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Última Atualização: 26/03/25
Os olhos são as janelas da alma." – William Shakespeare
Suspirei, girando os pés com desgosto enquanto me afastava, completamente desconfortável com o que acabara de acontecer. Na verdade, nem sabia o que me incomodava mais: as risadas incessantes do grupo em que meu crush, Eunwoo, estava, depois que eu fiz aquele convite ridículo para ele ir até a biblioteca comigo, ou o pior de tudo… ouvir as risadas dele, provavelmente, achando aquilo uma grande bizarrice. E eu não tirava a razão dele.
Mas que ideia de merda foi essa, ?
Como você ousa chamar o maior QI da Coreia do Sul para uma sessão de estudos sobre aritmética só pra ter ele um pouco mais perto de ti?
Senti meu rosto corar. A vergonha se multiplicava a cada passo que eu dava, rezando para que eu estivesse distante do grupinho dos populares o mais rápido possível.
Eu deveria ter imaginado que essa porra daria errado. Claro que daria.
Eu nunca fui boa com essas coisas. Relacionamentos, paquera, flerte — sempre me pareciam como uma ciência completamente diferente da que eu dominava. Durante a adolescência, até tive umas coisas que eram impossíveis ser chamadas de namoro, mas que eu insisto, até hoje, em denomina-las de “experiências”. Nada legais, inclusive.
Meus amigos diziam que eu tinha uma sorte "incrível" para muitas coisas, mas o que eles não sabiam é que sorte e eu nunca tivemos uma boa relação. Eu podia decorar qualquer fórmula de cálculo mental em segundos (talvez essa seja a tal sorte que eles tanto falam), mas quando se tratava de dar o primeiro passo com alguém, eu ficava paralisada, como se fosse impossível traduzir o que estava no meu cérebro para algo simples, como, talvez, um sorriso.
Porra, a merda de um sorriso é tão simplório! Mas, tudo o que eu consigo é mostrar os dentes por alguns segundos e fechar a boca, completamente nervosa. Várias vezes.
Uma completa bizarrice.
E, se existe uma coisa que Eunwoo entende, é de sorriso. Ele era o tipo de cara que parecia ter saído de um sonho: perfeito, bonito, alto e inteligente. E, claro, completamente fora do meu alcance. Enquanto ele dominava qualquer assunto e ainda conseguia ser simpático com todo mundo, eu estava aqui, me afundando, diariamente, nas vergonhas que eu mesma costumava criar quando alguma coisa o envolvia.
—Que merda de vida difícil —murmurei para mim mesma e acelerei os passos pelos corredores da universidade a procura do meu armário. Precisava sair daquele ambiente com urgência. Tudo o que eu queria naquele momento era a minha bolsa, fugir o quanto antes e, talvez, algumas doses de tequila pura quando chegasse em casa. Uma ótima forma de esquecer o desastre que eu era.
Então, no meio dos meus passos desajeitados, esbarrei em alguém.
— Ai! — exalei o ar que nem sabia que estava segurando, tropeçando nos próprios pés e quase caindo. Levantei a cabeça rapidamente, e não pude deixar de suspirar de frustração ao ver quem estava ali. Jimin.
Ele estava completamente suado, provavelmente depois de algum treino intenso, e seu sorriso e olhar desconfiado parecia saber exatamente o que eu estava sentindo. Claro que ele sabia. Aquele canalha me conhecia desde os meus 5 anos de idade.
Park Jimin era o típico padrão: charmoso, confiante e com aquele sorriso fácil que fazia qualquer um se derreter. Para ele, socializar parecia ser tão simples quanto respirar. Ele tinha a habilidade de fazer qualquer situação desconfortável parecer natural, como se tudo fosse parte de um grande show que ele estava apresentando para o mundo. O tipo de cara que nunca teve problemas com a popularidade e sempre soube como se comunicar com qualquer pessoa, fosse um professor ou a garota mais tímida da sala. Ah, não dá pra deixar de mencionar esse detalhe: Ele era bom com mulheres. Muito bom, mesmo.
—Cuidado aí, Einstein do caos —ele disse com a porcaria do sorriso sarcástico e ao mesmo tempo encantador, que sempre me fazia questionar como ele podia ser tão... perfeito para qualquer situação. Mesmo assim revirei os olhos, me recompondo.
—Odeio esse seu acervo de apelidinhos idiotas. — retruquei, cruzando os braços, tentando parecer mais fria do que realmente estava.
—E você consegue quebrar qualquer clima legal com esse jeito razinza, garota. —Jimin colocou uma toalha no ombro e botou as mãos na cintura, me fitando. —O que tá pegando?
—Nada —dei de ombros, olhando para qualquer lugar, menos para os olhos do meu amigo.
—Você é uma péssima mentirosa, . —Senti o dedo indicador de Park no meu queixo, fazendo-me virar para olhá-lo. —Diz o que houve.
—Argh —relaxei os ombros, incomodada. —Você me conhece bem demais. Isso é um problemão.
—Considere isso como um bônus por eu ser ótimo com mulheres. Raramente uma delas consegue me enganar.
—Você é um canalha, meu Deus. Um canalha nato! —Jimin revirou os olhos, como se já estivesse acostumado com as minhas respostas dramáticas e logo fez um gesto com a mão para que eu começasse a falar, enquanto ele começava a tomar agua da sua garrafinha. —É o Eunwoo. Eu chamei ele pra sair. Ou, tentei, sei lá. — as palavras saíram de uma vez, como se eu estivesse jogando uma bomba sobre nós dois. Ele parou por um momento com a garrafinha ainda nos lábios, e me olhou com a sobrancelha franzida, analisando cada parte da minha confissão.
—E ele aceitou? Espera, chamou pra sair onde? Você nem sai de casa. —Jimin cruzou os braços, claramente curioso. Eu tentei não deixar meu rosto corar, mas era impossível. Estava tão envergonhada com toda a situação que poderia me esconder em um buraco e nunca mais sair de lá. Não julgo a porra do coelho de Alice no pais das maravilhas.
—Pra biblioteca. Estudar aritmética. — falei, dando de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas, eu sabia exatamente qual seria a reação de Jimin.
E não foi diferente do que eu pensei.
Jimin parou por um segundo, processando a informação. Depois, soltou uma gargalhada tão alta que atraiu a atenção de algumas pessoas pelo corredor. Se segurou no armário e colocou a mão na barriga, como se estivesse com dor de tanto rir. O olhei entediada de braços cruzados, esperando o mesmo terminar o showzinho ridículo.
—, pelo amor de Deus. Você realmente não tem noção do que está fazendo, né? —ele limpou uma lágrima entre risos —Como você chama alguém pra sair pra uma porra de uma biblioteca, garota? E, isso nem é o pior. Aritmética? Você ama ou odeia esse cara, por acaso?
Eu rolei os olhos, tentando disfarçar a vergonha que ainda queimava no meu rosto.
—Eu pensei em uma sorveteria, um cinema e, no pior dos casos, um restaurante pra comer churrasco coreano com soju —Jimin balançou a cabeça incrédulo, ainda tentando digerir a informação.
—Olha, eu tentei, ok? —me exaltei —Não é como se eu fosse um prostituto como você e tivesse habilidade com encontros.
Park parou, fazendo uma expressão exagerada de dor, colocando a mão no peito como se eu tivesse acabado de acertá-lo no ponto mais fraco.
—Não precisa magoar também. Se envolver com alguém não é só sexo. Existem muitas nuances nesse processo. —Jimin piscou o olho direito e eu bufei, cansada.
—Eu desisto, sério. —suspirei e meu amigo franziu a testa. —Disso tudo, Park. De relacionamentos, de pessoas, de tentar me diminuir pra caber no mundo de alguém que é completamente fora do meu alcance. Não é a primeira vez que eu tento algo e me sinto ridicularizada. Você até pode rir dos meus desastres, tudo bem. Eu aguento. O que eu não aguento mais é a merda da rejeição, os sorrisinhos de sarcasmo. Isso é cansativo, ok? —as palavras saíram mais rápido do que pensei e, por um segundo, me senti aliviada por estar sendo sincera. Por outro lado, meu amigo me observava sério e, talvez, compadecido da minha situação. —Vou pra casa, pedir a porra de uma pizza, me empaturrar até morrer e ficar alcoolizada. — Completei, sem nem me preocupar em parecer dramática. Estava simplesmente cansada demais para me preocupar com o que ele ia pensar ou com qualquer outra coisa.
—Eu tenho uma ideia melhor. Eu sou seu amigo e, por mais que isso seja, por vezes, uma diversão pra mim, eu odeio te ver assim. —Ele finalmente disse com a voz suave e sem o tom zombador de antes. —Você vai vestir a sua melhor roupa e eu vou te passar para pegar às 20. Hoje é uma sexta, então vamos para algum lugar que tenha bebidas, música boa e gente interessante. Você vai ver que não precisa se diminuir pra caber no mundo de seja lá quem for, porque você é foda do jeito que você é. Talvez, só precise de uns ajustes para demonstrar esses sentimentos e mostrar todo o seu potencial. Você vive tanto no automático com os seus cálculos malucos, que esqueceu que a vida não é a só aplicação de uma fórmula que vai te dar um resultado em instantes.
Eu o encarei, tentando absorver cada palavra do meu amigo que, agora, parecia genuíno. Jimin sempre foi o amigo brincalhão, zombeteiro e que não costumava levar as coisas a sério. Mas, naquele momento, eu conheci um outro lado.
Um lado que eu, curiosamente, queria conhecer mais e mais.
— Acho que você não entendeu. Eu só queria... — comecei, mas a verdade era que eu não sabia o que queria. Ele estava certo sobre o automático. Eu sempre me metia em minhas próprias fórmulas, listas de exercícios, tentando encontrar soluções práticas para tudo, mas nada disso parecia funcionar quando o assunto era o meu próprio coração.
Jimin me interrompeu antes que eu pudesse terminar.
— Você só queria um atalho. — Ele disse com um sorriso, mas sem a usual provocação. — Todo mundo quer. Mas a vida não vem com manual de instruções, . Às vezes, só precisamos nos permitir viver de verdade.
— E se eu não souber como fazer isso? — Perguntei com a minha voz mais baixa, sem saber como reagir à proposta dele.
— Você vai aprender, . E eu vou te ajudar. —ele deu um beijo na minha bochecha e eu fiz uma cara de nojo devido ao suor. —A partir de hoje, eu te darei umas aulinhas de sedução.
Assim que pisei na entrada da balada, senti o peso de todas as decisões que me levaram até ali. Eu poderia estar em casa, assistindo meu documentário “Which Universe Are We In” e discutindo, juntamente com os cientistas, sobre a teoria da existência de milhares de universos, bebericando o meu vinho barato e virando algumas doses de tequila. Mas, o ambiente era completamente diferente do que eu tinha planejado.
As luzes neon dançavam pelas paredes, criando um contraste gritante com a penumbra do espaço. O som grave da música fazia o chão vibrar, e eu, por um momento, me perguntei o que exatamente estava fazendo ali.
— Eu pareço fora de lugar, né? É porque eu estou fora de lugar — falei, ajustando o vestido que, honestamente, não era nada do meu estilo. Quando Jimin foi me buscar, ficou incrédulo ao ver que eu usaria meus jeans casuais, uma blusa preta básica e um coturno de salto —o que eu já considerava demais pra mim. Não deu outra. Em menos de 15 minutos, Park voltou com um vestido que ia acima dos joelhos e, mesmo que fosse preto, quem estivesse a quilômetros de distância poderia ver o brilho daquele troço. Decidi não discutir, pois já estávamos atrasados o suficiente e, na minha teoria, quanto mais você demorar pra chegar num lugar, menos rápido você vai embora. Usei isso durante toda minha vida e, até agora, tinha dado certo.
Jimin, ao meu lado, olhou para mim com aquele sorriso metido de sempre, como se estivesse completamente em casa.
— Você está perfeita. Mas sua postura está um desastre. Ombros pra trás, queixo erguido. A primeira regra é parecer que você pertence ao lugar. Isso dá confiança —Jimin ajustou minha coluna e eu posso quase ter certeza que senti estralar, pelo menos, umas três vezes. Tentei manter meu queixo erguido e Jimin deu um sorriso satisfeito.
— Você está inventando isso, né? — retruquei, enquanto ele me guiava com leveza em direção ao bar.
— Talvez, mas funciona. Confie em mim.
Respirei fundo e tentei seguir o conselho. Não era fácil. O salto parecia mais uma arma medieval de tortura, e o vestido... bem, ele revelava mais pele do que eu achava socialmente aceitável. Meus cabelos longos e soltos em ondas me incomodavam. Mas, de alguma forma, estar com Jimin me fazia sentir que eu não precisava me preocupar tanto.
— Certo, estamos aqui. Qual é o plano, mestre da sedução? — perguntei, encostando no balcão enquanto ele chamava a atenção do bartender com um simples movimento de cabeça.
— Primeiro, você vai relaxar. Nada de pensar no Eunwoo ou em quem está olhando pra você. Essa noite é sua. E, segundo... — Ele me entregou um copo de algo brilhante e com um tom avermelhado. — Você vai beber isso e parar de complicar tudo. Bom, é meio que automático, na verdade. Quando você bebe algumas brincadeiras dessas, meio que a vida fica mais leve, entende?
— O que merda é isso, Jimin? Isso parece perigoso.
— É só um cosmopolitan, Curie. Confia no processo. —revirei os olhos pelo o outro apelido, mas levei o copo aos lábios. O gosto doce e cítrico desceu melhor do que eu esperava, e, pela primeira vez naquela noite, me permiti respirar um pouco mais tranquila.
— Agora, me diga, . O que você vê? — Ele apontou para a pista de dança.
Olhei na direção que ele indicava e vi um grupo de pessoas rindo, dançando sem preocupação uma música de letras duvidosas, como se o resto do mundo simplesmente não existisse.
— Vejo pessoas se divertindo.
— Exato. E sabe o que elas têm em comum?
Dei de ombros, tomando mais um gole.
— Elas não estão nem aí. Não se preocupam se estão dançando certo ou se alguém acha que elas deviam estar em outro lugar. Elas só estão vivendo o momento. É isso que eu quero que você aprenda, primordialmente.
— Jimin, eu sou péssima nisso.
— E é por isso que você tem o melhor professor do mundo. Agora, vamos dançar.
Antes que eu pudesse protestar, ele segurou minha mão e me puxou para a pista.
— Espera, seu panaca! Eu não sei dançar! — exclamei, minha voz quase se perdendo na batida da música.
— Ótimo. Então ninguém vai reparar quando você errar. — Ele piscou, e, por alguma razão, isso me fez rir.
A música pulsava no meu peito enquanto Jimin me arrastava para o meio da pista de dança. Eu já sentia o calor das luzes piscando, misturado com o leve efeito do cosmopolitan, que, honestamente, era mais forte do que eu esperava. Na verdade, para ser sincera, eu não estava acostumada com nenhuma bebida que ultrapassasse 3.000 wons.
— Jimin, sério, eu sou uma negação. — falei, tentando não tropeçar no próprio pé enquanto ele parava bem no centro da pista.
— O primeiro passo é admitir que não sabe. O segundo é me deixar te guiar.
Antes que eu pudesse dizer algo, ele deslizou as mãos até minha cintura, me puxando um pouco mais perto. Senti uma corrente elétrica passar pela minha espinha e engoli em seco. Quando as mãos daquele canalha haviam ficado tão firmes?
— O que você está fazendo? — perguntei com um toque de nervosismo. Se eu estivesse completamente sóbria, já teria dado meus sorrisos estranhos umas 10x.
— Calma, . É só dança. Confia em mim.
Ele começou a mover o corpo no ritmo da música com seus olhos fixos nos meus. Era impossível não perceber como ele parecia estar completamente no controle com cada movimento fluindo com naturalidade. Aquilo era excitante pra porra.
Eu, por outro lado, me sentia dura como uma estátua.
—Relaxa os ombros. — Ele murmurou, inclinando a cabeça para o lado e tirando uma mecha de cabelo do meu pescoço suado, o que fez com que eu sentisse uma brisa gélida no local.
— Eu tô tentando!
— Não tenta, só faz. Fecha os olhos se precisar. Sente a música.
Respirei fundo e fechei os olhos por um instante. A batida grave da música preenchia meus ouvidos, e, aos poucos, comecei a me mover com ele. Não era perfeito, mas era um começo.
— Tá vendo? Bem melhor. Agora, tenta isso.
De repente, ele girou meu corpo levemente, me fazendo soltar uma risada surpresa. Quando voltei para frente dele, estávamos ainda mais próximos com os nossos rostos separados por apenas alguns centímetros. Travei na hora e pude observar um sorriso de Jimin.
—Agora é a hora que eu entro com minhas aulas. —Jimin falou no meu ouvido, fazendo eu me arrepiar. —A sua confiança começa no seu olhar, .
Eu pisquei, tentando recuperar o controle que, claramente, estava escapando por entre meus dedos.
— Meu... olhar? — perguntei, hesitante.
— Exato. — Ele parou de dançar por um momento, ainda mantendo suas mãos firmes em minha cintura. — Quando você olha para alguém, especialmente alguém que você quer impressionar, o segredo não é só encarar por encarar. Se fizer isso, pode parecer uma serial killer. É usar o olhar certo, no momento certo.
Eu inclinei a cabeça, desconfiada.
— Jimin, isso tá começando a parecer as aulas de teatro que tínhamos no primário.
Ele riu, me girando mais uma vez antes de me puxar de volta para perto.
— Confia em mim, Einstein. Isso funciona.
— Ok, professor. O que eu faço, então?
Ele aproximou o rosto, diminuindo ainda mais a distância entre nós, até que eu pudesse sentir a respiração dele contra minha pele.
— O segredo é o olhar triangular. Você já ouviu falar?
Neguei com a cabeça, tentando não parecer tão desconfortável com a proximidade. Na verdade, o cheiro cítrico do perfume de Jimin estava fazendo com que eu perdesse a concentração aos poucos. Suspirei e umedeci os lábios.
— É simples. Primeiro, você olha diretamente nos olhos da pessoa. Mantenha o contato visual por alguns segundos, como se estivesse tentando decifrar o que eles estão pensando. Depois, desvie sutilmente para os lábios. Nada muito óbvio, só o suficiente para mostrar interesse. E então, volta para os olhos.
— Isso parece... complicado demais. — murmurei, sentindo minhas bochechas esquentarem.
— É técnico, mas eficaz. Aqui, eu te mostro.
Antes que eu pudesse protestar, ele inclinou o rosto levemente, como se estivesse prestes a fazer uma demonstração. Os olhos dele se fixaram nos meus, intensos e penetrantes, de uma forma que me fez esquecer como respirar por um segundo. Então, ele desviou o olhar para meus lábios, tão rapidamente que parecia quase imperceptível, mas o suficiente para me deixar ainda mais desconcertada. E, em seguida, voltou para meus olhos, com um sorriso pequeno e confiante.
Puta que pariu.
— Viu? Isso cria uma conexão massa. Faz a outra pessoa sentir que você está prestando atenção nela de verdade.
Eu engoli em seco, tentando processar o que acabara de acontecer.
— Tá, mas e se eu fizer isso e começar a rir no meio? Porque, né, sou desastrada assim.
Ele riu novamente, deslizando os dedos pela minha cintura como se quisesse me manter firme ali.
— Então você tem que treinar, . Faz parte. Tente ser uma pessoa mais séria, mas sem perder o carisma. Evite sorrisos sem motivos. Se tem uma coisa que eu sei sobre você é que, quando você se dedica a algo, você arrasa.
Eu bufei, tentando parecer irritada, mas a verdade era que ele tinha razão.
— Ok, Einstein do caos, agora pratica comigo. Vamos lá, só pra treinar.
— O quê? Aqui? Agora? Com você?
— Sim. Ou vai querer fazer isso diretamente com o Eunwoo sem preparação nenhuma?
Soltei um suspiro dramático, mas decidi tentar. Meus olhos encontraram os dele, e eu segui as instruções, ainda que hesitante.
Olhos, lábios, olhos.
Acontece que, ao desviar o olhar para os lábios carnudos dele, senti uma estranha compulsão de morder os meus próprios, como se a ação ajudasse a colocar em prática o que ele estava me ensinando. Caí em desespero interno assim que me dei conta da idiotice que fiz.
O olhar de Jimin, que antes estava atento, ficou mais intenso. Ele viu o movimento, e o sorriso dele, ao contrário de antes, ganhou uma pontada de desafio.
— Você gosta de fazer isso? Morder os lábios assim?
Eu senti meu rosto corar instantaneamente.
— O quê? Não... Claro que não. Eu...
— Ei, foi ótimo pra sua primeira vez. — Ele falou sem o tom de brincadeira que costumava usar. — Quando você faz isso, é como se estivesse dizendo que quer ser mais ousada. Que está permitindo o desejo de algo mais. Isso é... delicioso.
Ele sorriu novamente com a merda daquele sorriso que estava me desconcertando por completo, e eu não sabia mais se estava aprendendo ou sendo testada.
— Mais uma vez. Dessa vez, com mais confiança.
Rolei os olhos, mas obedeci. E, dessa vez, talvez — só talvez — tenha sentido um pouco mais do que deveria ao encontrar o olhar dele.
— Perfeito! —ele deu um sorriso satisfeito —E agora? O que fazemos? A noite é nossa.
— Agora, eu preciso de mais uma bebida.
“Acredito que o desejo é o que nos mantém vivos. Como uma chama que nunca se apaga, mas se consome.”
F. Scott Fitzgerald, no romance O Grande Gatsby
F. Scott Fitzgerald, no romance O Grande Gatsby
Acordei com a cabeça pesada, como se uma ninhada de elefantes estivessem fazendo um imenso ménage no interior da minha mente. Minha boca estava seca e eu sentia um amargor mais intenso a cada momento que eu movimentava minha língua no céu da boca.
Merda, quando foi a última vez que bebi daquele jeito?
Eu e Jimin começamos no Cosmopolitan e terminamos a noite bebendo soju no meu apartamento, logo após meu desastre em chegar em um dos garçons para tentar seduzi-lo e derrubar todo o meu drink na camiseta branca dele. Dessa vez, a culpa não foi do meu desastre com relações. Foi o álcool que fez o trabalho pesado por mim. Eu já estava completamente bêbada e sem um pingo de noção sobre o que estava acontecendo ao meu redor.
E que sensação boa...
Por um segundo, eu me desvencilhei das obrigações, do medo de agradar pessoas e, até mesmo, da cara feia que o coitado do garçom bonito fez para mim, mesmo que ele tenha me xingado bastante coisas que eu nem entendi direito. No fim, foi uma noite a qual eu não me importei.
Mas como toda ação impensada e irresponsável, agora, no sábado de manhã, eu estava pagando o preço com a vida. Minha cabeça parecia uma panela de pressão prestes a explodir. Cada som dos passarinhos idiotas felizes ou cada movimento, me deixava tonta e desconfortável.
Eu nunca mais quero ver soju na minha vida.
Enquanto eu tentava lembrar dos eventos da noite anterior, ainda de olhos fechados, a imagem de Jimin surgia na minha mente, e com ela, a lembrança das suas aulas quase absurdas. Eu sempre soube que Park era um galanteador entre as mulheres. Desde o colegial, era acostumada a ver as garotas caindo de quatro por ele, tudo isso porque ele sempre teve um charme que era impossível de lidar. Rebusquei nos meus pensamentos tudo o que havia aprendido na noite anterior: postura, mostrar pertencimento ao lugar, andar confiante, dançar sem se importar, exalar sensualidade sempre que puder, o tal do olhar triangular e tentar não beber muito —essa eu fiz questão de desobedecer, mesmo quando ele, levemente bêbado, pediu para que eu não exagerasse porque poderia colocar tudo a perder.
Mas eu não estava preocupada com isso naquele momento. O que realmente me deixava pensando era o resto das suas lições. Ele, realmente, estava disposto a me ajudar com aquilo, mesmo que não fosse sua obrigação.
