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Autora Independente do Cosmos ✨
Concluída ✅

Quem foi que teve essa ideia ridícula e muito, muito ruim? — disparei, furiosa, entre dentes.
O som da risada de Sally chegou aos meus ouvidos e tudo o que eu fiz foi lançar um olhar irritado na sua direção, porque ela podia estar se divertindo com aquela situação, mas eu não estava. Porra, eu com certeza não estava. Desde que descobri com quem eu ia dividir o palco para apresentar a categoria de premiação no Globo de Ouro, meu humor deu uma decaída, e ele já não estava dos melhores, porque os últimos dias de trabalho foram um pouco estressantes.
E aí eu esperava me divertir um pouco naquele evento. Um em que eu geralmente ficava um pouco entediada, porque parecia durar uma eternidade, mas eu amava o meio do cinema e amava mais ainda ver todas aquelas premiações sendo entregues, um reconhecimento digno de ter um olhar mais aberto ao nosso trabalho, mas, melhor de tudo, eu amava apresentar uma categoria, estar no palco. Ver o brilho nos olhos de quem ganhou, quando eu anunciasse o vencedor. Eu não estava concorrendo em nada, iria subir naquele palco apenas para anunciar, parabenizar e prestigiar o ganhador do melhor filme de animação.
Mas eu não ia subir sozinha.
Eu era mais do que capaz de apresentar essa categoria sozinha, porque eu tinha uma presença de palco consideravelmente razoável, e esbanjar simpatia não era um problema para mim, mas alguém teve essa ideia muito muito ruim de me colocar para apresentar a categoria com o Andrew Garfield.
Aquele Andrew.
Minha cabeça latejou intensamente com o estresse crescente.
— Você devia pensar pelo lado bom, sabia? — Sally tentou amenizar, enquanto realizava os últimos ajustes no meu vestido. — Já faz um tempo, é bom mostrar para o público que vocês resolveram qualquer desavenças.
Não respondi. Na verdade, engoli a seco, porque minhas respostas não eram gentis.
Havia algo que eu odiava mais do que café quente sem açúcar e baunilha: escândalos.
Beleza que ter aceitado a fama foi meio que dizer que também aceitei os termos para lidar com todas as merdas que a maioria das pessoas famosas costumam lidar, mas eu não era, e continuo não sendo, uma pessoa propensa a me meter em escândalos. Na verdade, apesar da fama, eu tentava muito prezar pela privacidade, então eu evitava exposição. Ou muita exposição. Não dava detalhes privados da minha vida e respondia o mínimo de perguntas de teor pessoal. Focava mais nos detalhes dos meus trabalhos e me mantinha por isso. Seguia minha vida sem maiores problemas.
Mas aí, meu nome ficou na mídia por semanas seguidas, e não foi de um jeito bom. Do tipo recebendo elogios ou admirando meu trabalho, surpresos com o super talento da minha atuação ou coisa assim. Não foi nada disso. Foi mais do tipo que me causou dor de cabeça.
Por semanas seguidas.
— E por falar nisso, seria legal, tipo, que você fosse vista com a Emma — Sally disse, e eu notei o tom cauteloso que ela usou.
Ela finalizou o ajuste na barra do vestido e eu mordi a parte interna da minha bochecha.
— Qual Emma? — Me fiz de desentendida.
Era óbvio que eu sabia qual Emma. Meu corpo inteiro se retesou com a ideia, me deixando desconfortável. Não por ter que interagir com ela, a Emma era uma pessoa maravilhosa, uma atriz excepcional, e a pessoa mais importante que entendeu o meu lado na história e não me odiou por isso. Ela não alimentou os haters e as mensagens de ódio que eu estava recebendo diariamente naquela época.
Meu desconforto tinha mais a ver com o papel que eu sempre parecia estar desempenhando com os dois, como se eu ainda tentasse limpar uma imagem que me foi atribuída e da qual eu não tive culpa nenhuma. Fui jogada no meio da confusão como um peão que não sabia onde se encaixar como peça, a mídia sendo o principal jogador sujo.
— Stone — ela respondeu o que eu temia e me olhou com um sorriso orgulhoso. — Pronto.
— Não é o que eu queria, mas acho que vai ser inevitável — respondi de volta, me referindo à sua ideia.
Andei até o espelho enorme que havia ali e fiquei satisfeita com a minha aparência. O vestido longo, no melhor tom de verde escuro, cobria meu corpo perfeitamente bem e não era tão justo quanto pensei que seria. Minha maquiagem estava simples, o cabelo um pouco abaixo do ombro todo penteado e solto para trás, a franja perfeitamente penteada, com as jóias da Tiffany & Co em evidência, da coleção de joias minimalistas. Até meu salto era simples, coberto pelo vestido.
— Obrigada, Sally.
— Você está maravilhosa — ela elogiou.
Eu agradeci novamente com um sorriso. Sally era a minha estilista particular desde muito tempo e nos tornamos amigas, porque estávamos sempre juntas e esse destino se tornou inevitável. Era difícil manter uma amizade constante naquele meio, então eu gostava muito da sua presença, porque ela aprendeu a me conhecer melhor do que ninguém, então mesmo que ela não viesse a trabalho, eu meio que fazia questão de trazê-la comigo em quase todos os eventos.
Ter um rosto familiar que te conhecia no meio de tantos ajudava a acalmar um pouco a ansiedade que vezes ou outra me aplacava em momentos incomuns e importantes. Sally era muito mais do que uma funcionária para mim.
— Sei que esse cenário todo não te agrada nem um pouco, mas eu prometo: vai dar tudo certo. — Ela exibiu seu melhor sorriso, igualmente deslumbrante com seu vestido em tom azul celeste.
Quis acreditar nas palavras dela da mesma forma que ela parecia acreditar em mim, então tudo o que eu fiz foi abandonar a minha vontade de ser pessimista e devolvi o sorriso — forçado demais até para mim. Ao invés disso, respondi:
— Talvez dê.

A irritação ainda queimava dentro de mim quando finalmente saí do carro, acompanhada por Sally, depois de ter feito um exercício intenso de respiração para tentar acalmar os meus pensamentos fervorosos. Não havia nada que me preparasse para me colocar ao lado de Andrew novamente — a nuance de tudo havia mudado, a comparação dolorosa de quem éramos antes para quem éramos agora insistia em resistir em meus pensamentos.
Havia a concordância sonora de que era impossível odiar aquele homem. Esbanjando carisma, simpatia e sorrisos calorosos, acompanhado de uma personalidade desastrada, ele conseguia conquistar qualquer um ao seu redor, sem o menor esforço para isso.
Mas eu era a prova viva de ser uma exceção à regra.
Meu ódio por ele não era demonstrado tão publicamente. Talvez comentassem um pouco sobre a minha hostilidade em relação a ele, mas eu fazia questão de atuar e desempenhar um papel que não me favorecia diante da multidão e das câmeras. As pessoas acreditavam no que era visto, era só disso que eu precisava ao meu favor.
— Eu te encontro lá dentro, tudo bem? — Sally avisou, ao meu lado.
Soltei um suspiro longo e me obriguei a suavizar a minha expressão antes de ter que enfrentar a multidão de fotógrafos e jornalistas quando passasse pelo red carpet em um minuto. Virei o rosto para ela e exibi o meu melhor sorriso, contendo a minha ansiedade leve.
Nossa, eu odiava multidões. E, ainda assim, escolhi uma profissão que me colocava, muitas vezes, bem diante deles.
— Tudo bem — concordei, sem escolha.
Sally sorriu e foi-se, me deixando ali. Agradeci ao motorista, Daniel, e comecei a me mover graciosamente em direção ao tapete vermelho, sentindo a onda de flashes me cegarem por um segundo antes de eu me acostumar com os cliques. Focar naquilo me acalmou um pouco. Depois do que pareceu um minuto eterno de poses e sorrisos, continuei meu caminho para entrar no local.
E esbarrei direto com Emma Stone, deslumbrante em um lindo vestido vermelho e apresentando um novo visual, o cabelo bem mais curto do que eu nunca tinha visto antes.
