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✮⋆˙Autora Independente do Cosmos✮⋆˙

Última Atualização: 04/12/2024

Aos pés da imponente montanha Daichi, no extremo sul da pacata vila Yamamoto, estendia-se um campo de flores silvestres há muito esquecido, que servia de arena de treinamento para a família Takahara. cresceu ali, entre risadas infantis e o som seco das espadas de madeira chocando-se em golpes improvisados. Seu pai a guiava, ensinando-lhe as bases de ataque e defesa sob o sol que tingia o campo com tons dourados.
Ela nunca se tornou uma guerreira exímia — não era de se esperar, considerando que as mulheres raramente recebiam o treinamento intensivo reservado aos homens, moldados desde a infância para estarem prontos quando fossem convocados.
Ainda assim, sabia manejar uma espada com destreza.
Ao menos as de madeira.
E era essa habilidade que a trazia de volta ao campo, agora acompanhada de Akio, seu irmão mais novo. O ar carregava o peso do inevitável, e sabia que precisava preparar Akio para o que estava por vir.
Queria possuir a mesma ignorância que as outras jovens da vila pareciam compartilhar entre si, preocupadas apenas em arranjar um marido quando, na verdade, uma guerra estava convocando todos os homens.
Era apenas uma questão de tempo até que a carta chegasse para Akio, e a única coisa que podia fazer era tentar prepará-lo para o inevitável.
— Postura de defesa! — sua voz, firme, cortou o silêncio, acompanhada pelo ranger da espada de madeira ao bater no solo. — Já repeti isso inúmeras vezes. Como você espera segurar uma lâmina real se nem a posição básica consegue sustentar?
Havia irritação em seu tom, mas também preocupação. Ela não podia falhar. Havia feito uma promessa ao pai antes de sua partida: ensinar a Akio tudo o que sabia, para que ele tivesse ao menos uma chance quando a guerra o chamasse.
— Prometi ao nosso pai que te ensinaria tudo o que ele me ensinou — acrescentou, endireitando a postura e mostrando novamente o movimento. O olhar de , determinado, contrastava com o de Akio, ainda hesitante.
O vento soprou levemente pelo campo, fazendo as flores ao redor dançarem como testemunhas silenciosas daquele treinamento. Ali, em meio à beleza efêmera da natureza, travava uma batalha silenciosa contra o tempo. Ela não sabia quando a convocação chegaria, mas tinha certeza de que, mais cedo ou mais tarde, Akio seria recrutado.
— Eu não sou bom como você. — O tom frustrado de Akio foi pontuado pelo som seco da espada de madeira caindo no chão de terra. — Não adianta tentar me ensinar nada, eu nunca serei como você ou o papai.
, sem hesitar, avançou em direção ao irmão. Abandonando sua própria espada de madeira no chão, ela segurou o rosto de Akio com firmeza, forçando-o a levantar a cabeça e encará-la nos olhos.
— Você não precisa ser como eu ou como o nosso pai. — Sua voz era firme, mas cheia de ternura. — Você pode ser bom à sua maneira. — Um sorriso sincero surgiu em seus lábios, iluminando suas palavras. — Acredite, a prática leva à perfeição.
Com uma piscadela encorajadora, se afastou, retomando sua espada e ajustando-se novamente à postura de defesa. Ela sabia que Akio não era um prodígio, muito menos alguém com talentos naturais para a guerra. Seu irmão caçula era, no máximo, mediano em tudo que envolvia as habilidades necessárias para o campo de batalha. Mas também sabia que ele não precisava ser o melhor.
Ela não esperava que Akio recebesse honrarias ou medalhas por feitos heroicos. A glória que os guerreiros buscavam não importava para ela. Tudo o que desejava — com cada fibra de seu ser, com toda a força de sua fé — era algo muito mais simples, mas infinitamente mais precioso:
Ela queria que Akio voltasse para casa. Vivo.
Afinal, a família não suportaria outra perda imposta pelas mãos implacáveis e vingativas da guerra.