Mas, em que aquilo iria resultar?
Eu conhecia Jimin desde sempre, e ainda assim ele parecia ser a pessoa que mais sabia sobre mim. Ele não só me via de uma forma que ninguém mais via, mas ele acreditava em algo que eu mal conseguia acreditar em mim mesma. Ele dizia que eu tinha muito mais a oferecer do que eu imaginava, que só faltava me permitir ser... mais. Mas seria isso realmente possível? Ou ele só estava me empurrando para um caminho que não era meu?
E, acima de tudo, o que isso significaria para nós dois? Eu não sabia se estava preparada para explorar esse tipo de mudança, esse tipo de desafio. Jimin era meu amigo e claro que em algum momento da minha adolescência, eu tive uma queda rápida por ele, afinal, foi com ele que tive meu primeiro beijo. Normal dos hormônios da puberdade —que me traíram com uma leve paixonite depois. Mas, à medida que ele me guiava ontem, me tornava cada vez mais difícil manter a linha entre o que era amizade e o que poderia ser algo mais. Ele estava me levando para um lugar onde as fronteiras entre o que eu sentia e o que ele queria que eu fosse poderiam estar começando a se dissolver. E eu, sem saber muito bem como reagir, só podia me perguntar: Onde tudo isso nos levaria?
O barulho da campainha foi a única coisa que quebrou o silêncio pesado do meu quarto, e eu sabia exatamente quem estava ali.
Jimin fez o favor de dizer que estaria aqui para darmos continuidade nas aulinhas. Mesmo que para isso fosse necessário me retirar da cama.
Com dificuldade, levantei da cama com os pés pesados, me arrastando até a porta. Respirei fundo para não vomitar com o movimento que, embora fosse lento, pra minhas condições tinha sido demais. Quando abri, Jimin estava lá, com um sorriso malicioso e um olhar de quem sabia que eu estava à beira da morte.
— Boa tarde, ! Como está a ressaca? —apenas o fuzilei com o olhar e logo ele deu um sorriso —Calma, . Eu trouxe sopa de algas. Não quero ninguém vomitando só porque não se alimentou.
— A última coisa que eu quero agora é sopa de algas, Jimin. — Respondi com a voz rouca e cansada. — Eu só quero morrer em paz.
—Você até pode morrer, mas vai morrer com a barriguinha cheia. O que sua mãe diria para mim se eu deixasse você definhar em álcool e fome, huh? Sabe que eu sou preferido dela. Você tem que comer ou farei questão de mandar uns vídeos da noite anterior.
Olhei para ele, tentando não demonstrar a irritação que estava se acumulando. O filho da puta sempre teve a mania de gravar vídeos e usá-los contra mim, depois. Ele era irritante, mas também... incrivelmente fofo quando queria ser.
—Eu só vou comer porque eu sei o quanto você é insistente. E apague todas essas merdas, se não corto sua cabeça fora. E não estou falando da de cima. —fomos até a cozinha enquanto Jimin dava pulinhos de vitória, ignorando completamente os meus comentários. Ele, perfeitamente acostumado com a minha casa, nos serviu e logo estávamos tomando a sopa que, aparentemente, iria me ajudar a curar a ressaca. —O que está fazendo aqui, afinal?
—Temos uma missão importantíssima pra hoje. Se você tivesse acordado mais cedo, talvez não perdêssemos muito tempo, mas a senhora bela adormecida como sempre é um problema, né? —Jimin tomou um pouco da sopa me olhando com uma reprovação de brincadeira.
—O que você quer de mim, Park Jimin?
—Shopping. Compras. Mudança de visual. — Ele disse com um sorriso travesso, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Por outro lado, eu quase engasguei com a sopa, sentindo minha cabeça rodar só com a ideia de sair do meu aposento.
— Não. Não, não e não. Eu mal consigo pensar direito e você quer me arrastar para o shopping? — Fiz um gesto dramático com as mãos, como se o simples pensamento de sair de casa fosse um sacrifício. E era.
— Ah, não vai ser tão ruim. Vai ser divertido! Você vai sair de lá não só com a ressaca aliviada, mas também com um visual mais... sedutor. — Jimin deu um sorriso malicioso, claramente empolgado com a ideia.
— Você vai me transformar em algo que eu não sou, Jimin... Não tenho paciência pra isso. — Protestei, apesar de saber que, no fundo, ele estava certo.
— Claro que não! — Ele respondeu rapidamente, levantando as mãos em sinal de rendição. — Só quero te dar um empurrãozinho. Não precisa ser uma super versão nova de você mesma, apenas uma versão mais confiante. E, sinceramente, você vai adorar o resultado. Eu já arquitetei tudo.Vai, pensa comigo, como acha que alguém vai sentir atração por alguém que só usa jeans surrados, camisetas com frases esquisitas e coturnos pra lá de velhos? Sem se falar nos cabelos...
—Tá, já entendi! Você odeia meus looks, ok. — retribuí com um suspiro, jogando a cabeça para trás em desespero.
—Não, eu não odeio. Eu te acho linda, pra ser sincero. Mas, também acho que você tem um potencial pra derrubar todas aquelas barangas da universidade com bem menos. E ainda acho que você tem que aproveitar essa beleza estrangeira sua. As vezes, a gente precisa de um pouco de ajuda pra enxergar o próprio brilho.
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras, e de repente, uma parte de mim estava considerando. Talvez eu estivesse, sim, escondendo algo em mim, tentando não me arriscar por medo de falhar ou parecer superficial.
— Ok, ok... você venceu. Mas eu ainda vou odiar essa mudança. — Falei, resignada, mas sentindo uma pequena faísca de curiosidade crescer dentro de mim.
Jimin sorriu de maneira vitoriosa.
— Eu sabia que você ia ceder. Agora, vamos lá. Temos um estilo novo pra conquistar.
— Então, o que você quer exatamente? — A cabeleireira perguntou com uma expressão neutra, como se estivesse acostumada a ouvir de tudo.
—Er...—murmurei completamente perdida, observando meu reflexo no espelho.
O que eu queria?
Minha cama. Paz. Solidão.
—Quero que realce a beleza dos olhos dela com algumas mechas. Nada muito exagerado, claro. Algo mais sutil, leve. —Jimin falou, olhando fixamente em meus olhos. Eu olhei para Park, surpresa pela forma como ele parecia saber exatamente o que queria e, por mais que fosse maluco simplesmente deixar aquela decisão nas mãos do meu amigo, eu confiava nele até de olhos fechados. Ele sempre tinha esse dom de perceber coisas que eu não conseguia ver em mim mesma, desde muito pequeno. A cabeleireira, percebendo que a decisão já estava sendo tomada, começou a preparar os produtos com uma eficiência admirável.
—Você vai ficar linda! —ele suspirou dando um sorriso genuíno —Enquanto você fica por aqui, eu vou procurar roupas. Novos looks. Quando você terminar, temos uma missão mais interessante. Acho que você vai gostar.
— Ah, missão interessante? — perguntei, entrando em um clima mais animado— O que você quer dizer com isso?
Jimin apenas deu um sorriso misterioso, aquele tipo de sorriso que eu já sabia que significava algo que eu provavelmente não estava pronta para ouvir.
— Confiança, . Isso tudo é sobre você ver o que pode ser, não o que você acha que é.
Eu o observei sair do salão com seus passos confiantes ecoando pelo ambiente enquanto ele desaparecia pela porta.
Eu só sabia de uma coisa: aquela não era mais uma simples mudança de visual. Era algo maior. Algo que envolvia me enfrentar.
E eu nunca deixei os desafios me vencerem.
A cabeleireira finalizou os últimos toques, retirando a capa que cobria meus ombros e permitindo que eu me visse no espelho pela primeira vez. Eu estiquei o pescoço para olhar meu reflexo, surpresa com o que via. As mechas delicadas iluminavam meu rosto de uma maneira suave, realçando os meus olhos de um jeito que eu nunca imaginei ser possível. Exatamente com Jimin pediu. Eu estava... bonita. Não só no sentido de “ok”, mas realmente bonita. Algo em mim estava mais leve, mais atraente, e por um breve momento, esqueci o medo da mudança que me atormentava.
Eu dei uma risada baixinha, quase sem acreditar. Como algo tão simples, tipo mudar um pouco o cabelo, podia ter esse efeito? Olhei para a cabeleireira que sorriu, claramente satisfeita com o resultado. Eu não tinha palavras, apenas um sorriso meio bobo que apareceu sem que eu percebesse.
— Muito obrigada. Eu adorei! — eu disse, ainda sentindo uma sensação boa no peito.
Quando me virei para pegar minha bolsa, a porta do salão se abriu, e lá estava ele. Jimin. Cheio de sacolas nas mãos e com aquele sorriso de quem sabia que tinha acertado em cheio. Isso vai ser ótimo pro ego dele.
— Uau. — ele disse, a boca entreaberta de surpresa e aprovação. — Eu sabia que o cabelo ia ficar incrível, mas você... você ficou ainda mais linda do que eu imaginava.
Eu senti um calor subir pela minha pele, um pouco tímida com o elogio.
— Obrigada, Jimin. Eu... — parei por um momento e suspirei— Eu realmente não esperava que fosse ficar assim.
—Eu sabia que isso iria realçar os seus olhos. Eles são brilhantes e... —ele engoliu em seco e mordeu o lábio inferior —você tá linda, é isso.
Sorri mais uma vez e realizei o pagamento, enquanto observava meu reflexo pelo espelho. Não demorou muito para que saíssemos pela porta do salão.
—E essas sacolas aí, hein? —perguntei curiosa, observando as marcas de griff.
—Ah, são todas suas —Jimin disse simplesmente e eu arregalei os olhos —São presentes meus, sua bobinha.
Eu fiquei sem palavras por um segundo, tentando entender o que ele tinha acabado de fazer. Ele realmente tinha ido a um shopping inteiro e comprado tudo aquilo para mim?
— Você não está... — comecei a dizer, ainda chocada. — Não precisava disso, Jimin!
— Precisava sim. — Ele deu de ombros, com aquele sorriso de sempre. — Você merece. Não é todo dia que alguém consegue tirar você dessa zona de conforto. Leve como um bônus por estar dando uma mudada e deixando seu amigo muito feliz. —Jimin passou os braços pelos meus ombros e eu quase fiquei estática com o contato repentino. Aproximou a boca do meu ouvido, fazendo eu xingá-lo por eu estar completamente arrepiada. —Mas falta uma coisa. Essa eu preciso que você esteja presente.
O olhei e nossas bocas ficaram próximas demais. Sem pensar, apliquei o que aprendi a noite anterior.
Olhos, boca, olhos.
Umedeci meus lábios e pude ver um sorriso malicioso de Park Jimin.
—Você aprende mais rápido que eu imaginava. —ele deu um sorriso e me direcionou para uma loja grande, toda em preto e luxuosa com um letreiro brilhante: Desires.
—O que é isso? —sussurrei para o meu amigo que sorria ladino, já falando com uma atendente.
—Boa tarde! Gostaria de ver as lingeries mais sensuais que vocês têm disponíveis —Jimin falou e eu arregalei os olhos, sem acreditar. —Não acha que sairia daqui sem uma lingerie né, ?
Eu só consegui abrir a boca, mas nada saiu. Jimin estava completamente à vontade, como se fosse algo super normal. E, de fato, ele parecia estar se divertindo com minha reação.
— Você está brincando, né? — murmurei, tentando recuperar a compostura.
— Não, não estou. — Ele se virou para mim, com o sorriso mais divertido do mundo. — Você tem que se sentir sexy e desejada, . E, para isso, o primeiro passo é começar por baixo.
A atendente apareceu com uma seleção de lingeries sofisticadas, em seda e rendas, e eu não sabia se devia rir ou me esconder. Era a última coisa que eu esperava, mas, por mais desconfortável que fosse, alguma parte de mim começava a achar a ideia... interessante.
—Caso você queira provar, temos um espaço reservado no primeiro andar. —ela direcionou o olhar para o meu amigo —Você pode acompanhá-la, caso se sinta confortável. Há uma salinha só para vocês dois.
Mordi o lábio inferior, segurando o riso. O que era aquilo? A porra de um bordel?
Sem perder muito tempo, selecionei algumas cores que me chamaram atenção, enquanto Jimin passeava pela loja, olhando curioso cada um dos elementos. Na física, as cores quentes como o vermelho, laranja e amarelo representam comprimentos de onda mais curtos, intensos, como se estivessem carregadas de energia. De certa forma, as colorações vibrantes das lingeries me fizeram querer ter a sensação de estar perto de algo ou alguém, que fosse intenso o suficiente para me aquecer, sem nem mesmo tocar.
Sorri com meu pensamento e chamei meu amigo com um assobio, enquanto éramos direcionados para o primeiro andar. Por um segundo, senti Jimin inquieto, como se estivesse ansioso.
Eu também estava. Digamos que não acordei achando que, em algum momento do dia, eu iria provar lingeries na frente do meu melhor amigo. O pior de tudo é que, por mais absurdo que fosse, uma parte de mim sentia uma curiosidade crescente. Talvez fosse a ideia de me ver diferente, de sair do meu casulo e tentar algo novo, como Jimin dizia. Mas, era inegável que, outra parte de mim queria simplesmente correr para o banheiro e me esconder lá até que esse pesadelo passasse. Mas não tinha como. Já me sentia envolvida demais. Aquele espaço não estava mais parecendo uma loja de roupas íntimas, e sim um cenário de filme que eu nunca pensei que fosse protagonizar.
Chegamos na pequena salinha e a atendente me direcionou para o vestiário. Coloquei as lingeries em um pequeno cabide, observando cada detalhe.
—Bom, eu estarei no andar de baixo para deixar vocês a vontade. Caso você tenha dúvidas, você pode apertar esse botão verde no smartphone e aí logo estarei aqui. Tenha um bom momento. —ela se curvou e eu sorri, agradecida pelo atendimento.
Tudo parecia tão... inusitado. Não era como se eu tivesse o hábito de usar esse tipo de roupa, mas de alguma forma, naquele momento, o cenário parecia me desafiar.
Suspirei e, com um último olhar para a porta, fui até o espelho. As peças escolhidas eram de seda, rendas finas e cores ousadas. Nunca imaginei que algo tão simples pudesse fazer meu coração disparar de nervoso, mas aqui estava eu, prestes a provar isso tudo. Iniciei por uma lingerie preta com body consert de renda que delineava perfeitamente minhas curvas, além de colocar um maior volume nos meus seios. Joguei os cabelos para o lado e sorri com o resultado.
Pela primeira vez eu me sentia uma grande gostosa.
O espelho refletia uma versão de mim que eu quase não reconhecia. Eu olhava para o meu corpo com uma mistura de surpresa e... prazer. O contraste da renda preta com a minha pele, o jeito como o tecido delineava minhas curvas e realçava meus seios... Eu me senti poderosa de uma forma que nunca havia sentido antes. Um sorriso meio tímido apareceu no meu rosto, mas logo se transformou em algo mais atrevido.
Fechei os olhos por um momento, me perdendo nesse novo olhar sobre mim mesma, e então dei um passo à frente, me aproximando da porta. Jimin, do outro lado, nem fazia ideia do que estava por vir.
Ao sair do vestiário e dar os primeiros passos na direção dele, pude perceber um pequeno tremor em minhas mãos. Mas, ao mesmo tempo, estava empoderada. E que sensação do caralho! Quando ele me viu, o sorriso que estava em seu rosto desapareceu por um segundo, e eu vi a expressão dele mudar. Ele parou de falar. O ar pareceu ficar mais denso, e os olhos dele... bem, ele definitivamente não estava esperando isso.
— ... — Ele sussurrou quase sem fôlego com seus olhos ampliando em surpresa.
Eu me aproximei mais ainda, parando bem na sua frente, e pude ver o leve rubor se espalhando pelas bochechas dele. Ele parecia perdido, como se tivesse esquecido de como respirar por um momento.
— O que acha? — perguntei, quase com um sorriso desafiador, sabendo exatamente o que ele estava sentindo.
Ele demorou um pouco para responder.
— Você... está... Caralho, ! —ele procurou ar nos pulmões —Você está gostosa!
—Você gostou dessa cor? É a minha preferida. —dei uma virada para que ele pudesse olhar pra minha bunda perfeitamente delineada na lingerie.
—Preto não falha nunca. Arrisco dizer que ela me excita pra caralho, mas quero ver as outras cores também —o olhar de Jimin exprimia uma infinidade de coisas quase impossíveis de decifrar. Prazer, desejo, luxuria...
E eu me sentia estranhamente excitada pelos olhos do meu amigo.
Voltei para o vestuário e troquei a lingerie por uma vermelha toda em renda com modelagem de tiras e cinta liga com persex de tule. Me sentia a própria dona do Moulin Rouge!
Eu me virei para o espelho, admirando cada detalhe, sentindo-me audaciosa e... irresistível.
Antes que eu pudesse conter um sorriso bobo ou dar pulinhos de alegria, dois toques leves na porta me despertaram. Antes mesmo de eu responder, Jimin entrou, sem cerimônia.
Seus olhos escanearam cada detalhe da lingerie, e ele engoliu em seco. Por um momento, pensei que ele fosse dizer algo sério, mas, claro, ele abriu aquele sorriso malicioso que só ele sabia fazer.
— Vermelho, huh? — Ele se aproximou lentamente, com as mãos nos bolsos e o olhar fixo. — Você sabia que essa é a cor do desejo?
Eu arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços de leve enquanto ele continuava. Claro que eu sabia muita coisa sobre os efeitos das cores, mas estava adorando vê-lo falar.
— É. O vermelho é como um imã. Ele grita "olhe para mim" sem precisar dizer nada. Você é como um incêndio agora. Não tem como ignorar. — Ele deu um passo mais perto, inclinando-se um pouco para me observar mais de perto. — Mas sabe o que é engraçado? Eu poderia te falar milhares de coisas sobre como despertar o desejo nas pessoas, estando gostosa pra caralho, mas nada adiantaria, porque o desejo, ele não se ensina...se descobre.
Eu senti meu coração acelerar com aquelas palavras, porque ele as disse de uma forma que parecia muito mais do que uma simples observação. Era como se ele estivesse me ensinando algo, mas também aprendendo ao mesmo tempo.
— E como se descobre? — perguntei, com a voz mais baixa do que o normal, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.
Ele riu suavemente, inclinando a cabeça.
— Primeiro, você precisa aprender a controlar o ambiente ao seu redor. A sedução não é sobre o que você veste, mas sobre como você se comporta. Não é sobre mostrar tudo, mas sobre o que você deixa para ser descoberto. É o mistério, . O mistério excita. É como você olha para alguém, como se tivesse um segredo que só você conhece.
Ele se aproximou mais um passo, e por um momento, eu não sabia se ele estava brincando ou falando sério.
— É sobre os gestos sutis. Um toque no cabelo, um olhar que dura um segundo a mais do que o normal... Ou — ele parou, inclinando-se ligeiramente para o lado — apenas se sentir bem consigo mesma. Porque, no final, a sedução começa aqui. — Ele tocou de leve a lateral da minha cabeça e depois meu coração.
— Certo, professor. Acho que entendi a lição, mas penso que vou precisar de algumas aulas práticas.
—Bom, isso não é um problema pra mim. Nunca será.
"Aproximou-se e beijou-a,
e foi como se a boca dele
a desvendasse pouco a pouco."
(Clarice Lispector,
no livro “Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”)
e foi como se a boca dele
a desvendasse pouco a pouco."
(Clarice Lispector,
no livro “Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”)
Mudança é algo que sempre me assustou. Sempre. Quando eu era criança, lembro que meus pais falavam sobre ela com muito entusiasmo, como se fosse a chave para um futuro brilhante. Eu me recordo de chorar quando mudávamos de casa, de olhar para os móveis empacotados, como se aquelas paredes fossem os únicos refúgios que eu conhecia. Quando tudo mudava, a familiaridade se tornava uma lembrança distante, e eu me via perdida, procurando algo estável, algo que me ancorasse. Não é como se eu fosse uma super apreciadora da zona de conforto. Não, longe disso. Eu sei que a estagnação é o verdadeiro inimigo do crescimento, e que ficar parada em um lugar seguro pode ser uma forma de me privar de tudo o que poderia ser.
Mas, mudar, mesmo que premeditado, assusta. E era exatamente assim que eu estava me sentindo desde que Jimin decidiu me ajudar com essas tais aulas. Ele realmente estava crente que eu precisava de uma transformação, que, de alguma forma, minha vida estava em pausa, esperando por um empurrãozinho.
Eu estava assustada. Claro que estava. Cada novo começo, por mais desejado que seja, traz consigo a sombra do que deixamos para trás.
Sentia-me um pouco incomodada com a nova roupa que, com muito jogo de palavras, Jimin me convenceu a usar. "É só um detalhe, vai ser só um toque de ousadia", foram algumas das palavras do desgraçado quando me fez provar cada peça que ele havia comprado, enquanto eu estava quase sem reconhecer quem estava na frente do espelho. O vestido vermelho, justo, que ele escolheu para essa noite, era mais revelador do que eu tinha imaginado. Eu me sentia mais para "desastrada tentando ser sexy" do que "misteriosa e irresistível", mas Jimin parecia achar que eu estava prestes a ganhar um Oscar de performance.
Eu até tentei dar a merda de um giro dramático a pedido do meu amigo, como aquelas mulheres de filmes, mas o único som que veio foi o estalo do salto quebrando. Um completo desastre. Ele desistiu de mim por alguns segundos e eu não o culpava. Depois, ele decidiu que era hora de sairmos para colocar mais algumas aulas em prática. Porque, na cabeça do canalha, uma mulher bonita nunca deve perder um sábado à noite — especialmente se isso significar colocar em ação todo o "potencial sedutor" que ele jurava ter me ajudado a descobrir.
Quando entramos no bar, senti como se o mundo tivesse parado por um minuto. O vestido justo abraçava minhas curvas como uma segunda pele, e o salto fazia um leve eco no piso de madeira enquanto eu caminhava ao lado de Jimin. O pinicar da lingerie, lá embaixo do vestido, me fazia questionar como as mulheres tinham coragem de usar aquilo em momentos mais íntimos. Sério, é um desconforto do cacete. Mas, por mais que eu tentasse desviar o foco, não podia negar: pela primeira vez em muito tempo, não só me sentia bonita — me sentia desejável.
No fim, mudar não estava sendo completamente ruim. Apesar do desconforto da roupa, da constante sensação de estar dando passos de dança que ainda não sabia coreografar, algo dentro de mim estava se ajustando aos poucos. Talvez fosse a ideia de que a mudança não precisa ser um monstro de sete cabeças, mas apenas uma nova maneira de se olhar no espelho. Havia uma sensação –estranhamente boa– de liberdade para um mundo que, até então, eu tinha mantido à distância.
Jimin era um desgraçado muito convincente. Talvez esse seja o motivo que as mulheres caem no papinho dele tão rápido. Ele realmente sabia como manter o controle — e isso eu percebi depois do nosso momento no vestuário da loja. Eu não queria sair, até porque meu estômago ainda estava fraco demais devido à noite anterior. Mas, Park garantiu que era somente uma “saída pedagógica” para que percebêssemos que as aulas estavam dando certo.
— Acho que você finalmente entendeu o que eu quis dizer com "aproveite seu potencial". — Ele piscou me fazendo revirar os olhos, mas o calor subindo para as minhas bochechas denunciava o quanto aquelas palavras me atingiram. Não era a primeira vez naquele dia que meu amigo me deixava tímida. —Está muito gata. Arrisco dizer que é a mais gostosa desse lugar aqui.
Revirei os olhos por conta do exagero.
—E será que você pode parar com os elogios tão explícitos?
—Por que? Você não gosta? —ele deu um sorriso malicioso.
—Não é isso —senti a mão dele na minha cintura, direcionando-me pelo bar —Eu apenas não estou acostumada.
