.
Os dois se entreolharam e então foram surpreendidos por um homem barbudo, que aparentava ter por volta dos seus cinquenta anos, entrar na sala. Ele se aproximou e jogou uma espécie de diário em cima da mesa — que foi reconhecido facilmente por Dean.
Era o diário de seu pai.
Seu bem mais precioso.
Ele nunca ficava sem ele.
Algo estava muito errado.
— Quer dizer seu nome verdadeiro? — O xerife perguntou, referindo-se a Dean.
— Eu já disse, é Nouget, Ted Nouget.
— Acho que você ainda não entendeu o problema que se meteram.
— Quer dizer o problema da contravenção ou da coisa mais séria? — se intrometeu.
Dean estava sendo debochado e ela precisava manter a mesma linha. Eram caçadores e não podiam simplesmente entregar de fato o que acontecia na cidade, ninguém acreditaria neles e provavelmente acabariam em um lugar bem diferente da cadeia.
— Tem os rostos de dez desaparecidos colados em suas paredes. Com bugigangas satânicas. Vocês são oficialmente suspeitos — o xerife avisou impaciente ao folhear o diário.
— É, faz sentido, porque quando o primeiro apareceu em 82, eu tinha três anos.
— É crime agora ser curioso, gostar de coisas satânicas e casos bizarros mal resolvidos por policiais? — provocou.
O xerife riu sem humor, já Dean quase soltou uma gargalhada.
Não podia negar que era muito boa em irritar as autoridades.
— Sei que tem cúmplices, um deles é um cara mais velho. Vai ver ele começou a coisa toda — o xerife observou. — Agora, me diga, Dean, o que são esses números? — ele apontou para a página com os números e o nome de Dean escrito bem ali.
O Winchester encarou os números, sabia muito bem o que era – assim como –, mas jamais falariam a verdade.
— É o meu segredo do armário da escola. — Dean sorriu irônico.
O homem estava a ponto de perder a paciência, e teria se alterado, se não fosse por um policial que entrou apressado na sala.
— Temos um chamado, tiro na estrada, White Ford — informou.
O xerife não queria deixá-los ali, mas não tinha escolha, a cidade era pequena e ele era obrigado a atender ao chamado. A contragosto, algemou o pulso dos dois na mesa, trancou a sala e os deixou sozinho.
— Sammy — falaram em uníssono.
Sabiam bem que aquilo não era chamado coisa nenhuma, era um sinal de Sam para os dois fugirem.
Dean puxou um clips preso ao diário de seu pai e, sem dificuldade alguma, se libertou, para então libertar e eles saíram pela janela com uma facilidade invejável.
Desceram as escadas de emergência sem olhar para trás; não podiam perder tempo, ou seriam pegos de novo. No instante em que chegaram bem ao fundo da delegacia, encostou com o R8 e buzinou para que entrassem depressa.
— Ufa, essa foi por pouco — riu, a adrenalina correndo nas veias.
— Vocês são malucos — riu.
— Cadê o Sammy? — Dean observou, ao notar que o irmão não se encontrava no carro.
— Ah, nós entrevistamos o marido, conseguimos ótimas pistas — Ally explicou.
— E? — Dean indagou.
— Ele foi direto para casa onde a mulher está enterrada, vamos encontrar….
— Qual é, deixou o cara sozinho? — Dean esbravejou e nenhuma das duas entendeu qual era o problema. — Sam não caça há dois anos, está fora de forma.
— Merda — esbravejou. — Acelera aí, Ally!


Samuel não conseguia tirar de sua cabeça o que tinha rolado com no quarto do motel. Ele não gostava de como as coisas estavam entre eles, afinal, nunca tinha entendido muito bem o que rolou naquela noite há quatro anos atrás, a última vez em que a viu.
Desde aquele fatídico dia, tudo que ouvia sobre a garota era por parte de seu pai e Dean.
Nunca confie em um .
Mas por que?
Nada parecia fazer muito sentido.
John passou anos os convencendo de que não eram confiáveis, e agora havia desaparecido em uma caçada com o pai de ?
Ele não sabia explicar porque, mas seu coração parecia lhe dizer que alguma coisa estava muito errada, Samuel só não conseguia compreender o que.
Se o marido de Constance estivesse falando a verdade, em poucos minutos chegaria ao local em que a mulher estava enterrada, destruiria os restos mortais e poderia finalmente voltar a sua vida normal.
Era tudo o que ele queria.
Certo?
Odiou-se pelo sentimento de indecisão, mas seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de seu celular tocando.
Era Dean.
Seu plano tinha funcionado.
— Alarme falso, Sam? Sei lá, deve ser ilegal. — Dean riu do outro lado da linha.
— De nada, Dean.
— Temos que conversar. — O mais velho informou em um tom sério.
— Eu já sei de tudo. O marido de Constance era infiel. Estamos lidando com a mulher de branco. Ela está enterrada atrás da casa velha, o papai deve ter ido lá.
— Sammy, quer calar a boca?
Dean bufou.
— Só não entendi porque ele não destruiu o corpo de uma vez…
— É o que eu estou tentando dizer…
Dean falou mais alguma coisa, mas Sam não conseguiu escutar. De repente, a ligação começou a falhar e o rádio a chiar.
Ele tentou arrumar o rádio e se reconectar a Dean, então quando voltou a olhar para frente e prestar atenção na estrada, se assustou ao ver uma mulher a poucos metros. Tentou frear, mas o veículo passou direto por ela.
— Ai caramba! — ele gritou finalmente quando o carro parou.
— Me leve para casa. — Uma voz falou atrás dele.
Ela estava sentada no banco traseiro.
— Não!
As travas do carro se fecharam sozinhas. Sam tentou abri-las, mas foi em vão.
Como se não pudesse piorar, a mulher tomou conta dos pedais de aceleração e o carro saiu arrancando. Sam segurou os volantes, pisou no freio, mas nada funcionava. Os espíritos eram sempre muito mais fortes do que os humanos quando queriam controlar algo e ele sabia muito bem disso.
Apesar de onde tinha se metido, ele não estava preocupado. Ele não era infiel e ela não poderia machucá-lo.
Quando o carro finalmente parou de frente para a velha casa, Sam olhou através do retrovisor e a mulher não estava mais ali.
— Não posso voltar para casa…
Sam virou para o lado; ela se encontrava sentada no banco do passageiro.
— Você tem medo de ir para casa. — Ele finalmente se deu conta.
O espírito da mulher, então, subiu no colo dele, que se afastou.
— Me abraça — pediu. — Estou com frio.
— Não pode me matar, não sou infiel, eu nunca fui — ele avisou.
O peito subindo e descendo.
Ela abriu um sorriso maléfico, curvou-se e aproximou a boca do ouvido de Sam.
— Vai ser.
Constance tentou beijá-lo, mas ele resistiu.
A mulher usou a força, mas ele não cedeu. Sem muita saída, Samuel tentou alcançar as chaves do carro, mas era quase impossível com Constance em cima dele. Um grito estridente soprou dos lábios dele, ao sentir unhas afiadas fincarem em seu peito.
Sem conseguir respirar, ela aproveitou a fragilidade do caçador e atacou seus lábios. Apesar de não saber como se livraria da mulher e a dor lancinante, Sam desviou do fantasma como conseguiu, afastando sua boca e procurando o ar que já lhe faltava.
Não tinha para onde correr, seus objetos de ferro e sal estavam no porta malas e eram as únicas coisas que a fariam desaparecer por um tempo.
Estava quase perdendo a consciência quando tiros atingiram a lateral do Impala, estilhaçando os vidros e fazendo Constance desaparecer por uma fração de segundos. De relance, Samuel conseguiu ver Dean disparar mais algumas vezes, o que fez o espírito desaparecer e reaparecer diversas vezes.
Não posso ir para casa.
Tem medo de ir para casa.
As frases reverberaram em sua mente e ele soube o que fazer.
Só tinha uma forma de acabar de uma vez por todas com Constance, então sem pensar duas vezes ele pisou no acelerador e atravessou a casa.
— Sam! — Dean gritou desesperado.
— O que ele pensa que está fazendo? — ficou confusa.
— Acho que ele finalmente descobriu o ponto fraco de Constance — pontuou.
Sam não fazia nada sem pensar.
Dean correu para dentro enquanto e foram buscar mais armas e balas de sal em seu carro.
Sam saiu do carro com a ajuda do irmão. Estava todo dolorido e parecia que um caminhão havia passado bem em cima do seu coração. Os dois se encostaram no Impala e observaram a mulher de branco, que segurava um quadro de fotos.
Ela os encarou com ódio e antes mesmo de terem a chance para reagir, uma cômoda gigante os imprensou contra o carro. Tentaram se livrar do objeto, mas foi em vão.
As luzes piscaram e água começou a escorrer pela escada da velha casa. Constance olhou para cima e o medo tomou conta do rosto dela, a fazendo esquecer-se completamente dos dois caçadores. Seus dois filhos estavam parados no andar de cima.
e entraram na casa com as armas carregadas bem naquele instante, mas ficaram imóveis ao ver o que acontecia.
Em uma fração de segundos, os quatro assistiram as crianças aparecerem bem ao lado de Constance.
— Você voltou para nós, mamãe.
Eles a abraçaram e entre gritos, uma luz explodiu e eles desapareceram no ar.
— Empurra — Dean pediu a Sam e os dois fizeram força.
— Foi aqui que ela afogou os filhos. — constatou, lembrando-se do que leu sobre Constance.
— Mandou bem, Sam — elogiou, com um sorriso nos lábios.
— Achei que você estava ficando maluco. — riu.
— Valeu, foi por isso que ela não podia voltar, ela tinha medo de encará-los.
— Bom trabalho, Sammy — Dean deu um tapa no peito do irmão, que riu ao gemer de dor.
— Queria poder dizer o mesmo de você. Que ideia, atirar no Gasparzinho, maluco? — Samuel debochou.
Todos riram, menos Dean.
— Aí, salvei sua pele. — Dean observou ao inclinar-se para analisar o Impala. — E tem mais, hem? Se tiver arranhado meu carro, eu te mato.