Sei que a Sally disse que eu deveria ser vista com ela, mas essa noite, especialmente essa noite, eu não estava afim de me tornar o holofote de ninguém. Eu não queria dar material para as pessoas reviverem aquele escândalo, mesmo anos depois, mesmo que Emma tivesse seguido em frente, então eu fiz questão de dar meia volta e me esgueirar por outra entrada, antes que ela me visse, porque não me deixaria passar sem falar comigo.
Continuei me esgueirando entre a multidão, cumprimentando pessoas conhecidas e antigos colegas de trabalho. Não tinha ideia de onde Sally se enfiou, mas eu tinha uma leve impressão que eu a encontraria perto de qualquer coisa que tivesse comida, mas havia tanta gente ali que eu não conseguia parar para ir exclusivamente até ela. Como eu sabia que ela ia ficar bem, não me preocupei tanto em deixá-la sozinha. Ela sabia se virar até melhor do que eu e apostava que, no fim da noite, ela conseguiria sair dali com alguém direto para sua cama.
!
Me virei na direção da voz e fiquei aliviada ao encontrar Mikey Madison, por quem eu tinha muito carinho e com quem eu compartilhei três anos da nossa série para a Apple TV. Depois disso, seguimos projetos diferentes, mas mantemos contato e conseguíamos nos falar com uma frequência que eu não esperava.
— Mikey! — cumprimentei de volta, animada, feliz por ter algo para distrair o meu cérebro da ansiedade crescente, e abracei-a quando ela veio até mim.
Seu sorriso era simplesmente incrível e contagioso.
— Você está linda! — elogiei, sincera, soltando-a do abraço. — Como sempre.
Ela soltou uma risada e olhou para mim.
— E você está mais, adorei a cor desse vestido.
Sorri, balançando a cabeça.
— Parabéns pelo filme e pela indicação, sua atuação estava tão impecável que fiquei morrendo de saudades dos nossos tempos juntas — comentei, suspirando.
Eu amava atuar ao lado dela na série que fizemos juntas. Fiquei decepcionada quando o diretor anunciou que ela foi cancelada e não teria volta, então só focamos em trabalhar nos dois últimos episódios de encerramento, tentando dar um fim decente para as duas protagonistas.
— Obrigada, foi um trabalho divertido e desafiador — ela desabafou. — Como tem sido Atlanta? Soube que você está trabalhando por lá agora.
— É, eu… — tentei responder, mas uma comoção um pouco mais a frente chamou a minha atenção, interrompendo o meu raciocínio.
Não muito longe de onde nós duas estávamos, avistei Andrew sendo o centro das atenções, rindo e trocando comentários com as pessoas ao seu redor. Meu semblante se fechou imediatamente, minha respiração se alterou um pouco e eu quase podia escutar o som da sua risada daqui, mesmo com todo barulho de interações ao meu redor. Parecia que havia uma bolha me impedindo de focar em qualquer outra coisa que não fosse o som da risada dele.
Porra.
Como alguém podia ser tão insuportavelmente adorável?
Não só isso, ele estava lindo. Deixou a barba crescer de um jeito que me fazia ter pensamentos proibidos, traindo a mim mesma e as minhas convicções que ia contra tudo sobre esse homem.
Eu preferia que ele fosse um ser abominável, que todo mundo conseguisse odiá-lo com a mesma facilidade que amava-o, que ele não tivesse esse talento natural de conquistar qualquer pessoa ao seu redor. Não havia uma alma viva ali perto dele que não estivesse rindo ou sorrindo de qualquer comentário ridículo que saísse da sua boca. Era irritantemente insuportável que ele fosse tão bem recebido e acolhido em qualquer ambiente.
Mas quem era eu para julgá-las, afinal?
Um dia, eu também fui aquela pessoa que ele conquistou tão facilmente, sem esforço algum, até que ele jogou isso pelos ares e eu pude ver a pessoa que ele escondia do público. A pessoa que ele se mostrou para mim.
? — A voz de Mikey me despertou dos meus devaneios.
Virei o rosto para ela, pigarreei e forcei um sorriso.
— Desculpa, Mikey, é…
— Ele ainda te incomoda, né? — ela disparou, com um sorriso de canto. — Eu sabia que aquela entrevista foi pura encenação.
Soltei outro suspiro longo e deixei meus ombros caírem.
— Já faz um tempo — rebati.
Para sair um pouco do meio de todo mundo, puxei ela para um canto mais reservado. O evento de premiações começaria dentro de alguns minutos, mas queria aproveitar um pouco a interação com ela, porque eu não teria muito tempo depois daqui. Eu ainda precisava voltar para Atlanta na manhã seguinte.
— Essa frase abre margem para muita coisa — Mikey refletiu, depois de cumprimentar uma pessoa que passou por nós duas. — Já faz um tempo desde o quê? Toda aquela situação chata ou a entrevista?
Para começo de conversa, aquela entrevista foi um erro. Ela não estava em nenhum roteiro e eu meio que não deveria ter ido para o programa naquela noite, mas acabaram me encaixando por divergências na minha agenda, o que coincidiu com o dia de entrevista dele também, então acabaram deixando nós dois juntos para o público televisivo inteiro ver. Eu admitia que não tinha sido uma das minhas melhores experiências profissionais e precisei evitar o twitter por duas semanas.
Não por comentários ruins, mas eu também não queria saber do que estavam comentando.
Principalmente porque derrubei uma bebida nele de propósito nos bastidores, alguém viu e gravou e, não contente com isso, postou naquela maldita rede social, então provavelmente fui xingada. Tudo bem. À isso, eu estava bastante acostumada.
— Talvez os dois? — Fiquei em dúvida, mas balancei a cabeça rapidamente e encarei ela. — Olha, não importa. Continuo não suportando ele e alguém achou uma boa ideia nos colocar lado a lado para apresentar a porra de uma categoria. Sabe o que significa mais do que cinco minutos perto dele?
Ela abriu um sorriso que eu, infelizmente, conhecia muito bem.
— Ah, isso é…
— Não.
— Você nem sabia o que eu ia dizer.
— Sabia, sim. — Dei um sorriso sarcástico na direção dela, desafiando-a a mostrar que eu estava errada, mas ela não se defendeu. — Você é igualzinha à Sally. Só mais uma que se derreteu pelos encantos adoráveis dele. Eu odeio o No Way Home por ter dado esse efeito nas pessoas.
— Eu não assisti esse filme.
— Você viu toda a trilogia dele — acusei.
— Tá, mas não esse — ela continuou se defendendo.
— Não importa, o personagem dele é o mesmo.
Ela riu e balançou a cabeça. Tentei ignorar a onda sonora da risada dele na minha mente e me obriguei a não olhar na direção dele de novo. Já bastava muito o fato de que eu ia estar dividindo o palco com ele em alguns minutos.
Mikey segurou meus ombros e chamou a minha atenção para ela. Tínhamos uma diferença de idade considerável, nada muito grande, mas nossa altura era a mesma, então nossos rostos ficavam no mesmo patamar uma da outra.
, já faz um bom tempo que isso tudo aconteceu — ela começou e acho que não gostei do tom que ela usou para passar a mensagem. Provavelmente eu não ia gostar. — Eu não acho que você odeia o Garfield, na verdade, eu consigo perfeitamente dar outro nome para o que você sente e é tesã…
— Não termina essa frase.
— …o acumulado.
Fiz um barulho que não foi muito decente para ser feito em público, algo como um grunhido de raiva, por não aceitar a percepção do que ela estava me dizendo. Um ponto de vista que não fazia o menor sentido, sinceramente.
— Você vai odiar, mas eu concordo com nossa amiga aqui — Sally surgiu de algum lugar.
Gemi em desgosto e me afastei do toque de Mikey, uma careta desgostosa estampando o meu rosto. Não. De jeito nenhum.
Eu não podia acatar o delírio daquelas duas.
— Oi, Mikey.
Minha amiga de longa data se virou para Sally e sorriu, animada, abraçando ela também.
— Sally! Não achei que você viria — ela disse, gentilmente.