—Ótimo, então estou aqui para acostumar você —Jimin piscou e eu revirei os olhos, mais uma vez. —, quando um homem elogiar você, por favor, deixe acontecer.
— Deixar acontecer? — arqueei uma sobrancelha. — E se for um elogio ridículo? Tipo “você tem um sorriso tão lindo que devia ser ilegal”?
— Nesse caso, você ri e segue em frente — ele respondeu, como se estivesse ensinando uma regra básica da vida. — Mas se for um elogio bem feito, algo como “você é a mulher mais deslumbrante desse lugar”, então, minha cara aluna, você simplesmente aceita, sorri e, no máximo, solta um “eu sei”.
— “Eu sei”?! — olhei para ele incrédula. — Você quer que eu pareça convencida?
— Não convencida, confiante — ele corrigiu, me puxando para o balcão do bar. — Tem uma diferença enorme. Convencida soa como quem precisa provar algo. Confiante é quem já sabe que é incrível e não tem problema em admitir.
—Acho que você está andando demais com aqueles idiotas da atlética da universidade.
Ele deu uma gargalhada.
— Você acha que eu nasci sabendo flertar? — ele riu, estreitando os olhos e pediu dois drinks apenas com um aceno de mãos. —Confiança, Einstein do caos, é prática.
Dei um sorriso. Não podia negar: eu estava me divertindo com aquilo. Havia algo reconfortante na maneira como Jimin conduzia tudo, como se o flerte fosse um jogo no qual ele já conhecia todas as regras — e eu, uma novata desajeitada, só precisava segui-lo. Ele me fazia rir, me fazia sentir menos ridícula naquele vestido justo e, acima de tudo, me fazia esquecer, ainda que por alguns momentos, do peso que eu costumava carregar nos ombros.
Olhei ao redor, sentindo-me acolhida pelo local. O bar tinha uma iluminação baixa, quase que sensual, com uma música de jazz sendo tocada, delicadamente. O tipo de ambiente que as pessoas iam para serem notadas. E, pela primeira vez, eu sentia que pertencia ao lugar.
As pessoas me olhavam um pouco curiosas e eu não podia negar que estava gostando daquilo. Era diferente de tudo o que já tinha vivido. As pessoas não costumavam me notar, no cotidiano. Não era só sobre o vestido ajustado ou o salto que fazia minha postura parecer mais altiva. Era algo dentro de mim que, magicamente, havia mudado em questão de horas. Eu não estava só ocupando o espaço; eu era o centro dele.
Os olhares curiosos passavam de rápidos a demorados, e, em vez de me sentir desconfortável, como tantas vezes no passado, havia uma parte de mim que queria sorrir, que queria manter a cabeça erguida e absorver cada segundo daquela atenção.
— Gostando da sensação? — Jimin perguntou com um sorriso de canto, enquanto ajeitava a jaqueta de forma quase teatral. Não pude deixar de notar o quanto o desgraçado estava lindo. Como sempre. Era quase irritante como ele parecia saber disso e ainda fazia questão de destacar. As peças pretas perfeitamente delineadas no corpo. Os cabelos devidamente modulados e a porra de um brinco na orelha esquerda, com um pingente de cruz, que o deixava incrivelmente sexy.
—É, eu estou gostando disso. É bom ser olhada com, sei lá, desejo? —Park umedeceu os lábios e sorriu me olhando de cima a baixo, consentindo a minha fala. Respirei fundo. Não estava acostumada com aquele tipo de olhar. Não mesmo.
— É porque, como eu já disse, você está muito gostosa.
Soltei uma risada, abaixando a cabeça, ainda tentando me acostumar com os elogios descarados dele. Mas antes que eu pudesse me esconder por muito tempo, senti o toque suave do polegar de Jimin em meu queixo, erguendo meu rosto até nossos olhares se encontrarem.
— Não é todo dia que esse lugar recebe uma beleza estrangeira como a sua, .—ele me deu olhar intenso que fez com que eu perdesse os movimentos das pernas por alguns segundos, antes dele receber os drinks e me dar um—Mas, mudando de assunto. Assim como fizemos ontem, quero que você observe as pessoas aqui. Me diz. Quem você acha que prendeu mais sua atenção?
Você. Era essa a reposta que eu queria dar, mas olhei em volta e pausei meu olhar em uma loira que gesticulava para um homem, muito bonito por sinal.
— A mulher ali. Ela parece confiante. —apontei discretamente com a cabeça, enquanto Jimin concordava.
—Você consegue ver como ela se senta em frente ao homem? — Jimin perguntou, inclinando-se ligeiramente na minha direção, como se estivesse compartilhando um segredo.
Observei a mulher com mais atenção. Ela estava relaxada, com as costas nuas levemente arqueadas, mas o suficiente para exibir postura. As pernas cruzadas e o olhar direto no homem à sua frente passavam uma mistura de confiança e interesse calculado. O sorriso dela era... quase estratégico.
— Ela parece no controle de tudo. Como se soubesse exatamente o que está fazendo — comentei, sentindo uma pontada de admiração.
Jimin sorriu, aprovando.
— Exatamente. Ela está jogando com ele. Não de forma manipuladora, mas ela sabe o impacto que tem. A gente percebe pela roupa, que parece um pouco com a sua. Um vestido vermelho é quase fatal para um homem. E olha só os pequenos gestos: tocar o cabelo, inclinar-se para frente de leve, segurar o olhar por alguns segundos. É uma aula de sedução em tempo real.
— Você acha que eu conseguiria fazer isso?
— Você já faz, . Só não percebe.
Aquilo me pegou de surpresa.
— O quê?
— Quando você ajeita o cabelo sem nem notar. Ou quando morde o lábio, distraída, enquanto pensa em algo. — Ele deu um gole no drink, antes de continuar — Você não precisa copiar ninguém, porque, quando você está confortável, você é exatamente como aquela mulher ali: natural, charmosa, e impossível de ignorar. Você só não se dá conta disso.
Eu ri nervosa, tentando processar o que ele disse e recebi um olhar repreendedor. Parei de sorrir.
Sem sorrisos desnecessários, apenas o suficiente para demonstrar carisma.
— Parece fácil na teoria.
— É fácil quando você entende o truque — ele respondeu com um sorriso de canto. — Você não precisa ser outra pessoa para seduzir alguém, . Você só precisa descobrir uma versão de si própria que seja mais irresistível. Sempre temos esse lado dentro da gente. —ele bebericou mais um pouco do drink, de forma irritantemente sexy—E você até pode mentir pra si mesma, mas o seu corpo... ele não engana.
—Como assim “o corpo não engana”? —eu arqueei uma sobrancelha, enquanto Jimin me olhava de soslaio com um sorriso malicioso, antes de se aproximar. Gelei na hora. Não sabia por que diabos aquele desgraçado estava me deixando daquele jeito.
—Vamos lá. As aulas práticas nunca serão um problema para mim, lembra? —Jimin se aproximou e eu fechei os olhos, sentindo o aroma do perfume cada vez mais próximo. — Primeiro, a sua respiração. — A voz de Park estava tão próxima que parecia um sussurro contra a minha orelha. Fiquei ofegante no mesmo momento. O que comprovava o que ele estava dizendo— Quando alguém te afeta, ela muda, mesmo que você tente disfarçar.
Inferno!
Eu não poderia ser menos previsível?
Ele deslizou a ponta dos dedos pela lateral do meu braço, devagar, quase como um teste. Meu corpo respondeu e antes mesmo que eu pudesse controlar, um arrepio subiu pela minha espinha, fazendo com que minha pele ruborizasse um pouco.
— Viu? Seu corpo já está reagindo, . — Ele sorriu, e eu abri os olhos apenas para encará-lo. Sentia meu rosto em chamas.
— Isso é reflexo, não conta! — protestei, mas minha voz saiu mais trêmula do que eu gostaria.
Ele riu baixinho, mordendo o lábio inferior e mostrando a língua sensualmente com a merda do ar presunçoso que só ele sabia ter. Antes que eu pudesse me afastar, ele passou a mão pelo meu rosto, tocando o polegar levemente no meu maxilar.
— Quando alguém toca aqui... — Ele deslizou o dedo para a base do meu pescoço, onde os batimentos cardíacos eram mais perceptíveis. — E aqui... — A ponta dos dedos percorreu meu decote do ombro até o início do braço. — Seu corpo fala por você.
Minha respiração estava presa na garganta, e cada toque parecia milimetricamente calculado para me tirar do eixo. Queria xingá-lo, mas o filho da puta estava certo.
— Você pode tentar esconder com palavras ou expressões, mas seu corpo não mente, . — Ele inclinou a cabeça com o olhar quase que hipnótico. — E a parte mais interessante disso? Quando você começa a entender como ele responde, você aprende a usá-lo a seu favor.
—E eu posso usar todas essas técnicas em qualquer momento? Sem parecer uma cadela no cio que quer dar para o primeiro que vê pela frente?
Jimin soltou um sorriso genuíno pela minha fala.
— Exatamente. O seu corpo é o seu guia. —ele bebericou o drink e eu me apressei em fazer o mesmo. Algo gelado seria ótimo para tentar amenizar as altas temperaturas que minha pele se encontrava —Agora que você sabe o básico, vamos ver como você usa. Que tal começar por aquele cara no balcão?
Travei na hora. Literalmente. Minhas pernas pareciam enraizadas no chão, e minha mente? Um grande e absoluto vazio. Se antes eu achava difícil lidar com os elogios de Jimin, agora a simples ideia de flertar de verdade parecia uma missão impossível digna de um filme de ação.
—Não dá! Não estou pronta —Park revirou os olhos e eu olhei para o balcão onde o tal rapaz estava. —O cara parece que saiu de um K-drama, Jimin! E se eu fizer uma burrada?
—Eu frequento esse lugar a anos, . O máximo que ele pode fazer é te pedir um beijo sem compromisso, o que é o básico do básico. —apertei os olhos e pude sentir um olhar incrédulo de meu amigo sobre mim. —Espera, a quanto tempo você não beija? Ou, sei lá, transa?
—Uns três anos?
— Três anos? — ele repetiu, como se precisasse confirmar que tinha ouvido direito, antes de colocar a mão na cabeça. Eu me sentia a porra de um caso sem jeito. —Isso explica tanta coisa.
— E daí? Tem gente que passa muito mais tempo que isso. —revirei meus olhos ao perceber a cara de tédio de Jimin —E explica o quê, exatamente?
— Esse nervosismo todo. Essa trava para flertar. Você tá completamente fora de prática, minha amiga. — Ele se aproximou, apoiando o cotovelo no balcão e me encarando de lado com um sorriso malicioso. — A gente precisa resolver isso. Urgente.
— Resolver? — soltei uma risada nervosa. — Você acha que isso é o quê, Jimin? Um projeto?
— Não, não um projeto. — Ele inclinou a cabeça, observando-me com aquele olhar que misturava provocação e seriedade. — É uma questão de honra. Me acompanhe.
—Espera, pra quê?
—Eu te avisei que as aulas práticas não seriam um problema para mim, . —Jimin puxou a minha mão, me direcionando para um lugar mais afastado antes de me dar uma última olhada —Eu vou te beijar.
Coreia do Sul, Busan, 2009. Inverno.
— Não posso te beijar assim do nada! — retruquei, olhando em volta, quase nervosa. A primeira neve do ano caía suavemente ao nosso redor, tingindo o cenário com um branco delicado. O frio fazia minha respiração sair em nuvens finas, e o parque da escola parecia ainda mais silencioso sob o manto gelado. Um típico começo de inverno na Coreia.
Jimin riu com o riso genuíno que sempre o fazia parecer tão despreocupado com o mundo.
— Quem disse que vai ser do nada? — Ele inclinou a cabeça, aproximando-se um pouco mais com seus olhos brilhando de uma forma que misturava charme e determinação, mesmo completamente coberto pelos apetrechos de inverno. Era uma característica clara de Park Jimin — Eu te avisei agora, não avisei?
— Você é tão convencido! — Eu tentei parecer firme, mas o calor, mesmo com tanto frio, no meu rosto me entregava completamente. Era sempre assim.
— E você é tão difícil. — Ele suspirou dramaticamente, mas o sorriso nunca deixava os lábios. —Parece essas continhas de matemática que você faz. Vai, isso vai ser bom para mim e para você.
A verdade é que eu sabia que ia acontecer. Meu coração estava martelando tão forte que, por um segundo, achei que ele também podia ouvir. Permaneci inerte. Queria acreditar que talvez fosse o efeito do frio quase congelante de Busan, mas, no fundo, eu sabia que aquele não era não o motivo. Eu não conseguia negar ou afirmar qualquer coisa. Me sentia completamente entregue quando o assunto era ele.
Jimin, ao perceber minha inércia quase como uma confirmação, se aproximou devagar com sua mão segurando meu rosto com cuidado, como se estivesse lidando com algo precioso. O toque era delicado e as mãos eram macias. Poderia permanecer pra sempre naquele espaço. Não me importaria.
Quando seus lábios tocaram os meus, foi doce e tímido, mas, ao mesmo tempo, cheio da típica ousadia que era só dele.
Meu primeiro beijo.
Nosso primeiro beijo.
Os flocos de neve caíam violentamente atrás das árvores, e, mesmo que eu não soubesse na época, aquele momento se tornaria uma memória que eu levaria comigo para sempre.
Mesmo que o “para sempre” tenha durado somente alguns segundos.
Jimin não esperou pelas minhas respostas. Depois de anos, eu fiquei inerte, novamente. Não conseguia dizer o básico: o sim ou não. E, como sempre, a minha ausência de palavras, para Park, significava que, sim, ele poderia ir adiante.
Não tinha como retrucar. E algo dentro de mim não queria impedir.
Park pegou na minha mão e apenas fui direcionada para um espaço um pouco mais intimista e fui colocada, literalmente, contra a parede.
—Não precisa ficar nervosa. —Jimin acariciou a lateral do meu rosto com o polegar, sutilmente. Engoli em seco. Não me sentia nervosa. Quem dera fosse somente isso. Na verdade, era quase um surto de desespero.
E então ele começou o jogo quase hipnótico: Olhos, lábios, olhos...
Tive que admitir — a técnica do olhar triangular, quando aplicada no rosto de Park Jimin, era praticamente um feitiço.
Meu coração estava em um ritmo frenético, como se quisesse escapar do peito. Cada movimento dele era calculado, mas ao mesmo tempo natural. A mão dele ainda acariciava meu rosto com o polegar deslizando devagar pela minha pele, deixando um rastro de calor. Meu corpo respondia cada sinal e, por mais que minha mente tivesse dado um branco com a aula sobre linguagem corporal que eu tinha tido minutos atrás, tudo fazia sentido.
Cada célula do meu corpo acordava com o deslizar dos dedos de Jimin sobre minha pele.
E então ele se aproximou, tão perto que sua respiração se misturava à minha.
— Posso? — Ele perguntou, mas não deu tempo para que eu respondesse. Talvez porque o canalha já soubesse a resposta, ou porque eu já não tinha controle sobre meu querer. Não consegui respondê-lo e Jimin apenas deu um sorriso. Pra ele, isso era claramente um sinal verde.
E era mesmo, talvez.
Os lábios dele tocaram os meus com uma suavidade que contrastava com o fogo que explodia dentro de mim. Foi lento, deliberado, como se ele quisesse saborear cada segundo. Mas a lentidão logo deu lugar a uma intensidade arrebatadora: o beijo começou ganhando força enquanto ele me puxava para mais perto, de modo que a proximidade física não era mais suficiente. Inconscientemente, meus dedos se enroscaram no tecido sedoso da camisa dele, buscando apoio, enquanto o mundo ao meu redor parecia desaparecer completamente. Quando nossas línguas se encontraram, foi o meu fim.
A sincronia era perfeita, como se tivéssemos ensaiado aquilo por semanas e semanas. Ele sabia o ritmo certo, quando aprofundar o beijo e quando desacelerar, deixando-me sem ar e desejando mais ao mesmo tempo. Suas mãos desceram pela minha cintura, firmes e cuidadosas, marcando aquele momento na minha pele.
Eu me perdi completamente.
Não havia mais controle, apenas o calor e a excitação de nós dois. Meus dedos subiram da camisa até o cabelo dele, deslizando pelos fios macios, puxando levemente enquanto ele soltava um som baixo, quase um grunhido, que fez meu coração disparar ainda mais.
Por um segundo, pareceu que eu tinha anos de experiência com aquilo.
O beijo parecia interminável, mas ao mesmo tempo, não o suficiente. Ele se afastou por um breve instante com o rosto a poucos centímetros do meu, enquanto a respiração de ambos estava pesada e entrecortada.
Merda de fôlego.
— Você é perigosa, sabia? — Ele disse ofegante, enquanto ajeitava os cabelos. —Para quem está a tanto tempo sem beijar, eu não esperava isso. Não mesmo.
— E você definitivamente não joga limpo, Park Jimin.
Ele apenas deu de ombros com o sorriso se alargando.
— Nunca disse que jogava. —ele deu uma tímida ajeitada na calça e respirou fundo —Agora vamos voltar porque temos um plano pra colocar em ação e, bem, se eu ficar muito tempo aqui, talvez eu não responda por mim.
Ainda sentia o gosto dele.
O gosto doce de morango misturado com menta. A merda de um sabor bom. Muito bom. Meus lábios formigavam, como se o beijo com Jimin tivesse deixado uma colher de sopa de pimenta pura. Eu tentava ignorar o calor subindo pela minha nuca, mas era quase impossível.
"Concentre-se, cacete!", pensei, ajustando o cabelo enquanto me aproximava do balcão onde o coreano bonitão estava. Fui praticamente empurrada por Jimin. Era contra minha vontade, mas eu não podia deixar na cara que, se eu pudesse, eu ainda estaria o beijando.
Eu preferia que ele não soubesse beijar, que tivesse hálito de cebola e jogasse um litro de saliva na minha boca. Só assim eu poderia esquecer aquele beijo com facilidade. Mas, foi exatamente o contrário disso: Jimin sabia exatamente o que estava fazendo. E sabia que estava fazendo bem. Um desgraçado, como sempre.
Então, eu meio que não preciso mais seduzir ninguém —preciso mesmo é de algo ou de alguém para me distrair.
Sentei-me no balcão tímida e pude sentir os olhares do rapaz ao meu lado enquanto o mesmo girava o copo com os dedos longos e elegantes. Zero anéis.
Não era compromissado —ou pelo menos, não parecia. Um passo avançado.
Ele usava uma camiseta social branca que marcava perfeitamente os músculos do tórax e os cabelos estavam delineados em um topete muito bem produzido. O homem era, de fato, um típico CEO de um K-drama: poderia paralisar todo um ambiente só com um olhar. Um sonho para qualquer mulher.
Bom, para qualquer mulher minimamente interessada. Óbvio.
Não era o meu caso.
— Você vem sempre aqui?
A voz grave ao meu lado me tirou dos pensamentos, e virei o rosto, ligeiramente surpresa pela abordagem.
— Ah, não, definitivamente não é uma cantada — o homem apressou-se em dizer, acompanhando com um sorriso tímido. — É só que eu sempre estou por aqui e acho que nunca te vi antes.
— Ah, claro! Eu realmente não venho com frequência.
Na verdade, nunca tinha pisado ali antes.
Mas minha voz saiu firme, sem hesitação, e eu comemorei mentalmente como se tivesse acabado de ganhar um prêmio.
—Imaginei. Alguém como você seria difícil de esquecer.
Ele falou aquilo com tanta naturalidade que meu cérebro deu um curto-circuito por um instante. Engoli em seco, sentindo o calor subir até minhas bochechas.
Respira, . Nada de surtos, nada de sorrisos bestas. Lembre-se das aulas. Jimin me mataria se eu estragasse tudo agora.
—Ok, mas agora, isso foi uma cantada? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha e sorrindo de lado, decidida a retomar o controle da situação.
Ele deu uma risada baixa, suave, enquanto girava o copo nos dedos novamente.
— Não. — Ele respondeu, um pouco provocador. — Só uma observação.
— Uma observação bem direta, eu diria, sr...
—Seojoon. Park Seojoon.
Inferno. Precisava ser mais um Park?
—Ah, e nada de formalismos, por favor. Só Seojoon já está ótimo —ele continuou brincando com o copo de whisky —E o seu nome?
— . —sorri gentilmente.
Foi nesse momento que percebi: ele, provavelmente, fazia parte da mesma escola de Jimin. Deve ser algo nato dos “Park”. Não tem outra explicação.
Enquanto eu fazia meu pedido no bar, senti os olhos de Seojoon analisando cada detalhe do meu rosto, como se estivesse estudando uma obra de arte ou, pior, uma presa. A escola onde o olhar era uma arma e a presença, uma técnica de domínio absoluto.
— Então, … — Ele quebrou o silêncio, cruzando os braços sobre o balcão com um sorriso de canto brincando nos lábios. — O que uma mulher interessante como você está fazendo sozinha em um lugar como este?
Não podia dizer que eu estava ali, colocando em prática técnicas de sedução.
Respirei fundo e sorri. Se era para ser o orgulho do meu amigo, que fosse sendo uma canalha à altura.
— Acho que posso devolver a pergunta, não? O que um homem interessante como você está fazendo observando estranhos no bar?
— Não é como se eu tivesse planejado estar aqui hoje, . — Ele levou o copo de whisky aos lábios, os olhos ainda fixos em mim. — Mas, ainda bem que vim. Acho que nunca me perdoaria se soubesse que uma mulher linda como você esteve aqui, e eu não tive a chance de compartilhar o mesmo espaço.
Um arrepio percorreu minha espinha. Ele era bem mais galanteador do que Park Jimin — e isso era um feito impressionante.
Inclinei a cabeça de leve, cruzando as pernas com um movimento casual enquanto o encarava de volta. Meus dedos deslizaram pelo copo em minhas mãos, brincando com o vidro frio enquanto ponderava meu próximo passo.
Hora de testar as águas.
— Você é bom com as palavras... — Minha voz saiu firme, mas com um toque de curiosidade, provocando. Queria ver até onde ele iria.
Seojoon deixou um pequeno sorriso escapar — sutil, apenas o suficiente para puxar os cantos dos lábios e adicionar um ar de mistério.
— Sou bom com muitas coisas.
Por um segundo, fiquei ponderando se aquilo era a tal confiança ou se ele estava sendo apenas convencido.
Ele apoiou o cotovelo no balcão, girando o copo entre os dedos longos e precisos, sem pressa, sem desviar o olhar. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Então, não era convencimento. Ele era um homem confiante. E, pelo jeito, esperava para ver se eu era também.
— É mesmo? — Inclinei a cabeça de leve, cruzando os braços sobre o balcão, sem deixar meu tom de desafio vacilar. — E quais dessas coisas você acha que me interessariam?
— Ah... — Ele fez uma pausa calculada, deixando o silêncio pairar no ar. “O mistério excita”, ecoou a voz de Jimin na minha mente. Seus olhos percorreram lentamente meu pescoço até meus lábios antes de subir novamente, queimando o caminho de volta ao meu olhar. — Isso depende de você me dar a oportunidade de mostrar.
O sorriso que ele deu era tão preciso que parecia ensaiado. Eu ri baixo, apertando o copo com um pouco mais de força, tentando ignorar a sensação estranha no peito.
— Espero que você seja tão bom quanto promete ser, então. — Murmurei, sustentando o olhar enquanto um sorriso ousado se formava em meus lábios.
Seojoon inclinou ligeiramente a cabeça, os olhos brilhando com algo próximo à curiosidade genuína.
— Você gosta de desafios, ?
— Sou feita deles. — Respondi sem hesitar, deixando meu tom ligeiramente provocador.
— Ótimo, porque tenho um pra nós. — O sorriso dele se alargou, carregado de malícia. — Quero muito conhecer você essa noite.
