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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 31/10/2024.

Leis de Newton é uma história de suspense colegial que possui personagens moralmente questionáveis, não recomendo que se apague nenhum deles. Espero que se divirta lendo da mesma forma que me diverti escrevendo (ou não rs).



Lei da inércia: Um objeto em repouso permanece em repouso, ou se estiver em movimento, permanece em movimento com velocidade constante, a menos que uma força externa atue sobre ele.

Lei da Superposição de Forças: Quanto maior a força aplicada a um objeto, maior sua aceleração, e quanto menor a massa do objeto, mais fácil é acelerá-lo.

Lei da Ação e Reação: Para toda ação, há uma reação igual e oposta. Isso significa que se um objeto exerce uma força sobre outro objeto, o segundo objeto exercerá uma força igual e oposta sobre o primeiro objeto.



A primeira lei de Newton, ou lei da inércia, diz que um objeto que está em repouso, permanece em repouso, e o que está em movimento, permanece em movimento; e só sei disso porque tento prestar atenção na aula do Sr. Russell, enquanto Willa tagarela ao meu lado sobre o quanto ele é o maior gostoso que ela já viu. Não dá para negar que ele é bonito, jovem e tem muitos músculos para um professor de física, mas não é lá tudo isso. Desde que veio substituir o Sr. Dicker – um senhor de 76 anos, que se aventurou a subir em uma escada para limpar as telhas de casas e acabou se desequilibrando, precisando ficar em casa por alguns meses –, as coisas dentro da St. Louis High School haviam ficado mais agitadas. Entretanto, quando se tratava de dar aula, Sr. Russell era excelente. Talvez parecer que foi esculpido pelos deuses ajudasse na concentração dos alunos.
— As leis das físicas nunca foram tão fáceis como agora. — Era quase perceptível a ouvir suspirar enquanto fingia prestar atenção nas anotações do quadro, e não em quem estava anotando.
O sinal indicando o fim da aula chegou logo depois, para a frustração da maioria. Juntei os materiais calmamente e fui em direção ao refeitório com Willa ao meu lado.
Ela foi minha primeira e única amiga desde que mudei para St. Louis, no Missouri, e comecei o ano letivo. Tenho que admitir que nossa junção era fascinante: Willow Bennett é aquele tipo de pessoa que não está envolvida com nada, mas sabe de tudo que está acontecendo ao seu redor, enquanto eu tentava de tudo não chamar atenção dos outros alunos, apenas seguir a vida em paz e sem muito mais danos.
Quando entramos no refeitório, seguimos reto para nossa mesa habitual, que ficava na fileira central do ambiente, porém mais ao fundo.
Se entrasse naquele ambiente no horário de almoço, você conseguiria enxergar perfeitamente todo o ecossistema existente no colégio, era único, funcionando perfeitamente sem existir nenhuma quebra nessa ordem por anos – segundo Willa –, quase como a lei da inércia que o Sr. Russell estava explicando na aula: todos estão distribuídos nos seus grupos sociais e assim ficará, como o objeto em repouso que tende a ficar em repouso.
— Aqueles são os populares, os mais importantes. Entre eles, são Kai Hernandez e Audrey Montgromey, o casal da realeza do St. Louis High School. Faça o que quiser, mas não pise no calo dela, podem existir consequências que nem conseguiria imaginar — ela disse uma vez, enquanto explicava a dinâmica interna, apontando para nossa esquerda, um pouco mais à frente. — Aqueles são os mais problemáticos. — Apontou para nossa direita. — Dizem que o Brian vendia drogas para outros alunos e parou depois que o irmão dele morreu por overdose. A verdade é que ninguém nunca conseguiu comprovar nada, então é só especulação. — O