— Ah, você sabe. — Sally deu de ombros. — Ela anda me arrastando para todo lugar por aí, e eu aceito, porque é de graça.
— E, em troca, tudo o que eu te pedia era para não se contrabandear para o lado do inimigo — acusei ela, emburrada.
As duas riram às minhas custas. Respirei fundo e recuperei a minha postura, tentando não me afetar com as bobagens que elas estavam dizendo.
— Escutem — chamei a atenção das duas, o rosto mais sério do que eu pretendia —, não há tesão acumulado nenhum e, definitivamente, não por ele. Tudo bem que ele é bonito e carismático e o que mais vocês pensarem dele, eu não me importo, eu não suporto ele e é exclusivamente isso. Não há nada sexual. Não há nem mesmo nada, além do meu completo desprezo.
Aproveitei que um garçom passou ao nosso lado servindo bebidas e peguei uma taça, revirando todo o conteúdo dele de uma vez, sentindo o gosto ruim de champanhe caro. O homem já tinha ido embora quando virei tudo, então segurei a taça vazia, Sally e Mikey me olhando com uma sincronia suspeita.
— Acabei de decidir que não gosto de vocês duas juntas — declarei, com uma careta.
Sally deu de ombros novamente, sem se afetar pela minha negatividade.
— Você viu a Emma?
Sim, eu vi.
Sabia qual era a intenção dela com aquela pergunta e estava prestes a abrir a boca, mas fiquei aliviada quando vi todo mundo começar a se mexer para se sentar em seus lugares, resolvendo usar isso como desculpa para fugir do assunto.
— Beleza, a gente tem que ir. — Apontei para trás de mim, indicando que a premiação já ia começar. — E eu tenho que ir para o lado oposto, então encontro vocês depois. Mikey, foi ótimo te ver! Boa sorte na premiação.
Me despedi dela brevemente com outro abraço, torcendo que eu ainda tivesse um tempo para falar mais com ela depois. Sally estreitou os olhos na minha direção, como se soubesse o que eu estava fazendo, mas ignorei, sorri e passei direto por ela, pegando o caminho oposto, que me levava em direção aos bastidores do palco. Aproveitei outro garçom passando para me livrar da taça vazia.
Lá, eu deveria encontrar Andrew e esperar a nossa vez de apresentar a categoria.
Minha boca de repente ficou seca e eu abri e fechei as mãos, contendo a minha ansiedade. Precisava que meus pensamentos fossem uma linha reta, e não uma onda caótica.
Ondas caóticas geralmente me levam para lugares que eu não gostava. A linha reta me mantinha numa zona segura, estável. Era nessa linha reta que eu precisava me segurar.
Conforme eu ia atravessando o caminho até os bastidores, fui esbanjando minha atenção em cumprimentar pessoas conhecidas pelo caminho, trocando comentários rápidos e elogios, principalmente quem estava ali porque foi indicado à alguma categoria.
Adentrei o corredor que ficava atrás do palco. Havia diversas portas ali, salas pequenas que eram transformadas em camarins. Outras pessoas já estavam ali, que iam apresentar as primeira categorias, e fui cumprimentando, esbanjando sorrisos e simpatia.
— Ah, , que bom que você está aqui — alguém disse e eu me virei na direção da voz, encontrando uma mulher da produção, que parecia estar trabalhando demais e recebendo de menos, mas eu a conhecia de vista. — Pode esperar na terceira sala? Em alguns minutos, vocês apresentam.
— Claro.
Concordei com um aceno e me despedi dos diretores com quem eu já trabalhei antes, caminhando até a terceira sala. Eu torcia para que não houvesse ninguém lá, pelo menos não ainda, mas engano meu, assim que cheguei perto da porta da terceira sala, ouvi vozes e encontrei Andrew conversando com alguém que eu não conhecia, mas parecia bem mais jovem do que ele. Pisquei meus olhos na direção dos dois, que perceberam minha presença quase imediatamente, e viraram seus rostos na minha direção, a minha expressão totalmente neutra.
Tentei não me afundar na onda caótica quando senti o olhar de Andrew queimar em mim. Parecia mais seguro manter os olhos no amigo desconhecido dele. Entrei na sala, murmurei um “boa noite” quase inaudível e passei direto por eles, andando até a mesa, pegando uma garrafa de água.
— Eu te vejo depois? — o desconhecido disse para Andrew, que concordou.
Eu não vi quando ele saiu, nos deixando sozinhos. O silêncio recaiu sobre o ambiente e sobre nós dois, nenhum de nós tomando a iniciativa de dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas eu não me sentia capaz de dizer nada. Se eu pudesse, me mantinha sem dirigir qualquer palavra a ele, mas Andrew, mesmo tendo noção da minha antipatia, nunca diminuía o próprio carisma, mesmo para mim.
— Oi, . — A voz dele saiu suave.
Mas não foi isso que fez a irritação voltar a queimar dentro do meu peito. Eu quase ri da sua audácia de forçar aquela intimidade que não existia mais entre nós. Me mantendo calma, ainda me agarrando à linha reta, fechei a garrafa e me virei para ele, finalmente encarando-o de perto. Eu conseguia sentir o cheiro do seu perfume, mesmo que eu estivesse à uma distância que considerava bem segura.
— É para você, lembra? — disparei, os dentes trincados.
Ele sorriu.
O maldito sorriu e deu de ombros, e fiquei com raiva de como isso acentuou a sua beleza e eu não queria continuar achando ele bonito, apesar de tudo. Queria ser fiel a mim mesma e continuar desprezando-o, independente se ele fosse bonito ou não, ou que estivesse lindo de morrer naquele smoking ou como o seu sorriso deixava ele bem mais jovem do que normalmente era.
Ele estava exalando uma energia diferente, uma confiança que eu não me lembrava que ele tinha.
Para piorar, a sua camisa estava com os dois primeiros botões abertos, exibindo uma corrente com um pingente verde. A sua barba e a pose de gostoso fez meus pensamentos voarem para bem longe, para aquela área proibida que me fazia imaginar coisas que não deveria, mas ele não estava ajudando nada, nadinha, com aquela aparência.
— Senti falta do seu humor — ele soltou. — Já faz um bom tempo.
Afastei os fios da minha franja dos meus olhos e tentei deixar os meus lábios em uma linha fina e reta, porque eu tinha uma mania chata de ficar mordendo a boca toda vez que estava irritada. Isso acontecia inconscientemente, mas eu estava super consciente agora.
Pensando coisas que normalmente não pensaria.
Me obriguei a afastar todos aqueles pensamentos.
— Se dependesse de mim, eu não te veria por mais um bom tempo — respondi.
Ele não pareceu se afetar com o meu tom frio. Eu já estava começando a ficar agoniada com o calor dentro daquela sala, sentindo os pingos de suor começarem a querer escorrer pelas minhas costas. Não percebi quando ele se aproximou propositalmente e parou bem ao meu lado, porra, próximo demais, se encostando contra a mesa que tinha ali, de onde eu peguei a garrafa de água.
— Você está tensa — ele disse, parecendo seguro disso, notando algo que eu não tinha notado antes dele. Eu não virei meu rosto para olhar para ele, mas eu podia sentir o sorriso nos seus lábios. — Quer que eu faça o discurso inteiro sozinho? Juro que consigo segurar a atenção do público.
— E ficar parada ao seu lado feito uma idiota? — reclamei, deixando claro o meu desgosto no meu tom de voz. — Não, obrigada.
Ele soltou uma risada baixa, como se estivesse se divertindo às minhas custas. Mas então, em seguida, soltou um suspiro que se mostrou longo demais. E isso devia ter me alertado para o que estava por vir.
— Eu sinto falta de quando você gostava de mim — ele confessou.
Senti meu coração dar um salto dentro do meu peito e odiei a sensação que me tomou.
Por um momento, me vi caminhando direto para dentro daquela zona caótica, mas fiz o que eu não devia: virei o rosto para olhar para ele. Seu sorriso vacilou e havia um quê de vulnerabilidade em seus olhos, quase como se ele estivesse mesmo sendo sincero.