— E como exatamente pretende me conhecer, Seojoon? — perguntei, deixando o licor aquecer minha garganta enquanto esperava pela resposta.
Ele girou o copo entre os dedos, a postura relaxada, mas os olhos analisando cada pequena reação minha.
— Acho que uma boa conversa e alguns drinks são um ótimo começo. Mas confesso... que gosto de explorar outros jeitos.
Antes que eu pudesse rebater, um movimento ao fundo capturou minha atenção. Algo pequeno, mas o suficiente para me desconcentrar.
Meu olhar deslizou pelo bar, como sempre curioso — e, desta vez, completamente traiçoeiro.
E foi quando vi.
Jimin.
Beijando outra garota.
Meu estômago afundou.
“A boca fala o que o coração sente, mas o corpo revela o que a alma esconde.”
(Oscar Wilde)
(Oscar Wilde)
Desde pequena fui ensinada a não demonstrar sentimentos. Não porque isso me tornaria melhor que alguém —embora também tenha sido direcionada a acreditar que isso faria com que eu estivesse anos-luz na frente das pessoas, mas não concordo—, mas porque isso me protegeria de um mundo que está pra lá de difícil quando se trata de qualquer coisa que seja mostrar pra alguém o quanto você se importa. Com essa criação, não sei em qual momento da vida eu amei alguém. Lembro bem que, quando adolescente, desenhava nos meus cadernos corações e setas como se o amor fosse algo simples que pudesse ser esquematizado em linhas e formas.
Ah, detalhe: desenhava completamente escondido dos meus pais, uns cientistas meio loucos que acreditavam que a emoção era um fator de erro nos cálculos da vida.
Para eles, sentir demais fazia com que as pessoas tomassem decisões precipitadas, irracionais, e isso, na visão deles, era inaceitável.
Meu pai costumava dizer que o ser humano é uma máquina complexa, mas, no fim, apenas uma máquina, ou seja, passível de erros. Minha mãe, mais sutil, preferia explicar que os sentimentos eram como variáveis instáveis em uma equação que nunca poderia ser resolvida com precisão. É, isso é a porra de uma grande loucura. No geral, cresci ouvindo que apego era fraqueza, que chorar era inútil e que amar... bem, amar era um risco que a maioria das pessoas não sabia calcular direito.
E é por isso que se fodiam.
Talvez amar seja um emaranhado de verbos no imperativo. Você ama o ouvir, o falar, o sentir. Ama o desejar, o esperar, o resistir. Ama até o partir—como se o amor, no fim das contas, fosse sempre um chamado à ação; a porcaria de um impulso inevitável. Esse é um sentimento que sempre me pareceu imprevisível. Talvez por isso eu tenha aprendido a me esquivar dele antes mesmo de compreendê-lo. E agora, aqui estou eu, com os braços cruzados, um sorriso banal de como se nada estivesse acontecendo e com a merda de um nó na garganta, tentando convencer a mim mesma de que o que estou vendo não me afeta.
Mas, afetava. Afetava pra cacete.
Ver Jimin beijando outra garota confrontava tudo que eu aprendi em toda a minha vida.
Ele não me devia nada. Eu sabia disso. Mesmo que 40 minutos antes, eu quem estava no lugar —em uma espécie de teste ridículo ao qual eu me sujeitei— daquela mulher que parecia que iria arrancar a língua dele fora a qualquer momento.
Mas saber não tornava mais fácil. Saber não impedia a sensação incômoda no estômago, como se algo dentro de mim estivesse se contraindo, protestando contra uma lógica que eu deveria seguir à risca.
Eu havia me colocado naquela posição. Eu quem decidi participar de um jogo que não fazia ideia sobre as regras. Fui eu quem aceitei cada movimento, como se pudesse controlar variáveis que, no fundo, nunca estiveram sob meu domínio. E agora, olhando para Park Jimin como um espectador observa uma cena previsível de um experimento fracassado, eu me perguntava:
Por que diabos parecia tão pessoal?
Talvez porque fosse. Talvez porque, pela primeira vez, eu não estava analisando números, probabilidades ou os efeitos de um neurotransmissor qualquer. Eu estava sentindo. E, a pior merda de todas: não sabia, de jeito nenhum, o que fazer com isso.
—... e a inteligência artificial de Seul tem um aparato muito bom dos Estados Unidos —escutei, de longe, a voz de Seojoon em contraste com meus pensamentos. —E você está completamente dispersa. —Voltei meus olhos para o coreano em questão de segundos, observando-o dar um sorriso tímido. Xinguei-me mentalmente por não estar dando a atenção necessária para o homem. Que culpa ele tinha?
Ele não fazia a menor ideia desse joguinho patético de sedução. E, para piorar, tudo que eu havia aprendido desmoronou como um castelo de cartas.
Minha mente estava em branco, como se tivesse dado uma pane no sistema. E deu.
—Mil desculpas. Eu juro que eu sou uma grande apaixonada por inteligência artificial, ciência e tudo isso. —Respondi sincera, olhando dentro dos olhos intensos dele. —E você pode continuar falando, se quiser. Não é algo que me incomoda.
—Não, não se preocupe. Não é exatamente o melhor assunto para discutir na mesa de um pub —Ele deu um sorriso bonito e eu me apressei em chamar o bartender para pedir duas doses da tequila mais barata.
Até tentei me convencer de que poderia ser mais elegante optar por um licor ou algo sofisticado para passar uma imagem de poder, mas, sinceramente, quem diabos liga para essa merda? O problema da tequila de loja de esquina é que ela queima na garganta e na dignidade ao mesmo tempo. E, considerando minha situação atual, pelo menos uma dessas coisas ainda estava intacta… ou estava até eu decidir virar a dose de uma vez.
—Uau! Você está tendo um dia difícil?
Ele perguntou, bebericando o whisky que deveria ser do valor de metade do meu aluguel.
—Estou tendo uma década difícil, para ser bem sincera. —Engoli os resquícios do copinho e suspirei, sentindo-me estranhamente aliviada —Mas, nada que uma boa noite não possa melhorar.
A sensação de calor se espalhou pelo meu corpo e, por um momento, tudo o que eu queria era que o álcool fizesse o trabalho pesado de apagar os pensamentos em excesso. O beijo. A dor. O cansaço e, principalmente, o desgraçado do Park Jimin. Eu realmente queria que tudo isso se dissipasse com o efeito da bebida, mas sabia que não ia ser assim. Infelizmente.
Seojoon deu uma risadinha, aparentemente entendendo que, não, eu não estava bem. E não queria falar sobre ciência, inteligência artificial ou qualquer coisa lógica. Ele parecia ser um homem inteligente e um pouco mais velho. Talvez tivesse seus 35 anos. Deveria saber, de alguma forma, que eu estava tentando fugir da realidade, porque é assim que jovens idiotas e iludidos fazem. E quem inferno poderia me culpar?
Todo mundo precisava de uma fuga de vez em quando.
Não demorou para que a segunda dose de tequila descesse pela minha garganta. Dessa vez, o ardor não veio—em vez disso, senti o mundo ficar mais leve, como se alguém estivesse tirando, um por um, os tijolos empilhados nos meus ombros.
Ótimo. Eu ia ficar bêbada. Pelo menos, isso significava que metade das coisas que estavam acontecendo nessa noite logo seriam arquivadas na parte do meu cérebro dedicada a "erros que prefiro não revisitar".
Seojoon continuava me olhando, mas sem dizer nada. Nem precisava. O silêncio dele já era barulhento o suficiente.
—Você tá me julgando, né? —Perguntei para o homem, encarando o fundo vazio do pequeno copo. —Não precisa mentir para mim. Eu estaria me julgando, se eu fosse você.
— Não — ele respondeu simplesmente. — Só estou me perguntando quantas doses você ainda aguenta antes de começar a tropeçar nos seus próprios saltos.
—Ah, meu caro... —sorri, fazendo um sinal com um “2” nos dedos para o bartender que me olhou com as sobrancelhas arqueadas. Coitado. Não deveria ser acostumado com jovens que confundem “final de semana” com o fim do mundo. —Eu aguento muito. Aguento demais e, inclusive, depois da quarta dose, meu senso de justiça fica impecável. Sou capaz de salvar o planeta só com as minhas investidas sociais.
—Então é uma pena que só exista uma de você no mundo, . —Ele bebericou, mais uma vez, a dose do whisky. Se aquela merda estivesse na minha mão, eu já teria bebido a garrafa inteira. —E que sorte a minha você estar bem na minha frente. Já deu para perceber o quanto você é verdadeira consigo mesma.
Soltei uma risada sonora, enquanto eu era servida pelos mais 2 copos de tequila. Apressei-me em virar um na garganta o mais rápido possível.
Aquilo era uma piada. De muito mau gosto, aliás.
Nada naquilo era de verdade. Nem as minhas roupas, nem a merda do olhar, nem a porcaria do sorriso. Porque a verdade mesmo era que eu estava sentindo tudo ao mesmo tempo. Uma mistura indigesta de raiva, orgulho ferido e uma pontada ridícula de ciúmes que eu queria sufocar. Ridícula, sim.
Do que, exatamente, eu estava sentindo ciúmes? Da burrice de me sentir atraída pelo amigo canalha? Da merda daquele beijo?
Apertei os dedos ao redor do copo e soltei um suspiro pesado.
Talvez eu devesse rir. Rir porque eu sempre me achei esperta o suficiente para não me envolver demais. Para não me importar demais.
Meus pais, no fim, sempre estiveram certos. Ter sentimentos é uma merda gigante.
—Nada disso é de verdade, Seojoon. —Falei e ele me olhou com a mão no queixo, claramente interessado no que eu ia falar. —E eu até poderia listar tudo para você, mas também acho que não seja o melhor assunto para se discutir em uma mesa de um pub.
—Não me importaria se você quisesse listar todos os seus motivos. Não tenho nenhum compromisso e... —Ele olhou para o relógio que deveria custar um rim no mercado de órgãos —bem, eu tenho a noite inteira.
—E realmente está disposto a passar esse tempo inteiro me ouvindo?
—Por que não estaria? Você é uma mulher, de fato, interessante.
Soltei uma risada breve, balançando a cabeça.
—E isso é uma novidade absurda para mim, Seojoon.
Ele ergueu uma sobrancelha, como se não entendesse.
—Para mim, também. Que tipo de cara não se interessaria por uma mulher como você?
—O que seria o “como você”, hum? —o olhei intensamente nos olhos. Automaticamente, desviei meu olhar para a boca rosada do coreano e, sutilmente, voltei para os olhos.
Parabéns, ! Você se lembra da porra do olhar triangular. Avance mais uma casa.
Seojoon umedeceu os lábios e deu um sorriso, aproximando-se mais um pouco.
—Bonita, sedutora, inteligente. —A voz soou baixa, quase como um segredo compartilhado só entre nós dois.
Por um segundo, meu cérebro parou de raciocinar. A ideia de ser interessante para alguém ainda era, de fato, estranha para mim. Não porque eu me achasse desinteressante, mas porque nunca fui o tipo de pessoa que fazia questão de ser notada. Sempre fui boa em passar despercebida, em ocupar espaço sem realmente chamar atenção ou em ser uma presença silenciosa no fundo da cena enquanto outros brilhavam no palco. Ou enquanto eu orbitava ao redor de Park Jimin, sem ser notada. Nunca o centro da atenção. Pelo menos, não dele. Sempre à margem, como um satélite girando em torno de algo que sequer percebe sua presença.
Nunca achei que “fazer barulho” fosse algo interessante. Não era uma necessidade, não era um desejo. Eu gostava do conforto de ser discreta, de não ser um espetáculo a ser observado. E, sim, isso era devido à minha personalidade. Nunca precisei que o mundo me enxergasse. Mas, ali, sentada naquela mesa, sob o olhar afiado de um cara extremamente gato, algo me dizia que talvez, só talvez, houvesse uma certa beleza em ser percebida.
Então, ouvir alguém dizer aquilo com tanta certeza — como se fosse um fato absoluto ou como se fosse óbvio — me pegou de surpresa. Era uma novidade. Uma que eu ainda não sabia exatamente como processar.
Talvez fosse a tequila, talvez fosse o olhar intenso de Seojoon, ou talvez fosse só meu cérebro tentando entender como, de repente, eu era digna de algum tipo de interesse.
Levantei uma sobrancelha, cruzando os braços sobre a mesa.
— Tudo isso? — Brinquei, um sorriso brincando nos meus lábios
— E modesta. — Ele riu, pedindo mais uma dose de whisky antes de me encarar novamente. — Um perigo para qualquer um que não esteja preparado.
— Sorte a sua que eu nunca fui fã de amadores. — Pisquei, pegando minha tequila e virando de uma vez.
— Ótimo, também detesto amadores. É por isso que gostei de você. — Ele levou o copo aos lábios, saboreando o whisky com calma. — Quando diz que algo aí dentro não é de verdade, está sendo sincera. E só por isso, já se torna real. Entende? Não há espaço para amadorismo aqui.
— Eu...
—Olha, quero que saiba de algo, antes que você comece a ficar bêbada. —Ele se aproximou e eu gelei, por um segundo. —Eu realmente quero que você se sinta melhor. Pelo menos, essa noite. Eu lido com pessoas diariamente. Sei quando elas não estão bem. A leitura corporal é algo mais simples do que você imagina.
“O corpo não engana”, as palavras do desgraçado do Jimin ecoaram na minha cabeça. Ele tinha me dito isso antes dessa noite de merda começar. A forma como o corpo reage, como os gestos e os olhares dizem mais do que palavras poderiam expressar.
Olhei de relance, mais uma vez, para os fundos do bar, observando o Jimin sair de mãos dadas com a garota. Uma onda de raiva subiu pelo meu peito, quente e sufocante.
—O que você sugere para que eu me sinta bem, então, huh? —Desviei meu olhar para Seojoon, tentando abstrair o que eu tinha acabado de ver.
Se era verdade que o corpo falava, provavelmente, eu estava entrando em colapso.
— Bom, que tal começarmos com algo simples?
Apoiei o queixo na mão, interessada.
— Tipo?
—Não precisamos expressar isso em palavras, certo?
Por um momento, achei que ele estava brincando.
Mas Seojoon não esperou confirmação.
Em um movimento calculado, suas mãos deslizaram para minha cintura, e antes que eu pudesse processar, seus lábios com gosto de whisky já estavam nos meus. Eu poderia afastá-lo. Poderia rir e dizer que ele estava indo rápido demais. Mas ao invés disso, meus olhos se fecharam, e eu deixei acontecer.
Se era algum tipo de vingança? Não sei.
Talvez fosse o álcool. Talvez fosse a raiva presa no peito. Ou talvez fosse o fato de que, pela primeira vez naquela noite, eu me sentia vista. Meus dedos apertaram a camisa dele, puxando-o um pouco mais para perto. Se eu ia jogar esse jogo ridículo, então que fosse para ganhar.
Abracei meus próprios braços, observando a fumaça do frio sair da minha boca com o meu murmúrio enquanto esperava o táxi. Eram exatamente 3:15 da manhã e minha cabeça girava tonta o suficiente para que eu mal conseguisse distinguir o que era real e o que era só uma consequência do álcool. Seojoon insistiu para me levar, alegando que poderia ser perigoso estar bêbada e estar com um motorista desconhecido, mas, de alguma forma, eu precisava sair dali sozinha. Não era orgulho ou tampouco pura teimosia. Talvez fosse a necessidade ridícula de provar para mim mesma que ainda estava no controle da merda de alguma coisa.
Mas, infelizmente, o som de alguns passos interrompeu o silêncio ensurdecedor da madrugada. Eu não precisei virar para saber quem era. O cheiro dele foi automático na minha mente, desbloqueando memórias que eu queria arquivar. O barulho dos sapatos era inconfundível, até porque era eu quem estava com ele quando aquele desgraçado os comprou. Virei-me somente um pouco para ver que Jimin estava parado ao me ver, com o sorriso canalha de sempre e uma espécie de surpresa. Não disse nada. Mas a presença dele era o suficiente para me fazer sentir uma raiva quente e corrosiva, como se tudo dentro de mim estivesse prestes a explodir.
—Hey, Einstein! —Por um segundo, olhei no chão ao meu redor e procurei uma pedra para jogar naquele maldito, mas abstraí o pensamento intrusivo ao perceber ele se aproximando. —Eu procurei você pelo bar inteiro. O que está fazendo aqui fora? Está quase congelando. —Ele deu mais um passo para a frente e tocou no meu braço. Senti a porcaria de uma corrente elétrica passar pelo meu corpo inteiro. —Vem, vamos embora. Vou para casa e te deixo no caminho.
—Não, não precisa. Eu já chamei um táxi.
Desvencilhei-me do toque de Jimin e desviei o contato visual, fazendo ele me olhar confuso. No entanto, Park, com aquela mania infame de insistência, me segurou mais firme e decidiu me puxar.
—Você tá surdo, Park Jimin? —Soltei meu braço com mais força —A mulher que você tava pegando além de engolir sua língua, arrancou sua audição, também?
—Ei, não precisa falar assim comigo. —Ele levantou as mãos em sinal de rendição, como se minhas palavras fossem alguma espécie de arma.
Quem me dera se, de fato, fossem. Ele já teria morrido.
—Foi aquele idiota no bar, não foi? Não acredito que um cara boa pinta tenha sido um babaca com você.
Ele cruzou os braços, incrédulo e eu ri com amargor.
—Vocês até pareciam estar tendo uma troca legal. Não sei o que pode ter dado errado.
—Troca? E o que você entende sobre isso? —Rebati com a voz carregada de sarcasmo.
—O suficiente para saber se minha amiga estava em boas mãos. Não ia deixar você com qualquer um, sabe como sou protetor, mas você parece meio bêbada. Então, provavelmente algo falhou.
—E você se importa? Sério, mesmo?
—, que papo estranho é esse? —Ele colocou as mãos na cintura com uma cara de tédio —Você está começando a me irritar e olhe que isso é algo muito raro.
—Quer que eu seja sincera, então?
—Por favor...
—Foda-se o que você acha, pensa, ou sei lá o que se passa nessa sua cabeça. Se é que você usa ela. — Cruzei os braços, sentindo o peso das palavras no ar. Jimin abriu a boca, mas nada saiu. Nada. Como se, pela primeira vez, ele realmente não soubesse o que dizer.
Observei o táxi se aproximando ao longe e agradeci mentalmente por isso.
—E, por favor, não quero mais essas “aulas” ridículas. Não quero seduzir, não quero gostar e não quero ter interesse em ninguém. Sabe por quê? Porque não vale a pena. Nunca valeu.
Minha voz saiu fria e cortante, mas abri a porta do táxi e dei uma última olhada para Jimin, que ainda estava na mesma posição, claramente incrédulo.
— E se algum dia valer, eu faço questão de ser a última a saber.
E então entrei no táxi, sem olhar para trás. Não porque eu não me importava, mas porque talvez eu fosse a única a me salvar naquele momento.
Salvar-me de algo que não estava no meu alcance. De continuar tentando decifrar coisas que iam além do que eu dominava. Salvar-me significava me escolher. Significava parar de me deixar ser uma peça no tabuleiro de outra pessoa.
Eu sempre ofereci demais—tempo, energia, sentimentos—e, no fim, tudo que restava era o desgaste, um vazio que não se preenchia. Não entendo muito sobre nada disso, mas acredito que relações deveriam ser uma troca, um fluxo equilibrado de energia, porém o que eu sentia era um ciclo exaustivo de dar sem receber.
E, pela primeira vez, eu estava disposta a romper isso. A fechar as portas para conexões que apenas sugavam, deixando que o que fosse verdadeiro e útil me encontrasse no tempo certo.
"O amor não olha com os olhos, mas com a mente; e, por isso, é alado e cego." – William Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão
Park Jimin
Eu estava triste. Muito. Pra caralho.
E não era aquele tipo de tristeza que dava para engolir com um sorriso ou fingir que não existia. Era aquela que grudava na pele e que enchia os pulmões até sufocar. O tipo que não te deixa dormir direito, que faz cada conversa parecer ensurdecedora de tão vazia.
Nunca me afastei de .
Nunca.
Durante nossa infância e adolescência, até tivemos umas brigas ridículas, mas nada que pudesse fazer com que ela recusasse minhas ligações, ignorasse minhas mensagens ou fingisse que eu não existia. Isso me dá uma sensação escrota.
E eu odiava essa merda.
Odiava abrir o celular e ver nossas conversas paradas, sem resposta. Porra, nossas conversas. Nossos memes ou as fotos idiotas que eu costumo tirar para usar contra ela mesma. Odiava o fato de saber que, por algum motivo, estava me evitando.
Por que diabos ela estava agindo daquela forma?
Talvez eu devesse ter previsto isso. Talvez eu devesse ter me controlado. Mas não — eu fui lá, me envolvi demais e deixei que tomasse espaço demais na minha cabeça. O que é um caralho imenso de um problema. Ajudá-la com aquelas aulas idiotas de sedução foi um erro. Eu sabia disso desde o começo. Eu sabia quando sugeri, quando vi que aquilo ia dar merda. Ia dar merda porque é demais.
Ela é essa bagunça. Uma mente barulhenta. Um tornado que não pede licença para entrar, apenas chega e toma espaço. Não é à toa que a apelidei de “Einstein do caos”. Sempre com algo novo na cabeça, um projeto desorganizado, e uma ideia mais inusitada que a outra. Afinal, quem chama algum cara para uma sessão de estudos de aritmética e, sei lá, pode achar que isso é, no mínimo, sensato?
Nos conhecemos desde pequenos. Ela sempre foi assim. Desde os tempos de infância, quando invadia minha vida sem aviso e transformava qualquer brincadeira em uma aventura insana. Eu deveria ter aprendido naquela época que nunca faria sentido dentro de padrões comuns. Foi por isso que decidi ajudá-la com as aulas de sedução. Não que eu fosse especialista nesse assunto, mas alguém precisava dar um rumo àquela cabeça fervilhante.
tinha essa mania de se jogar nas coisas sem pensar, e, na minha cabeça, eu só estava evitando que ela se metesse em mais uma confusão desnecessária. Principalmente uma confusão que envolva relacionamentos. Não queria ver a minha amiga sofrendo por um babaca qualquer só porque ela não consegue se expressar ou porque faz isso além da conta.
Só que eu não contava que a confusão fosse se instalar dentro de mim, principalmente depois do beijo.
Ah, a merda do beijo.
Era para ser só um experimento. Só parte daquilo que eu mesmo tinha me proposto a ensinar para ela. Mas, porra… desde o primeiro segundo e desde o momento em que meus lábios tocaram os dela, eu soube.
Eu soube que tinha passado do ponto.
O problema não foi o beijo em si ou o jeito como tudo desacelerou ao nosso redor. O problema é que foi extremamente bom. O jeito como ela me olhou antes de encostar os lábios nos meus. Como hesitou, na hipótese de saber que estávamos prestes a atravessar uma linha invisível e perigosa.
Mas atravessamos.
E naquele instante, nada mais importava. Só o calor da boca dela, a maldição do encaixe perfeito e a forma como os dedos dela agarraram minha camiseta como se não quisessem me soltar.
E isso era errado pra cacete. Errado porque a gente não tem nada. Porque, no fundo, nunca tivemos. não é minha. Nunca foi. E eu nunca teria coragem de usá-la para qualquer tipo de coisa.
Porque não importa o quanto eu quisesse sentir aquilo de novo, não importa o quanto minha mente voltasse pra aquele momento, repetindo cada detalhe como uma maldita cena presa no replay.
O beijo não significava nada.
Ou, pelo menos, não deveria significar.
Talvez seja esse o problema.
—Meu Deus, que inferno! —Lavei o meu rosto no banheiro da universidade, tentando afastar os pensamentos que pareciam pragas se proliferando. —Por que diabos eu nasci? Sério, por que meus pais acharam que seriam uma boa ideia me colocar no mundo?