tom dela é que não estava tão convencida do que falava, como se acreditasse nos boatos. — Aquele dali é o Josh, a pessoa perfeita para qualquer trabalho em dupla ou grupo, já que o cérebro dele é suficiente para cobrir todos os outros, porém a superinteligência pode ser intimidadora para os outros alunos, por isso não o dão tanta atenção — ela sussurrou dessa vez, já que a pessoa em questão estava na nossa mesa, mas na outra ponta. As mesas do refeitório são enormes, cabendo no mínimo doze pessoas em cada uma. — E, por último, temos Carrie, o que é um pouco irônico, já que a consideram como estranha por falar sozinha e usar lápis de olho muito marcado. Uma vez espalharam boatos que ela aplicara alguma bruxaria na Audrey, a fazendo quebrar todas as unhas “por inveja”. Acredito que a rainha do colégio só estava precisando comer algumas vitaminas mesmo.
O resto de nós era como se flutuasse através desse ecossistema, a maioria não tinha relevância suficiente, seja para o bom ou ruim, para sermos notados diante do resto. Particularmente preferia assim, quanto menos atenção, melhor.
, você está me escutando? — Willa me trouxe de volta para o presente e tentei me esforçar ao máximo para fingir que estava ouvindo, sim, tudo que disse antes. Estávamos sentadas, devorando nossos almoços, enquanto Bennett passava todo o jornal matinal, que eu nunca fui interessada, mas ouvia, já que sou uma boa amiga. — Tanto faz, você já decidiu qual fantasia vai usar hoje à noite?
Ah, era sobre isso que estávamos falando: uma das inúmeras festas de Halloween que aconteceria entre setembro e outubro, apenas com desculpa para vários adolescentes se embriagarem em uma casa abandonada qualquer.
— Não, estou sem ideias.
— Como que alguém fã de todos os filmes de terror existentes no mundo não tem uma ideia para fantasia?
— Não sei, acho que já esgotei da fonte.
Era mentira, filmes de terror eram algo relativamente novo para mim, mesmo com tanta paixão, mas não admitiria isso agora. E a verdade é que estava muito pouco animada para essas festas, não fazia meu estilo.
— Você não vai conseguir escapar dessa festa igual das outras vezes. Vai comigo e ponto final!
As fontes de desculpas estavam se esgotando rapidamente, nem minha mãe estava me ajudando mais, concordava que eu precisava “sair mais e ver pessoas”. Por isso, a única coisa que fiz foi balançar a cabeça em afirmação, mesmo sendo completamente contra.
— Mudando de assunto… Você acha que o Kai não está um pouco sério demais?
— Ele sempre está assim.
— Certo, mas… ele não tá sério demais agora?
Desviei meu olhar dela por um instante para focar na mesa atrás. Hernandez era o típico adolescente americano, cabelos loiros bagunçados como se tivesse acabado de sair do mar e olhos castanhos-claros, às vezes você podia vê-lo abrindo o mínimo sorriso, nada muito chamativo. Na minha teoria, aquele garoto não gostava tanto do mundo que o cercava, mas não tinha como sair dele, por isso vivia de cara fechada o tempo todo.
— Acho que ele está o mesmo de sempre.
— Falaram que ele e a Audrey terminaram.
Provavelmente esqueci de mencionar que minha amiga tem uma quedinha no Kai. Nele e na metade do corpo estudantil.
— Não acho que seja novidade para quem tem um relacionamento ioiô. — Voltei a atenção para lasanha à frente, dando mais uma garfada.
— Hoje é dia de festa, né. Talvez fosse ser interessante. — Deu os ombros, enquanto voltava a atenção para a salada de frango que trouxe de casa.
Em alguns segundos de desvio de atenção para a mesa atrás novamente, visualizei o exato momento em que Audrey esticou o pescoço para depositar um selinho nos lábios de Hernandez, para a tristeza de Willow. — Viu só? Já voltaram.