☪ ✷


— Então, nos vemos por aí? — sorriu ao encarar Sam e virar-se para entrar em seu carro, mas foi pega de surpresa quando ele a puxou para um abraço.
— Foi muito bom te ver, ! — Sam beijou o topo da cabeça da garota e a apertou forte contra seu corpo.
Para ele foi como voltar no tempo e sentir que algo muito forte os unia.
Para ela, foi como atravessar um portal. De repente não estava mais naquele abraço, mas sim dentro de um pequeno apartamento. piscou algumas vezes, tentando compreender o que estava acontecendo e passos chamaram sua atenção.
Ela virou a cabeça atenta ao que acontecia à sua volta e um cheiro delicioso de cookies invadiu suas narinas. Então, cabelos entraram em seu campo de visão, e logo em seguida as costas de um homem.
Uma sensação desesperadora assolou seu coração.
Ela queria correr, mas não conseguiu sequer sair do lugar.
Já tinha visto aquilo antes, mas onde?
Chamas tomaram conta de seus olhos e um grito ficou preso bem no fundo da garganta.
? — A voz de Sam reverberou em seu ouvido e ela se viu novamente naquele abraço. — Está tudo bem.
Lágrimas tomavam conta de seus olhos e ela se desvencilhou.
— Desculpa, essas alergias acabam comigo — riu, sem saber muito o que dizer.
O que tinha acabado de acontecer?
Samuel a encarou um pouco confuso, mas nada disse. Apenas depositou um último beijo no topo da cabeça da amiga e se virou para ir embora.
entrou no carro sentindo que ia vomitar ali mesmo, mas precisou se controlar; não podia deixar transparecer para que tinha algo de errado. Como sempre fazia, ela colocou a rota no GPS – as coordenadas do diário de John –, ligou o rádio e se preparou para sair, mas algo a impediu.
— Qual problema, ? — Ally parecia confusa, pois ela não deu partida e ficou parada ali vendo o Impala se afastar.
— Você confia em mim? — encarou a amiga, e então deu partida.
— Claro… O que tá acontecendo?
— Apenas me avise se ficarmos perto demais do Impala.





Universidade de Stanford.


se esforçava para não ser vista pelo Impala. A última coisa que queria era uma reação brusca de Dean, afinal não teria como explicar porque os estava seguindo. Na verdade, nem ela compreendeu muito bem.
E daí que tinha uma sensação ruim? Não se importava com os Winchesters.
Porém, não conseguiu abandonar a ideia de já ter sentido aquilo antes e por isso. Dirigia furtivamente pela chuva, que ajudava a disfarçar seu carro.
Dentro do Impala o clima era de silêncio. Sam estava dividido entre a ansiedade de voltar para casa e a preocupação com o pai, mas sabia da escolha que tinha feito há dois anos: não voltaria às caçadas. Dean, por outro lado, queria achar alguma desculpa para convencer Sam a ficar, precisava dele, sabia que não aguentaria por muito mais tempo nessa jornada para encontrar seu pai, não sozinho.
Para tentar se distrair e não pensar em nada ele aumentou o volume, que logo foi diminuído por Sam.
— O papai foi para esse lugar, é no Colorado — Sam informou. — Aspen, para ser mais exato.
— É, parece legal. É longe?
— Uns mil quilômetros, um pouco mais, talvez.
— É, se a gente correr, chega lá de amanhã cedinho — Dean se empolgou, quase esqueceu do óbvio.
— Hã, Dean… — Sam não queria dizer ao irmão que não iria, apesar de ter deixado bem claro.
— Você não vai.
— A entrevista é daqui dez horas, tenho que ir para casa…
— Falou, tanto faz, te levo para casa.
O clima ficou pesado, então ambos ficaram em silêncio.
Samuel não queria machucar Dean daquela forma, mas não podia mais abrir mão de seus sonhos e da vida que idealizava para si.
Conhecia o irmão muito bem, mas principalmente seu pai para saber: se voltasse para a estrada, nunca mais sairia de lá.
Não dessa vez.
As dez horas de carro foram lentas e se arrastaram em um silêncio desconfortável, nenhum dos dois queria dizer a coisa errada, ou piorá-las.
Dean encostou o carro e nem se deu o trabalho de descer, odiava despedidas e não estava no clima para uma, so queria dar o fora dali e esquecer que pedir ajuda para Sam foi idiota. Onde ele estava com a cabeça para pensar que o irmão mudaria de ideia em relação a caçar?
Sam pensou em dizer algo, mas deixou para lá e apenas desceu do carro e se apoiou na janela para se despedir.
— Me avisa quando encontrar ele?
Dean apenas assentiu.
— Quem sabe a gente se encontra por aí…
Sam não queria deixar as coisas de um jeito estranho entre eles.
— Certo.
Dean estava triste, e era orgulhoso demais, mas deu o braço a torcer.
— Sam? — chamou pelo irmão. — Nós dois juntos? Arrebentamos.
— É, tô sabendo — Sam abriu um sorriso e virou-se para entrar, não queria mudar de ideia.
De dentro de seu carro, observou toda a interação de Sam com Dean, antes do mais novo partir. A sensação dentro de seu peito só ficava mais pesada, obscura… como se algo estivesse a corroendo.
Respirou fundo e sentiu uma queimação em sua pele.
Algo estava errado, muito errado.
— Foda-se — soprou baixo, ao saber que seria vista por Dean.
, o que foi? — não entendeu nada quando viu a amiga abrir a porta e sair correndo. — !
A caçadora escutou seu nome, mas não se importou e correu para dentro.
Sam, já em seu apartamento, deixou as chaves na mesa de entrada e logo viu um prato de cookies em cima da lareira e pegou o bilhete ao lado.

“Saudades, amo você.”

— Jess, tá em casa? — chamou pela namorada, mas não obteve resposta.
Um sorriso tomou conta de seus lábios e ele pegou um cookie. Ficou confuso por não vê-la, mas achou que ela poderia ter saído com alguma amiga e estava cansado demais para ligar, então deitou-se na cama e fechou os olhos para ao menos tirar um cochilo até ela chegar.
Alguns segundos se passaram e ele franziu o cenho ao sentir um líquido quente em sua testa.
Um grito ficou preso em sua garganta.
arrombou a porta no exato momento em que Sam gritou pelo nome de Jess. Ela correu para o quarto já em chamas e viu a garota grudada ao teto.
— Jess, não! — Sam gritava em desespero.
— Sam, precisamos sair! — ela agarrou o amigo pela blusa, mas ele estava irredutível.
— Não, eu não vou sair. Não posso deixá-la, aqui! — Sua voz era de desespero e sentiu seu coração se partir.
Sam não merecia nada do que estava acontecendo.
— Você está maluco, cara? — Dean entrou no quarto, estava em pânico. — Você vai morrer se não sair!
Dean nem deu mais tempo para discussões, agarrou o irmão e o arrastou para fora do apartamento, que já começava a pegar chamas. Quando os três chegaram ao lado de fora estava com os olhos arregalados, incrédula e assustada com toda a situação.
Sam ainda tentou voltar para dentro e deu alguns passos em direção ao prédio, mas o impediu.
— Sam, eu sei que está doendo, mas por favor, para! — A caçadora segurou os braços do amigo e olhou para cima.
Seu um metro e sessenta a deixava bem abaixo dele, com seu um metro e noventa e três.
— Jess…— Sua voz era de cortar o coração. — Não tenho razão para estar aqui mais, , não sem ela…
Uma aglomeração começou a tomar conta de tudo, mas os quatro permaneciam ali como se o mundo tivesse parado.
Tanto Dean quanto não sabiam o que dizer.
— Não diz isso… — sentiu um desespero tomar conta e ela o abraçou, um impulso inexplicável.
Naquele momento, ela não se importou se confiava nele ou não. Sam precisava dela, e isso era tudo.
Os dois ficaram no abraço, como se nem mesmo e Dean estivessem ali. o apertou com força e a queimação em seu corpo — como se estivesse queimando junto ao prédio — desapareceu aos poucos. Ela fechou os olhos e imaginou todos os momentos ao lado dele, os bons e os ruins, e seu coração transbordou em paz. Em lar.
— Promete que não vai mais embora, … — Sam murmurou contra o cabelo dela conforme suas lágrimas caiam. — Eu não posso…
— Eu sei… — Ela sussurrou ao abraçá-lo. — Eu também.
Ela conhecia muito bem a dor da perda e entendeu o que ele queria lhe dizer.

Dean estava sem palavras. Queria ele mesmo confortar o irmão, mas viu que tinha controle da situação e o quanto Sam pareceu precisar dela naquele momento. Ali, só ali, ele viu a de seu passado e sentiu falta dela.
O sentimento logo passou, ao se lembrar que a garota nem sequer deveria estar ali, mas por hora preferiu não tocar no assunto.
— E agora? — Ally foi a primeira a quebrar o silêncio. — O que fazemos?
Os quatro estavam próximos ao Impala.
— Nós lutamos, como sempre. — encarou Sam. — Você decide, Sam.
— Não vamos caçar juntos — Dean avisou.
Entendia a relação dela com Sam, mas ele não aceitaria caçar com a garota.
— Você é inacreditável — riu em escárnio. — Essa luta é tão minha quanto sua, Dean, goste você ou não. E pode acreditar, eu também não quero caçar ao seu lado, mas se queremos achar essa coisa e acabar de uma vez por todas com ela…
— Nós precisamos lutar juntos — Sam jogou a arma em sua mão de volta no porta malas e o fechou com força.
— Sam…— Dean estava puto.
— Temos trabalho a fazer, Dean — Foi tudo que Samuel disse antes de entrar no carro.

☪ ✷


Grand Junction — Blackwater Ridge.