— Isso foi antes de você ter agido feito um babaca comigo — alfinetei, os olhos semicerrados.
— Nós temos opiniões bem divergentes quanto a isso.
Soltei uma risada seca.
— É mesmo? Como você chamaria a sua atitude? — O sarcasmo escorreu por meus lábios. — Porque eu pensei que éramos amigos, até você me mostrar o contrário.
Talvez fosse impressão minha, mas podia jurar que vi mágoa cintilando por suas íris. Procurei não me importar, porque nada vindo dele me dizia mais respeito.
Ele hesitou.
O silêncio nos visitou por alguns segundos, nós dois sustentamos o contato visual, e ele parecia querer dizer algo a mais, mas alguém entrou, chamando a nossa atenção.
— Vocês são os próximos — o assistente de produção anunciou.
Soltei o ar pela boca e lambi os meus lábios, me recompondo. O calor estava começando a ficar um pouco insuportável, mas fui a primeira a dar o passo para fora da sala, com ele em meu encalço, charmoso como sempre. O cheiro do perfume dele me perseguia e isso estava me irritando mais do que tudo no momento.
— Vou tentar fazer isso ser divertido — ele avisou, atrás de mim. Nós paramos no corredor que dava direto para o palco e ele se colocou ao meu lado. — Tenta não transparecer seu ódio por mim na frente das câmeras, combinado? — brincou.
Forcei um sorriso irônico.
— Não sabia que tinha tanta fé em milagres.
Ele deu de ombros.
— Acredito no seu talento de atuação, querida — disse, e piscou o olho para mim.
Fui impedida de dizer qualquer coisa porque era a nossa vez de apresentar. Alguém me entregou um envelope, desenhei o melhor sorriso no meu rosto e, lado a lado, nós trocamos um olhar indecifrável e entramos juntos, o som do meu salto contra o piso ecoando. Enquanto caminhamos até um pouco perto do centro do palco, eu ouvia os aplausos da plateia. As palmas das minhas mãos suavam um pouco e eu encarava qualquer pessoa, menos ele.
Andrew parecia mais relaxado do que eu.
— Boa noite, senhoras e senhores! — ele iniciou o cumprimento, olhando para o público presente com um sorriso e logo em seguida, se virou para falar olhando para a câmera. — É uma honra estar aqui esta noite… e uma surpresa dividir este palco com alguém tão incrível quanto ela.
Arqueei uma sobrancelha e mantive o meu sorriso, olhando para ele, inevitavelmente.
— Ah, que gentil da sua parte — eu disse, esperando que ninguém notasse muito o meu tom irônico. Eu estava perto o suficiente apenas para sussurrar para ele: — É quase convincente vindo de você.
Ele aumentou ainda mais o sorriso e, para minha surpresa, levou uma mão até a base da minha cintura, me tocando levemente. Prendi a respiração por meio segundo e senti o calor aumentar.
As meninas não podiam estar certas, podiam? Não havia tensão nenhuma aqui, muito menos sexual.
Mas o perfume dele estava me deixando louca. E agora ele estava me tocando. Meus olhos encararam a face do seu rosto e eu não tinha percebido que ele estava carregando um óculos de grau, porque ele tirou e, de repente, colocou no rosto, olhando para câmera de um jeito quase sexy, e eu meio que também quase esqueci porquê estava ali.
Eu não podia me desconcentrar pela sua beleza. Ou pelos dois primeiros botões da sua camisa aberta. Ou pelo seu perfume. Nem pelo fato de que ele estava gostoso como um inferno usando aquele óculos e, porra, ele fazia de próposito. Não sei qual o objetivo dele ali, nem mesmo se ele tinha um, mas era melhor ele parar agora mesmo.
Para o bem da minha sanidade. E do meu bom senso.
Porque eu não deveria achar Andrew Garfield um gostoso ou qualquer coisa nesse nível.
Limpei a garganta baixinho e voltei para o microfone, a atenção na câmera também, exibindo um sorriso cruelmente afetado.
Merda, Sally e Mikey deviam estar rindo de mim agora, porque elas com certeza notaram.
— Estamos aqui para celebrar uma das categorias mais especiais da noite: Melhor Filme de Animação — anunciei.
Andrew afastou sua mão da minha cintura e senti a ausência do seu toque — e me odiei por isso.
Ele colocou as duas mãos no bolso frontal de sua calça e afastou o paletó para trás.
— Animação não é apenas para as crianças — ele continuou, animado. — É um gênero que toca nossos corações, nos leva a mundos incríveis e nos faz acreditar em dragões, super-heróis e até em finais felizes.
— E você é um especialista em super-heróis, hein, Andrew?
— Foi ótimo você ter notado isso — ele disse, sorrindo, olhando para mim. — É sempre incrível quando reconhecem o trabalho que eu faço pela cidade.
O público riu.
Balancei a cabeça e voltei para frente.
— Bom, os indicados dessa noite nos presentearam com histórias que aquecem a alma, emocionam, mas acima de tudo, nos lembram o poder da nossa imaginação — complementei.
— E é com grande alegria que apresentamos os indicados para Melhor Filme de Animação — Andrew continuou.
Segurei o envelope em uma mão só e começamos a dizer os indicados juntos, alternando em uma sincronia quase perfeita. E nem sequer ensaiamos a porra do discurso.
Flow… — eu comecei.
Divertidamente 2.
— Memoir of a Snail.
— Moana 2.
— Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl.
— E The Wild Robot
— ele finalizou a lista de indicados.
A plateia começou a aplaudir e, no meio desse pequeno barulho, Andrew resolveu me desestabilizar um pouco, dizendo:
— Você está linda essa noite — sussurrou. — Sinto muito não ter dito antes.
Senti meus ombros ficarem tensos com o elogio. A conversa interrompida na sala três ainda pairava entre nós dois.
Engoli a seco, forcei um sorriso e resolvi abrir o envelope com cuidado, mas ele estava em cima de mim, tentando observar o nome do ganhador por cima do meu ombro. Comecei a ficar um pouco incomodada com sua aproximação tão perto.
— Andrew, você poderia dar um passo para trás? Ou dois? Não era minha intenção aquilo sair cômico, soar como uma piada, mas a plateia riu.
E ele também.
— Desculpe, só estou curioso — ele se defendeu, se afastando apenas um passo.
— É, todos nós — me forcei a brincar. Finalmente li o nome do ganhador e aumentei ainda mais o meu sorriso, virando o meu rosto para a câmera e aproximando-me do microfone. — E o Globo de Ouro vai para… Flow!
Nós aplaudimos junto com a plateia quando anunciei o nome do indicador e ficamos ali, esperando o representante vir buscar a estatueta do Globo de Ouro, ao mesmo tempo em que eu tentava não me tornar super hiper mega consciente da presença de Andrew próxima demais de mim e do fato de que eu continuava morrendo de calor.
Quando voltei para a sala três novamente, apenas para tentar me recuperar um pouco antes de me juntar à Sally, fui direto para a garrafa de água de antes, bebendo o restante do gole.
— Isso não foi divertido? — Andrew disse, chamando a minha atenção. Quando virei o rosto na direção dele, o vi entrando na sala. — Nós dois?
Estreitei os olhos na direção dele.
— Tá brincando comigo?
Ele balançou a cabeça e, pela primeira vez na noite, vi seu sorriso gentil vacilar. Os ombros até abaixaram um pouco.
— Eu nunca quis te machucar, sabia? Mas parece que não importa o que eu faça, você não pretende nem estar disposta a me perdoar.
Soltei a garrafa em cima da mesa novamente e encarei ele.
— Porque você nunca nem me pediu isso, Andrew — retruquei. — Eu fui apontada como o pivô da sua separação com a Emma, e você nunca me defendeu de nenhuma acusação, mesmo sabendo que todos aqueles boatos eram mentiras. Sabe como é ler mensagens de ódio sobre você o tempo todo? Eu recebia menção a cada segundo e não estou exagerando! Eram coisas horríveis e… — Perdi o fôlego, meu peito queimava, e meus olhos lacrimejaram, como se eu estivesse tendo a chance de finalmente colocar toda aquela mágoa para fora.