O resto das aulas ocorreu tudo da forma tediosa de sempre, então consegui chegar em casa no meu horário habitual, o que me dava tempo de sobra para minha corrida de rotina.
St. Louis fica na divisa entre o estado de Missouri e o estado de Illinois, o que separa ambos os estados é o famoso rio Mississippi. A orla de St. Louis não é igual as outras cidades americanas que todos conhecem: do lado em que morava, ao norte, possuía muita indústria, ferro e maquinário próximo às margens, a deixando mais deserta no horário mais noturno por não ser tão residencial nas redondezas. Já do lado sul, depois da ponte que unia ambos os estados, é onde conseguiria encontrar mais movimentação, principalmente por conta do Getaway Ach Nacional Park.
Não sou uma pessoa muito atlética, mas as corridas diárias haviam sido uma indicação da psicóloga, com a desculpa de que seria bom para colocar a mente no lugar e focar nas coisas positivas. Segundo ela, exercícios físicos liberavam endorfinas, o que auxiliaria no meu processo de recuperação após o trauma. Minha mãe não teria ficado tão feliz com a decisão do local em que pratico as atividades físicas, principalmente pelos horários, mas desde que tudo aconteceu, ela tem tentado não agir como superprotetora, por isso me fazia ir às festas colegiais.
Era o motivo pelo qual, quando decidi voltar para casa, já era um pouco mais de uma hora do horário em que costumava chegar. Minha mãe, H. , estava apoiada na bancada da cozinha, olhando para porta principal com um vinco entre as sobrancelhas. Sua expressão para mim quando atravessei a sala e fui até a cozinha beber água era de preocupação, mas, ao mesmo tempo, querendo me colocar de castigo pelo resto da vida.
— Me desculpa, precisava de mais um tempo sozinha. — Apressei para falar enquanto enchia um copo na pia, sem a encarar. A senti soltar o ar atrás de mim e entendi com a deixa segura para virar.
— Você poderia ter me avisado que atrasaria pelo menos.
— Não foi minha intenção.
Ela balançou a mão como se dissesse ser melhor deixar para lá. Notei que ela já estava pronta para começar o plantão do trabalho, blusa social azul clara com o símbolo da Divisão de Homicídios de St. Louis e calça de tecido azul-escuro.
— Estava me esperando para sair?
— Não. — Sim, sabia que sim. — Estou atrasando de propósito porque tenho muita papelada para resolver ainda.
A vi torcer o pescoço para o lado e para o outro, como se já tivesse voltado de um plantão e não estava indo. Desde que nos mudamos, quando ela foi transferida para a divisão de homicídios daqui, vinha reclamando da situação catastrófica que encontrou na delegacia, e organizar as papeladas ao mesmo tempo que resolvia crimes e tentava ganhar a confiança do pessoal de lá vinha sendo algo bem desafiador.
Uma notificação chegou ao meu celular e vi a Willa perguntando se queria que ela passasse aqui em casa ou não. Respondi que preferia que ela me encontrasse na festa.
— Você não deveria estar pronta para sair?
— Eu não quero ir. — Fiz drama enquanto me aproximava dela, colocando a cabeça em seu peito e fazendo bico. — Me obriga a estudar.
Ela riu, abraçando-me.
— É sexta noite, precisa se divertir um pouco também.
— Devo voltar à meia-noite, então?
— Você não é a Cinderela, mocinha! E não é como se eu fosse estar aqui para supervisionar também. Apenas prometa que vai tentar se divertir.
— Tudo bem. — Levantei as mãos em forma de redenção, enquanto me desvencilhava do abraço e caminhava para escada.
— Vou saindo, tenha cuidado.