Sam deu um pulo no banco do carro e bufou frustrado. Desde a morte de Jess seus pesadelos estavam ficando cada vez mais constantes. Era como se ele não pudesse sequer tirar um cochilo sem ser atormentado por eles.
Uma perseguição sem fim.
— Tudo bem? — Dean queria ter certeza de que o irmão estava bem, desde a morte de Jess ele parecia acordar sempre no susto.
— Tá, tudo bem.
— Outro pesadelo? — O mais velho insistiu.
Sam apenas resmungou, não queria tocar no assunto.
— Tá afim de dirigir? — Dean sugeriu, queria poder amenizar as coisas para o irmão.
— Dean, você nunca me perguntou isso na minha vida inteira — Samuel o encarou incrédulo.
— Eu só achei que você estava afim…
— Olha, Dean, eu sei que se preocupa comigo e agradeço. Mas eu estou bem!
— Uhum…
Dean não acreditava naquele papo furado, nem ferrando.
— Tá legal — Sam preferiu mudar de assunto. — Onde estamos?
— Estamos bem perto de Grand Junction…
— Quer saber? Não deveríamos ter saído de Stanford tão cedo. — Sam pontuou ao analisar um mapa em sua mão.
— Ficamos lá uma semana, Sammy, não descobrimos nada — Dean o olhou de soslaio. — Se quer achar a coisa que matou a Jessica….
— Temos que achar o papai antes — Sam completou.
— Papai desaparece e a coisa volta depois de vinte anos… Não pode ser coincidência, o papai terá as respostas.
— Coisa estranha — Sam franziu ao observar o local no mapa. — Essas coordenadas que ele deixou para nós, essa tal de Blackwater Ridge…não tem nada lá. É só mato.
Dean ficou em silêncio, tinha coisas demais em sua cabeça e não queria discutir. Odiava quando Sam tentava questionar as escolhas de seu pai.
Qual era a dificuldade de apenas fazer o trabalho?
— Por que ele mandaria a gente para o meio do nada? — Sam insistiu.
— Por que insistir em caçar com a ? — Dean mudou de assunto, um que ele gostaria muito de discutir antes de chegar ao destino.
— De novo isso?
— Não sei, Sam… não acha meio estranho? — Dean soou sugestivo.
— O que seria estranho? — Sam não fazia ideia de onde o irmão queria chegar.
— Sam, qual é! — Dean não conseguia acreditar na ingenuidade do irmão. — Tá de sacanagem? A garota some por quatro anos e reaparece quando o papai está desaparecido?
— Dean…
— Pior ainda, como ela sabia o que estava acontecendo no apartamento? Ou melhor, por que nos seguiu? — Dean estacionou o carro e desligou o carro, para então encarar o irmão. — Eu não compro essa historinha de coincidência e que ela nem mesmo sabia que você morava em Stanford, Sammy.
— Está sendo paranoico. — Sam riu da cara do irmão. — Você não suporta a ideia de caçar com ela e por isso está criando essas ideias.
Dean bufou.
Por que cacete ele insistia tanto em caçar com a garota?
Entendeu a interação toda sentimental deles naquele dia caótico, mas confiar nela? Era demais, até para ele.
— Acho que deveríamos investigar — Dean pontuou ao sair do carro e bater a porta com força.
Sam o acompanhou, meio sem acreditar nas palavras do irmão.
— Investigar a ? Você não pode estar falando sério. — Bufou um riso incomodado.
— E por que, não?
— Simplesmente porque, apesar de tudo, é da família. Nós não investigamos a família.
— Família não te deixa pra trás, Sammy — Dean esbravejou. — é tudo, menos da família.
— Atrapalho? — A voz da caçadora reverberou atrás de Sam, e Dean se praguejou por não tê-la visto chegando.
Mas e daí? Ele não estava dizendo nenhuma mentira.
— Não, claro que não, — Sam repreendeu o irmão com o olhar.
— Cadê a garota? — Dean se referia a .
— Ela foi alugar um quarto para nós e para vocês. — nem olhou na cara do Winchester, não queria deixá-lo saber que tinha escutado suas palavras. Mesmo magoada, ela não daria esse gostinho a ele. — Não que você mereça, Dean, mas ela é legal até com os ingratos, não se preocupe.
Dean fez um bico do tamanho do mundo, o maxilar quase rompendo de tão rígido, mas não disse nada.
— Sam, eu vou para a base da floresta, você vem comigo? — A caçadora encarou Sam.
Dean ficou puto. Ela o estava ignorando?
Garota insolente do caralho!
— E eu deveria fazer o que, ?
— Esperar no carro? — sugeriu em desdém.
— Eu vou junto. — Dean bufou, ainda mais puto.
nem deu bola para a decisão dele e passou a caminhar em direção a base florestal, conforme Sam não conseguia conter o sorriso satisfeito em seu rosto. Era impagável ver o quanto a garota era capaz de tirar seu irmão do sério.
Poucas pessoas tinham esse dom, afinal, geralmente era o contrário, Dean era quem fazia isso com as pessoas e era bom vê-lo provando do próprio veneno só para variar.
Já na base florestal, os três foram alocados em uma enorme sala para aguardarem o superior, com quem poderiam falar sobre os desaparecimentos naquela área. Ainda não estavam muito convencidos de que a situação se tratava de algo sobrenatural, mas John tinha enviado as coordenadas e precisavam investigar.
— Acham que é mesmo um caso? — Sam expôs seus pensamentos ao observar a sala.
— Não sei, papai nunca erra — Dean afirmou, e soltou uma risadinha com o comentário. — Algum problema?
Para ela, aquela era a mais pura mentira.
— Acha que meu pai nos mandaria para uma furada, é isso? — Dean se aproximou, os olhos queimaram de raiva. — Ele jamais nos colocaria em perigo.
— Minhas cicatrizes discordam. — o encarou sem piscar, impassível. Ela era boa pra caramba em ser fria quando queria.
— Cicatrizes? — Sam franziu o cenho.
Do que ela estava falando?
Dean, ao contrário do que ela esperava, suavizou a expressão. Ele não queria se lembrar daquela merda, mas foi como se as imagens estivessem bem diante dos seus olhos naquele momento.
As lágrimas.
A dor.
A raiva.
A quebra de tudo.
o encarou, mas não demonstrou nada. Nem sabia porque tinha tocado no assunto, já fazia quatro anos e nada poderia mudar o que aconteceu naquela noite.
— Que cicatrizes, ? — Sam voltou a questionar.
O ar parecia mais pesado no ambiente. e Dean ainda se encaravam.
— Por acaso estão planejando ir à colina Blackwater? — Uma voz reverberou no ambiente e os três tomaram um susto.
sentiu um alívio, não queria discutir sobre aquilo com Dean e nem se explicar para Sam.
— Não, senhor. Nós somos alunos de estudos ambientais lá em Boulder. — Sam foi rápido na mentira. — Estamos fazendo um trabalho.
— Isso aí — e Dean concordaram em uníssono.
— Recicle! — Dean acrescentou com seu jeito sarcástico.
— Mentira. — Os três ficaram tensos com a perspicácia do homem. — Vocês são amigos da garota, não são?
— Somos. — sorriu simpática. — Guarda Wilkinson. Esses são os guardas Harrison e Lambord. — Ela apontou para Sam e Dean.
— Então vou dizer a vocês o mesmo que eu disse a ela. O irmão dela, Thomas Anderson, conseguiu uma permissão para explorar a área e disse que não voltaria de Blackwater até o dia vinte e quatro e ainda estamos no dia vinte. Não é bem um caso de sumiço, é?
O nome reverberou na cabeça de . Não podia ser.
— Falem para a garota não se preocupar. Tenho certeza que o irmão dela está bem.
— Diremos… — Sam preferiu não discutir, assim com os outros dois.
— Aquela garota é osso duro. — Dean decidiu brincar para descontrair.
— Osso duro é pouco.
— Sabe o que ajudaria? — chamou a atenção do homem para ela. — Se eu pudesse mostrar a ela uma cópia do formulário, para ela poder ver a data de retorno do irmão.
O homem os encarou, então foi até um armário, vasculhou em algumas pastas e depois estendeu um papel na direção de Dean.
Com o formulário seria fácil localizar a garota.
Dean saiu sorrindo, como se tivesse ganhado uma batalha e tanto Sam quanto não entenderam nada.
— Está atrás de um rabo de Saia, Dean? — Samuel o conhecia muito bem.
revirou os olhos, era bem o tipo dele.
Ridículo.
— Como assim?
— As coordenadas indicam Blackwater Ridge. Estamos esperando, o que? Vamos achar o papai logo — Sam esbravejou. — Por que falar com essa garota?
encarou o amigo, perplexa. Sam não era de falar assim das pessoas, mas desde a morte de Jess ele vinha agindo cada vez mais estranho. Ela tinha medo de onde isso poderia levá-lo.
Das coisas que seria capaz de fazer…
— Não sei, talvez saber onde estamos nos metendo de fato? — Dean o olhou indignado.
— O que foi?
— Desde quando você entrou nessa de atirar primeiro e perguntar depois? — O mais velho acusou.
— Desde agora.
Sam entrou no carro e deixou tanto quanto Dean sem palavras. Ele de fato não estava em seu normal, por isso não disseram nada.

— Deve ser Haley Collins, eu sou Dean, este é o Sam. — Dean os apresentou, ignorando a presença de — que estava atrás deles — e nem citou o nome dela, quando a porta começou a se abrir. — Somos guardas de monitoramento do parque. O guarda Belmonte nos mandou aqui.
Uma garota de mais ou menos um e setenta, cabelos castanhos cacheados e olhos escuros apareceu.
— Se importa se fizermos algumas perguntas sobre seu irmão, Tommy?
— Mostre uma identificação. — A garota pediu, séria.
Foi nessa hora que os ouvidos de reconheceram aquela voz.
Thomas Collins. Tommy. Como pode não reconhecer o nome? Seu coração então, saltitou em preocupação.
— Haley?
Dean olhou para trás e foi empurrado por uma empolgada, que foi recebida de braços abertos por Haley.
— Meu Deus, ! Quanto tempo! — As duas se apertaram no abraço. — Você disse que viajaria e logo voltaria. O que foi que aconteceu?
Dean e Sam olharam confusos, afinal a garota não era de criar vínculos, mas as duas pareciam muito amigas.
— É uma longa, história. — riu sem jeito. Ela estava mentindo. — Podemos entrar?
Haley deu abertura para os três entrarem.
— Ainda preciso mostrar a identidade? — Dean questionou, seu tom de voz irritado.
parecia sempre estragar seus planos.
— Não, tá tranquilo. — Haley deu de ombros. — Mas me diz, o que faz aqui, ?
Os três se encararam, Dean e Sam estavam esperando que ela inventaria alguma coisa, já que conhecia a garota.
ainda se perguntava como não reconheceu os dois nomes e sentiu-se culpada.
— Você sabe…. — raspou a garganta. — Sabe como é meu pai, né? Sempre bebendo demais… ele sentia falta do lugar, foi na Blackwater e não consigo contato com ele há alguns dias.
— E eles? — Apontou para os irmãos.
— O pai deles foi junto.
— Eu estou tão aliviada que esteja aqui. — Os olhos de Haley brilharam.
— Você poderia ter me ligado, Hay…— sentiu a culpa assolar seu coração. Apesar de tudo, ainda se preocupava com Tommy. — Por que acha que tem algo errado? O guarda nos disse que ele colocou no formulário que voltaria só depois do dia 24.
— Quando foi que você começou a trabalhar no parque? — Haley ficou confusa.
— Minha resposta primeiro — brincou.
— Claro… — Haley encarou os três e respirou fundo. — Todo dia ele me dá notícias pelo celular. Você sabe, né? Fizeram várias trilhas juntos. Ele…
— Ah, fizeram? Eu não sabia que gostava de trilhas, . — Dean tinha um tom irônico e focou os olhos na garota, que agora estava sentada em uma cadeira. Como ele ficou em pé e atrás dela, não precisou ver o olhar dele.
Sam soltou uma risadinha com a reação do irmão, sabia muito bem o que era.
, por sua vez, nem deu bola para o Winchester e fez sinal para Haley continuar.
— Certo…ele manda fotos, vídeos idiotas, mas não dá notícias há três dias — Haley explicou enquanto organizava sua mesa de jantar.
— Talvez não tenha sinal — Dean observou.
— Tem telefone por satélite — respondeu junto a Haley.
— Talvez ele esteja se divertindo com alguma garota e esqueceu de mandar — Dean pontuou e então foi para frente, e encarou .
A caçadora não esboçou reação alguma, não entraria naquele joguinho idiota e sabia que Tommy nao era assim.
— Ele não faria isso — Haley ficou séria e encarou Dean. — Nossos pais morreram, somos só eu e ele. Um sempre sabe do outro.
— Desculpa, Hay, não foi isso que ele quis insinuar — repreendeu Dean com o olhar.
— Hm, posso ver as fotos que ele mandou? — De repente algo cruzou os pensamentos de Sam.
As fotos poderiam ser uma boa pista e ele estava cansado de conversar, queria ir logo para a Blackwater e encontrar seu pai e ir atrás da coisa que matou Jess e sua mãe. Naquele momento não dava a mínima para quem estava desaparecido.
— Claro — Haley foi até o computador na sala e abriu alguns arquivos. — Este é o Tommy.
viu a foto e sorriu, nem sabia que tinha sentido tanta falta dele. Tommy foi o mais próximo que ela pode experimentar de um sentimento de verdade nos últimos quatro anos. Jamais saberia lidar se algo acontecesse a ele.
Dean e Sam ficaram observando as fotos, até que Haley abriu um vídeo.
— Oi, Haley. Dia seis. Ainda estamos perto de Blackwater Ridge. Estamos bem e seguros, não se preocupe, tá? Nos falamos amanhã.
Sam franziu o cenho ao terminar de ver o vídeo, tinha algo de estranho.
— Nós vamos achar seu irmão. Vamos partir para Blackwater logo cedo. — Dean se virou para a garota e garantiu.
Sabia como era ter alguém desaparecido.
— Talvez nos encontramos, lá! — Haley avisou ao se afastar.
— O que? — indagou.
— Nem pensar — Dean se manifestou.
— Olha, eu não consigo ficar aqui sentada esperando, ok? Então contratei um guia. Vou sair de manhã e achar Tommy por minha conta!
— Sei como se sente — Dean a encarou no fundo dos olhos.
A cada dia ele se sentia mais apreensivo em relação ao pai. compartilhou do sentimento, mas não disse nada. Gostava de Haley por sua determinação e não seria ela a para-la.
— Eí, acha que pode me mandar esses vídeos? — Sam finalmente saiu de sua bolha ao fazer a pergunta.
— Claro.
— Bom, nós precisamos ir, mas se souber de alguma coisa…qualquer coisa, pode me ligar nesse número — pegou um papel, entregou para a amiga e começou a caminhar até a porta.
— Eu estou muito feliz em te ver, — Haley abraçou a caçadora. — Tenho certeza que quando encontrarmos Tommy ele também vai ficar.
sorriu e então, se despediu da amiga junto dos Winchesters.