Eu parei, respirando com um pouco de dificuldade. Observei ele fechar a porta atrás de si e me olhar em silêncio e por alguns segundos, foi só isso acontecendo. Nós dois sustentando um olhar carregado de mil coisas não ditas e mal resolvidas.
— Eu sentia a sua falta o tempo todo — confessei, vulnerável. — E não conseguia entender o seu silêncio ou o porque você não desmentia nada. Eu não conseguia nem me defender sem ser atacada e as coisas só melhoraram um pouco porque a Emma se pronunciou.
— Eu te defendi.
Pisquei, meio desconcertada.
— O quê?
Ele não estava de óculos mais. Mas sua camisa continuava com os dois botões abertos, exibindo a corrente.
— No dia em que eu soquei um jornalista não foi porque ele estava falando merda da Emma, mas de você — ele continuou e eu me lembrava de saber disso, mas muito por cima, porque estava evitando a internet e saber qualquer coisa a respeito dele. Proibi até a Sally de falar sobre. — Eu respondia à tweets de um jeito raivoso demais para mim, mas anônimo, e cheguei a escrever uma nota, mas as coisas começaram a ficar fora do meu controle e depois do incidente com o jornalista, meu agente me proibiu de dizer qualquer coisa sobre o assunto.
Fiquei em silêncio.
— E eu não sabia o que te dizer, porque dizer sinto muito parecia banal demais dada toda a circunstância da situação e eu estava com vergonha e me sentindo muito culpado por ter te arrastado para aquele drama e ter te enfiado na confusão — ele continuou, lambendo os lábios. — Tudo bem, você tem razão, eu fui um babaca, .
Sua expressão denunciava seu arrependimento. Eu não sabia o que sentir, aquela conversa não estava no meu roteiro para essa noite.
— E minhas justificativas são rasas, eu entendo — Andrew disse, depois que continuei em silêncio. — Mas seu desprezo me dói. E eu não suporto. Espero que um dia você me perdoe, porque eu te prefiro mil vezes como amiga do que como uma estranha que já conheci um dia.
— O seu silêncio também me doeu — sussurrei.
Ele me encarou de um jeito bastante afetado. Sem que eu esperasse, ele se aproximou e me pegou de surpresa quando tocou a minha bochecha com a ponta do seu polegar, o carinho me fazendo querer recuar, mas continuei ali, como se não conseguisse me afastar de jeito nenhum.
Nossos olhos se encontraram e nossos rostos estavam próximos. Meu coração disparou com a proximidade e agora quem parecia afetada era eu. Eu não gostava dessa facilidade que ele tinha de me desarmar dessa maneira. Mesmo quando ainda éramos amigos e ele estava comprometido com Emma, ele mexia comigo de algum jeito.
Talvez por isso eu tenha me sentido culpada pelo fim do relacionamento depois, mesmo que eu não tivesse absolutamente nada por isso, embora a internet me provasse o contrário. Porque eu o desejei. Isso se provou uma traição, até certo ponto. Pelo menos na minha cabeça.
Mas nunca aconteceu nada.
Ele nem mesmo nunca teve noção de qualquer coisa que eu sentia por ele naquela época. Nunca deixei ele ciente de nada e agia normal, aceitando que éramos isso, só amigos, e eu gostava muito da Emma.
— Andrew…
Shii. — Ele colocou o indicador nos meus lábios. — Eu sei.
Não, não sabe, eu quis dizer.
Não sabia como eu estava sendo uma completa idiota me rendendo para ele naquele momento, em como eu estava traindo a mim mesma e a tudo o que eu demonstrei sentir por ele aquele tempo todo, a raiva que acumulei esses anos todos, em como eu queria abrir mão de tudo, jogar para o ar, dizer foda-se.
Porque tudo o que eu queria naquele instante era beijá-lo.
E parecia errado querer isso.
Parecia errado por diversos motivos.
— Eu não… — Quando tentei me afastar, fui pega de surpresa.
Andrew me puxou de volta e chocou seus lábios macios contra os meus.
A princípio, só isso aconteceu, nossos lábios grudados um no outro, meu coração a mil, como se ele tivesse testando alguma coisa, esperando que eu me afastasse, mas não fiz isso. Ao invés disso, meu corpo inteiro relaxou sob o toque dele. E não pude deixar de notar a ironia daquilo.
Quando ele percebeu que eu não ia me afastar, ou afastá-lo, iniciou um beijo. Nossos lábios se moviam lentamente um contra o outro, e eu ainda estava confusa com o quão rápido as coisas mudaram, mas tentei me concentrar na textura dos seus lábios, em como ele se movia comigo e para mim, como o beijo parecia estar ganhando uma intensidade urgente.
Ele me beijava como se estivesse esperando por isso há muito tempo, como alguém que finalmente estava sendo libertado de suas angústias, experimentando o alívio.
Meu corpo se inclinou contra o dele, minhas mãos subiram para os seus braços, onde segurei com uma firmeza impressionante, me deixando ser totalmente entregue a ele e ao momento, meu cérebro gritando traidor para o meu coração, mas ignorei os meus conflitos de emoções e foquei nas sensações que ele estava me provocando.
Meu cérebro minúsculo teria que se contentar com a minha traição, porque eu queria muito me entregar para esse homem.
Queria que ele me recompensasse. Eu queria tudo, muitas coisas ao mesmo tempo, e queria dele.
Sua barba arranhava um pouco a minha pele, mas não de um jeito ruim. O contato me estimulava de um jeito insano e precisei separar um pouco as nossas bocas para respirar, um misto de confusão tomando conta.
Puxei o ar para dentro e tomei a coragem de abrir os olhos e encarar os dele. Nunca estive tão perto daquela maneira e ele respirava com a mesma dificuldade que a minha. Por um instante, ficamos ali em silêncio, regularizando nossa respiração pesada, encarando um ao outro como se tivéssemos muito a dizer, mas as palavras se embaralhavam e não conseguíamos ordená-las para dizer uma frase correta.
Meus pensamentos eram uma mistura de tudo, linhas com nós, um montante de roupa bagunçada no quarto, os livros empilhados cheio de poeira no canto da sala, um roteiro com mil furos.
— Você… isso…
Tentei formular uma frase coerente, mas não saía como eu queria. Estar próxima demais dele não ajudava. Achá-lo bonito demais não estava ajudando também. Aquela camisa com os dois botões abertos estava consumindo a minha mente, despertando um desejo que eu achei ter adormecido, sem intenção de fazê-lo voltar algum dia. Eu pretendia levar esse segredo comigo para o túmulo, mas ele acabou de mudar meus planos.
— Muito confuso? — ele arriscou.
Mordi meu lábio, sem tirar os olhos dele.
— Foi uma atitude bem repentina — admiti.
— Não para mim — ele retrucou, uma confiança nova surgindo em seus olhos. Ele geralmente costumava ser uma pessoa mais reservada, mesmo comigo, quando nos conhecemos antes, então não sabia como lidar com ele sendo tão cruelmente sincero ali na minha frente. — Você não teve nada a ver com o motivo do meu término com a Emma, mas eu escondo esse desejo há muito tempo. Todas as vezes que nos encontrávamos nos eventos por aí e você sempre era arisca, irônica ou sarcástica, eu não sei, eu ficava…
— Você tem fetiche em ser tratado mal?
Ele soltou uma risada gostosa e meus lábios se ergueram voluntariamente. Eu ainda sentia o fantasma dos seus lábios contra os meus, mas me afastei um pouco mais, até meu corpo estar encostado contra a mesa. Talvez me apoiar em algo fosse a coisa mais sábia a fazer, porque eu sentia minhas mãos trêmulas.
— Eu me sinto atraído por você — ele confessou. — E, julgando pelo jeito que você me correspondeu ao beijo agora há pouco, eu acho que posso arriscar dizer que você se sente da mesma maneira, mesmo que ainda me despreze ou me odeie.
Porra, Sally e Mikey estavam certas.