Olhei-me no reflexo e meu rosto confirmava o quanto aquele final de semana havia sido péssimo: olheiras profundas, expressão cansada e o peso das merdas que eu não conseguia resolver estampado nos meus traços.
Soltei um suspiro pesado, apoiando as mãos na pia, e estava prestes a sair quando ouvi vozes do lado de fora. Vozes conhecidas.
— Então quer dizer que você vai chamar a estranha para sair? — Um dos caras riu, e bastou um segundo para eu reconhecer o tom arrogante. —Coragem!
Eunwoo.
Me escondi perto da porta, rangendo os dentes.
— Sim, só para vocês verem que posso conseguir ela e qualquer outra quando eu quiser. — A voz dele soou casual, despreocupada, como se estivesse falando do tempo— Mas, cara, até que vai ser fácil. Ela sempre dá um jeito de ter a minha atenção. E é sempre um desastre.
Meu estômago revirou.
— É, o lance da biblioteca foi de foder — Outro riu. — O que tu vai fazer?
— Sei lá. Levar ela pra sair, ver até onde dá pra ir. Quem sabe eu não deixo a nerd, pelo menos, excitada?
Um coro de risadas encheu o corredor, enquanto meu sangue fervia.
Filho da puta.
Eles estavam falando de .
, que agora me ignorava, mas que claramente estava na mira daquele babaca e do grupinho dele.
Eunwoo não queria só sair com ela. Ele queria brincar com ela.
E eu não ia deixar isso acontecer.
Suspirei fundo ao observar o prédio da universidade, ainda sem acreditar em como aquele final de semana passou como um furacão.
Sim, um furacão.
Rápido e devastador.
Daqueles que chegam sem aviso, varrem tudo pelo caminho e, quando partem, deixam um silêncio estranho — o tipo de silêncio que grita. Tudo aconteceu rápido demais, intenso demais.
Nunca fui fã das segundas-feiras – e, honestamente, quem seria? –, mas aquela, em específico, já prometia ser pior do que o normal. Não era apenas porque minha primeira aula do dia seria algo sobre Tecnologias para Diagnóstico, Monitorização e Terapia, ministrada por um professor que, ao invés de ensinar, despejava listas intermináveis de algoritmos sem ao menos se dar ao trabalho de explicar. Isso era um incômodo, claro, mas nada que eu já não tivesse superado.
O problema real era outro.
Ele tinha cabelos impecáveis, um sorriso engraçado e uma voz doce demais para ser esquecida. Meu estômago revirou ao lembrar do que me aguardava além das fórmulas e códigos.
Park Jimin.
Depois do nosso último encontro – que estava longe de ser algo, minimamente, agradável –, a simples possibilidade de esbarrar com ele já me fazia querer dar meia-volta e fingir um mal súbito. Principalmente, porque, depois daquela noite horrível, ele tentou várias vezes entrar em contato comigo. Chamadas perdidas, mensagens não lidas, áudios que eu sequer tive coragem de reproduzir e batidas intermináveis na minha porta.
Não me sentia arrependida de absolutamente nada que eu havia dito pra Jimin, embora o álcool tenha feito o trabalho pesado de ser mais ríspida que o normal. Eu estava machucada.
Aliás, eu estou.
Cada palavra saiu direto do meu peito sem filtro e sem a suavidade que talvez eu tivesse escolhido se estivesse sóbria. E quem inferno pode me culpar por isso?
Ele, que passou o tempo todo me ensinando coisas que nem sei se queria aprender, e, quando eu finalmente pensei que ele estava ao meu lado, me vejo no meio da merda de vê-lo beijando outra. Casualmente. A dor, ainda que sutil, estava ali, como se tudo fosse apenas mais um jogo. Sei que não entendo muito de sentimentos, mas também sei que não deveria ser assim.
Respirei fundo, olhando meu reflexo na tela do meu celular. A imagem refletida era diferente da que eu estava acostumada a ver. Mesmo que meu final de semana tenha sido uma grande merda, não podia desacreditar totalmente que mudar um pouco seria, de fato, interessante para mim mesma. E confesso que até pesquisei sobre algumas dicas que pudessem melhorar minha autoestima— nada muito profundo, só alguns artigos escritos por pessoas que pareciam saber do que estavam falando. Decidi, realmente, dar uma chance para minha melhor versão, mesmo que aquilo tenha me incomodado um pouco devido às circunstâncias com Jimin.
—? — A voz de Eunwoo me tirou dos meus pensamentos, e eu precisei de um segundo para processar o que estava acontecendo, como se estivesse tentando entender tudo em 4 idiomas diferentes. Ele estava falando comigo. — Uau, você está diferente.
Não gagueja, droga. Não sorri como uma idiota.
Pensa, . Pensa, .
—Ahm, verdade.
Apertei a alça da minha mochila, agradecendo mentalmente por não surtar.
—Criando coragem para enfrentar a semana? —Eunwoo ajeitou os óculos e deu uma leve arrumada nos cabelos perfeitos. —Observei você de longe. Estava quase absorta nos próprios pensamentos.
—É, não posso dizer que estou animada para mais uma aula de circuitos elétricos com o Sr. Lee em plena segunda feira.
—É, eu entendo. —Eunwoo umedeceu os lábios e olhou fixamente para mim —Você está muito bonita, aliás.
Meu cérebro processou a informação com um pequeno delay.
Ele me chamou de bonita.
Respira. Age naturalmente. Não seja estranha.
— Ah... muito obrigada! É uma gentileza da sua parte— soltei, sentindo um leve calor subir pelo meu pescoço. Podia apostar que meu rosto estava vermelho como um tomate.
— Você está com tempo agora? — Ele perguntou, ajeitando a alça da mochila no ombro. — Pensei em passar na cafeteria antes da aula. Podemos ir juntos, se quiser. Eu preciso de um café antes da aula de cálculo. Você sabe, organizar as ideias...
Minha boca ficou seca. Um café. Com Eunwoo.
Eu já tinha tomado café, mas óbvio que eu não iria perder essa chance, sobretudo, agora, que eu precisava de uma distração para esquecer toda a minha situação com Jimin.
Suspirei e tentei sorrir sem parecer uma completa idiota.
— Claro, por que não?
A vida tem um senso de ironia quase cruel. A gente passa tanto tempo tentando fugir de certas coisas, achando que, se ignorarmos o suficiente, elas vão desaparecer. Mas a verdade é que algumas questões simplesmente não somem. Elas se instalam, crescem dentro de nós como raízes, esperando o momento certo para se fazerem notar.
Como uma boa amante das ciências exatas, sempre prezei para que tudo na minha vida estivesse resolvido. Para uma pessoa dos cálculos, um emaranhado de números sem uma resposta ou uma solução lógica é como a morte.
Mas sentimentos não funcionam como equações.
Eles não seguem uma fórmula fixa, não obedecem a um padrão lógico. São caóticos, instáveis. Às vezes, mesmo quando todas as variáveis parecem estar no lugar, o resultado final ainda não faz sentido.
E talvez esse fosse o meu maior problema.
Passei a vida inteira buscando soluções exatas, acreditando que, se eu trabalhasse duro o suficiente, conseguiria resolver tudo. Mas algumas coisas não são para serem resolvidas — só sentidas.
E isso me assustava pra caralho.
Porque, se sentimentos não seguem lógica, como a gente sabe quando é hora de insistir ou de desistir? Como diferenciar um problema que vale a pena solucionar de um que só vai continuar nos prendendo?
Talvez seja por isso que algumas questões nunca desaparecem. Porque, no fundo, não queremos que elas desapareçam. Queremos entendê-las. Queremos que elas façam sentido.
Aceitei o convite de Eunwoo sem pensar muito —talvez se eu o fizesse, colocaria tudo a perder. E agora aqui estava eu, sentada em uma mesa da cafeteria ao lado de um crush, tentando parecer relaxada enquanto mexia distraidamente na tampa do copo. O cheiro de café recém passado misturado ao leve perfume amadeirado dele deveria ser o suficiente para me manter completamente atenta, mas minha mente ainda insistia em revisitar todo o final de semana. Era para eu estar feliz, mas, por algum motivo, não conseguia deixar de me sentir distante.
Não conseguia deixar de pensar em Jimin.
O que é péssimo e uma merda gigante.
— ? — Eunwoo chamou minha atenção, inclinando levemente a cabeça.
— Hm? — Pisquei algumas vezes, focando nele.
— Você está distraída hoje — ele comentou com um sorriso divertido, apoiando os braços na mesa. — Alguma coisa acontecendo? Sei que não temos intimidade, mas você pode falar o que quiser. Sou um bom ouvinte.
Antes que eu pudesse responder, um arrepio percorreu minha espinha.
Sabe aquela sensação de que alguém está te observando? Que, mesmo sem olhar, você sabe que há um par de olhos fixos em você?
Eu sabia. Tinha certeza, na verdade.
Virei o rosto, e lá estava ele.
Jimin.
Parado na fila, segurando o celular na mão, mas com os olhos grudados em mim. A expressão dele era ilegível, mas o maxilar tenso denunciava alguma coisa.
Meu coração deu um salto desconfortável, e, ao tentar me recompor, quase derrubei meu café. Meu corpo reagia antes mesmo que minha mente pudesse entender o impacto de ver Jimin depois de tudo.
Um lembrete mental: Eu não devia nada a ele. E nem ele me devia, também.
Bom, ele deveria saber disso melhor que eu, já que beijou outra garota mesmo tendo me beijado minutos antes.
— Oi? — Eunwoo chamou novamente, estalando os dedos na minha frente e eu percebi que estava olhando para Jimin tempo demais.
Forçando um sorriso, voltei minha atenção para ele.
— Não aconteceu nada demais — menti, levando o café até os lábios. — Só estou lembrando que esqueci de fazer algumas atividades que o Sr Lee passou, mas nada que eu não consiga antes que ele chegue na sala.
E se Park Jimin ainda me olhava? Eu não sabia. Não queria saber.
Pelo menos era o que eu tentava convencer a mim mesma.
O resto do dia se arrastou como um experimento fracassado. Cada aula foi apenas um ruído de fundo, um conjunto de informações que meu cérebro processava no automático, mas que não faziam sentido algum. Minha mente estava longe — e eu odiava isso.
Quando finalmente pisei para fora da universidade, o céu já exibia tons alaranjados, e o ar carregava aquele cheiro familiar de asfalto quente e café.
Suspirei, ajeitando a alça da mochila no ombro. Só queria ir para casa, tomar um banho e esquecer que a segunda-feira existiu.
Mas a vida, como sempre, tinha outros planos.
— Você vai continuar fingindo que eu não existo?
Parei no mesmo instante. Meu corpo reconheceu a voz antes mesmo que minha mente pudesse reagir.
Virei lentamente, encontrando Jimin parado a poucos metros de mim.
Ótimo.
— Não estou fingindo nada — respondi, me forçando a manter o tom firme.
Ele riu pelo nariz, sem humor.
—Nem você acredita nessa merda, . Já te disse que você é uma péssima mentirosa?
Revirei os olhos, já sentindo a paciência escorrer pelos dedos.
— Você quer o quê, exatamente, Jimin? Porque, sério, eu não tenho esse tempo de ouro.
— Eu quero entender — ele deu um passo mais perto, e eu me obriguei a não recuar. — Quero entender por que diabos você acha que pode simplesmente me apagar da sua vida como se eu nunca tivesse existido, sem um motivo aparente. Eu sou seu amigo há anos, porra!
—Sem um motivo aparente? —me senti rindo de nervoso, porque só podia ser uma piada. — Você realmente tem coragem de dizer isso? — Cruzei os braços, tentando manter a compostura enquanto meu coração martelava contra as costelas. — Você me beijou, Jimin. E depois beijou outra como se não fosse nada.
Ele estreitou os olhos, como se não acreditasse no que estava ouvindo.
— E desde quando um beijo define alguma coisa, ?
Soltei uma risada incrédula.
— Talvez desde o momento em que você fez parecer que significava algo. Desde o momento em que você me olhou e me tocou daquele jeito e depois jogou tudo no lixo como se fosse só parte da merda do jogo!
— Você acha que eu joguei no lixo? — A voz dele abaixou, mas o olhar queimava. — , eu não sabia que significava tanto assim para você. E não deveria significar, porra. Fazia parte do que eu estava te ensinando.
A raiva explodiu dentro de mim como uma tempestade.
— O quê? — Ri sem humor, sentindo meu peito arder. — Você está me dizendo que aquele beijo foi só uma lição, Jimin? Que eu deveria ter levado como… sei lá, um exercício qualquer? Com o que você acha que está lidando, exatamente? Um animal?
Ele passou a língua pelos lábios, impaciente.
— Nós somos amigos, . Pelo amor de Deus. Você sabia disso tudo desde o começo e concordou.
Meu estômago revirou.
— Então me explica, professor — cuspi as palavras, dando um passo à frente. — O que exatamente eu deveria ter aprendido? Que você pode fazer o que quiser e eu só tenho que aceitar? Que eu sou só mais uma aluna idiota que confundiu as coisas?
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Mas foi exatamente isso que você fez! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. — Você me beijou, depois de anos! Nós já passamos por isso antes, então deveria saber que não dá para simplesmente beijar alguém assim, do nada. Beijo é a porcaria de um contato íntimo demais. Você sabe disso.
Ele ficou em silêncio por um momento, e o músculo do maxilar pulou.
— Você entendeu tudo errado, inferno. Nós não temos nada. E esse beijo não deveria significar tanto para você, . Não temos mais 15 anos.
Aquilo foi como um soco no estômago.
— É, não deveria significar mesmo, principalmente, vindo de um covarde como você. Eu só esperava um mínimo de respeito.
Me virei para sair, mas senti a mão dele segurando meu pulso.
—Olha, eu não queria machucar você, ok?
Ri, sem vontade.
— Mas machucou. E, sinceramente? Eu não quero mais ouvir desculpas.
— Tá bom, então não me escuta. Mas pelo menos ouça isso: não sai com o Eunwoo.
Minha testa franziu na hora.
— O quê?
Ele soltou meu pulso, mas não recuou. Pelo contrário, deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós.
— Eu ouvi ele falando com os amigos. Ele não tá interessado em você do jeito que você pensa. Ele só quer te usar, .
Soltei uma risada incrédula.
— Ah, que conveniente. Você acha que eu sou burra? — Dei um passo para trás, balançando a cabeça. — Primeiro você faz todas essas merdas e finge que tudo não passou de um teste. Agora, do nada, resolve se preocupar comigo? Isso é muito estranho.
Ele bufou, passando a mão pelos cabelos, claramente perdendo a paciência.
— Você acha que eu ia mentir sobre isso?
— Acho que você faria qualquer coisa pra me manter longe de outra pessoa. Você é um idiota quando quer.
Ele riu sem humor, incrédulo.
— Meu Deus, , você realmente pensa que eu sou esse tipo de cara?
— Não sei mais o que achar de você. Na verdade, acho que todos os caras são assim.
O silêncio entre nós ficou pesado, quase sufocante. Jimin apertou os lábios, como se tentasse se controlar.
— Eu só tô tentando te avisar. Você faz o que quiser essa informação.
— Ótimo, porque eu vou fazer exatamente isso.
Me virei para sair, esperando que ele tentasse me impedir de novo.
Mas ele não tentou. E eu continuei andando.
Sem olhar para trás.
"Esperar é como amarrar seu coração a uma corda, sem saber se ela vai suportar o peso." – F. Scott Fitzgerald, "O Último Magnata"
Expectativas são como castelos de areia. Você constrói com cuidado, paciência, esperando que durem, mas basta uma onda para derrubar tudo.
E Jimin foi minha maré. Alta e intensa.
Existem dores que não vêm do que é dito, mas do que é negado. Não do grito, mas do silêncio. Não da mentira, mas da falta de verdade. Expectativa é a porra de um veneno doce. A gente se alimenta dela sem perceber, até que a realidade vem e nos intoxica de uma vez. Porque a verdade é que palavras machucam não só pelo que dizem, mas pelo que destroem. Elas apagam ilusões, desmoronam sentimentos, esfriam aquilo que um dia aqueceu.
Eu não esperava promessas, nem juras de amor. Mas esperava a merda de alguma coisa.
Algo que me dissesse que eu não estava sozinha nisso. Que eu não estava sentindo sozinha.
No fim, o que eu recebi foi uma sentença seca, afiada e certeira:
“Nós não temos nada.”
As palavras quebraram contra mim como espuma branca e impiedosa, levando embora tudo o que eu ingenuamente pensei que pudesse existir. Me deixaram de joelhos na areia molhada, olhando para as ruínas do que nunca foi de verdade.
O gosto dele ainda estava na minha boca. A lembrança do toque, quente e desesperado, ainda queimava minha pele. O coração ainda pulsava como se estivesse preso em um tempo onde, por um instante breve e cruel, eu acreditei que talvez ele sentisse o mesmo.
Mas não.
Jimin nunca foi um porto seguro. Ele era mar, imprevisível e imenso. Eu só fui tola o suficiente para achar que poderia me ancorar nele.
Depois da última conversa com as palavras que cortaram fundo, o silêncio se instalou entre nós como uma muralha invisível. Nos ignoramos e a merda da semana passou se arrastando. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, não havia provocações, apelidos idiotas, nem mensagens de madrugada, nem olhares carregados de piadas internas que nunca dizíamos em voz alta.
E doeu pra caralho.
Doeu perceber o espaço vazio ao meu lado na hora do almoço da universidade, onde ele sempre esteve. Doeu fingir que não o via quando nossos caminhos se cruzavam, quando nossos olhos se encontravam apenas por um segundo antes de desviarem, pesados de tudo o que ficou no meio do caminho.
Mas talvez fosse o melhor.
Talvez, dessa vez, o mar tivesse me ensinado a lição que eu insistia em ignorar: algumas coisas não foram feitas para ficar, por mais bonitas que pareçam sob a luz do sol. Algumas ondas só vêm para destruir, e a única escolha possível é aprender a nadar para longe.
Os dias pareciam esticados ao limite, e os cálculos — que sempre foram meu refúgio, onde minha mente encontrava ordem — tornaram-se uma tortura. Números antes precisos agora dançavam sem sentido, como se até eles se recusassem a me oferecer clareza. Eu evitava pensar nele, mas era como tentar não tocar em um machucado recente. Mesmo sem querer, o “não temos nada” aparecia vez ou outra para me tirar do eixo.
—Mas, a gente precisa encontrar qual o valor da resistência equivalente, porque não tá batendo... ! — A voz de Jisoo me tirou do transe, e eu me assustei, quase derrubando a caneta no chão frio da biblioteca. —Estamos fazendo a porcaria de uma lista de circuitos elétricos e você tá em um mundo completamente diferente.
—E...?
—E que essa é a sua matéria preferida. —Jisoo colocou a mão na minha testa, tateando como se estivesse procurando alguma coisa. Revirei os olhos e afastei a mão da coreana do meu rosto. —O que tá rolando?
—Nada. Eu só estou com enxaqueca. —Menti e ela estalou o dedo, procurando algo dentro da bolsa.
—Toma aqui, esse é o meu preferido! —a ruiva me entregou um chocolate suíço —Não julgue ele por ser meio amargo. Apenas prove com um pouco do seu café. Vai melhorar sua dor de cabeça.
Sorri em negação, olhando a embalagem rosa do bombom que parecia ser diferente do que eu estava acostumada. Jisoo tinha uma vida curiosa, um mix perfeito de pragmatismo e loucura. A conheci durante a preparação de algum trabalho sobre análise de sinais e, desde então, não nos afastamos mais. Ela morava sozinha desde que se mudara para a cidade para estudar, e embora fosse uma expert em administrar seu tempo entre os estudos e a diversão, nunca deixava de ser o centro das atenções por onde passava. Seu apartamento era um reflexo dela: bagunçado, mas com um charme único. Passou uma temporada na Suíça, estudando sobre biossistemas e inteligência computacional aplicada e foi aí que descobriu ser apaixonada por chocolates. Na cabeça dela, eles funcionam como remédios.
Jisoo nunca teve medo de se arriscar. E isso é algo de se admirar.
Se alguém sugerisse um projeto maluco ou uma viagem espontânea, ela era a primeira a topar. Ela jurava que o caos era parte de sua estratégia para "pensar fora da caixa". Mas, por mais que fosse divertida e descomplicada, a coreana não era de se deixar enganar facilmente. Por trás do sorriso largo e risada fácil, ela tinha uma capacidade impressionante de perceber quando as coisas não estavam bem — e quando isso acontecia, ela sabia exatamente como fazer a pessoa se abrir sem pressa, com paciência e, claro, os tais chocolates.
Ela também tinha um talento especial para se meter em situações hilárias, como quando tentou entrar para o time de futebol da faculdade sem saber a diferença entre um gol e uma falta, acertando em cheio a cabeça do Yoongi —um dos melhores amigos de Jimin—, com um salto quando ele disse que aquele esporte não era para meninas. Foi engraçado de se ver. Mas, no fim, ninguém se importava. Porque, por mais que fosse um desastre em alguns aspectos, Jisoo era o tipo de amiga que todos queriam por perto. Afinal, quem mais faria a vida parecer um pouco mais doce e divertida, até nas horas mais tensas?
— É isso mesmo? Chocolate e café? — Perguntei, desconfiada, mas não conseguindo resistir a uma risada. Ela me deu um sorriso largo e acenou com a cabeça, como se fosse óbvio.
— Acredite, . Se não funcionar, pelo menos o chocolate vai te fazer sentir um pouco melhor. — E, sem mais, se jogou na cadeira ao meu lado, esperando que eu fizesse o teste. —Física me dá muita dor de cabeça, também. Sempre ando com umas brincadeirinhas dessas na bolsa. — Jisoo apontou para o chocolate na minha mão, enquanto revirava a bolsa e tirava mais um, dessa vez com embalagem dourada.
— Isso não é quase um estoque clandestino de chocolate? — Arqueei uma sobrancelha, observando a quantidade de doces que ela parecia guardar ali dentro.
— Shhh. — Ela levou um dedo aos lábios, fingindo segredo. — Eu chamo de kit de sobrevivência. Alguns carregam analgésicos, outros carregam cafeína… eu prefiro cacau de qualidade.
Soltei um riso baixo e desembrulhei o chocolate. Pelo menos alguém conseguia me distrair por alguns segundos. Porém, antes que eu pudesse colocar um pedaço na boca, uma voz interrompeu o momento:
— Ei, !
Levantei os olhos e vi Eunwoo parado na nossa mesa com um sorriso de ponta a ponta. Minha mente parou de funcionar por alguns segundos.
Não, eu não estava com acostumada com um homem que possui esse nível de beleza sequer direcionar a voz para mim.
— Oi? — Respondi, tentando disfarçar minha surpresa.
— Tá afim de sair esse final de semana?
Jisoo, ao meu lado, praticamente paralisou no meio da mastigação com os olhos indo de mim para ele como se tivesse acabado de presenciar um fenômeno raro da ciência.
Eu não estava diferente.
— Sair? — Repeti, engolindo seco. — Que tipo de saída estamos falando?
Eunwoo sorriu, se apoiando na mesa e eu gelei com a aproximação repentina.
—Nada de bibliotecas, cálculos ou qualquer coisa do tipo. —O xinguei mentalmente. Por que diabos ele ainda lembrava disso?
— Um encontro. Ou algo parecido. — Ele deu de ombros, como se não fosse nada demais. Minha garganta fechou completamente. — Só nós dois, relaxando um pouco.
Jisoo me cutucou com o pé por baixo da mesa, claramente se segurando para não falar nada.
A voz de Jimin ecoou na minha cabeça.
"Ele só quer te usar."
Eu não devia me importar. Não devia dar ouvidos a alguém que, no final, me jogou para longe como se eu nunca tivesse significado nada. Mas as palavras do canalha ainda pulsavam em algum canto da minha mente, insistente, como uma maré voltando para me puxar.
— E por que exatamente eu? — Perguntei, estreitando os olhos.