☪ ✷


— Blackwater Ridge não tem muito movimento. A maioria são campistas locais. — Ally pontuou partes de sua pesquisa.
Depois da visita a Haley, os três se encontraram em um bar para discutir o caso e se preparar para o dia seguinte.
— Por que exatamente estamos perdendo tempo pesquisando? — Dean questionou ao dar um gole em sua cerveja.
— Como? — Ally ficou confusa.
parece saber bastante sobre Blackwater. Por que não nos conta sobre suas aventuras, ? — O Winchester provocou.
ficou confusa, não tinha ideia do que ele estava falando e Sam nem deu bola.
revirou os olhos.
Desde quando sua vida pessoal era dá conta dele? E por que estava tão incomodado com a descoberta?
— Para alguém que me detesta tanto, você parece bem preocupado com as minhas atividades extracurriculares, Dean. — sorriu maldosa.
Dean por sua vez engoliu a seco para não xingá-la.
Era melhor ter ficado com a boca calada.
— Ok, continua, — Sam pediu sem paciência.
Não tinha tempo para perder com bobagens.
— Bom, ainda assim, no último mês de Abril, dois caminhantes desapareceram e nunca foram encontrados.
— Algum outro antes deles? — questionou.
— Sim, em 1982, oito pessoas sumiram, todas no mesmo ano — Ally pontuou.
— E as autoridades? — Dean ficava perplexo com a falta de competência deles.
— Disseram que foi ataque de urso. Também temos em 1959 e antes disso, 1936.
— A cada vinte e três anos, como um relógio — Sam observou.
sorriu com a rapidez de Sam. Era bom, para variar, ter alguém que gostava das pesquisas tanto quanto ela.
— Mais alguma coisa? — Dean já estava de saco cheio de pesquisar, então deu um longo gole em sua bebida ao fingir interesse nos detalhes.
— Sim, olha isso aqui — abriu seu notebook e o virou na direção dos outros três. — Sam me enviou o vídeo do Tommy e analisamos juntos enquanto vocês estavam no bar pedindo os drinks e olha só…
Ela apertou, mas Dean e não entenderam nada.
— São três quadros. — Ally apertou alguns botões e eles viram algo se mover no vídeo, bem atrás do garoto. — É uma fração de segundos…
— Seja o que for, se move rápido — observou.
Ela ficou desesperada, apesar de não demonstrar. Só de pensar no Tommy em uma floresta, com um perigo sobrenatural, seu coração se partiu e desejou ao menos que ele praticasse um pouco do que lhe ensinou.
— Eu sabia que tinha algo errado — Dean comemorou ao dar um soco de leve no irmão.
Sabia muito bem que seu pai nunca errava.
— Então acho que é isso, nos vemos pela manhã? — se levantou.
— Tem mais uma coisa, — Ally trouxe a atenção da amiga para si. — Em 1959, um campista sobreviveu ao suposto ataque de urso. Era uma criança. Mal se rastejou vivo para fora da floresta.
— Tem um nome, Ally?
— Você sabe que sim.


— Então, qual a história? — encarou .
As duas ficaram do lado de fora, enquanto Dean e Sam colhiam informações com o tal sobrevivente do ataque em Blackwater.
— Que história?
— Sua e do Dean… campista.
— Ah, isso. — deu de ombros. — O Dean é um idiota, não sei porque dá bola para as besteiras que ele fala.
não queria falar nem sobre o caçador, e nem sobre o rapaz desaparecido.
— Até quando vai me esconder as coisas, ? — esbravejou. — Você nunca foi assim comigo, mas ultimamente é como se eu simplesmente não soubesse mais nada sobre você.
— Ally…
— Não, . Nós caçamos juntas, somos uma família. Você confia em mim, ou não? — encarou a amiga bem no fundo dos olhos.
Estava cansada.
Cansada de seguir a garota e não sequer receber honestidade por parte dela.
— Não posso te falar sobre o que rolou com Dean, me desculpa. — se odiava por isso, mas não queria compartilhar aquilo. Não queria sequer se lembrar do passado ao lado do Winchester.
— Eu desisto.
— Posso falar das minhas aventuras de campista deu uma risada.
— E o que foi aquilo? — Ally se referiu às mesmas palavras usadas por Dean dentro do bar.
— E eu sei? — riu nervosa e torceu para a amiga acreditar nela. — Enfim, lembra quando passei seis meses longe de casa? Então, é aqui que eu estive.
— Filha da p… — se segurou para não xingá-la. — Então foi isso que ficou fazendo enquanto te procurávamos desesperados? Encontrou um romance de férias? Você é inacreditável, !
As duas se encararam e então caíram na risada, mas foram interrompidas pelas vozes de Dean e Sam.
— Não podemos deixar essa garota Haley ir para lá. — Sam pontuou.
— É? E vai dizer o que para ela? Que ela não pode ir à floresta porque tem um monstro grande e assustador? — Dean zombou.
— Sim.
— Tá de sacanagem, Sam? — se intrometeu.
Ela jamais o deixaria assustar Haley daquela forma.
— Qual problema?
— O Tommy, irmão dela, está desaparecido, Sam. Ela não vai sentar e esperar — Dean ignorou a presença da caçadora.
— E eu jamais a preocuparia dessa forma — avisou. — Vamos com ela, eu a protegerei.
Dean não disse nada, pois concordava com e não admitiria em voz alta.
— Procurar o papai não é o suficiente? — Sam esbravejou. — Agora temos que ser babá?
encarou-o incrédula.
e Dean nem tanto, seus olhares eram de preocupação. A morte de Jess estava acabando com Sam, ele não era esse cara.
— O que foi? — Sam os encarou com uma cara de poucos amigos.
— Nada…. — Dean não sabia o que dizer.
— Não vamos dizer nada a Haley, Sam — ficou séria.
— Desde quando você manda em alguma coisa? — Samuel riu em escárnio.
— Sam…
— Sam, eu entendo que a morte da Jess foi um baque, me importo muito com você, mas não vou deixar que machuque Haley, entendeu? — perdeu a paciência.
Ele não tinha o direito de ferir os outros só porque estava machucado.
— Engraçado dizer isso, porque você vive machucando todo mundo. — Sam cuspiu as palavras na cara de , a raiva o consumindo.
A caçadora o encarou sem dizer nada. De repente sentiu que tudo foi um erro.
Ir atrás deles até Stanford.
Decidir caçar com eles.
Como podia ser tão burra assim de novo?
— Sam, pega leve — escutou a voz de Dean e ficou perplexa.
Não precisava ser defendida por ele.
— Não me venha com essa, Dean. Você nem a queria aqui. — Sam bufou.
— O.K — interveio. — Acho que é bom irmos acalmar os nervos, amanhã teremos um longo dia pela frente.
Ninguém disse nada por alguns segundos, até que Sam se manifestou:
— Tanto faz, mas não serei babá de ninguém.