Estive tão cega por minha raiva por tudo que aconteceu que realmente enterrei aquele desejo bem no fundo. E eu não podia negar nada daquilo. Ele tinha razão. O jeito que eu correspondi ao beijo não foi de alguém que não se sentia igualmente atraída por ele. Alguém que o desejava não iria se derreter em seus braços e suspirar contra os seus lábios, desejando por mais internamente.
Não iria sentir suas pernas fraquejarem por um segundo ao imaginar a sensação da sua barba lá embaixo, o que mais ele tinha o poder de fazer. Mesmo que minha boca quisesse negar aquele fato, meu corpo me traía.
Era como a batalha do meu cérebro contra o meu coração.
— Desculpa, eu não quis ser esse idiota confiante demais, é só que… — ele tentou dizer, a expressão vacilando, e eu assisti sua confiança recém-adquirida querer se esvair por seus dedos.
Lambi meus lábios e respirei fundo, ainda sem dizer uma palavra.
Tudo o que eu fiz foi pegar impulso contra a mesa e me sentar em cima dela. Devagar, com seus olhos em mim, eu tirei os saltos, deixando-os caírem no chão em um baque surdo.
— Tranque a porta.
Ele pareceu sair do próprio transe e fez o que eu pedi. Seus olhos voltaram-se imediatamente para mim e eu abri um pouco as pernas, subindo o vestido de um jeito que ficasse confortável. Naquele instante, decidi deixar de lado o nosso passado e toda coisa mal resolvida entre nós, porque também decidi que merecia que ele me recompensasse.
A conversa e o perdão iriam ficar para depois.
— Vem aqui.
Ele não hesitou.
Quando Andrew parou bem na minha frente, meus olhos alternaram entre seus olhos, sua boca e sua camisa aberta. Puxei-o para mais perto, deixando que ele se encaixasse bem no meio das minhas pernas e alcancei seu pescoço com a minha boca, raspando o nariz pela sua nuca, inspirando o seu cheiro para mim. O perfume era doce, agradável e gostoso. Um aroma que combinava perfeitamente com ele.
Suas mãos pousaram nas minhas pernas de um jeito tímido. Ele parecia estar testando o que podia ou não fazer, e eu sorri contra a sua pele.
— Você pode me tocar, Andrew — eu murmurei, arrastando minha língua pela sua nuca. — Com firmeza, por favor.
Como se a minha aceitação fosse tudo o que ele precisava, Andrew moveu suas mãos e apertou as minhas coxas com a firmeza que pedi. Ele ia subindo devagar, me explorando, ainda por cima do pano do vestido. Subi minha boca, mordi seu queixo e ativei um sorriso pequeno em seus lábios. Quando nossos olhos se encontraram naquela distância mínima, capturei sua boca com a minha, iniciando outro beijo, mais urgente dessa vez.
A necessidade primitiva que eu sentia no momento não me permitia ser gentil ou delicada. Milhões de sentimentos e emoções ainda ferviam dentro de mim e eu precisava muito extravasar de alguma forma. Ele movia sua boca contra a minha com a mesma necessidade e eu usei as minhas mãos para arrancar o paletó dele, derrubando-o no chão, deixando-o apenas com aquela camisa com os dois malditos botões abertos.
Ainda que houvesse o ar-condicionado e o clima local estivesse muito a favor, o calor me consumia. Eu sentia pequenas gotas de suor começarem a escorrer pelas minhas costas e desconfiei que aquela sensação térmica era culpa dele. Grunhi contra a sua boca quando ele começou a subir a barra do meu vestido, me provocando pele com pele, suas mãos frias em contraste com meu corpo quente. Fervendo.
Aquela sala não era o melhor lugar para transar com alguém, e mesmo que a porta estivesse fechada, ainda existia um evento acontecendo do lado de fora, o que significava que também existiam pessoas que iam perceber a nossa ausência, o que também me lembrava que não íamos poder demorar muito ali, embora minha vontade fosse prolongar tudo.
Aquela vez não seria suficiente.
Não sei se Andrew sentia a mesma coisa, essa sensação de que essa rapidinha não seria suficiente para suprir o nosso desejo mútuo, mas por enquanto, teria que servir.
— Deixa eu te ver — ele disse, ofegante, afastando a sua boca da minha.
Fiquei um pouco desnorteada com o pedido, meio sem entender, até ele começar a abaixar as alças do meu vestido.
— Eu disse que você estava linda, mas acho que errei a palavra — ele começou a dizer, engolindo a seco. — Esse vestido… você ficou deslumbrante com ele, .
Suas palavras me atingiram em um tom novo.
Andrew dedilhou a minha pele e continuou afastando meu vestido para baixo, a expectativa elevando a minha respiração, meu peito subindo e descendo, enquanto mantinha meus olhos nele, desvendando um novo tipo de adoração em seus olhos.
Minha mente nunca foi capaz de imaginar tal coisa. Aquele cenário foi inventado diversas vezes nos sonhos que me recusei a dizer que tive, mas nenhum chegou tão perto daquela realidade.
O jeito que ele me olhava, que me tocava… respirei pesadamente, minha boca ficando seca.
— No entanto, ele não é o meu vestido favorito que você usou — ele continuou.
Franzi o cenho.
— Não?
Ele estalou a boca em negação e mexeu a cabeça igualmente, reforçando a sua resposta não verbal. Aproximou o rosto e beijou a minha clavícula, enrolou o dedo em uma das alças e finalmente abaixou o suficiente até deixar meus seios expostos.
Por um instante, me senti vulnerável. Mas o gemido que escapou do fundo da sua garganta suavizou a chegada da minha ansiedade, o desejo sofrido dele sendo reação suficiente para me deixar mais quente. Mais aquecida por dentro.
— Você… — ele murmurou, raspando o nariz pelo meio dos meus seios, a outra mão firmando o peso na minha cintura e senti a necessidade de estar ainda mais perto, mais próxima, então enrolei minhas pernas ao redor da cintura dele, sentindo minha barriga bater contra algo duro. Quase salivei ao notar o volume da sua calça. — Posso?
Ele levantou o rosto e vi suas bochechas coradas de um jeito adorável, pisquei, entendendo tardiamente o que ele estava pedindo e concordei com um aceno talvez rápido demais.
Andrew começou a distribuir beijos nas bochechas dos meus seios, todo meu corpo arrepiando, algo se acumulando bem no meio das minhas pernas, sendo alimentada por aquele pequeno gesto de tortura. Apoiei minhas duas mãos contra a mesa, buscando me firmar contra alguma coisa concreta, enquanto minhas pernas continuavam deixando-o preso à mim.
Inclinei meu rosto para trás, fechando os olhos para saborear a sensação com mais intensidade quando ele finalmente abocanhou o meu seio direito, a língua passando estrategicamente contra o bico duro e pontudo, me arrancando um gemido rouco. Sem me conter, rebolei meu quadril contra ele, buscando sentir mais do seu pau duro contra a sua calça social.
A resposta dele foi chupar com mais força. Aquilo deixaria marca, mas não me importei. Talvez eu quisesse algo para o que olhar ao me encarar no espelho mais tarde, no quarto de hotel, só para ter certeza que foi real, que aconteceu mesmo. Ofeguei, sentindo a minha boceta começar a latejar, pesando a minha calcinha de tecido fino. Eu precisava de mais. Queria ele dentro de mim, me preenchendo de um jeito que nunca fizemos antes, quando éramos duas pessoas que só compartilhavam risadas e conversas aleatórias no meio do set.
— Andrew…
Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, e muito mais afetada do que o normal. Não me importei de deixar transparecer tudo sobre mim, a forma como eu estava entregue, porque ele me devolvia igualmente. Quando ele levantou os rosto e ainda vi a adoração em seus olhos, aquilo me deixou ainda mais excitada, a ideia de que eu mexia com ele daquela forma, algo que foi incapaz de passar pela minha mente.