Ele riu baixo.
—Eu gostei da sua companhia naquele dia no café —Eunwoo sorriu tímido e pude ver as bochechas corando de leve —Eu pensei que você poderia gostar, mas não precisa se sentir pressionada. Só achei que poderia ser legal.
Jisoo praticamente engasgou com o chocolate ao meu lado, e eu mesma fiquei sem reação por alguns segundos.
Pisquei, observando-o com mais atenção. Seus dedos batiam contra a mesa em um ritmo acelerado, quase ansioso, enquanto ele evitava segurar meu olhar por muito tempo. O sorriso era genuíno, mas havia algo nos ombros ligeiramente tensionados e na forma como ele mordia de leve o canto do lábio, que me fez hesitar.
Lembrei-me das palavras de Jimin, em uma das aulas de sedução, sobre os sinais que o corpo dá.
"O corpo fala mais do que a boca. Mãos inquietas, olhar que desvia, respiração alterada… às vezes, o que a pessoa diz não tem nada a ver com o que ela realmente sente."
Eunwoo estava nervoso. Claramente nervoso.
Eu abri a boca para responder, mas um arrepio na nuca me fez perceber que alguém havia se aproximado. E eu não precisei olhar para saber quem era.
O cheiro de Jimin era inconfundível.
O silêncio ao meu redor ficou pesado, como se o ar tivesse mudado de densidade. Meu coração bateu mais forte, mas me recusei a virar o rosto.
Respirei fundo, tentando não me importar com a presença de Park.
Eunwoo estava parado na minha frente agora, um sorriso fácil nos lábios, me convidando para sair.
Eu deveria confiar em Jimin? Ou isso era só outra tentativa de controle, mais uma prova de que ele queria me manter onde sempre estive: perto o suficiente para sentir, mas longe demais para ter?
—E então, o que você me diz?
Que inferno!
Por que diabos a tomada de decisões é difícil?
Eu devia saber o que dizer, já que Eunwoo sempre foi meu crush. Mas tudo que eu sei é que esse convite me deixa estranhamente dividida.
Isso não pode ser tão ruim assim. Ou pode? E se for um erro?
Mas e se, por um segundo, eu me permitisse? Só para ver o que acontece.
Maldita indecisão.
Eunwoo ajeitou os óculos e mexeu nos cabelos perfeitamente desalinhados.
Pensa, . Pensa, .
— Eu... eu adoraria sair com você, Eunwoo. — Minha voz soou mais firme e mais alta do que eu esperava.
Jisoo me encarou de olhos arregalados, Eunwoo sorriu satisfeito e, por um breve momento, senti que alguém atrás de mim ficou imóvel.
— Ótimo. Eu te mando mensagem com os detalhes. — Eunwoo piscou para mim antes de se afastar, enquanto o silêncio ainda pairava no ar.
Eu finalmente olhei para o lado e encontrei Jimin ali, parado, sem dizer uma única palavra. Mas ele não precisava. O jeito que seus olhos me analisaram foi o suficiente para me fazer engolir em seco.
Park segurou meu olhar por mais alguns segundos com os olhos escuros carregando algo que eu não conseguia decifrar completamente. Mas eu sabia que não era indiferença.
Não dessa vez.
Então, sem uma única palavra, ele desviou o olhar e simplesmente se virou.
O som dos seus passos ecoou nos corredores silenciosos, e a tensão que ele deixou para trás parecia grudada na minha pele.
Jisoo soltou um assobio baixo.
— Caramba. O seu amigo tá com uma cara de quem vai socar uma parede.
—Se essa lista de circuitos elétricos fosse de lançamento oblíquo eu te obrigaria a me ensinar aquela mira perfeita do seu salto na cabeça do Yoongi. Jimin está precisando de uma igual ou bem pior.
—Wow! Um barraco? Te ensino agora mesmo como quebrar a cara dele.
Ri sem humor, mas o som morreu rápido demais. Porque a verdade é que alguma coisa dentro de mim também queria quebrar.
Mas, em vez disso, engoli em seco, ajeitei a postura e fingi que nada tinha acontecido. Como se não soubesse que, entre todas as palavras que já trocamos, aquelas que não dissemos eram as que mais doíam.
E ali estava eu, tentando a firmeza, enquanto as ondas subiam aos poucos—porque o problema da maré alta não é quando ela chega, e sim quando você percebe que já está no meio dela, sem saída.
Park Jimin
A indiferença é algo que dói. Pra cacete.
Minha mãe sempre me dizia que ainda chega a ser interessante a ideia de alguém te odiar ou ter raiva de você, porque isso significa que ela sente alguma coisa. Que, de alguma forma, você ainda importa. Nem que seja para mandar você ir se foder —e isso é uma puta demonstração de sentimentos. Mas quando a única coisa que resta é o silêncio e um olhar vazio, a dor se torna insuportável. Porque não há luta, não há briga. Só ausência.
A indiferença mata. Não de uma forma poética ou melancólica, mas de um jeito fodido e irritante.
Ficar ausente de era um inferno do tipo ardente e insuportável. O tipo que corrói por dentro, que deixa um gosto amargo na boca e um aperto desgraçado no peito. Eu nunca fui bom com despedidas, mas essa não era uma despedida. Era pior. Era ser esquecido enquanto ainda se está aqui. E o pior de tudo? Eu não fazia ideia do que caralho eu tinha feito pra merecer isso.
Ou talvez soubesse.
A frase que saiu da minha boca na última discussão ainda ecoava na minha mente como um soco mal dado, que ao invés de machucar o outro, ricocheteia e fode com você mesmo.
“Nós não temos nada. E esse beijo não deveria significar tanto para você, . Não temos mais 15 anos.”
Que merda. Que bela e completa merda você é, Park Jimin.
Na hora, parecia a melhor coisa a se dizer. Ou pelo menos o mais seguro. Porque admitir que aquele beijo significava mais do que qualquer um antes? Que, caralho, desde a adolescência eu nunca tinha esquecido como era sentir a boca dela na minha? Isso seria como abrir a porra do peito e deixar ela ver tudo o que eu escondia há anos. E eu não achava que isso era o certo a se fazer.
Mas aí eu falei. Do jeito mais frio e escroto possível.
Se eu pudesse voltar, eu teria dito qualquer outra coisa. Qualquer merda menos aquilo.
Porque agora eu estava aqui, preso nessa porra de silêncio, observando Eunwoo dar os primeiros passos com ela.
Vendo ele se aproximar, sorrindo daquele jeito todo certinho, puxando assunto como se fosse um cara incrível. Como se eu não soubesse que ele era um babaca. E eu fui avisá-la disso e o que recebi em troca?
Descrença, raiva e aquele olhar de quem me enxerga como um filho da puta manipulador.
E eu não tive condições de rebater isso. Porque, na minha cabeça, ela estava certa.
Eu fui um filho da puta com .
— Por que você está com essa cara de quem comeu e não gostou? — Yoongi apareceu do nada no vestiário, limpando o rosto com uma toalha e me analisando com aquele olhar preguiçoso de sempre.
— Porque eu não gostei. — Respondi seco, vestindo a camiseta e soltando um suspiro pesado. De fato, a sensação era indigesta.
Yoongi estalou a língua, fingindo refletir.
— Deixa eu adivinhar… — Colocou a mão no queixo, dramatizando a cena. — ?
— Acertou.
Ele soltou uma risada nasal.
— Você comeu ela e não gostou?
Sem pensar duas vezes, peguei uma garrafinha vazia e joguei nele. Yoongi desviou por pouco, rindo ainda mais.
— Ah, qual é! — Ele ergueu as mãos em rendição. — Foi você que deixou essa piada pronta.
— Vai se foder.
— Já estou vendo que é sério. — Ele se jogou no banco ao lado, apoiando os braços nos joelhos. — O que foi agora?
Passei as mãos no rosto, irritado.
— Eu vi aquele babaca do Eunwoo chamando ela pra sair.
Yoongi piscou, nada surpreso.
— E?
— E que ele é um imbecil! Eu ouvi ele dizendo que só queria testar até onde conseguia ir com ela.
—É bem a cara dele fazer isso, mesmo. —Yoongi bebeu um pouco de água e franziu o cenho —Mas, você falou isso pra ela, certo?
— Falei, mas não estamos bem. Fiz uma merda gigante com e agora não faço ideia de como reparar tudo.
Yoongi me olhou de lado, estreitando os olhos.
— Que tipo de merda?
Respirei fundo, sentindo a irritação se misturar com o arrependimento.
— A gente se beijou, Yoongi. — Passei a mão no rosto, frustrado. A lembrança do beijo me atingiu em cheio. — Eu estava ajudando ela a se soltar mais, entende? Mas isso… isso foi além das barreiras. Não era pra ter acontecido.
Yoongi soltou um riso fraco, cruzando os braços.
— Você diz como se não tivesse gostado.
— Esse não é o ponto.
— Claro que é.
Revirei os olhos, impaciente.
— O problema é que, depois disso, eu falei merda. Disse que o beijo não devia significar tanto, que era só parte do treino… e que a gente não tinha nada.
Dessa vez, Yoongi não riu. Só me encarou como se eu fosse um completo idiota.
— Você tá me dizendo que beijou a garota, ela claramente sentiu alguma coisa, e a sua brilhante conclusão foi dizer que não significava nada?
— Não foi bem assim…
— Jimin.
Fechei os olhos por um segundo, rangendo os dentes.
— Tá, foi assim.
Ele balançou a cabeça, descrente.
— E você ainda se pergunta por que ela tá te tratando como um completo desconhecido?
— Eu não queria machucar ela…
— Parabéns, você conseguiu o contrário.
Fiquei quieto, encarando o chão.
Yoongi suspirou e deu uma tapinha nas minhas costas.
— Boa sorte consertando essa merda. Você vai precisar.
—Não era pra você ser a porra de um amigo e, sei lá, me ajudar?
— E o que você quer fazer agora? Enfiar um cartaz luminoso na cara dela dizendo “ele é um cretino, acredite em mim, mesmo eu tendo sido um escroto com você”?
— Considerando que ela não escuta mais porra nenhuma do que eu falo, talvez fosse uma boa ideia.
Ele riu de leve, balançando a cabeça.
— Você fez merda, Jimin. está magoada. E uma mulher magoada, meu caro, é como um vulcão em quase erupção. Agora, só te resta esperar a bomba estourar e ver ela saindo com o Eunwoo.
— E se eu não quiser esperar? —Suspirei, claramente perdido e confuso no que eu estava sentindo —Não quero ver aquele babaca encostando na .
Yoongi ergueu uma sobrancelha, como se já soubesse a resposta antes mesmo de perguntar.
— Então para de bancar o idiota e admite logo o que sente pra ela.
Fiquei em silêncio. O que eu sentia por ?
A pergunta ecoava na minha cabeça como um maldito sino de igreja.
Eu gostava dela? Claro que sim. Sempre gostei.
Mas gostar dela como?
Como amiga? Como alguém que eu queria por perto, mas sem passar de um limite invisível que, porra, eu mesmo já tinha cruzado?
O beijo.
Fechei os olhos por um instante, frustrado. O problema não era o beijo. O problema era o que veio depois. O jeito como o coração bateu forte demais, como eu senti aquele frio na barriga estúpido que não deveria estar ali. Como eu percebi, no segundo seguinte, que eu não queria que fosse só um treino.
E, ao invés de encarar isso, eu fiz o quê?
Joguei tudo no lixo.
Passei a mão no cabelo, irritado.
Yoongi estava certo. Eu só precisava admitir.
Mas como você admite algo que nem ao menos entende?
—Não! Não, não e não. —Levantei em um quase desespero, passando as mãos no cabelo, sentindo o peito apertar de raiva.
Yoongi arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo com o meu surto.
—Puta merda, eu acho que eu nasci pra ver Park Jimin à beira de um colapso por conta de uma mulher —Ele levantou a garrafinha como se fosse uma taça de champanhe —A vida é boa!
— Eu não posso sentir nada por ela.
— Tá, então não sente.
— Mas—
— Mas você sente.
Parei de andar, cerrando os punhos.
— Eu não posso, Yoongi. Eu não posso.
Ele me encarou por um segundo, antes de se recostar contra o banco.
— Então por que tá agindo como se o mundo fosse acabar por causa disso?
Abri a boca para responder, mas nada saiu.
Merda.
— Você pode correr disso o quanto quiser, mas no final, Jimin… certas coisas simplesmente são.
Yoongi continuou e fiquei em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras caírem sobre mim.
Era verdade.
Podia negar, podia fingir, podia me afogar em desculpas esfarrapadas — mas nada mudaria o fato de que já estava em mim. Mesmo que fosse em algo confuso, sem lógica, sem pé, sem cabeça.
Ela estava em mim exatamente como o caos que era.
Sempre esteve.
O dia na faculdade passou como um borrão.
As aulas, as conversas, os corredores cheios… nada parecia realmente registrar na minha cabeça. A única coisa que ficava voltando, como uma música repetitiva e irritante, era a minha conversa com Min Yoongi.
Suspirei fundo, ajeitando a mochila no ombro enquanto descia as escadas do prédio. Tudo que eu queria era ir pra casa e esquecer essa merda. Mas, é claro, o universo parecia determinado a testar minha paciência. Porque assim que passei pelo corredor lateral, escutei uma voz que me fez parar no mesmo instante.
— Ela aceitou na hora. Falei que a gente podia sair esse final de semana, e ela ficou toda empolgada.
Virei o rosto ligeiramente com meu estômago afundando ao reconhecer quem estava falando.
Eunwoo.
O idiota estava cercado pelos amigos com aquele maldito sorriso convencido no rosto.
— Não disse? Era só questão de tempo.
— Acha que ela tá interessada?
Eunwoo deu de ombros.
— Sei lá. Mas isso não importa, importa?
Os amigos riram.
Meu sangue gelou.
Minha visão ficou turva de raiva.
Antes que pudesse me controlar, já estava andando na direção dele sem me importar com a minha mochila caindo no chão.
— Que porra você disse?
O grupo parou de rir na hora. Eunwoo me olhou, confuso por um segundo, antes de soltar um suspiro dramático.
— Ah, pronto. O cachorro de guarda. —Ele me olhou com certo deboche e eu tive vontade arrancar dente por dente do sorrisinho cretino e bonito dele. —O que foi? Tá com ciúmes da sua amiga? Eu vi quando você saiu batendo o pé da biblioteca, como uma criança mimada que acabou de ter o pirulito negado pela mamãe.
Cerrei os punhos, sentindo minha paciência se esvair como areia por entre os dedos.
— Você só pode estar de brincadeira comigo. — Soltei uma risada seca, cheia de desdém. — Você acha que está na porra de um filme, é isso? Que acha que pode sair falando qualquer merda e sair impune?
Eunwoo arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços como se eu fosse algum tipo de entretenimento barato.
— Qual é o seu problema, cara?
— Meu problema? — Dei um passo à frente com o meu peito quase encostando no dele. — Meu problema é ver você falando da como se ela fosse um maldito brinquedo usado.
— E desde quando você virou o dono dela? — O sorrisinho cínico ainda estava ali, mas havia um brilho irritado nos olhos dele. — Ah, espera... Você não é.
Os amigos dele murmuraram algo, alguns parecendo desconfortáveis, outros claramente interessados na confusão que estava se formando.
— Mas eu acho bonitinho. — Ele continuou, inclinando a cabeça de lado. — Você bancando o macho alfa por uma garota. Não é você o cara que pega todas? A está na sua listinha?
Foi a gota d’água.
Meu punho se fechou antes que eu pudesse raciocinar. Num segundo, ele ainda estava falando merda. No outro, meu soco já tinha atingido sua mandíbula, fazendo-o cambalear para trás e cair.
O choque no rosto dele teria sido cômico, se eu não estivesse tão puto.
— Filho da puta! — Ele rosnou, levando a mão ao queixo.
— Agora você pode rir de verdade, seu merda. — Cuspi as palavras, sentindo meu peito subir e descer com a adrenalina.
— JIMIN!
O som da voz dela congelou tudo ao meu redor.
Me virei, ainda com a respiração acelerada, e a vi ali.
me encarava com uma mistura de choque e raiva, os olhos arregalados enquanto passavam de mim para Eunwoo, que ainda esfregava a mandíbula.
— O que você fez?! — Ela se aproximou com a expressão dura.
— O que eu fiz? — Soltei uma risada incrédula, apontando para o outro lado. — Que tal perguntar para ele o que ele andou dizendo sobre você?
cruzou os braços, me olhando como se eu fosse o único errado na história.
— E isso justifica sair batendo nas pessoas? Na frente de todo mundo?
— Se você soubesse metade do que esse idiota pensa sobre você, ia querer bater nele também.
Eunwoo bufou ao fundo, limpando uma pequena quantidade de sangue do canto da boca. Sorri em satisfação.
—, ele surtou do nada pra cima de mim. Eu nem estava falando de você.
Minha mandíbula travou com a mentira daquele cara.
—Você é um cretino descarado, Eunwoo. É melhor você calar a merda da sua boca antes que eu...
— Antes que você o quê, Jimin? — Ela me cortou, dando um passo à frente. Seus olhos estavam carregados de decepção. — Antes que você faça mais uma porcaria? Não acha que já foi o suficiente?
— Qual o seu problema, garota? — Peguei minha mochila do chão, sentindo a raiva latejar nas têmporas. Eunwoo se levantou com ajuda de um dos amigos e se retirou, falando alguma merda. — Eu estava te defendendo!
cruzou os braços com os olhos faiscando em fúria.
— Eu não te pedi para me defender, Jimin.
—Mas é isso que amigos fazem, porra! —Soltei uma risada incrédula —Você prefere acreditar naquele babaca do que em mim, né?
— Não se trata de acreditar em ninguém! — Ela jogou as mãos para o alto, exasperada. — Se trata de você sair por aí batendo nos outros como se isso fosse resolver alguma coisa!
— Ele tava falando merda de você! — Gritei com a voz saindo mais alta do que eu pretendia. —Por não acredita em mim, inferno?
—Por que eu deveria, huh? —Ela cruzou os braços —Você foi um covarde comigo e agora quer bancar o amigo que defende? Por que diabos eu acreditaria em você?
—Ele não é pra você.
arregalou os olhos, soltando uma risada incrédula.
— Ah, entendi. Agora você decide com quem eu devo sair? Faz parte do pacote de aulas de sedução?
Minha mandíbula travou.
— Para de falar merda, .
— Eu? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Você que tá aqui, feito um macho alfa possessivo, depois de dizer que a gente não tinha nada. Agora quer se meter na minha vida por quê?
—Não. Eu não quero me meter na sua vida. Não mais. Tô cansado de ser ignorado por você.
— Você não pode me tratar como se eu fosse nada e depois agir como se tivesse algum direito sobre mim. Você precisa decidir, Jimin.
O peito apertou e eu engoli em seco.
—Eu já decidi, . —Minha voz saiu firme, mas a dor era nítida. —Eu sei que falei merda pra você e peço desculpas, mas se você pretende ir adiante com esse idiota do Eunwoo, não tem mais nada que eu possa fazer. Eu... eu não vou ficar me arrastando atrás de você, pedindo para que acredite em mim. O melhor a ser feito é esperar você se foder com essa decisão ridícula.
O silêncio foi instantâneo.
O olhar dela endureceu.
E eu soube que tinha ferrado com tudo.
O amor é uma dor que se tem, e, quando se tem, nunca se quer largar." – Emily Brontë, O Morro dos Ventos Uivantes
Minha cabeça estava uma bagunça. Uma bagunça fodida e impossível de ser organizada. Eu não sabia mais o que sentir, ou sequer como colocar em palavras tudo o que estava acontecendo dentro de mim. Era como se um turbilhão de emoções estivesse se chocando sem parar, e eu não conseguia encontrar uma saída.
Tudo estava misturado, sem sentido, sem ordem. Para alguém que é acostumado com números e ciências exatas, isso é exatamente como a morte.
Raiva, tristeza, confusão… cada uma dessas emoções se empurrava para a frente, tentando dominar, tentando ser a principal. Eu tentava organizar meus sentimentos, mas eles se entrelaçavam, se fundiam, e a cada momento eu ficava mais perdida. Como você lida com uma bagunça emocional quando não tem nem ideia de onde começar?
Era como se meu coração estivesse cheio de buracos, de espaços vazios que se preenchem com os sentimentos mais contraditórios. Eu odiava o que Jimin fez, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim ainda se importava com ele.
E isso é uma merda.
Porque eu queria saber como estava a mão dele depois do soco na cara do Eunwoo, mas também, queria matar ele por ter feito isso. Eu odiava me sentir assim, mas era como se não houvesse escapatória. Uma parte de mim queria gritar, outra queria chorar. Uma queria se afastar, e a outra ainda queria ficar.
Eu sempre pensei que sentimentos fossem algo simples de se entender, algo que a gente poderia controlar com o tempo. Mas, agora, parecia que eu estava em um labirinto, e cada passo me levava para uma direção diferente. Eu estava confusa, tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que não se encaixavam. E o pior de tudo é que, no fundo, eu não sabia se queria arrumar essa bagunça, ou se estava confortável na confusão.
Era como se, de alguma forma, me perder nas emoções fosse mais fácil do que ter que confrontá-las de frente. Eu queria que tudo fizesse sentido, mas, ao mesmo tempo, eu não sabia se estava preparada para dar sentido a nada. Eu só queria que a bagunça fosse embora. Só queria um pouco de paz.
Mas, como se tem paz quando há um Park Jimin na sua vida?
—Eu deveria estar feliz, não deveria? —Olhei para o meu reflexo no espelho pela milésima vez.
O vestido estava perfeito, a maquiagem realçava meus traços, e qualquer outra pessoa no meu lugar estaria sorrindo agora. Mas eu não conseguia. Havia algo errado, algo que apertava meu peito de um jeito irritante, como um salto lindo, mas em um número menor do que o ideal.
Talvez fosse o fato de que, no fundo, eu esperava que fosse outra pessoa me esperando esta noite.
Balancei a cabeça, afastando o pensamento antes que ele criasse raízes.
Não. Não, não e não!
Merda.
Por que diabos ele sempre dava um jeito de se infiltrar na minha mente? Como uma maldita música chiclete que eu não queria cantarolar, mas que insistia em tocar no fundo da minha cabeça.
E isso me irritava pra cacete.
Irritava porque, mesmo quando eu tentava seguir em frente, ele surgia do nada, bagunçando tudo, me fazendo questionar coisas que já deveriam estar resolvidas.
— Que inferno… — sussurrei para mim mesma, encarando a garota no espelho. — , hoje você vai sair com o Eunwoo. —Apontei para mim mesma —O Eunwoo, ok?
Respirei fundo, tentando me recompor. Eu não ia deixar isso estragar minha noite. Eu não ia deixar ele estragar minha noite.
Forcei um sorriso.
— Você está linda. Está tudo bem.
Mas, honestamente? Nem eu conseguia acreditar nisso.
Um som de buzina me tirou do transe, seguido pelo barulho de um motor sendo desligado. Peguei minha bolsa e fui até a porta, já ensaiando um sorriso educado para Eunwoo.
Talvez fosse isso que eu precisava: um recomeço. Um encontro tranquilo, previsível, sem altos e baixos. Algo sem complicações, sem aquele peso emocional que me fazia duvidar de tudo o tempo inteiro. Eunwoo, pelo menos, era gentil e, acima de tudo, um gato. Ele não bagunçava meus pensamentos e não me fazia sentir que eu estava andando em um campo minado. Com ele, eu podia respirar.
Ou pelo menos era o que eu achava.
Assim que abri a porta, minha expressão travou.
Eunwoo estava escorado contra o carro com a camiseta branca social um pouco amarrotada e os olhos ligeiramente vermelhos. O cheiro de álcool me atingiu antes mesmo de ele abrir a boca.
— Você demorou — ele disse, com um sorriso torto. Olhei para o canto da boca dele, onde tinha um pequeno machucado deixado pelo soco de Jimin.