☪ ✷



O clima era de tensão entre os Winchesters e as garotas e ninguém trocou sequer uma palavra quando se encontraram com Haley e o guia contratado por ela na entrada da trilha.
O homem não gostou nem um pouco de ver os quatro ali, mas nenhum deles se importou.
Não deviam satisfação a ninguém.
se manteve o mais longe possível de Sam e Dean. Não queria nem olhar para cara deles e assim que encontrasse seu pai, ou qualquer pista valiosa, iria embora sem pensar duas vezes ou sequer ajudá-los a procurar por John.
Ele não era problema dela e depois da noite de ontem, lembrou-se bem que não deveria nem confiar e nem se envolver com nenhum Winchester. Nunca mais.
Sam foi na frente como disse que faria e nem se importou se a garota e o guia estariam seguros ou não, afinal os dois só atrasariam as coisas. Se fosse preciso, os deixaria para trás, se isso significava chegar mais perto da coisa que matou Jess.
— Roy, você disse que caça um pouco, ne? — Dean quis puxar assunto com o guia.
— Sim, mais do que só um pouco.
— Certo. E que tipo de criaturas você acerta? — O Winchester questionou conforme caminhavam.
— Alces, às vezes ursos…
— E aí, Bambi e Zé Colmeia já revidaram? — Zombou.
Dean riu quando sentiu um puxão em sua camisa e viu a cara de poucos amigos do guia bem ao seu lado. E foi então que o homem pegou um galho e espetou o chão, revelando uma armadilha que teria cortado seus tornozelos, se não fosse pelo homem.
— Melhor olha por onde anda, guarda.
não aguentou a risada.
— É, é armadilha para urso.
Dean Winchester era mesmo um grande idiota.
Todos continuaram a caminhada e percebeu que sua amiga parecia um pouco distante, aérea as coisas e como se não quisesse estar perto dela. Se perguntou se poderia estar sendo paranoica, mas não conseguia abandonar o sentimento.
Caminharam por mais alguns quilômetros e então aproveitou que estava a uma certa distância dos outros para puxar assunto.
— Sei lá… — Haley a encarou. — Vocês não trazem comida, carregam uma mochila. Seus amigos não são guardas! Quem são eles? — Haley perguntou do nada.
Infelizmente, para , a amiga era mais perspicaz do que ela gostaria.
— Hay…
— Não! — Haley esbravejou. — Eu sei de tudo, valeu?
gelou. Não tinha como ela saber. Tommy tinha prometido a ela que não contaria a ninguém.
— Do que ela está falando? — Dean encarou , ao aparecer do nada.
Ela olhou ao seu redor e respirou aliviada por ele ser o único próximo delas.
— Eles não sabem das tuas maluquices? — A garota pareceu ainda mais revoltada.
— Hay, me escuta, por favor…eu — tentou achar as palavras, mas não conseguia.
Dean não queria acreditar que tinha feito uma merda tão grande assim e nem conseguiu dizer nada.
— Se algo acontecer com meu irmão por sua causa, — Haley chegou bem perto da caçadora —, eu juro que não respondo por mim.
engoliu em seco, mas não disse nada e viu a garota se afastar e seguir a trilha. Ela sentiu os olhos de Dean sobre si, mas nem sequer virou para se certificar de que ele estava mesmo ali. se virou e seguiu a caminhada.
Seus pensamentos estavam a mil.
Se praguejou por não ter simplesmente se afastado de Tommy naquela época. Se praguejou por ter se enfiado nisso com os dois irmãos. Se praguejou por ter um pai tão egoísta.
E por último, se praguejou por ser uma maldição na vida das pessoas.


— É aqui a Blackwater Bridge. — O guia avisou, ao chegarem um ponto bem isolado da floresta.
A noite já caia.
— Vou dar uma olhada por aí. — Roy avisou e os quatro caçadores ficaram em alerta.
Andar sozinho por aí era uma péssima ideia.
— Acho melhor você não ir sozinho — avisou.
— Essa é boa, eu vou ficar bem.
Os quatro se entreolharam, sabiam que não podiam deixar o homem ir sozinho. Teriam de ir junto.
— Tudo bem, todo mundo junto — Dean instruiu para todos.
Eles caminharam por mais alguns quilômetros e não demorou para ouvirem o homem gritar:
— Haley! Aqui!
Todos correram desesperados, mas principalmente os quatro caçadores. Tudo que eles não precisavam era de alguém machucado ou morto.
O desespero tomou conta de Haley ao dar de cara com o acampamento, logo reconheceu a barraca de Tommy toda destruída, assim como outras e também equipamentos. A garota caminhou depressa, procurando por pistas, até que encontrou o rádio comunicador de seu irmão.
Aquilo não era um bom sinal.
Sem conseguir se controlar, ela se desesperou e começou a chorar e gritar.
— Haley, olha para mim! — a segurou pelos ombros, mas a garota apenas gritava pelo nome do irmão, então ela segurou o rosto de Haley. — Olha pra mim!
Todos estavam tensos ao observar o estrago.
A culpa assolou o coração de ao olhar para a amiga daquele jeito e a abraçou. Não só porque queria confortá-la, mas para silenciá-la. Seja lá o que estava na floresta, os ouviria e os caçaria.
— Parece coisa de urso — Roy observou.
Tinha sangue para todo lado, a cena parecia um filme de terror, mas era uma boa pista.
— Pessoal! — A voz de reverberou na floresta, então Sam e Dean correram até ela.
A garota estava abaixada bem diante de uma marca no chão.
— Os corpos foram arrastados até o acampamento. Mas os rastros somem aqui — ela apontou.
— Quer saber? Não é mutante ou cão negro — Dean firmou e se virou para sair dali.
e Sam ficaram confusos.
— Socorro! — Então a voz de Tommy soou na floresta e todos ficaram em alerta.
Definitivamente estavam sendo caçados.
Todos correram em busca da voz, mas acabaram no meio do nada, sem rastro nenhum de onde poderia vir e quando retornaram ao acampamento, seus pertences tinham desaparecido completamente.
— Ele é esperto, quer nos isolar para não pedirmos ajuda…— Sam olhou ao redor, na tentativa de ligar os pontos.
— Pera, tá dizendo que um maluco levou nossas coisas? — Roy ironizou.
— Preciso falar com vocês — Sam encarou Dean, e . — Em particular.
Eles sabiam muito bem o que ele queria dizer com aquilo e o seguiram, mas parou antes para se certificar de que Haley estava melhor.
— Você vai ficar bem?
— Eu fiquei há um ano, pode ir.
Aquilo a atingiu como um soco, mas a caçadora apenas assentiu e seguiu para a direção onde os outros três foram.
— Deixa eu ver o diário do papai — Sam pediu ao pararem e Dean o entregou.
Ele o abriu e folheou algumas paginas, então o virou na direção dos outros três.
— Wendigo? — indagou.
— Wendigos vivem nas florestas de Minnesota ou no norte do Michigan. Nunca ouvi falar de um por aqui — Dean questionou.
— Pensa bem, Dean… As garras — Sam deu exemplos.
— O jeito como imita a voz humana — concluiu.
— Que ótimo, então isso é inútil — mostrou a arma.
Só ficava melhor.
Como se não bastasse Tommy, agora todos estavam em perigo.
— Temos que proteger esse pessoal — Sam avisou, ao caminhar de volta para o acampamento.
— Agora tá preocupado com eles? — riu sem humor.
— Eu não sabia que seria algo assim, beleza? Vamos logo, não temos muito tempo até anoitecer.
Os três fizeram o mesmo, pois ele tinha razão. Se ficassem ali, morreriam sem nem ter chance de lutar.
— É o seguinte, temos que ir — Sam avisou com a voz firme. — As coisas ficaram… mais complicadas.
— Eu não vou sair daqui! — Haley se opôs.
não conseguiu dizer nada, não tinha o direito de ir contra as vontades dela.
— Não se preocupe, posso lidar com isso — Roy foi ríspido.
— Eu não estou preocupado comigo — Sam riu sarcastico. — Se atirar nessa coisa só vai deixá-la brava. Temos que sair daqui agora!
— Primeiro, está falando bobagem. Segundo, não está em posição de dar ordens a ninguém! — Roy ficou furioso.
— Relaxa — Dean encarou o guia, já estava de saco cheio do cara.
— Nunca deveríamos ter deixado vocês virem aqui, para começar — Sam avisou. — Mas quero proteger vocês.
— Fala sério — Roy riu.
— Se acha tão esperto? Essa coisa vai comer você vivo. Já caçou um Wend…
— Ei, se acalma! — Dean empurrou o irmão, não podia deixá-lo falar mais.
Tinha uma regra que jamais deveria ser quebrada: pessoas normais deveriam permanecer normais, jamais saberiam sobre os monstros. Jamais.
— Parem com isso, agora! — Haley estava cansada, só queria ir atrás do seu irmão e o levar de volta para casa. — Olha, Tommy ainda pode estar vivo. E eu não vou sair daqui sem ele!
decidiu tomar controle da situação, Haley não ia sair dali sem o irmão e ela nem podia culpá-la.
— Está ficando tarde. Essa coisa caça bem de dia, e melhor ainda a noite — encarou Haley, que a encarou com raiva no olhar, mas também tristeza. — Não temos chance no escuro, precisamos acampar e nos proteger.
Todos ficaram em silêncio, mas pela movimentação ela soube que todos concordavam com ela.
O céu ficou escuro bem rápido e cada um se encarregou de uma função. Dean desenhou alguns símbolos, preparou algumas armadilhas, Roy se ofereceu para ficar de guarda, Sam e Haley montaram as barracas e aproveitou a distração de todos para se afastar do grupo.
Ela não podia mais colocar ninguém em risco.
Com apenas sua mochila com água, algumas armas e outras coisas que poderiam ajudá-la, ela seguiu na trilha sozinha. O tempo estava acabando e era sua obrigação encontrar Tommy e trazê-lo de volta para Haley.
Depois disso, ela sumiria da vida de todos eles de uma vez por todas.
A caçadora caminhou furtiva pela floresta e se esforçou para não fazer nenhum barulho. Estava escuro, e apesar de parecer loucura, não sentia medo. Foi tomada pelo desespero de encontrá-lo.
Ela deu mais alguns passos e sufocou um grito ao sentir algo lhe agarrar e puxá-la para longe.
— Você tá ficando maluca? — Dean sussurrou, o tom de voz irritado.
Ela encarou os olhos verdes do homem na escuridão e suspirou. Ele ainda a segurava em seus braços e ela conseguiu sentir a quentura que vinha dele, mesmo com as roupas separando suas peles. tentou, mas não conseguiu se concentrar em mais nada, se perdeu ali.
Longe dele era fácil manter a postura, mas perto assim ela ficou imóvel. Sem saber ao certo o que dizer.
Dean não estava diferente, não depois de sentir o hálito da garota bater contra o seu rosto. O cheiro doce canelado, exatamente como ele se lembrava.
— Eu posso fazer isso sozinha…
— Você ia mesmo atrás dessa coisa? — Dean ficou perplexo.
Não conseguia acreditar que ela se arriscaria assim por um cara que mal conhecia.
— Por que se importa? Não sou da sua conta, Dean — se desvencilhou.
— É da minha conta se estiver sob minha responsabilidade, .
riu.
Ele só podia estar de sacanagem.
— Tá de brincadeira, né?
Dean bufou frustrado e leu nos olhos dela.
Ele não era um cara desconhecido, não da maneira que ele pensou. Tinha sentimentos nos olhos dela. E aquilo o irritou pra caralho.
Então lembrou das palavras de Haley e o sangue ferveu.
Eles não sabem das tuas maluquices?
Tudo ficou claro em sua mente.
tinha feito uma merda bem grande, mas no fundo não foi exatamente isso que o deixou puto.
— Contou para ele, não foi? — O Winchester ficou mais perto dela, a respiração ofegante.
— O quê? — A voz de saiu trêmula.
— É claro que contou — Dean riu em escárnio. — Não sei onde eu estava com a cabeça, quando…
— Quando o quê? — esbravejou. Não ia ouvir mais merda nenhuma de Dean, pois ela não tinha ideia do que estava falando. — Quando foi um grande de um filho da puta comigo e mentiu bem na minha cara? Me poupe, Dean, hipocrisia não combina com você.
— Escuta….
Dean não conseguiu terminar o que tinha para dizer, pois foi atingido por uma força que o jogou para bem longe de , e então, perdeu a consciência.