Quando cheguei ao meu quarto, continuei me preparando para atrasar a ida para festa. Abri meu guarda-roupa e encarei todas as roupas que estavam à vista, sem conseguir visualizar nada que daria uma boa fantasia de Halloween.
“Ainda não sei o que vestir, acho que vou me atrasar.” Digitei para Willa, enquanto me apressava para tomar banho. Bem, apressar era uma palavra forte para o que realmente fazia. Levei cerca de dez minutos apenas para passar sabonete em todo corpo. Se a água do mundo tivesse acabado no outro dia, seria certamente a culpada. Ao sair, vesti meu pijama e sentei na cadeira da escrivaninha.
Chequei meu celular mais uma vez e percebi que Willow não me respondeu.
Respirei fundo e encarei o teto, tentando criar coragem para começar finalmente a me arrumar.
Um ruído no andar de baixo chamou minha atenção e prendi a respiração instantaneamente.
Pensei que poderia ter sido algo da minha cabeça perturbada e deixei para lá, mas continuei atenta só por precação.
Escutei mais um ruído, como se algo tivesse sendo arrastado levemente pela madeira do térreo, notando então que não era imaginação. Imediatamente, senti o ar pesar em meus pulmões e a respiração ficou descompensada.
— Mãe? — Tentei, mas não tive resposta. — Esqueceu algo?
Continuei sem resposta. Tentei dizer ao meu cérebro que foi apenas ela voltando para buscar algo que esqueceu ao sair, mas me senti traída por ele quando consegui perceber os batimentos cardíacos na boca e, no mesmo instante, fui transferida para alguns meses antes.
Escutei o ruído de passos no andar inferior, se aproximando da escada, e só então acreditei que realmente tinha mais alguém em casa.
Vasculhei o quarto rapidamente, tentando achar algo com que conseguisse me defender. A primeira coisa que notei foi um abajur antigo, que era da minha avó e estava desligado sobre a escrivaninha. Fiz movimentos lentos ao pegar o objeto para que outra pessoa não conseguisse adivinhar minha intenção. Escutei a madeira frouxa do terceiro degrau da escada ranger e caminhei devagar até a porta, ficando na lateral, esperando quem quer que fosse entrar a qualquer momento.
Fui obrigada a segurar o abajur com as duas mãos, porque o suor frio nelas o fez escorregar, as palpitações cardíacas se intensificaram ainda mais, e me questionei se era possível outra pessoa escutar além de mim. Minhas vistas ficam turvas e, por um momento, acreditava que ia desmaiar. Quando a maçaneta da porta começou a se movimentar, apertei ainda mais o objeto em meus dedos, ao ponto em que senti doer. A única coisa que me impediu de acertar a pessoa à frente foi o grito fino e os olhos arregalados da minha amiga, no momento em que ela pisou o cômodo.
Uma onda de alívio percorreu pelo meu corpo e consegui abaixar a pseudo arma que tinha nas mãos.
— Ia me atacar com o abajur? — Ela estava horrorizada.
— Você quem entrou na minha casa de fininho. — Deixei o abajur na mesa novamente e voltei a sentar na cadeira, sentindo a alma finalmente voltar para o corpo. — Aliás, não era para estar a caminho da festa agora?
— Primeiro, só queria te dar um sustinho. — Ela estava parada com a mão na cintura, igualzinho minha mãe quando estava dando uma bronca. — E segundo, senti cheiro de toco assim que li sua mensagem. Por que está de pijama? Já falei que não vai fugir dessa!
Observei ela jogar um taco de beisebol na cama, enquanto ia em direção ao guarda-roupa. Estudei a fantasia que ela estava vestindo: meia arrastão, short curto metade azul e a outra vermelha, tênis cano alto e uma blusa branca, rasgada, escrita “daddy little monster”.
— Você poderia ter trançado o cabelo um lado de cada cor dessa vez, para combinar com a Arlequina. — Era raro ver Willa sem estar com o cabelo trançado, principalmente porque estava em transição capilar. Ela me contou que, a cada três meses, trocava a cor do jambo e do estilo. Agora estava com um modelo twist em tom preto.
— E virar uma fantasia por meses? Não, obrigada. St. Louis já tem muita fofoca para lidar.
Assisti ela puxar uma camisa social enorme do móvel e uma bandana.
— Acho que dá para improvisar uma fantasia de pirata.
— Desde quando pirata tem algo a ver com terror? — Mesmo de lado para mim, percebi quando revirou os olhos, como se dissesse que a pergunta foi estúpida.
— Família Addams não é terror e as pessoas ainda consideram algo do Halloween — argumentou, ainda futricando minhas coisas.
— Desde quando você virou perita em Halloween?
— Assisto algumas coisas, tá? Só não gosto de sentir medo. — Ela se virou, atirando as peças de roupas sobre mim. — Agora vai logo se arrumar.
A fantasia no final foi bem improvisada. Coloquei a camisa social longa, um short curto de malha por baixo e um corset preto por cima para fazer a parte principal, uma meia-arrastão cheia de buracos que tinha, uma bota preta até o joelho e, por fim, a bandana na cabeça. A maquiagem deixei a cargo de Willow. Alguns minutos depois, estava dentro do Uber, em direção a uma casa abandonada mais ao norte da cidade.