Meu olhar caiu para suas mãos, ainda segurando as chaves. A ficha caiu de um jeito brutal.
— Me diz que você não dirigiu assim.
Ele soltou uma risada curta, como se eu tivesse contado uma piada.
— Relaxa, eu tô bem. Só tomei umas antes de vir. —Ele balançou as mãos, enquanto eu cruzava os braços incrédula —Ah, dá um desconto, . Eu estava meio... sei lá, nervoso?
Aquela sensação de aperto no peito só aumentou, mas agora não era mais dúvida. Era pura decepção.
E, para piorar, um pensamento veio como um tapa na cara.
"O melhor a ser feito é esperar você se foder com essa decisão ridícula."
Merda. Porra.
Eu podia simplesmente dar meia-volta, dizer que não ia mais, que estava cansada, que tinha percebido que essa ideia toda era um erro. Mas pra quê? Só pra admitir que Jimin estava certo? Só pra engolir o próprio orgulho e aceitar que, no fim das contas, eu realmente não sabia tomar decisões boas?
Engoli em seco.
— E então? Vamos? — A voz de Eunwoo soou arrastada, como se a noite já tivesse sido longa demais para ele.
Suspirei e dei um passo à frente, andando direto para a merda, de salto alto e com um batom impecável.
Park Jimin
"Você pode beijar quantas garotas quiser, mas só uma vai foder com a sua cabeça."
Meu pai sempre dizia isso, como se fosse um aviso. Eu ria. Achava exagero. Não fazia ideia do que ele queria dizer, porque, no meu entendimento, ninguém poderia foder com a cabeça de um homem que não se prende totalmente em um relacionamento. Sempre achei que era papo de gente velha, daquelas que falam como se já tivessem vivido tudo. Como se o amor fosse algo inevitável, incontrolável.
Eu não acreditava nisso. Nunca acreditei. Talvez seja por isso que esteja completamente fodido.
O amor é uma escolha, não é? Você conhece alguém, gosta da pessoa, escolhe ficar. Ou escolhe seguir em frente. Simples.
Mas, é óbvio que essa porcaria não ia ser assim.
O amor não pergunta se você está pronto. Ele não te dá um aviso antes de tomar conta do seu peito e virar tudo de cabeça pra baixo. Ele se infiltra em pequenos momentos — um sorriso no meio de um dia merda, um olhar que te faz esquecer o que estava dizendo, um toque que queima mesmo através do tecido. Você acha que está no controle, até perceber que não consegue mais sair.
E eu? Eu estava completamente preso. Encarcerado naquele sentimento insano, onde a razão era um mero espectador e a emoção tomava o palco. Eu tentei racionalizar, tentei convencer a mim mesmo que era só uma fase, um erro de cálculo. Chamei Jeongyeon para me provar que isso não passava de mais uma loucura da minha cabeça, mas enquanto ela me beijava a única coisa que eu queria era que fosse outra pessoa.
E isso é a porra de um inferno.
Eu queria que fosse .
O pensamento me cortou como uma lâmina afiada, e eu mal consegui respirar. Meu corpo estava aqui, mas minha mente estava longe. Longe pra caralho.
Queria saber o que o babaca do Eunwoo estava fazendo com ela. O que estava dizendo, o que estava pensando e, o pior de tudo: queria saber se aquele idiota tinha a beijado.
Respirei fundo, tentando afastar a sensação ruim do peito, mas não adiantou.
Jeongyeon passou as mãos pelos meus ombros, puxando meu rosto de volta para o dela com os lábios buscando os meus de novo enquanto direcionava as mãos desesperadas para minha calça. Jeongyeon deveria ser uma das mulheres mais gostosas da universidade e eu deveria estar muito excitado. Mas, dessa vez, não aconteceu. Meu corpo simplesmente não respondeu e eu me apressei em afastá-la um pouco, procurando o fôlego.
Ela franziu a testa, confusa.
— O que foi?
Fiz força pra não suspirar de frustração.
— Nada… Só—
— Só o quê? — Ela inclinou a cabeça, estudando meu rosto.
Eu podia inventar qualquer desculpa. Dizer que estava cansado, que não estava no clima, que tinha um milhão de coisas na cabeça. Mas nada disso mudava o fato de que a verdade era simples: não era ela.
Afastei as mãos da coreana com cuidado e me levantei do sofá.
—O vinho... —Olhei para a garrafa seca e dei graças aos céus por ela ter me salvado com uma desculpa esfarrapada. —Acabou e eu vou pegar outra garrafa para nós.
—Jimin...
—Suave ou seco?
Ela revirou os olhos e se recompôs, suspirando frustrada.
—Suave, né? —Jeongyeon respondeu, analisando as unhas. —A vida já é amarga o suficiente. O vinho não precisa ser, também.
—Gostei da filosofia.
Sorri e me direcionei até a cozinha, tentando procurar um gosto diferente no beijo de Jeongyeon.
Nada.
Absolutamente nada veio.
Para um homem como eu, isso era praticamente a morte.
O silêncio me envolveu enquanto eu abria o armário e pegava a primeira garrafa de vinho que vi pela frente. Me forcei a focar no som do vidro batendo no balcão, na rolha sendo arrancada, qualquer coisa que me distraísse do incômodo no peito.
Mas não dava.
O problema não era o beijo. Nem a Jeongyeon.
O problema era eu.
— Jimin.
A voz de Jeongyeon veio calma, mas firme, cortando meu devaneio. Não precisei olhar para sentir o peso do olhar dela sobre mim.
— O que foi? — Perguntei, mantendo os olhos fixos no vinho que agora escorria para a taça.
— Você tá bem?
Soltei um riso seco, balançando a cabeça.
— Que tipo de pergunta é essa?
— Do tipo que já sabe a resposta — ela rebateu, e só então eu olhei para ela.
Jeongyeon me analisava com um semblante sério com os braços cruzados, como se estivesse tentando decidir se insistia ou não.
E, por algum motivo, isso me irritou. Por que diabos mulheres são assim?
— Eu tô bem — menti, bebendo um gole direto da garrafa.
— Não, você não tá.
Ela se aproximou devagar, hesitante, mas determinada.
— Eu não sou idiota, Jimin. Sei quando um cara me beija porque quer, e quando beija porque tá fugindo de outra coisa.
Engoli em seco.
—E desde quando você tem bola de cristal?
—Não precisa de bola de cristal quando se é mulher, Park Jimin. —Ela deu um sorriso sarcástico — Os homens são muito previsíveis. Não é como se fosse um bicho de sete cabeças desvendar uma merda que esteja passando na cabeça de vocês.
Ela deu mais um passo, me obrigando a encará-la.
— Sei que tem outra pessoa na sua cabeça. Sei que você tá tentando calar isso de qualquer jeito, e sei, também, que não sou eu que vai conseguir te fazer esquecer.
Eu deveria negar. Deveria rir, fazer alguma piada, mudar de assunto.
Mas, ao invés disso, fiquei quieto.
Porque no fundo, lá no fundo, eu sabia que ela estava certa pra caralho.
Jeongyeon suspirou, desviando o olhar por um momento antes de encarar meus olhos de novo.
— Quem é ela?
A pergunta veio simples, direta.
E eu não tive resposta.
Ou melhor, tive, mas não queria dizer em voz alta.
Porque assim que as palavras dela foram ditas, o rosto de explodiu na minha mente. Como um soco. Como um alerta.
E foi naquele momento, com a porra da garrafa de vinho na mão e Jeongyeon na minha frente, que eu percebi.
Meu pai estava certo. Ela fodeu com a minha cabeça.
O peso das escolhas é uma merda.
A gente acha que tem tempo, que pode errar e consertar depois, que tudo vai se ajeitar no final. Mas a verdade é que algumas decisões grudam na gente. Algumas escolhas não dão pra desfazer.
E eu, porra, devia saber. Devia ter ido embora quando vi Eunwoo quase bêbado, antes mesmo dessa noite péssima começar.
E, o pior de tudo: deveria ter escutado Jimin, mesmo com o fato dele ter sido um babaca.
Mas não.
Aqui estava eu, no meio de uma festa que eu odiava, cercada de gente que não fazia ideia de quem eu era, olhando para um cara que, a cada merda falada pela boca, parecia menos o que eu queria.
O cheiro de maconha impregnava o ar, misturado ao suor e ao perfume forte de gente que nem devia saber onde estava.
Eu estava incomodada pra caralho.
— Você tá falando sério? — Cruzei os braços, olhando para Eunwoo, que tragava o baseado com a maior tranquilidade do mundo, largado no sofá como se fosse dono do lugar. —Era esse o encontro que você pretendia ter comigo?
Ele soltou a fumaça devagar, me analisando com um meio sorriso irritante.
— Relaxa, . Você precisa viver um pouco. Vai dizer que não está gostando?
Fechei os olhos por um segundo, contando até três na cabeça antes de responder.
— Eu estou odiando isso.
— Não precisa bancar a certinha comigo. Sério. Eu passo por isso diariamente. As expectativas em cima de mim chegam a ser irritantes, mas, na minha presença, não precisa se preocupar. —Ele tragou mais uma vez e antes de soltar a fumaça, piscou o olho esquerdo para mim, oferecendo o cigarro de maconha. Que idiota! —Quer experimentar um pouco?
—Não, Eunwoo. Eu não quero. Eu quero ir embora, para ser bem sincera.
—E você está esperando o quê?
Revirei os olhos e me virei, pronta para ir embora dali, sentindo a paciência escorrer pelos dedos, mas antes que eu pudesse dar um passo, senti os dedos dele envolverem meu pulso com uma força além da medida. Provavelmente aquilo deixaria uma marca.
— Não faz essa cara — ele murmurou, se levantando e se aproximando, com um olhar completamente embriagado que me fez revirar o estômago.
Minha expressão endureceu.
— Me solta, Eunwoo. Você está me machucando.
— Para de drama. Eu só quero que a gente aproveite a noite.
A palavra soou suja na boca dele.
Ele estava perto demais. O hálito quente, o cheiro do álcool misturado com a droga, a forma como os dedos dele apertava meu pulso. Um arrepio subiu pela minha espinha. E então, sem aviso, ele se inclinou.
Nojento.
Me afastei rápido, sentindo o fôlego cada vez mais escasso.
— Você tá louco? Você ia mesmo tentar beijar nessas condições?
Ele riu, balançando a cabeça.
— Ah, qual é, ... Não vai me dizer que o filho da puta do Jimin te deixou assim, cheia de medinho de mim?
Minha expressão fechou na hora.
— Não fala dele.
— Por quê tá defendendo o merdinha? Depois daquele soco ridículo que ele me deu ontem?
Minha mandíbula travou.
— Pelo visto, você mereceu.
Eunwoo estreitou os olhos.
— Você tá falando sério? Tá do lado dele agora? O cara que age como se fosse seu dono?
— Ele não age como se fosse meu dono. Mas pelo menos ele se importa.
Eunwoo soltou uma risada seca, passando a língua pelos dentes.
— Claro. Ele se importa tanto que tá provavelmente enfiando a língua na boca de outra agora.
Meus dedos se fecharam em punhos ao lado do corpo.
—Sinceramente, ? —Ele me olhou com um ar de superioridade que era novidade para mim —Já estou embriagado o suficiente, então, vou falar a verdade para você: acha mesmo que eu sairia com você porque eu queria? — Ele soltou uma risada debochada. — Eu saí por pena, garota. Você é sempre tão ridícula com as suas investidas em mim, que eu tive compaixão. Deveria me agradecer, sabia?
Meu peito apertou.
Mas ele não parou.
— Eu já tive mulheres de verdade, ok? Que sabem o que querem. Você é um passatempo. Uma menininha boazinha que nem sabe o que tá fazendo.
O sangue fervia nas minhas veias.
— E você é um escroto.
Ele riu, se aproximando.
— E mesmo assim, você ainda tá aqui.
Eu sorri, engolindo o choro na garganta. E, com muito ódio acumulado, chutei o saco dele com toda a força que eu nem sabia que tinha.
Eunwoo caiu de joelhos, soltando um grunhido de dor com as mãos indo direto para a área atingida.
Me abaixei, chegando perto do ouvido dele.
— Agora eu não tô mais.
E saí dali sem olhar para trás, limpando uma lágrima teimosa por ser a merda de uma idiota.
O ar frio da noite cortava minha pele, mas eu nem sentia. Meus pés se moviam sozinhos, sem direção, sem lógica. Só andavam. Minha mente repetia as palavras de Eunwoo como um disco quebrado.
"Eu saí por pena."
"Você é um passatempo."
Engoli em seco, tentando conter as lágrimas que já desciam quentes pelo meu rosto. Meu corpo tremia, e eu nem sabia se era de raiva, de vergonha ou de pura tristeza. Talvez fosse tudo ao mesmo tempo.
O que eu tava fazendo?
Por que eu ainda deixava esse tipo de coisa me afetar?
Fechei os olhos por um segundo, tentando acalmar minha respiração, mas não adiantou. Eu soluçava com o peito apertado, sentindo os ombros sacudindo como se carregassem o peso do mundo. A primeira gota da chuva caiu no instante em que meus pés me trouxeram para a porta de Jimin. A segunda escorreu pelo meu rosto, misturando-se com as lágrimas que já não paravam.
Então veio a terceira, e logo a chuva despencou, como se o céu inteiro estivesse desabando junto comigo. Minha respiração estava curta, e cada parte do meu corpo tremia. Eu queria ir embora. Eu devia ir embora.
Mas antes que eu pudesse reagir, a porta se abriu.
E então eu congelei.
— Ah… — Jeongyeon, uma das colegas de turma de Jimin, piscou ao me ver ali, franzindo as sobrancelhas e com uma leve surpresa.
Minha garganta secou. Ela estava com o cabelo ainda úmido, vestindo uma blusa larga que eu reconheci de longe. Dele.
E então, como se o universo não quisesse me poupar nem um pouco, meus olhos encontraram Park Jimin.
Ele estava logo atrás dela, segurando uma toalha nas mãos com o olhar confuso, como se não estivesse entendendo o que eu fazia ali.
O aperto no meu peito ficou insuportável.
— ?
O som do meu nome escapando da boca dele foi a gota d’água.
Abaixei a cabeça, sentindo o nó na garganta prendendo qualquer resposta.
E então, antes que alguém dissesse mais alguma coisa, me virei e saí correndo.
— ! Espera!
Ouvi Jimin chamar atrás de mim, mas minhas pernas não pararam. Não podiam parar.
A chuva ficou mais forte, encharcando minhas roupas, meus cabelos, minha alma. Mas nada doía tanto quanto aquilo.
Eu era uma idiota. Uma completa idiota.
Por que vim aqui?
Eu nunca deveria ter vindo. Nunca deveria ter sentido tanto por ele.
Meus pés tropeçaram na calçada molhada e meu corpo quase cedeu, mas continuei correndo.
Foi só quando ouvi os passos atrás de mim que percebi.
Ele estava vindo.
— ! Para, porra!
Jimin gritou, e dessa vez, a voz dele veio carregada. Desespero. Medo.
Mas eu continuei.
Porque eu não queria ouvi-lo. Não queria ver aquele olhar de novo.
— , por favor!
E foi o “por favor” que me fez fraquejar.
Meu peito subia e descia, minha cabeça girava, e as lágrimas se misturavam com a tempestade ao meu redor. Eu queria odiá-lo. Queria odiar Jeongyeon. Queria odiar a mim mesma por ter vindo até aqui.
Mas a única coisa que sentia era uma dor absurda e um desejo estúpido de voltar para os braços dele. E quando os braços de Jimin me envolveram, eu senti que poderia chorar e desabar, porque no fim, ele era meu porto seguro.
Nunca antes eu soubera o que era ser amparada de verdade, sem precisar me esconder atrás de minhas próprias defesas. Naqueles braços, eu sentia que podia ser fraca, podia me deixar cair e ele ainda estaria ali para me segurar. O amor, talvez, seja isso — um lugar onde você encontra abrigo, mas que também te arrasta com uma força que você nunca viu vindo.
"Ela era fogo e eu queria ser queimado." — Red, White & Royal Blue, Casey McQuiston
Park Jimin
A chuva castigava a cidade, e cada gota que escorria pelo meu rosto parecia pesar toneladas. Meus pés batiam contra o asfalto molhado enquanto eu corria atrás dela, ignorando o frio, ignorando tudo ao meu redor. A única coisa que importava era alcançá-la. E talvez isso dissesse tudo. Porque correr atrás de naquela chuva desgraçada, com o coração martelando contra o peito e o medo sufocando minha garganta, não era só sobre aquela noite.
Era sobre tudo. Sobre nossa vida inteira.
Sobre cada vez que eu a vi indo embora e fiquei parado, sobre cada momento que deveria ter dito alguma coisa e me calei, sobre eu ter sido um filho da puta quando eu a beijei e, depois, beijei outra só pra tentar me convencer de que meus sentimentos estavam errados. Sobre o fato de que, por mais que eu tentasse fingir que não, ela sempre foi a porra da exceção e nunca a regra. era o caos e a calmaria ao mesmo tempo. Ela me tirava do eixo, me fazia querer quebrar coisas, me fazia querer segurá-la para sempre.
E agora, vendo-a correndo pela tempestade como se fugir fosse uma opção, percebi que não dava mais para ignorar. Eu não podia deixá-la ir. Não dessa vez.
Meu peito doía ao vê-la daquele jeito: ombros encolhidos, maquiagem borrada pelas lágrimas grossas que caíam do rosto pálido e com as mãos tremendo, como se tudo ao redor fosse grande demais para que ela conseguisse suportar. Eu sabia que ela estava pensando errado do que tinha visto na porta da minha casa. Qualquer pessoa pensaria.
O destino tem um jeito cruel de foder com a gente. Não esperava que isso fosse acontecer. Eu e Jeongyeon estávamos na cozinha, sozinhos, terminando de organizar algumas coisas, enquanto falávamos sobre a merda da tentativa de beijar alguém para esquecer outra. E eu confessei toda a verdade sobre mim e , sem medos de julgamentos e ela me entendeu. Até me julgou, dizendo algo como 'vocês homens sempre escolhem o caminho errado', mas, sinceramente, que se dane. Tudo estava tranquilo, até que ela esbarrou na própria taça e o vinho escorreu pelo tecido claro da sua blusa. Na hora eu suspirei, passando a mão pelos cabelos enquanto pegava uma toalha para ajudar, mas não adiantava. O cheiro forte impregnava no tecido, a mancha se espalhava rápido, e no fim, ela apenas revirou os olhos e disse que precisava de um banho e de uma camiseta velha. Simples. Acidente idiota. Nada além disso.
Mas o universo nunca jogou do meu lado.
Porque nos minutos seguintes, apareceu.
E tudo pareceu errado demais. Sabia que, na cabeça dela, a cena que viu explicava tudo da pior forma possível. Mas, eu nunca quis vê-la assim. Nunca quis ser a causa de alguma dor para ela.
— ! Para, porra! — minha voz soou mais forte do que eu esperava, quase desesperada.
Ela hesitou por um segundo. Minúsculo. Mas eu vi.
— , por favor!
E foi o “por favor” que a quebrou.
Foi quando eu finalmente consegui segurá-la, meus braços envolvendo seu corpo encharcado, sentindo os soluços sacudirem seu peito. Ela não resistiu. Não lutou. Apenas caiu contra mim, como se já não tivesse forças para continuar fugindo.
E eu a segurei. Porque podia correr o quanto quisesse, podia se afastar se fosse necessário, mas eu nunca a deixaria cair.
— Você tá tremendo… — murmurei, sem saber se ela me ouvia.
Minha mão passou por seu rosto gelado, afastando fios molhados da sua pele pálida. Ela não olhava para mim. Apenas respirava rápido, como se o próprio ar doesse.
— Vamos pra casa — minha voz saiu baixa, quase um pedido. — Por favor.
Ela não respondeu. Mas quando tentei me afastar, sua mão apertou minha camisa com força, segurando o tecido entre os dedos trêmulos.
Eu entendi o que aquilo significava.
Então, sem mais nada, a puxei para mim e comecei a caminhar até o meu carro, pronto para levá-la. Ela não disse uma palavra durante o caminho. Apenas deixou que eu a levasse. E no fundo, talvez esse fosse o maior sinal de que estava completamente destruída.
O silêncio dentro do carro era ensurdecedor. Sufocante.
estava encolhida no banco do passageiro, os braços cruzados ao redor do próprio corpo como se estivesse tentando se manter inteira. A água escorria de seus cabelos molhados, pingando no tecido do banco, mas ela não parecia notar.
Era péssimo ver daquele jeito.
Péssimo pra caralho.
Ver os olhos dela tão fodidamente quebrados, os ombros tensos como se carregassem o peso do mundo, me dava uma vontade absurda de socar alguma coisa. Ou melhor, alguém.
Eunwoo.
Filho da puta. Aposto todas as minhas fichas que aquele desgraçado tinha culpa no cartório.
Se eu tivesse ele na minha frente agora, não sei do que seria capaz. O maldito, com certeza, a fez se sentir assim—pequena, frágil, machucada. E isso era imperdoável. Minhas mãos tremiam de raiva no volante. Tudo dentro de mim gritava para dar meia-volta e ir atrás dele, descontar cada maldito dano que ele causou nela.
Mas então, olhei para .
Molhada, encolhida no banco do carona, parecendo tão perdida que meu peito apertou a ponto de ser tornar quase insuportável.
Não.
Ela precisava de mim agora.
E se existia uma coisa no mundo mais importante do que arrancar a cara daquele imbecil, era ela.
Quando parei o carro em frente ao edifício, continuou imóvel. O peito subia e descia devagar, o rosto escondido pelos cabelos molhados, as mãos ainda fechadas sobre os próprios braços como se quisesse desaparecer.
Porra.
Meu coração apertou, mais uma vez.
Desci do carro e corri para o outro lado, abrindo a porta antes mesmo de pensar no que estava fazendo. O vento e a chuva fria me atingiram em cheio, mas eu só consegui me preocupar com ela.
— Vem.
Minha voz saiu mais suave do que eu esperava, como se, de alguma forma, ela fosse feita de vidro e pudesse se quebrar ainda mais.
não protestou quando coloquei um braço ao redor dela, nem quando a ajudei a sair do carro e a levei para dentro do prédio. Ela estava gelada. Encharcada. Pequena demais nos meus braços. A cada passo que dávamos, a cada segundo que sentia o peso dela contra mim, algo dentro de mim ficava mais forte.
A sensação era de querer proteger. Cuidar dela. Fazer esse inferno todo passar.
Subimos até seu apartamento em silêncio, e só quando chegamos, percebi que ela tremia mais ainda. Os lábios adquiriram uma leve cor roxa. O frio era cortante.
— Você precisa de um banho quente, se não vai ficar doente — murmurei, levando-a para o quarto.
Ela não respondeu. Nem se mexeu.
— Vamos, …
Soltei um suspiro pesado, esfregando o rosto com força. Ela parecia que não estava em condições para absolutamente nada. Fui até o guarda-roupa e peguei um moletom qualquer, depois corri até o banheiro e enchi a banheira com água quente. Quando voltei, continuava sentada na beirada da cama com os olhos fixos em um ponto qualquer.
Ela não deveria estar assim.
Não a minha .
Me ajoelhei na frente dela, deslizando as mãos devagar pelos seus braços gelados.
— Vem. Eu te ajudo.
Dessa vez, ela se mexeu. Com um olhar vazio e cansado, deixou que eu a guiasse até o banheiro. Me virei quando ela entrou na banheira, esperando até ouvir o som da água antes de sair.
Dei a ela o tempo que precisava.
Enquanto isso, fiquei andando pelo quarto, passando a mão pelos cabelos, tentando ignorar o nó no meu estômago. A impotência era um sentimento amargo. Eu já sabia que isso ia acontecer. Eu avisei. Disse que não daria certo com o Eunwoo, que ele não era pra ela, que, no final, só restaria decepção. Mas, mesmo sabendo, mesmo tendo visto isso cheirar mal de longe, nada disso importava agora.