Eu enfrentarei a mim mesmo para apagar o que me tornei.
Eu apagarei a mim mesmo e deixarei para trás o que fiz.


Linkin Park — What I’ve Done


6 meses antes…

A garota encarou o ambiente a sua volta e soltou um suspiro resignado.
Onde diabos ela estava?
Meio a contragosto, deu alguns passos lentos. Precisava se certificar de que não faria barulho algum, era uma regra que jamais poderia ser quebrada. Caminhou por mais alguns metros e viu uma porta que lhe chamou atenção.
O cheiro de cookies invadiu seu espaço pessoal, e ela, então, sentiu-se confiante para entrar ali.
Uma voz calma parecia cantar uma melodia que ela não foi capaz de reconhecer, mas seguiu seu caminho no que pareceu ser um pequeno apartamento.
Ainda não tinha ideia de onde estava, mas não conseguiu recuar.
Algo parecia não se encaixar.
Mesmo receosa, dobrou um corredor e saiu em uma pequena cozinha. Reparou em alguns detalhes, mas nada lhe chamou a atenção, então deu meia-volta. Dessa vez, ela foi parar de frente para a porta aberta de um pequeno quarto.
Mais vozes vieram de lá.
Então, uma voz familiar atingiu seus ouvidos, e um arrepio percorreu a espinha.
O medo se assolou em seu peito, e ela aumentou o passo, mas, antes mesmo de encontrar o dono daquela voz, tudo desapareceu.



AGORA.



sentiu uma dor aguda em sua cabeça e teve dificuldade em abrir os olhos. A sensação era de que algo muito forte a tinha atingido, e ao tocá-la para certificar-se de que estava tudo bem, uma dor dilacerante se espalhou.
Foi uma pancada e tanto.
A caçadora precisou de alguns minutos para conseguir se lembrar de tudo, então algo cruzou seus pensamentos.
Dean.
Em um instinto primitivo, ela se levantou pronta para correr, mas tropeçou instantaneamente. Uma corrente de ferro estava presa ao seu tornozelo direito, e o esquerdo doía tanto, que a fez cravar os dentes contra os lábios e os cortou.
Sua cabeça latejava como o inferno, seu corpo todo doía, e conseguia sentir o gosto de sangue na ponta da língua.
Onde diabos Dean Winchester estava?
— Você consegue me ouvir? — Uma voz, então, sussurrou em meio à escuridão, mas não era a dele.
O coração de bateu forte.
Ela não sabia se deveria responder ou apenas ficar em silêncio.
— Eu também estou preso…por favor, diga que pode me ouvir. — A voz implorou, e ela então a reconheceu.
Seu coração se transbordou em felicidade, e seus olhos encheram de lágrimas.
Ele estava vivo. Thomas estava vivo.
— Tommy…— Foi tudo o que a caçadora conseguiu dizer e torceu para ele reconhecê-la apenas por sua voz.
? — Era possível notar o tom de alívio no rapaz. — Meu Deus, eu não acredito! É mesmo você? Aquela coisa consegue…
— Imitar vozes? Tô sabendo. — foi brincalhona. — Sou eu, Tommy.
então levou sua mão a um dos bolsos e respirou aliviada; sua lanterna de sempre ainda estava ali. Sem hesitar, ela acendeu e se levantou, desta vez apoiando-se em sua perna boa.
— É mesmo você…— Tommy estava mais perto do que ela esperava.
não conseguiu se conter e o abraçou tão forte que arrancou um gemido do garoto. Foi então que ela sentiu um líquido quente contra si e apontou a luz para baixo.
A caçadora estacou.
Não, não, não…
O desespero, então, tomou conta de cada célula de seu corpo.



✡☪ ✷





— Dean, acorda! — Sam bateu no rosto do irmão repetidas vezes. O mais velho tinha sangue na testa, que parecia ser de um corte. — Acorda, cara!
chegou no exato momento em que ele acordou, confuso e sem saber ao certo onde estava.
— Cadê a ? — O desespero se apossou da garota.
— Eu não…eu não sei — Dean respondeu confuso, sua cabeça parecia que ia explodir.
Sam então estendeu a mão para ele e o ajudou a se levantar.
— Você tá bem?
— É, tô ótimo — Dean resmungou.
Dean estava confuso; o sol já raiava, então isso significava que ele passou a noite desacordado até ser encontrado. Sem muita paciência, o homem se virou na intenção de sair dali e voltar para o acampamento, mas uma mão agarrou seu braço.
— Como você não sabe onde ela está? — o encarou com uma cara de poucos amigos.
— Eu não sei, mas vou encontrá-la, não se….
— Não finja que se importa com ela, eu vi a forma como a trata, Dean. —
não tinha nada contra o caçador, mas isso não significava que confiava nele.
Dean a encarou no fundo dos olhos; não poderia culpá-la por se sentir assim, mas suas palavras o atingiram.
— Não temos tempo para isso, precisamos encontrá-la, logo! — Sam se intrometeu.
Os três se encaram, e então foi a primeira a dizer:
— O que fazemos, então?
— Não podemos deixá-los aqui, vamos voltar para o acampamento e seguir as pistas, todos juntos — Sam instruiu e eles apenas concordaram com os olhares.




Como se não pudesse piorar, ao voltarem para o acampamento, Haley e Roy tinham sumido. Tudo estava destruído, e eles não tiveram outra escolha a não ser ir atrás deles primeiro.
era uma caçadora experiente, logo teria alguma vantagem sobre a coisa; já os outros dois não, certamente acabariam mortos se não fossem encontrados depressa.
— Que ótimo! — Dean bufou, enquanto eles caminhavam em busca de pegadas.
Os três caminharam por um tempo, até encontrarem pegadas e logo passaram a sentir um cheiro muito forte, um que não era nada bom. foi na frente, enquanto os irmãos a acompanharam a alguns metros de distância.
O cheiro ficava cada vez mais forte, e as pegadas começaram a ficar mais fortes conforme eles andavam. Aquilo era um bom sinal, mas ao mesmo tempo muito preocupante.
Nenhum deles teve muito tempo para reagir quando algo caiu de uma árvore. não conseguiu segurar o grito de desespero, e os Winchesters a seguraram pelos ombros, mas, ao contrário do que pensavam, não era o Wendigo, mas sim o corpo de Roy, todo ensanguentado.
— Pescoço quebrado — Dean constatou ao examinar o corpo.
Nem precisou dizer que o homem estava morto; era óbvio.
Por que ele não podia simplesmente ter escutado e seguido as ordens deles?
— Ai meu, Deus! — Haley apareceu do nada, os olhos esbugalhados de tanto chorar e suas roupas cobertas de sangue. — Ai, meu Deus, ai, meu Deus!!!!!
Sam prontamente tirou seu casaco e passou pelo ombro da garota, mas ela tremia como nunca.
Sem dúvidas, ela estava em choque.
— Se calma, vai ficar tudo bem…— se aproximou da garota; sabia exatamente como ela se sentia.
Já tinha presenciado o mesmo pela primeira vez.
— Como vai ficar tudo bem? — A garota chorou copiosamente, enquanto era abraçada pela caçadora.
Eles ficaram ali por algum tempo para ela se acalmar, e então gritos passaram a ser ouvidos na floresta.
A coisa estava perto.
— Cadê a ? — Haley finalmente se deu conta de que a amiga não estava ali.
Os três se entreolharam, mas não tiveram tempo de explicar nada, pois rugidos ecoaram muito alto e próximo deles.
— Corram, corram! — Dean gritou.
Os quatro correram por suas vidas, mas não era tão fácil, pois árvores a todo momento lhes barravam, assim como os cascalhos nos chão e troncos muito altos.
Conforme eles corriam com cada vez mais pressa, era possível ouvir o barulho dos passos da criatura que tentava alcançá-los, e lá no fundo, sabiam que ela estava cada vez mais perto.
Wendigos eram rápidos e se moviam em uma velocidade inumana.
Dean segurou a mão de Haley ao vê-la quase cair, e foram surpreendidos pelo monstro bem diante de seus olhos. Por sorte, ele estava preparado com uma garrafa de vidro em suas mãos, que continha um pano embebido em álcool.
Sem pensar duas vezes, ele pegou o isqueiro, ateou fogo e jogou na direção do Wendigo. Aquilo assustou a criatura, mas não foi o suficiente para matá-la.
— Nós encontramos uma coisa, venham! — apareceu afobada e logo correu na direção contrária à que os dois estavam, e eles foram atrás dela.
e Sam pareciam ter encontrado a entrada para uma espécie de mina abandonada. Placas diziam para visitantes da floresta não entrarem, mas eles ignoraram. Aquele era um ótimo esconderijo para o Wendigo.
foi na frente, Haley no meio — para ser protegida — e os Winchesters seguiram atrás, caso o ataque viesse por trás deles.
Dentro do lugar era escuro, insalubre e tinha um cheiro podre que quase os fez vomitar. Os três caçadores não tiveram dúvida alguma de que o esconderijo era ali, então Sam os parou.
— Precisamos nos armar. — O rapaz abriu sua mochila e passou a distribuir armas para todos.
Haley recebeu uma pistola, e Sam e Dean ficaram com garrafas para atearem fogo, assim como .
Precisavam ser rápidos; mais importante do que matar o monstro era encontrar e Tommy com vida.
Eles caminharam por mais alguns metros e então uma abertura saltou aos olhos de Haley.
— Aqui! — ela gritou.
Sem perder tempo, todos eles passaram pela brecha e caíram numa espécie de barranco, um em cima do outro. Um líquido viscoso logo foi sentido por todos eles, que se levantaram um a um.
Aquele lugar era ainda mais escuro, mas logo foram tomados por uma luz em seus olhos.
! — se jogou nos braços da amiga, que gemeu de dor. — Me desculpa, você está bem?
apenas assentiu e levou o olhar até Tommy, e Haley foi a primeira a correr e abraçar o irmão. Os dois caíram em um choro profundo conforme se abraçavam.
— É bom te ver, bem. — Sam se aproximou de , com uma culpa que o assolava.
Desde que havia descoberto o sumiço dela, não conseguia se esquecer das coisas que disse a ela na última vez em que estiveram juntos. Nada do que saiu da sua boca era verdade, e ele desejou poder reencontrá-la e se desculpar, mas tudo que conseguiu fazer foi depositar um beijo no topo da cabeça da garota.
Dean, por sua vez, não conseguiu dizer nada. A briga com ainda estava presa em sua cabeça, assim como as ofensas que trocaram e o motivo de tudo.
Se sentia um idiota, então não sabia o que dizer.
Tudo que ele fez foi se agachar e soltar os pés dela da corrente; que não disse nada diante do gesto.
— Tommy…não — Haley sussurrou em um choro entrecortado, e todos voltaram a atenção para ela.
Foi então que eles perceberam que parte do corpo do rapaz estava todo dilacerado. nem conseguiu manter os olhos focados ali. Era doloroso demais assistir, principalmente por saber que era tudo sua culpa.
— Precisamos sair daqui — Dean lembrou a todos.
— Ele não vai…
— Não vou deixá-lo aqui. Não saio daqui sem o Tommy. — Haley foi firme ao encarar os quatro caçadores.
— Como vamos ser rápidos o suficiente com ele desse jeito? — não gostava da ideia de deixar alguém para trás, mas sabia que não tinham muito o que fazer.
— Deixar ele aqui não é uma opção. — foi incisiva e então Tommy se aproximou dela, mesmo com dificuldade, e a olhou no fundo dos olhos.
— Não… — ela murmurou; sabia o que ele queria dizer, mas jamais aceitaria.
— Vocês não podem morrer por minha causa, .
— Tommy…. — Haley tentou dizer algo, mas não conseguiu ao ver o olhar do irmão, então decidiu dar espaço aos dois.
— Te conhecer naquele verão…
— Não, para! — exigiu. — Você vai com a gente, pronto.
Tommy tentou dizer algo, mas então ele começou a se engasgar com o sangue na boca.
— Precisamos ir. Todos nós — foi tudo o que disse e ninguém teve coragem de questioná-la. — Você é o melhor com os planos, Sammy.
Sam apenas assentiu e explicou o plano para todos, que era muito bom, mas se qualquer um deles ficasse para trás no percurso, não daria certo.
ficou responsável por ir atrás e proteger Tommy e Haley, que ficaram bem ao meio, e à frente foram Sam, Dean e . Assim que encontrassem uma saída, já que não teriam como voltar pelo barranco, eles seguiriam o caminho para sair da mina e acabar com o monstro.
— Eu vi alguns barris de pólvora do lado de fora, mas só conseguiremos matar essa coisa de uma vez por todas quando estiver perto. — Sam começou a dizer conforme caminhavam. — Teremos que ser rápidos, então, quando eu disser corre, todo mundo corre!
Ninguém precisou responder nada para ele entender que todos haviam compreendido as instruções e então continuaram o caminho pelo local insalubre.
Tommy não parava de tossir e, a todo momento, se certificava de que o rapaz estava bem, mas lá no fundo, ela tinha consciência de que a situação era delicada. Os lábios dele já estavam roxos e a pele muito gelada.
Precisavam se apressar.
E então, eles passaram a escutar passos pesados contra o chão e rugidos soando.
O Wendigo estava cada vez mais perto, e foi então que Sam gritou!
— Corram!
Tudo aconteceu muito rápido; eles passaram a correr sem nem olhar para trás, e Sam esperou que todos estivessem do lado de fora para então sacar o isqueiro jogado por Dean e tacar fogo nos barris.
Em questão de segundos, tudo estava em chamas.