Não era possível que muitas vezes eu tivesse praguejando diversos xingamentos contra ele nos eventos que nos encontravámos sem querer — ou por obrigação — enquanto ele só pensava em me ter assim. Com as mãos em mim, a boca na minha pele. Não fazia sentido pensar que ele me desejava — não quando eu pensava que entre nós existia uma coisa diferente.
— Sim? — ele murmurou, rouco.
Sua testa estava suada e eu passei o polegar por ela, o sorriso afetado em meus lábios.
— Você sabe que a gente não tem muito tempo, certo? — Lembrei-o da urgência que eu tinha. Que nós tínhamos.
Ele gemeu desgostoso, apoiando a testa contra um dos meus ombros. Cravei as unhas em seu braço e respirei devagar, tudo em mim ainda quente. Suas mãos começaram a descer, sua boca se moveu para depositar um beijo na minha pele. Conforme suas mãos pararam na barra do meu vestido, ele começou a subir, acumulando o pano bem em cima da minha barriga, minha calcinha de renda fina à mostra. Sem que eu esperasse, ele começou a se abaixar e se postou de joelhos, o rosto bem na frente da minha boceta.
Engoli a seco ao entender o que ele estava querendo fazer.
— Andrew.
— Cinco minutos — ele me interrompeu o que eu ia dizer, quase implorando. — Deixa eu te chupar por cinco minutos.
Meu peito subiu e desceu, meu coração acelerou e minha boca ficou seca com o pedido repentino. Eu mordi meu lábio com força, me sentindo fraca demais para qualquer coisa, muito menos para negar aquilo a ele, a esse homem que estava ajoelhado no meio das minhas pernas, com as bochechas coradas ao dizer deixa eu te chupar.
Eu também fui incapaz de dizer alguma coisa.
Apenas assenti, encorajando-o, dizendo silenciosamente vá em frente.
Ele deu um meio sorriso e dedilhou a minha boceta por cima do pano da calcinha. Senti latejar mais e doer um pouco tamanha a excitação, um gemido me escapando da forma mais contida que eu conseguia. Não sabia se alguém podia ouvir o que estava acontecendo aqui dentro se passasse pelo corredor. Eu não queria que me ouvissem, mas também não estava com cabeça para me esforçar muito em se importar com aquilo.
Eu só tive que morder o lábio com força quando ele finalmente afastou a minha calcinha para o lado, usou seu polegar para segurar ali e, me pegando de surpresa, lambeu toda a extensão da minha boceta, experimentando. Meu corpo inteiro se retesou de prazer, eu sentia o suor começar a pingar da minha testa.
— Porra — soltei, sem fôlego.
Ele não parou.
Sua mão livre apertou minha coxa e sua língua começou a me lamber de novo, me deixando acostumar com a sensação dela arrepiando o meu corpo e enviando ondas de prazer ao meu cérebro, que estava derretido naquele momento. Meu coração continuava vibrando dentro da minha caixa torácica e eu me vi empurrando meu corpo contra a boca dele, pedindo por mais. Mais da sua língua, mais da sua boca, mais do seu toque.
No início, ele parecia tímido, me explorando, experimentando, se acostumando com o novo sabor. Sentindo a necessidade de me segurar em algo, qualquer coisa, enfiei meus dedos contra os fios do cabelo dele, tentando não bagunçar muito, mas eu gemia ao sentir a textura da sua barba contra a minha boceta e ele usou isso para me provocar e estimular ainda mais. Meu prazer só aumentava, ele começou a me chupar do jeito certo, testando como é que eu gostava daquilo.
— Você não tem ideia… — Ele respirou contra meu clítoris sensível. — Não tem ideia de como isso aqui é bom. De como eu quis isso…
Suas palavras soavam vulnerável. Uma batida na porta nos assustou, mas nenhum de nós se moveu. Ficamos em silêncio, naquela posição comprometedora, e fiquei aliviada de ter lembrado de pedir que ele fechasse a porta. Ele riu e se afastou.
Eu quase gemi de reprovação.
— Jesus, não posso fazer isso aqui. Não sou assim — ele começou a dizer, se levantando, despertando de algo que eu ainda não cheguei perto. — Não posso transar com você aqui, em uma sala minúscula. Você merece mais do que isso.
Abri a boca, processando o que ele acabou de dizer, acabou de decidir e eu respirei pesado demais, meu peito subindo e descendo com uma força súbita. De repente, senti aquela emoção raivosa fervilhar dentro de mim de novo, misturando-se com o tesão.
— Porra, você ta sacanagem comigo? — disparei, furiosa.
Ele me encarou, hesitando.
— Eu não…
— Não me importo de você me foder aqui nessa sala minúscula — comecei a dizer, as narinas dilatadas. — Eu quero isso, eu quero tanto que é insano. Você não pode se ajoelhar e me chupar e depois dizer que não pode fazer isso. Eu não ligo, Andrew. Somos adultos o suficiente para lidar com isso, e se você quiser me compensar com qualquer coisa que ache decente depois, tudo bem, eu não me importo, mas vou ficar furiosa se você sair dessa sala e me deixar na mão.
Falei tudo tão rápido que perdi o fôlego novamente. Notei as pupilas dele dilatadas, mas ele continuou em silêncio. Trinquei os dentes, já sentindo a humilhação querer tomar conta de mim quando comecei a me mover para ajeitar a porra do meu vestido e sair dali com alguma decência na vida.
Mas acho que meus movimentos despertaram algo nele.
Eu mal tive tempo de processar a sua aproximação abrupta quando ele parou na minha frente e tomou meus lábios para sua boca de novo, me impulsionando para sentar na mesa novamente.
Desesperada para senti-lo, minhas mãos se atrapalharam nas tentativas de abrir o zíper da sua calça. Nós éramos um amontoados de beijos, amassos, mãos se encontrando, suor, respiração ofegante e gemidos. Muitos gemidos frustrados e excitados, o som se misturando em uma melodia crescente, e arrastei minha boca pela sua, sentindo os pelos da sua barba pinicar a minha pele de um jeito gostoso. A memória daquela mesma barba surgiu vívida demais dele no meio das minhas pernas, meio minuto atrás.
— Merda — xinguei, impaciente, ao não conseguir encontrar o zíper da sua calça.
Ele riu, quebrando o beijo, e afastou um pouco o rosto.
— Deixa eu te ajudar.
Umedeci meus lábios e esperei. Quando ele fez menção de tirar a camisa com os dois primeiros botões abertos, protestei.
— Não. — Ele olhou para mim, as sobrancelhas juntas em confusão de um jeito adorável. Revirei os olhos. — Você está gostoso assim.
Ele sorriu.
— Não vejo a hora de aprender suas manias estranhas na hora H — disse.
Minha frequência cardíaca disparou com a possibilidade de futuro que ele deixou em aberto, mas procurei não pensar muito, ou ficaria ansiosa. Não de um jeito bom.
— E eu não vejo a hora de você me foder — rebati.
Meu sorriso aumentou com malícia quando percebi que ele quase corou de novo. Ele se livrou da calça e lentamente desceu a boxer, seu pau pulando para fora de uma maneira que me fez salivar. Ele acatou o meu pedido e realmente ficou com a camisa e seus botões abertos, exibindo a sua corrente.
Fiquei admirando-o por um instante.
Antes que ele se movesse na minha direção novamente, eu desci da mesa e empurrei-o contra o sofá pequeno que havia no canto da sala, fazendo-o cair sentado. Ele arfou de surpresa; aproveitei para me sentar em seu colo, movendo minhas pernas uma de cada lado, dobrando-as.

Ele estava completamente duro abaixo de mim. Encarei as veias grossas quase saltando do seu pau e salivei. Minha boceta latejou de um jeito doloroso, eu me sentia mais molhada e a luxúria em seus olhos só intensificava o meu tesão. Movi a minha mão para o seu pau e esfreguei a sua cabecinha com um pouco de força, fazendo-o arfar e perder o fôlego.
Eu sorri, maliciosa.
Levei o polegar até minha boca, lambendo, os olhos dele fixos em mim.
— ele gemeu.