Mal cheguei à festa e já estava arrependida.
Quando falaram que seria em uma casa abandonada, imaginei apenas uma propriedade normal sem ninguém morando, não uma caindo aos pedaços. Ela tinha uma aparência de que foi construída na Era Vitoriana, a tinta das paredes estava completamente desgastada e os vidros da fachada todos quebrados, as trepadeiras haviam tomado de conta de quase toda a estrutura. E, mesmo assim, não foi por isso que me arrependi.
Muitos dos que estavam aguardando para entrar soltavam fumaça como uma chaminé, e, veja bem, vape pode até ser mais cheiroso que cigarro em si, mas levar fumaça na cara não é legal, principalmente para alguém que tem rinite como eu.
E se fora já tava ruim, dentro daquele ambiente era quase como um verdadeiro cenário de terror: muita gente e pouca luz. As únicas fontes de iluminação do ambiente eram uma bola pequena no teto do pé direito duplo com luzes coloridas e um refletor piscando logo acima da porta principal. Assim que coloquei meus pés na propriedade, senti um bafo quente de ar me abraçar, roubando o ar dos meus pulmões. A música alta zumbia, balançando o que sobrou das janelas, com a mistura de vozes e melodias. Quase não consegui ouvir o gritinho de felicidade que Willa soltou quando ouviu tocar Somebody’s Watching Me, me agarrando pelo braço e andando em direção ao meio das pessoas.
Falar que não queria estar no meio da pista de dança já era bem redundante nesse ponto da história, entretanto, como já estava ali, precisava dar o meu melhor para não ser apenas aquela amiga rabugenta. Tentei acompanhar ao máximo os movimentos de Willow em uma coreografia improvisada, enquanto cantávamos em plenos pulmões cada letra da música.
— Você parece a Wandinha! — debochou de mim, rindo dos meus passos desajeitados.
— É Halloween! E você certamente não serve para Enid. — Ela me mostrou a língua, ainda entre as risadas, fingindo logo depois que estava me observando através dos dedos das mãos, enquanto girava em torno de mim, tentando equilibrar o taco de beisebol na outra.
O DJ emendou Rock With You logo em seguida, e não consegui sair da pista de dança.
Meus quadris se mexiam por conta própria, minhas mãos deslizaram por todo meu corpo, subindo da barra da blusa até os cachos. Fechei os olhos e deixei os vocais do Michael Jackson me levarem. Por um momento, tudo parecia certo, como se tivesse voltado um ano atrás, antes de tudo acontecer, quando conseguia viver o momento presente sem muito sofrimento. Sonhava com o dia que conseguiria fazer as coisas mais leves e por impulso novamente. Quando paramos de dançar, já era umas sete músicas à frente. Minha amiga me puxou para um canto mais reservando, enquanto tentávamos recuperar nosso fôlego, mas com ar quente do ambiente e a luz piscando que deixava tudo em câmera lenta, senti meu corpo perdendo as forças, a visão turva, implorando para que fechasse os olhos só um pouquinho…
— Vou pegar bebida para gente — a voz de Willow soou mais distante.
Tentei me recuperar puxando uma lufada de ar, tateando entre as pessoas até conseguir apoiar em uma parede. Andei mais um pouco, utilizando a estrutura de muleta até finamente encontrar uma porta. Quando abri, fui automaticamente transportada para a vida. Uma corrente de ar soprou no rosto e senti gradativamente minha respiração regularizar.
Estava em uma espécie de jardim que ficava na lateral da casa. Era aberto, amplo e possuía vários bancos, como uma praça qualquer da cidade, se não fosse por aquelas estátuas estranhas de ninfas espalhadas. Sentei-me em um dos assentos de pedra e observei ainda mais ao redor. Tinha algumas pessoas fofocando à esquerda, alguns casais se agarrando, encostados na parede imunda casa, e outros na parede do muro de visão das casas. Ao meu lado, tinha dois estúpidos fumando cigarro e, quando jogaram a fumaça para cima, mordi a língua para não os mandar para a casa do caralho.