A bolsa de pano pendurada em seu ombro parecia mais pesada do que o normal. caminhava pela trilha que cortava a floresta ao norte da vila, os passos firmes no chão úmido. Tinha passado a manhã inteira buscando cogumelos selvagens e ervas medicinais, itens que sempre garantiam um bom lucro no mercado. Poucos se arriscavam a entrar ali, o que tornava seu esforço ainda mais valioso.
A maioria na vila evitava a floresta, presa às lendas antigas. Diziam que sair daquele lugar trazia azar ou coisas piores. Para , essas histórias não passavam de fantasias. Quantas vezes já tinha caminhado por entre os troncos altos e finos, respirado o ar fresco e deixado o silêncio da floresta ocupar sua mente? Nunca havia acontecido nada de estranho.
Ainda assim, enquanto seguia o caminho de volta para casa, não pôde ignorar um desconforto que parecia pairar no ar. O vento soprava mais devagar, e os sons da floresta pareciam mais baixos do que o normal. Ela apertou a bolsa contra o corpo, tentando ignorar a sensação.
Estava cansada após horas perambulando pela mata, e, por isso, seguiu diretamente para casa, deixando o mercado e a ideia de lucro para depois. Seus pés ardiam com bolhas recém-formadas, a garganta estava mais seca do que o deserto, e o estômago roncava como se não tivesse visto comida pouco antes de sair de casa.
Ergueu os olhos para o céu, o sol alto indicava que já passava do meio da tarde — algo que o pai lhe ensinara. O pensamento da mãe preparando chá com biscoitos para o lanche aqueceu seu coração e fez com que apressasse o passo, mesmo com o protesto dolorido de seus pés.
O caminho, que já era curto, pareceu ainda mais rápido. A cada passo, o cheiro imaginado de chá recém-feito fazia sua boca salivar, e um sorriso começava a nascer em seus lábios. Já estava ensaiando a pergunta sobre o sabor do chá quando algo a fez parar.
A mesa de chá estava vazia. Nem um pires, nem uma xícara à vista. A casa, normalmente preenchida com os sons triviais da vida, estava envolta em um silêncio inquietante.
Então, um soluço rompeu o ar.
A bolsa escorregou de seu ombro para o chão, espalhando cogumelos que rolaram para debaixo da mesa. não deu atenção. Seguiu o som, o coração disparado enquanto cruzava o corredor até o quarto da mãe.
Ao entrar, parou na porta. Sua mãe estava ajoelhada, abraçando Akio, o corpo pequeno do irmão tremendo em soluços. O coração de apertou-se, uma sensação de desespero que nunca tinha experimentado antes. Instintivamente, seus lábios se moveram em uma prece silenciosa para os deuses.
Mas não chegou a terminar.
O pergaminho com o selo imperial, repousando na mesa ao lado, dizia tudo. Não havia dúvida.
Akio havia sido convocado. Com apenas 15 anos.

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Levou cerca de dois bules de chá e algumas horas para que a matriarca da família se acalmasse, mas os olhos vermelhos e inchados entregavam o quão pesada tinha sido a tarde. Depois que as lágrimas finalmente cessaram e Akio saiu para vender os produtos de na cidade, sua mãe ficou horas à frente do pequeno altar, rezando aos deuses com uma prece desesperada, como se isso pudesse de alguma forma poupar seu filho.
Akio ainda era uma criança. A guerra não possuía o dom do perdão, não poupava nem o mais forte dos homens.
A angústia no coração de só aumentava com o cair da noite. Já havia perdido seu pai para a guerra, não queria perder Akio também. Akio, seu irmão gentil e inteligente, sete anos mais novo, sem qualquer preparo para o que a guerra exigia.
sabia que ela não era muito melhor. Ninguém parecia ser páreo para as garras implacáveis da guerra.
Mas ela sabia lutar. Era mais rápida, mais forte, mais capaz de se defender e atacar com uma espada. Akio, com apenas 15 anos, ainda era uma criança aos olhos dela. Ele não tinha experiência, nem força suficiente para enfrentar o que a guerra exigia.
E então, com a rapidez de uma ideia insana, a solução surgiu em sua mente.
Sem pensar duas vezes, se apressou.
Vestiu-se o mais rápido possível, pegou o antigo equipamento de combate de seu pai e seu amuleto de Hachiman, o deus da guerra, guardando-o com firmeza. Escreveu um bilhete às pressas, quase sem conseguir organizar as palavras, e saiu de casa antes mesmo de ter certeza de tudo o que estava fazendo.
Akio não morreria em batalha, pois ela estava indo no seu lugar.



Continua...


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Nota da autora: Essa história aqui está TOTALMENTE fora da minha zona de conforto, mas era a minha chance de fazer um "reconto" de Mulan haha

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Endless Winter [Mitologia — Restritas — Longfic]
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Stone Eyes [Mitologia — Restritas — Longfic]
When Love's Around [Originais — Romance de Época — Shortfic]


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