Sem querer prolongar — e por mais que eu quisesse muito chupá-lo, teria que ficar para outra oportunidade —, afastei minha calcinha com o mesmo polegar e me levantei o suficiente, só para descer sentando contra o pau dele, encaixando-o dentro de mim, nossos gemidos se misturando.
O som dele foi mais gutural. O meu, mais contido.
Levei alguns segundos para me ajustar com ele dentro de mim. O prazer foi tão intenso que meu corpo estremeceu um pouco. Senti-lo daquele jeito finalmente pareceu ter virado a chave do meu cérebro, meu sistema entendendo que aquilo era mesmo real, e não uma alucinação muito fértil da minha mente.
— Meu Deus, , você é tão… — ele começou a dizer, mas sua voz falhou.
Apoiei minhas mãos nos ombros dele e comecei a me movimentar devagar, subindo e descendo contra o seu pau, a minha lubrificação ajudando a deslizar tão fácil, de um jeito tão tão bom.
— Eu sou tão o quê? — incentivei-o a continuar.
Ele balançou a cabeça, engolindo a seco, movendo o seu pomo de adão. Suas mãos pousaram na barra da minha cintura, se apoiando ali.
— Eu não…
— Finja que está atuando — sugeri, umedecendo o meu sorriso. — Você consegue dizer qualquer coisa quando está atuando.
Ele me encarou com os olhos brilhando. Um resquício de sorriso ameaçou aparecer nos seus lábios de expressão afetada. Eu estava gostando de ver o prazer em seu rosto, em como ele estava se contorcendo abaixo de mim, se movendo no próprio ritmo para estocar lento e fundo.
— Você é tão incrivelmente gostosa — ele disse, a voz um pouco rouca. Inclinou-se apenas o suficiente para enterrar o rosto entre o espaço do meu pescoço e ombro, roçando sua barba pela minha pele, me arrepiando inteira. — E linda. Linda cavalgando no meu pau. Linda, linda, linda…
As palavras se misturavam e se perdiam. Quando ele afastou o rosto e me deixou vê-lo, as maçãs do seu rosto estavam um pouco vermelhas, não por vergonha dessa vez, mas pelo esforço; rocei minha boca contra a sua barba e mordi o seu lábio, aumentando a intensidade dos meus movimentos.
Ele me ajudou, me segurando.
Eu sentia como se pudesse me afundar e afogar.
Como se todos os meus neurônios estivessem tomando uma nova forma, que as células do meu corpo estivessem se refazendo em novas células, toda química do meu corpo sendo moldada agora que ele me tocou. Agora que ele se enterrou em mim, agora que eu sei como é, e não havia a menor possibilidade disso aqui se tornar a única vez que nossos corpos estão unidos ali, pele suada com pele suada.
Minha mente estava bagunçada demais para pensar em dizer qualquer coisa. Eu nem mesmo conseguia raciocinar uma frase direito, as palavras provavelmente sairiam emboladas, misturadas aos meus gemidos, que eu estava me esforçando muito para que não saíssem alto. Mas mesmo assim, as palavras saíam.
— Você é tão lindo, Andrew. — Algo assim saía.
Eu sussurrava para ele ir mais rápido, ou mais forte, ou que se enterrasse bem mais fundo, minha boca mordia a sua, suas mãos exploravam meu corpo, sua boca distribuía beijos pela minha pele suada, o som dos nossos corpos se encontrando ecoava pelo ambiente. Meus dedos se enfiavam nos fios de cabelo dele, eu puxava com força, ofegante, as pernas trêmulas.
Os movimentos de cavalgada iam se alternando. Meu calor aumentava, gotas de suor escorrendo pela lateral do meu rosto, os fios da minha franja grudando na minha testa, eu tinha certeza que estava uma completa bagunça. O tesão me ardia de um jeito doloroso e quando ele começou a mover meu corpo contra seu próprio pau, aumentando as estocadas, indo mais forte, mas lento, inclinei a cabeça para trás e fechei os olhos, tentando juntar todas as emoções e sensações em uma só, mas eu sentia tudo ao mesmo tempo, intensificando o tremor em meu corpo, anunciando a chegada do meu orgasmo.
— Andrew.
Cravei meus dedos contra seus ombros por cima do pano fino da camisa dele. Ele pareceu entender o recado, porque aumentou a velocidade, eu me esforçava para respirar, mas estava ofegante, eu era apenas gemido, tesão e tremor.
— Estou aqui, querida — ele sussurrou, a voz rouca. — Estou bem aqui para você.
Ele voltou a enterrar o rosto na curva do meu pescoço e eu arfei, os olhos revirando quando finalmente o orgasmo me atingiu e me senti tremer e derreter em seus braços, agradecendo mentalmente que eu estava sentada e que ele estava me segurando, pois eu não teria forças para me manter em pé. Ele parou de estocar por um momento, me dando um tempo para eu me recuperar.
Se eu soubesse que seria tão bom extravasar tudo o que eu sentia por ele no sexo, eu não teria prolongado tanto. Eu teria feito ele me foder daquela forma bem antes, mas fiquei cega na minha própria raiva.
Comecei a rebolar lentamente em cima do pau dele, querendo que ele atingisse o próprio ápice.
— Não. — Ele me segurou, parando meus movimentos. — Desse jeito, eu vou gozar dentro e não…
Encarei seus olhos.
— Mas…
Andrew sorriu, me deixando confusa. Ele acariciou meu rosto, minha expressão frustrada.
— Tudo bem, eu resolvo isso depois — disse, suave.
Nós dois estávamos uma bagunça sem precedentes.
— Tem certeza? — contrariei, mordendo o lábio. Parecia um placar injusto. — Eu posso te chupar.
Ele me olhou com uma expressão que não consegui decifrar, mas seus ombros tremeram com uma risada, sua boca beijando a minha bochecha.
— Céus… — ele melodiou com humor e balançou a cabeça. — Nós temos que voltar. E já vai levar um tempo para se recuperar disso aqui.
Ele se referia à nossa bagunça. Eu nem mesmo queria olhar meu cabelo ou maquiagem no espelho. Não sabia como ia contornar aquilo, mas eu ia dar um jeito.
Soltei um suspiro resignado e segurei o rosto dele com as duas mãos, e ele saiu de dentro de mim. Mas continuei sentada no colo dele.
— Nesse caso… me deixe te recompensar depois.
Dessa vez, suas írises brilharam com uma esperança contida. Como se ele não acreditasse mesmo que teríamos uma outra vez.
— Quando você volta para Los Angeles? — ele perguntou.
Eu sorri.
— Parece que em breve.
Ele espelhou o meu sorriso e fez menção de me beijar, mas afastei meu rosto e apontei um indicador contra seu peito.
— Mas… ninguém pode saber disso, Andrew.
Se aquilo vazasse para a mídia, o inferno na minha vida iria começar novamente. Talvez as mesmas pessoas que tanto me odiaram por uma mentira finalmente distorcesse toda a situação e aí ficaria parecendo que a mentira sempre foi verdade.
Que eu causei, sim, a separação dele e Emma.
Eu queria manter aquilo o mais longe dos holofotes possíveis. Queria manter segredo. Queria curtir aquilo em paz, sem sofrer toda aquela onda de hate de novo, mesmo que tenha passado tanto tempo. A internet era um espaço infinito e marcado por um tempo diferente do que realmente vivíamos, então as pessoas não esqueciam de nada.
Certamente não esqueceriam daquilo.
Andrew beijou meu ombro e pude ver a compreensão chegar ao seu rosto em uma expressão suave. Ele acariciou a minha pele e precisei conter a minha frequência cardíaca para que ela não se elevasse tanto.
— Contanto que você me deixe fazer isso de um jeito mais decente da próxima vez, ninguém precisa saber nada a respeito de nós dois.




Fim


Considerações galáticas da autora:


Essa fanfic é dedicada inteiramente à Sammy, a quem eu tirei de amigo-fic no especial do site. Escrever com Andrew foi divertido, desafiador e um prazer! Tanto quanto ela, também espero que cada um que leu até aqui tenha gostado. Muito obrigada e beijos estrelados! ✨💕

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