— Estão todos bem? — Sam teve dificuldade, mas conseguiu chegar ao lado de fora sem nenhum arranhão.
Ninguém respondeu nada, e ele então se deu conta do que acontecia.
Tommy estava no chão, os lábios mais roxos do que nunca, a pele assustadoramente branca. Dean e apenas encaram sem saber o que dizer, enquanto e Haley se encontravam ajoelhadas ao lado dele.
O rapaz disse algo à irmã, que se levantou e passou a chorar copiosamente.
Samuel também não soube como reagir.
… — Tommy sussurrou baixo para a caçadora ajoelhada ao lado dele. — Preciso que me deixe falar…
não conseguiu dizer nada, mas assentiu.
— Conhecer você naquele verão… — o rapaz começou a falar, afinal não tinha muito tempo. — Tudo que me ensinou e tudo que vivemos…eu nunca vou me esquecer. Foi a melhor coisa que me aconteceu.
— Tommy, não…— chorava sem nem se importar com a presença dos outros.
Não era aquilo que ela tinha planejado; se soubesse que seria assim, jamais teria entrado na vida dele.
Ela era a porra de uma maldição, tinha certeza.
— Vai ficar aqui comigo? — Tommy perguntou ao se engasgar pela milésima vez.
— Sempre, sempre… — fez um carinho na cabeça do rapaz e depositou beijos na testa dele, enquanto se entregava a um choro doloroso.
Ele não merecia um fim assim.
— Eu sempre vou…— A voz dele sumiu antes de terminar o que tinha a dizer, e ela soube.
Tommy estava morto.
— NÃO! — Haley gritou.
E todos ficaram ali parados, em um misto de dor, desespero e fracasso.




✡☪ ✷





encarou a foto à sua frente e sorriu. Apesar de todos os acontecimentos, ela ainda tinha boas recordações e as guardaria para sempre. Contudo, jamais esqueceria a caçada ao Wendigo; ela ficaria marcada para sempre em sua memória.
Ela terminou de fazer as malas e respirou fundo. Ainda não sentia-se totalmente pronta para sair da cidade ou voltar a caçar, mas era necessário. Afinal, não encontraram nenhuma pista de John ou de seu pai e pareciam estar andando em círculos.
não tinha muita certeza do que faria dali para frente, mas tinha certeza do que não faria.
checou pela última vez todas as suas coisas, conferiu se não havia esquecido nada e, quando estava pronta para partir, uma batida na porta a pegou de surpresa.
Não tinha ideia de quem poderia ser, por isso sacou sua arma e andou sorrateiramente até a porta. Com a arma apontada, ela abriu, e quem menos esperava apareceu.
Dean Winchester estava plantado do lado de fora, com a maior cara de idiota.
— Posso entrar?
Ela não respondeu e simplesmente deu espaço para ele; sabia que ele não aceitaria um simples “não” de sua parte.
— Você está indo embora? — Dean observou o quarto vazio.
— O que você quer, Dean? — não estava afim de discutir.
Quando iria entender que não devia satisfações a ele?
— Eu só queria…
— O que? — riu sem humor. — Terminar o que começamos na floresta?
— Uau! — Dean recuou alguns passos. — Você acha que eu seria cruel a esse ponto? — Não importa o que eu acho. — Ela o encarou com frieza. — Ou desembucha, ou cai fora.
Dean a encarou por alguns instantes, incrédulo
Porra!
Ele sequer conseguia reconhecer a mulher diante dele.
— Eu só vim dizer que quero oferecer uma trégua. — o encarou sem entender nada. Que merda era aquela? — De paz. Temos um trabalho grande e se agirmos assim sempre que estamos perto, não vamos chegar a lugar nenhum.
queria rir da cara dele.
Dean só podia estar de sacanagem, uma das bem grandes.
— Isso não vai ser um problema. — pegou sua mochila e passou a alça nos ombros.
— O que isso deveria significar? — Dean observou a postura da caçadora e antes mesmo de ela responder, ele entendeu.
estava mesmo indo embora.
— Você está se mandando, não está?
— Não que seja da sua conta, mas, sim, estou. — caminhou até a porta e para seu azar, ela se abriu.
Ótimo, só ficava melhor.
e Sam entraram rindo de algo, que logo foi interrompido por suas expressões confusas. Os dois encararam Dean, provavelmente se perguntando o que ele fazia ali, e depois repararam em uma com malas prontas.
— O que está acontecendo? — Sam foi o primeiro a perguntar.
— Eu pensei que só iríamos embora amanhã… — observou.
não soube o que dizer; não era assim que tinha planejado as coisas. Era para ter ido embora sem dizer nada.
— Fala para eles — Dean provocou.

— Eu estou indo embora, beleza? — jogou as palavras, não tinha mais como esconder o que faria. — Se precisarem de mim, estarei com meu celular.
— E não pensou em se despedir? — Sam estava em choque e nem conseguiu dizer nada.
não tinha a intenção de machucar mais ninguém, mas lá estava ela cometendo o mesmo erro.
— Caçar juntos foi um erro. — encarou os três, precisava convencê-los de que estava bem.
— Então, cometemos um erro neste tempo todo? — riu sem humor. — Você é inacreditável.
O coração de se partiu com as palavras da amiga, mas ela estava irredutível. Se quisesse mantê-los vivos, precisaria se afastar.
— Vocês sabem meu número de emergência; se precisarem, é só me ligar. — A caçadora se manteve firme, fingindo que a situação toda não era bizarra, mas era a única forma. Se ela ficasse mais um pouco ali, mudaria de ideia.
não disse nada e apenas saiu do quarto, batendo a porta com tanta força que fez um estrondo. nunca tinha visto a amiga tão brava e decepcionada, mas era melhor assim. Se ela a odiasse, não tentaria convencê-la a ficar.
E bem, ela jamais ficaria a pedido dos Winchesters.
Sem dizer nada, caminhou até a porta, mas foi impedida de sair.
— Vai mesmo partir assim? — Sam não estava com raiva, apenas cansado e decepcionado.
— Vai ser melhor para todos nós, Sam. — sorriu sem mostrar os dentes.
Dean não conseguia acreditar no que acontecia. Sentia-se puto da vida. Onde estava com a cabeça quando pensou em consertar as coisas com alguém tão egoísta como ela?
Sem conseguir se segurar, ele soltou uma risada alta e debochada.
nao deu a mínima e se preparou para sair, mas parou ao ouvir as palavras do mais velho:
— Se você for, não fará mais….
— Parte da família? — Ela se virou para encará-lo. — Do que eu me lembre, eu nunca fui.



Burkittsville, Indiana.