Reconheci Audrey digitando freneticamente no celular, enquanto uma das amigas dela tagarelava sobre algo que não consegui escutar. Estavam bem à frente, próximas a uma cerca viva.
— O que está olhando? Perdeu algo aqui? — Escutei ela falar quando desviou o olhar do aparelho em minha direção. Observei-a erguer uma das sobrancelhas, reafirmando sua pergunta, o odor da nicotina invadiu minhas narinas e dei por saco cheio daquela festa. Levantei-me sem falar uma palavra e decidi caminhar pelo jardim. Alguém murmurou um “estranha” quando dei as costas, mas já não me importava.
Recebi uma mensagem de Willow dizendo que teve um “delicioso atraso”, mas que me encontraria em breve. Dei risada e bloqueei a tela.
Existia um tempo em que agia assim o tempo todo, agora não tinha vontade nem de frequentar espaços como aqueles.
Andei mais até os fundos da casa e percebi que existia um corredor, me virei à direita e notei a presença de uma figura masculina encostada na parede da casa, olhando para cima.
Não tive muito tempo para raciocinar todas as ações terríveis que decidi fazer, sem saber se culpava o ambiente, a nicotina ou a mensagem de Willa, mas puxei a jaqueta que estava vestindo e grudei meus lábios nos dele.
O primeiro sentimento foi choque. Senti seu corpo tencionar pela surpresa e fui empurrada para o arrependimento quase que instantâneo.
Quando pensei em quebrar o beijo, fui pega de surpresa quando senti um braço forte enlaçar minha cintura, me puxando mais para perto, enquanto a outra mão se enroscou nos meus cachos, aprofundando o beijo.
Sua língua se enroscou com a minha, enviando uma mensagem para meu cérebro. Meu corpo inteiro faiscou, pedindo por mais.
Esqueci tudo ao redor – festa, barulho, calor –, me concentrei apenas no gosto dos seus lábios, algo doce misturado ao álcool barato. O escutei gemer suavemente quando enrosquei os dedos na gola da jaqueta de couro, o puxando mais para perto, deixando tudo mais intenso. Meu corpo entrou em combustão, como se precisasse daquilo por tanto tempo. Saboreei cada segundo das sensações. Ele mordiscou meus lábios, puxando o inferior delicadamente ao encerrar o beijo.
Precisei de um tempo para recuperar o fôlego, pisquei algumas vezes para me acostumar com a escuridão, me afastando só um pouco para descobrir quem era a pessoa à frente. Assisti ele encostar a cabeça na parede, enquanto me encarava por cima, curiosamente.
Seus olhos castanhos-claros eram inconfundíveis.
A realidade me atingiu como um raio e percebi a merda que fiz. Acabei de beijar Kai Hernandez.


Continua...


Qual o seu personagem favorito?
: 0%
Willa: 0%
Kai: 0%
Mateo: 0%
Becky: 0%
Carrie: 0%


Nota da autora: Esse primeiro capitulo é apenas um grão de sal dentro do oceano pacifico, nossa querida protagonista vai enfrentar muita coisa pela frente e espero que vocês estejam aqui para acompanhar! Me sigam no instagram para acompanhar spoilers, atualizações e novidades. Feliz Halloween, um beijão e menor que três.

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Nota da Beth Saturno: Eu adorei a dinâmica meio Wandinha e Enid delas mesmo hahaha. Estou super curiosa para saber o que tem no passado da pp para deixar ela dessa forma e já tô sentindo o cheiro de problema com esse beijão que ela deu no Kai. Adoro um fogo no parquinho e tô ansiosa por mais, Gi.
Continua logooo! ♥

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