✮⋆˙Autora Independente do Cosmos✮⋆˙
Última Atualização:19/07/2024Não sei o que pode ser tão importante para que papai me acorde no meio da noite e nos faça caminhar por todo esse tempo, mas lembro-me perfeitamente de sua animação na cabana.
— Vamos, minha querida, acorde. — Sua voz alegre falava comigo enquanto eu levantava sonolenta da cama. — Tenho algo para te mostrar, isso irá mudar a nossa vida.
E desde então eu o sigo em silêncio, cogitando mentalmente o que pode ser tão importante para que consiga mudar nossas vidas de um dia para o outro, algo tão importante que papai sequer consegue conter sua ansiedade para me contar a novidade pela manhã.
Meus devaneios bobos anseiam para que sua surpresa seja uma mulher, uma esposa para ele e uma mãe para mim. Seria ótimo ter alguém para ocupar esse espaço na minha vida, uma figura feminina para me ajudar e me inspirar em situações que papai não compreende.
Deixo um sorriso a ocupar meus lábios, prometendo a mim mesma que, independentemente de quem meu pai escolher, eu a amarei.
— Só mais uns minutinhos, querida — papai fala ao olhar para trás, seus olhos brilhando mais forte que as estrelas no céu. — Só precisamos seguir para o norte, e a nossa fortuna nos espera.
Paro de andar ao finalmente compreender a frase. Fortuna? Do que papai está falando?! Não temos nada de muito valor ou sequer luxo em nossa cabana, e o seu trabalho apenas o paga o necessário para continuarmos sobrevivendo.
— Fortuna? — questiono alto para que ele consiga me ouvir.
Sua figura agitada se vira pra mim, o sorriso aberto em seus lábios me transmite tanta felicidade e conforto que desejo ignorar minhas dúvidas. Eu vejo o momento seguinte em que seus lábios formam o início da resposta que espero, mas trovões soam no céu e a frase nunca deixa seus lábios.
Os barulhos são altos e extremamente assustadores, o espaço de tempo entre os trovões é mínimo, e o céu segue limpo, sem demonstrar nenhum sinal de chuva.
— , CORRA! — papai ordena com a voz em puro desespero, mas sigo parada no mesmo lugar, sem entender sua ordem ou seu medo repentino pelos trovões.
Ele é valente, não tem medo de nada, muito menos da ameaça de uma chuva, mas a expressão horrorizada no rosto de meu pai é algo que eu nunca vi.
Permaneço parada ali, sem saber o que fazer e sentindo o nervosismo me prender no lugar, papai abre a boca outra vez, provavelmente para me mandar correr de novo, mas as palavras nunca deixam seus lábios. O topo das árvores é separado brutalmente, um vento forte me joga alguns passos para trás e uma criatura preta, enorme e escamosa paira sob meu pai.
— PAPAI — grito inútilmente ao dar uns passos para a frente, mas no segundo seguinte a criatura abre sua boca e investe para baixo, para o chão, para o meu pai. — NÃO!
O monstro levanta sua grande cabeça, os dentes trincados com o braço de meu pai espetado em uma de suas presas, e as lágrimas rolam livremente pelo meu rosto. Os olhos da criatura me analisam uma última vez, antes do ser bater as asas e voar para longe.