O toque de seu celular foi o que despertou Sam naquela manhã; ele só não esperava que seria tão surpreendido.
— Alô…— Samuel atendeu ainda meio sonolento.
Sam, é você?
— Pai? — Ele respondeu ao se sentar, em completo choque. — Tudo bem?
Não recebiam coordenadas dele há semanas, desde o caso do Wendigo.
Tudo bem… — O homem do outro lado respondeu com uma simplicidade irritante.
Como ele conseguia?
— Procuramos você por toda parte… — Sam declarou, com uma certa emoção na voz, apesar da irritação que sentia. — Não sabemos onde você está e se está bem…
Sammy, eu estou bem… — John reforçou. — E você e o Dean?
— Estamos bem…— Sam então notou que o irmão havia acabado de acordar. — Pai, onde você está?
Dean ficou em alerta ao escutar o que Sammy dizia; se era mesmo seu pai, aquela era a melhor notícia em semanas.
Desculpe, filho…Eu não posso dizer.
— O que? Por que não? — Samuel esbravejou, ele só podia estar de sacanagem.
— É o nosso pai? — Dean perguntou com emoção.
Sam estava concentrado demais na ligação para prestar atenção no irmão e voltou a se atentar às palavras do pai.
Eu sei que é difícil de entender…você vai ter que confiar em mim… — John não deu muitos detalhes, mas ele compreendeu.
— Está caçando, não é? A coisa que matou a mamãe…
É, é um demônio, Sam…
— Um demônio? — A revelação chocou o mais novo, que respirou fundo. Nem tinha pensado como reagiria ao saber parte da verdade. — Você tem certeza?
— Um demônio? O que ele tá dizendo? — Dean permanecia sem entender nada.
Para Sam, era como se ele estivesse em uma bolha com muitas coisas para digerir.
Escuta, Sammy, eu… — John voltou a falar e pareceu procurar as palavras certas. — Eu já sei o que houve com a sua namorada.
Ele não conseguia dizer nada diante das palavras do pai; era demais. Muitas coisas se passavam dentro dele naquele momento.
Eu sinto muito, eu deveria ter protegido você…
— Sabe onde ele está? — Foi tudo o que Sammy conseguiu perguntar.
Sei, eu estou quase chegando nele, mas preciso que fiquem longe. — John foi incisivo em seu pedido, não os deixaria se aproximar. — Você e seu irmão precisam parar de me procurar.
— Passa o telefone pra mim — Dean pediu, mas foi ignorado.
— Nomes, que nomes? Pai, fala comigo…fala o que tá acontecendo! — Sammy exigiu ao escutar mais algumas palavras do pai.
Dean notou a mudança de clima da ligação e então tirou o telefone da mão de Sam. Como sempre, ele não questionou as ordens do pai; pegou papel e caneta, anotou alguns nomes e então, quando estava prestes a desligar, ouviu seu nome do outro lado da linha.
Dean?
— Sim, senhor.
E a ? Encontre-a e a mantenha longe de conseguir encontrar Andrew.
E então, a ligação foi encerrada.



✡☪ ✷




Dean não conseguia tirar de sua cabeça a ligação de seu pai, mas tinha uma coisa em específico que o atormentava como nunca: .
Não precisou ser muito inteligente para saber que John não estava com Andrew. Então onde diabos ele estava? E por que sempre enviava as mesmas coordenadas que John?
Milhares de possibilidades rodeavam a cabeça do caçador, mas nenhuma delas parecia fazer muito sentido e ele ficou tão em choque com a reviravolta que foi sua manhã, que nem mesmo contou a Sammy o que seu pai disse sobre a garota.
Parte porque não tinha conseguido nenhuma informação de onde ela poderia estar e por não saber se queria encontrá-la de novo, se deveria. Ou se queria.
Já fazia semanas que ele não sabia de nada sobre ela, a única informação que teve foi sobre , que parecia estar caçando pelo norte do país, fora isso, nada.
Era como se ela tivesse evaporado. E ele não ligaria para descobrir, não mesmo.
— O que mais o papai te disse? — Sammy questionou, o que tirou Dean de seus pensamentos.
— Como?
— Não se faz de bobo, eu sei que ele te disse alguma coisa. — O mais novo dirigia, mas virou momentaneamente para olhar o irmão. — Desde a hora que saímos você está inquieto, não fala nada, e você fala pra caramba…então, o que é?
Dean respirou fundo, não queria falar sobre ainda, então se limitou a dizer:
— Só estou preocupado com os casos, Sammy.
Sam não comprou nem um pouco o papo furado do irmão, por isso, simplesmente reduziu a velocidade e parou o carro no acostamento.
— Qual o problema agora, Sam? — Dean ficou impaciente.
— Não vamos para Indiana.
— Não?
— Não, vamos para a Califórnia. O papai ligou de lá, o código de área de Sacramento — o mais novo explicou.
— Sam…
— Dean, um demônio matou a mamãe e a Jess, o papai está chegando perto e a gente tem que estar lá!
— Nosso pai quer nossa ajuda com os casos — Dean lembrou.
— Eu não estou nem aí! — Sam estava perdendo a paciência.
— Ele nos deu uma ordem!
— Dean, eu não tô nem aí, nós não temos que fazer tudo que ele manda, valeu?
Dean bufou.
— Nosso pai quer que a gente salve vidas, é importante, Sammy.
— Tudo bem, eu entendo, mas eu to falando de uma semana pra ter respostas e ter vingança!
O mais velho encarou o irmão, sem conseguir acreditar no que ouvia. Por que era tão difícil para ele simplesmente seguir as regras, uma vez na vida?
Como podia ser tão egoísta?
— Beleza, eu sei o que você sente….
— Sabe? — Sam indagou, a raiva o consumia. — Quantos anos você tinha quando a mamãe morreu? Quatro? A Jess morreu há três semanas. Como sabe o que eu sinto?
Os dois se encararam, o clima tinha acabado de ficar mais pesado.
— Papai disse que não era seguro para nós. É claro que ele sabe alguma coisa que nós não sabemos. — Dean então, pensou em , deveria contar para o Sam, mas como?
Se ele já não escutava, imagina se soubesse sobre ela.
— Dean…
— Se ele diz pra ficar longe, ficamos longe…
Sam perdeu a paciência e saiu do carro furioso, então bateu a porta com força.
— Eu não consigo entender essa fé cega que você tem no papai — esbravejou ao ver que agora o irmão também se encontrava do lado de fora. — Você nem questiona o que ele diz!
— É! Porque eu sou um bom filho!
Sam nem respondeu, não ficaria nem mais um minuto ao lado do irmão.
— Você é muito egoísta, sabia? — Dean não conseguiu esconder seus pensamentos. — Só faz o que quer, não tá nem aí para o que as pessoas pensam ou sentem!
— É o que acha mesmo?
— É isso aí!
— Então, o egoísta aqui tá indo pra Califórnia! — Sammy virou e saiu andando, não ia perder tempo com banalidades.
— Qual é,cara, estamos no meio da noite! — Dean esbravejou. — Eu vou me mandar, vou largar você, tá me ouvindo?
Sam riu irônico.
— É isso mesmo que eu quero!
Dean queria pedir para ele ficar, mas ao invés disso, tudo que fez foi dizer:
— Adeus, Sam.
E sem olhar para trás, Dean entrou no impala e foi embora.



✡☪ ✷




— Desce mais uma! — a garota gritou de frente para o bar e soltou gargalhadas.
Ela sabia muito bem que estava chamando atenção, mas não se importou, esse era exatamente o plano.
Meio a contragosto, o bartender serviu mais uma dose de tequila para ela, mas não sem antes soltar um “bêbada” e saiu andando.
A caçadora apenas sorriu; se ele acreditava em sua insinuação, significava que estava funcionando. Homens no geral, no seu ponto de vista, não eram muito inteligentes, então nem foi tão difícil.
Depois de algum tempo ali, ela decidiu que estava na hora de agir e se retirou do bar, mas não sem antes fingir um tropeço. E foi então que mãos grossas agarram sua cintura.
— Uma moça bonita como você não deveria beber assim. — O hálito do homem atingiu as bochechas dela, que fingiu um sorrisinho inocente. — Vem, posso te ajudar…
Mais uma vez, ela usou do seu poder de encenação e soltou um muxoxo dramático, então deixou que o desconhecido a levasse para a parte de trás do bar.
O cheiro do homem era insalubre e se não estivesse acostumada, ela teria vomitado antes mesmo de chegar ao lado de fora.
— Muito obrigada…— Ela fingiu uma voz inocente, mas sem olhar para o homem que ainda a segurava, então tentou se afastar.
Como já esperava, ele a segurou e a imprensou contra a parede, mas sem muita força.
— Sabe…você é uma gracinha. — O homem sorriu e foi a primeira vez que ela o encarou.
Ele não tinha ideia de onde estava se metendo.
— Nós podemos nos divertir…
E então, ela não se aguentou e soltou uma gargalhada.
Só se fosse uma idiota para cair em um papinho daqueles.
E bem, a garota diante dele era tudo, menos idiota.
— Qual é a porra da graça? — O homem esbravejou ao ver que ela não parava de rir.
— Essa sua cantadinha patética. — A mulher riu ainda mais.
Parte porque realmente o achava um imbecil, parte devido ao álcool ingerido.
— Eu vou te mostrar como respeitar um homem, sua vagabunda. — E então, ele desferiu um soco no rosto da mulher.
Ela sentiu a dor, mas não se entregou.
Cuspiu o sangue que se formou em sua boca e então voltou a gargalhar e o encarou.
— Sua va….
E então, sem aviso algum, ela arrancou a cabeça do homem.
Vampiros, além de serem uma praga no planeta, tinham uma autoestima de hétero, que precisava muito ser estudada.
Com um sorriso no rosto, ela ignorou a dor e se agachou diante do corpo caído e da cabeça esparramada no chão.
— Posso até ser uma vadia, mas pelo menos não sou burra. — sorriu ao encarar a cena.
Aquele era o vigésimo vampiro que ela matou nas últimas semanas. Sua vida estava intensa do jeito que gostava; isso a ajudava a não pensar demais em tudo o que tinha acontecido.
A não pensar nos Winchesters, em ou em sua dor.
Sem se preocupar que alguém pudesse aparecer, ela levou a mão até a boca e sentiu o gosto metálico aumentar.
— Merda…— soprou baixo; mais uma vez, ela não tinha sentido absolutamente nada.
Por dentro ainda doía.
Lágrimas quase tomaram conta de seus olhos, mas logo foram espantadas, por seu celular que começou a tocar, e ela nem mesmo checou quem poderia ser e apenas o levou até o ouvido.
— Alô?
? — A voz do outro lado da linha a pegou de surpresa e ela estacou.
Jamais esperaria receber uma ligação dele.
— Se estiver, eu preciso da sua ajuda.



Continua...


Nota da autora:
FINALMNETE eu apareci com uma att fresquinnha para vocês!
Eu to apaixonada por esse cap e espero que gostem tanto quando eu. E ai, quem sera que ligou para a pp?
Logo nos vemos de novo xoxo