Porque vê-la assim, com o olhar vazio e o peso do mundo nos ombros, fazia meu peito apertar de um jeito sufocante. Eu queria tomar essa dor para mim, carregá-la no lugar dela. Se fosse possível arrancar aquele aperto do coração dela e colocar no meu, eu faria sem hesitar.
Mas a vida não funcionava assim. Tudo o que eu podia fazer era esperar. Esperar que a água levasse um pouco do sofrimento, esperar que, quando ela saísse dali, pelo menos uma parte da dor tivesse se dissolvido no vapor quente.
Quando ela saiu do banheiro, já vestindo o moletom que eu deixei, a sensação de alívio foi imediata. Ainda parecia frágil, ainda estava quieta, mas pelo menos não estava tremendo.
— Deita um pouco — falei, apontando para a cama. —Eu vou ficar aqui com você.
Ela hesitou. Mas então seus olhos encontraram os meus, e alguma coisa ali fez com que ela finalmente cedesse.
E eu fiquei. Deitei ao lado dela, acariciando os cabelos de leve, observando sua respiração desacelerar, percebendo seus cílios se fecharem devagar. Cada detalhe dela estava gravado em mim. O jeito como os fios do cabelo se espalhavam no travesseiro, como os ombros subiam levemente a cada respiração. O traço suave da sobrancelha, a curva delicada dos lábios.
Eu a conhecia desde sempre. Desde os joelhos ralados na infância, quando ela me xingava por correr mais rápido. Desde as noites em claro na adolescência, quando dividíamos segredos como se o mundo fosse acabar no dia seguinte.
Mas agora… agora era diferente.
Olhar para ela assim, tão vulnerável e tão perto de mim fez alguma coisa dentro de mim desmoronar. Fez meu peito apertar de um jeito que não era só preocupação. Era algo maior, mais profundo. Como se algo estivesse se encaixando, como se um véu tivesse caído.
E foi ali, naquele silêncio, naquele instante em que ela se entregou sem resistência, que me dei conta de uma coisa absurda.
E não tinha mais volta. Não dava mais para fingir, para lutar contra isso. Ela era minha fraqueza. Meu caos e minha paz. O meu paradoxo.
E eu nunca estive tão ferrado, porque eu estava fodidamente apaixonado por
Eu não sabia ao certo há quanto tempo estava ali.
O teto escuro do quarto parecia um reflexo da bagunça dentro de mim. O coração ainda pesava no peito, como se tentasse me lembrar de tudo que aconteceu naquela noite. dormia, respirando devagar com a expressão tranquila—e ao mesmo tempo, tão frágil.
Porra.
Eu queria poder guardá-la e cuidar de todos os ferimentos internos dela. Eu queria poder desfazer cada pedaço da merda que Eunwoo causou. Mas tudo que me restava era estar ali, garantir que ela não estava sozinha.
Fechei os olhos, soltando um suspiro cansado. Olhei no meu relógio de pulso que marcava exatamente 1:45 da manhã e senti a cabeça dar uma leve pontada de dor. Eu deveria dormir. Tentar, pelo menos. Mas minha cabeça não calava a porra da boca.
Foi então que ouvi o colchão se mexer. Direcionei os olhos para o meu lado direito e encontrei me encarando.
A respiração dela era suave, mas os olhos estavam escuros, atentos, me estudando no silêncio.
—Pensei que já tivesse ido embora —Ela praticamente sussurrou e eu fiquei aliviado por ouvir a voz dela, ainda que baixa, naquela noite. —Você estava acompanhado...
Soltei um sorriso fraco pelo tom um pouco divertido que usou.
—Não, aquilo foi um erro. —Virei para ficar de frente para a garota e engoli em seco quando senti os olhos marcantes dentro do meu olhar. —Um erro. Não transei com a Jeongyeon, caso esteja pensando isso.
—E o que ela estava fazendo na sua casa?
— É uma longa história e eu sei que temos tempo para que eu possa te dizer tudo, mas, resumindo, a gente estava na cozinha, sozinhos. Ela pegou uma taça de vinho e, sem querer, deixou cair em cima dela mesma. — Suspirei, sentindo minha paciência se esgotar só de precisar explicar aquela merda. — Eu ofereci uma toalha, mas ela quis tomar banho por conta do cheiro forte. Só isso.
estreitou os olhos desconfiada ainda com um sorriso divertido nos lábios.
—Eu sei que pareceu outra coisa.
— Coincidência estranha, né?
Soltei um riso seco, passando a língua pelos dentes.
— Se o universo quisesse me foder, não teria escolhido um jeito melhor, mas eu não faria isso com você. Nunca.
—Jimin, não precisa se preocupar com isso, ok? Você já deixou claro antes... —Ela se sentou na cama e logo eu fiz o mesmo, mas sem tirar os olhos dela —Nós não tem...
—Não! Não termina de falar isso. Sério.
—Por que?
—Porque eu fui um filho da puta quando falei essa porcaria. Quando ignorei nosso beijo, tentando me convencer de que só fazia parte daquelas aulas e nada mais. Que era só um experimento, mas não era. Eu menti pra você e, pior que isso: eu menti para mim mesmo.
—Do que está falando?
— Eu tô fodido, . — Ri sem humor, negando com a cabeça. — Completamente fodido por ti.
Ela abriu a boca, mas nada saiu.
—Eu tô apaixonado por você. Inteiramente perdido e irado, porque essa merda dói, arde, me deixa gamado de um jeito que eu nunca vi antes. Fico sem pensar direito, sem raciocinar, sem colocar as ideias nos lugares certos, porque quando você aparece na minha cabeça, não existe outra coisa. E eu tentei ignorar isso. Tentei fingir que não era nada, que era um erro, porque você sempre foi minha amiga e nunca atravessaríamos as barreiras da amizade, mas quando me dei por mim, você me tomou completamente, mesmo eu tendo medo pra caralho disso. Mas, eu sabia. Sabia a partir do momento que eu via você se ferrando para conquistar a atenção daquele babaca do Eunwoo. Babaca porque ele nunca percebeu a mulher incrível que você era, mesmo sem prática nenhuma para chamar alguém pra sair, mas quem liga?
— Jimin… — ela começou, mas eu não deixei.
— Não. Me deixa falar.
Minha garganta queimava, mas agora que eu tinha começado, não dava mais para parar.
—Eu sabia, . Desde a primeira vez que te vi mordendo o lábio, nervosa pra cacete, tentando aprender alguma coisa nessas aulas ridículas que eu nem sei porque eu me propus a te ensinar. Eu sabia quando você se esforçava pra parecer confiante, mas no fundo tava morrendo de medo. Quando você ria de qualquer coisa que eu falava, mesmo que fosse uma merda sem sentido. Quando você me olhava daquele jeito e achava que eu não tava vendo. Porra... quando apareceu de lingerie na minha frente.
Engoli em seco, minha respiração pesada.
— Eu me fodi ali. Fiquei totalmente fodido por você, e tentei fingir que não. E sabe o que é pior? Eu não quero que passe. Eu não quero me livrar dessa merda. Porque no fundo, eu sei que você é a melhor coisa que já me aconteceu. Eu nunca estive no controle dessa porra, porque você me ganhou desde o começo. Desde aquele primeiro beijo que eu tentei esquecer.
O silêncio pesou entre nós e o ar estava carregado de algo que eu não sabia explicar, mas que ardia dentro do meu peito.
— Eu não quero mais fingir, . Não quero mais me esconder atrás de desculpas, de medo ou de orgulho. Eu quero você. Porra, eu sempre quis.
Ela ficou me encarando, os olhos brilhando como se estivesse segurando um furacão dentro de si.
— Se você me mandar embora, eu vou. — Suspirei, sentindo minha garganta fechar com ideia de que ela poderia, realmente, me afastar. — Mas se me pedir pra ficar, eu prometo que nunca mais largo você. Porque eu aguento que você me xingue, me odeie e me queira longe, mas não consigo ver mais ninguém te machucando de novo.
—Fica.
Foi a única coisa que ela disse. E foi o suficiente. Em um momento, eu estava tentando recuperar o fôlego após tantas palavras, no seguinte, minha mão já deslizava pela sua nuca, e minha boca encontrava a dela. O beijo foi urgente, desesperado, como se tudo o que seguramos até agora explodisse de uma vez.
E, explodiu. E eu não ligava, porque, finalmente, eu estava beijando sem medos e ressentimentos.
Não me importava das merdas que eu já havia feito na vida ou a quantidade de vezes que fui idiota com . Tudo virou uma grande fumaça quando minha língua encostou com a dela. Desesperada. Insana. Bruta. Tudo que existia era a eletricidade dos nossos corpos que se chocavam a cada vez que soltava um suspiro que se assemelhava a um gemido.
Merda, aquilo estava me quebrando de uma forma que eu nunca senti antes. Com nenhuma outra mulher.
Queria aproveitar todos as horas, minutos e segundos perto daquela pele macia, quente que me enfeitiçava a cada toque mais firme. Os beijos estavam se intensificando mais e mais e minhas mãos não conseguiam ficar paradas. Não. Não iria perder a oportunidade de ter os meus dedos explorando cada centímetro daquela mulher. Estávamos completamente entregues e tomados pelo desejo carnal e eu odiava somente a ideia de que aquilo passaria e voltaríamos a ser racionais. Os amigos de infância.
Meus pensamentos se desintegraram como átomos quando senti a fricção da intimidade de com o meu pau. E mesmo que a vontade de tê-la naquela hora fosse praticamente latente, não estava preparado para largar o pescoço com o leve perfume doce e a boca com gosto de morango. era um desejo personificado. Daqueles que, quanto mais tentamos nos afastar, mais nos consumem, nos atraem, nos devoram.
Puxei o ar com força quando ela desceu o zíper da minha calça e colocou a mão pequena dentro da minha calça. A desgraçada deu um sorriso que quase me fez gozar.
—O corpo fala, você lembra disso, Jimin? — falou com a voz arrastada, mas sem abandonar o sorrisinho malicioso. —Começamos pela sua respiração... —Ela se aproximou mais da minha orelha e deu um beijo molhado, fazendo com que meu fôlego ficasse mais escasso —Quando alguém te afeta, ela muda, mesmo que você tente disfarçar.
Todas as células do meu corpo entraram em erupção.
Desgraçada.
—Caralho! —Xinguei baixo, encostando a testa na dela —Você estava mesmo prestando atenção nas aulas de sedução? O que pretendia com isso, huh? Acabar comigo, assim? Agora?
Ela deu outro sorrisinho safado e eu fechei os olhos com força, sentindo as mãos se movendo em uma lentidão torturante, para cima e para baixo.
—Você é muito mais gostoso do que eu imaginava — acelerou os movimentos da mão e eu soltei um gemido arrastado —Sabe, já faz um bom tempo que eu não transo com ninguém, mas isso não significa que não fui atrás de outros métodos.
—, por favor... Não diz o que você vai dizer.
—O quê? — soprou contra meu pescoço e eu senti na prática tudo que eu havia ensinado pra ela. Meu corpo estava dando sinais, mais do que deveria, aliás. —Que eu já me toquei pensando em você?
Meu pau endureceu um pouco mais e o desconforto da calça era mais evidente. Eu precisava me livrar daquilo com urgência. E, vendo o sorriso diabólico de ao perceber, não ficou mais fácil.
—Você quer me deixar maluco. Só pode ser.
—É, eu estou contando com isso.
Desci minhas mãos para o meio das pernas de e coloquei meus dedos dentro do short minúsculo, sentindo a renda completamente encharcada. Ela arfou quando esfreguei meus dedos contra o tecido e apertou meus ombros, inclinando um pouco mais para frente. começou a beijar o meu pescoço e eu me perdi na sensação.
Aquilo era a porra de um paraíso. O calor da boca dela contra minha pele fazia minha respiração vacilar, e cada toque parecia incendiar meus sentidos, se é que isso fosse possível.
Incêndio. Era isso que eu estava sentindo. O tecido contra minha pele parecia sufocante, quente demais, apertado demais. Me livrei da roupa com urgência, como se precisasse de ar, como se apenas o toque dela pudesse apagar esse fogo.
Não demorou muito para que se livrasse do moletom e aquilo foi o meu fim. Ela estava sem sutiã e a visão me atingiu como um soco no estômago. Meu cérebro travou por um segundo e o ar escapou dos meus pulmões, em uma fração de segundos. espalmou as mãos no meu peitoral nu, enquanto eu me perdia na visão dos seios dela e continuava alisando a intimidade cada vez mais úmida.
—Merda! —Acelerei os dedos por cima da calcinha —Por que não tira logo isso, huh?
—Está com pressa?
—, você está molhada pra cacete. É um pecado eu não colocar a minha boca na sua boceta exatamente agora.
Fiz a minha melhor cara de cão que caiu na mudança, mas a desgraçada apenas soltou uma risada.
—Nem adianta vir fazer esse rostinho, ok? — Ela sorriu, mordendo o lábio, como se soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim.
— Ah, é? — Inclinei-me para mais perto, minha boca pairando sobre o busto dela — Então vou ter que te convencer de outra forma.
Retirei minha mão de dentro do short da mulher e agarrei os dois seios, deslizando a língua pela pele quente de , alucinado com o fato de que eles estavam completamente rígidos pelo meu toque.
Merda. Como que eu queria explorar ela de todas as formas. Como eu queria ter mais mãos para tocá-la, senti-la. Fazer com que ela se sinta desejada.
Depois de alguns minutos aproveitando aquela sensação, soltei um dos seios e, sem avisos prévios, direcionei meus dedos para dentro do short novamente, mas dessa vez, indo além da calcinha. Meu corpo ficou quase teso quando enfiei dois dedos dentro da boceta de e ela deu um gemido alto misturado com um suspiro. Suguei os mamilos com mais força, inteiramente imerso nas expressões de desejo que fazia. Era quase uma hipnose.
Continuei um ritmo gostoso de entra e sai, sentindo o clitóris dela mais inchado e mais sensível.
—Você é um desgraçado muito convincente, Jimin.
—Por quê?
—Agora, você pode tirar meus shorts e minha calcinha.
—É só o que eu quero.
Eu a tirei de cima de mim e a deitei na cama, sem perder tempo. Tirei os shorts juntamente com o minúsculo tecido de renda e fiz um percurso de beijos curtos que se iniciaram na panturrilha, demoraram nas coxas até chegar na intimidade de . Mordi o lábio interior e lambi toda a extensão molhada de .
Meu corpo entrou em estado de combustão. Nunca pensei que poderia ser tão obcecado por alguém, mas chegou para mudar essa história. Era como se cada pedaço de pele daquela mulher fosse feito para mim.
—Porra! —Ela gemeu, se contorcendo um pouco.
Repeti o movimento mais lentamente e, dessa vez, me concentrei totalmente, deixando minha língua explorar mais, chupando-a com mais pressão. gemeu mais alto e não tive opção a não ser tirar a minha boxer com urgência, começando a me masturbar. Eu estava tão duro que chegava a doer. O simples toque dela era um maldito tormento, uma tortura deliciosa que me fazia perder qualquer vestígio de controle. Nunca me entreguei assim para ninguém, nunca quis tanto ser consumido por alguém como queria por . Meu corpo já não me pertencia—pertencia a ela, a cada movimento, a cada provocação, a cada maldita risada cheia de malícia que só me deixava mais louco.
—Jimin... — reclamou quando eu parei para procurar uma camisinha dentro do meu bolso da calça —Por favor, não me diz que vai parar.
—Eu passaria todas as horas da minha vida te chupando, linda. —Rasguei a pequena embalagem com o dente e me envolvi com a camisinha —Mas, não consigo mais um minuto sem me enfiar dentro da sua boceta. E algo me diz que você quer tanto quanto eu, estou certo?
—Por favor... —choramingou, baixinho como se estivesse em uma súplica. Obvio que aquilo me matou mais um pouco. —Eu quero ser sua por inteiro, Park Jimin.
—Você me pedindo assim...— minha voz falhou, tomada pelo desejo bruto que me consumia.
me encarava com aqueles olhos grandes e intensos, vulnerável e ao mesmo tempo perigosa. Eu estava acabado. Puta merda, eu estava completamente dela.
— Você me pedindo assim, … Como diabos eu poderia dizer não? —a coloquei deitada na cama e fiquei por cima, apoiando minha força nos braços —Com esse olhar, com essa voz, com esses gemidos... Eu quero muito foder você.
—Então, me fode, Jimin. Porque eu não aguent...
Não deixei que terminasse de falar, pois voltei a colar minha boca na dela e em um impulso, coloquei a cabeça do meu pau na entrada da mesma.
—Você precisa relaxar, ok? Para que eu consiga entrar bem gostoso—Acariciei o braço dela com o polegar e ela assentiu, mordendo o lábio interior e suspirando, prestes a se acostumar com meu pau dentro de si. —Isso, respira...
contraiu um pouco e eu pude adentrar completamente na boceta quente e apertada. Me perdi naquela experiência e eu também precisei de alguns segundos para me recuperar daquele encaixe.
—Tá tudo bem? —Perguntei contra seus lábios e ela assentiu —Posso continuar?
—Continua e não para, por favor.
Comecei a me movimentar devagar sem perder a reação do rosto de . Os olhos fixos, a boca entreaberta e os gemidos que escapavam conseguiam me deixar com muito mais tesão. Me deixava mais duro. Ela se acostumava e se abria cada vez mais para mim, numa ansiedade maluca por cada estocada que eu poderia dar. Os seios balançavam conforme meu ritmo lento e calculado, para que não a machucasse. A boceta era apertada, molhada, como se tivesse feita sob encomenda pra mim. Deslizava tanto que nem parecia que eu estava com a porra de uma camisinha.
—Merda, Jimin! Como você é gostoso, cacete. —Ela gemeu mais alto e aquilo foi como uma música para os meus ouvidos. Aumentei a velocidade aos poucos, sentindo a angulação perfeita.
— Você sabe o que está fazendo comigo, não sabe? — Minha voz saiu rouca, arrastada quase um gemido. —Porra, … Você é perfeita. Demais pra mim, pra essa merda toda. — Minha voz saiu rouca, entrecortada pelo prazer que me consumia. — O jeito que você me aperta, que me puxa… Caralho, eu nunca quis tanto alguém assim.
Aumentei mais um pouco o ritmo, e ela gemeu alto, o som mais gostoso e delicioso que já ouvi. Meu corpo inteiro vibrava com cada reação dela, cada rebolada desesperada em busca de mais.
— Você me enlouquece, sabia? — Segurei seu rosto, meus olhos cravados nos dela. — Me ferra inteiro sem nem perceber.
Meu pau latejava sem parar, como se estivesse numa necessidade quase visceral de ficar ali, completamente enterrado nela. Dei umas estocadas na tentativa de me conter, porque todo o meu corpo estava numa luta. Numa luta que eu sabia que perderia. Nada parecia o suficiente.
—Assim, assim! Cacete, Jimin.
—Você quer gozar?
—Sim, sim! —As palavras saíram cortadas. estava enlouquecida e eu não tinha controle algum. Porra, eu nunca tive quando se tratava dela. Desde o primeiro segundo em que toquei nela, meu destino estava selado. A forma como ela gemia, como seu corpo pedia mais, só me fazia querer fodê-la ainda melhor, marcá-la de um jeito que ela nunca esqueceria. Cada rebolada, cada arranhão na minha pele, só me afundava mais nessa perdição viciante.
Eu precisava acabar com isso. Precisava liberar logo, sentir cada maldito espasmo me atingir só pra ter certeza de que isso era real. Porque, porra, só podia ser um sonho.
Ela estava perfeita demais, quente demais, apertada demais. A forma como se movia, como gemia meu nome sem pudor, me fazia questionar se meu corpo ia aguentar muito mais.
— Merda, … — minha voz saiu entrecortada, minhas mãos segurando sua cintura com força. — Vamos juntos, ok?
Eu a fodi com constância, com força, enquanto ela me pedia mais e mais. Eu queria me fundir ao corpo de e nunca mais sair de lá e a cada segundo, tudo ficava mais intenso, mais forte. Como a merda de um limbo. Meu peito pegava fogo e fui mais forte, mais fundo. Impulsionei um pouco mais e gemeu mais. O corpo vibrou e a boceta contraiu, fazendo com que eu grunhisse de prazer. Um som libertador. No mesmo momento, um borrão tomou conta da minha visão. Porra, era como se cada terminação nervosa do meu corpo estivesse incendiando. O jeito que ela apertou ao meu redor me destruiu por completo. Meu nome escapou dos lábios dela em um gemido arrastado, e isso foi o suficiente para me fazer perder tudo. Soltei um gemido rouco, meu corpo inteiro tremendo enquanto me derramava, finalmente liberando tudo que estava segurando. Não existia mais nada além dela, do calor, do maldito prazer avassalador que me consumia inteiro.
Foi perfeito. Único. Fora de qualquer previsão que eu poderia ter tido.
Eu me joguei ao lado dela na cama, sentindo minha respiração se regular aos poucos. O quarto ainda estava mergulhado no calor do que tínhamos acabado de fazer, os lençóis embolados, o cheiro dela grudado na minha pele. se aninhou no meu braço, a cabeça descansando contra meu peito, como se pertencesse ali desde sempre. E talvez pertencesse.
Eu tinha transado com . Minha amiga de infância. A garota do meu primeiro beijo. E, caralho, talvez tenha sido a melhor coisa que aconteceu.
Fiquei ali, parado, com ela ainda aninhada no meu braço, a cabeça repousando contra o meu peito, como se tudo tivesse se encaixado de uma forma que eu nem sabia que existia. Não conseguia acreditar no que acabara de acontecer, mas sabia que, por mais que fosse confuso, por mais que me tomasse por completo, era algo que eu não queria perder.
Nunca mais.
—E aí ele disse todas essas coisas, sabe? —Ela alisou meu peitoral nu enquanto dava um suspiro pesado —É meio triste quando alguém te fala que saiu com você por pena. Não sei como ele me enxergava, mas me senti um lixo.
Meu corpo ficou tenso de imediato.
— O quê? —Tentei me levantar num impulso, já calculando mentalmente quantas pancadas eu poderia dar nele antes de alguém nos separar, mas apenas me deitou novamente—Eu vou matar esse filho da puta.
— Jimin! — puxou meu braço, rindo da minha revolta. — Relaxa, ele não vale nem o desgaste. E, bem, eu garanti o meu. Chutei ele com uma força que eu nem sabia que tinha. Talvez, eu tenha garantido não repassar aquele gene de merda para mais ninguém.
—Uau! Você teve coragem mesmo de chutar o saco dele?
sorriu, orgulhosa.
—Chutei e precisei sair correndo, porque mesmo que ele tenha fumado alguns baseados e estava super chapado, fiquei com medo do que ele poderia fazer comigo caso se levantasse. Ele machucou o meu pulso, não duvidaria de mais nada.
—O Eunwoo maconheiro é a maior novidade de todos os tempos. Sempre achei que ele fosse o cara certinho, inteligente, orgulho da família. Mas, ele é um arrombado, um escroto de merda. Era pra eu ter quebrado aquele nariz bonitinho, quando tive a oportunidade.
Ela deu de ombros, deslizando os dedos pelo meu peito de novo.
— Eu deveria ter ouvido você. Peço desculpas por ter sido uma cega.
—Você não tem que se preocupar com isso, linda. Sério. —Meu maxilar travou, e eu respirei fundo. A ideia de alguém ter feito passar por tudo isso me corroía por dentro. —E eu vou esperar o dia amanhecer, nós vamos tomar um café reforçado e, depois, eu vou atrás desse merda e matar ele. Quebrar dente por dente daquele sorriso falso.
— Ah, Jimin… — Ela apertou minhas bochechas, como se eu fosse um cachorrinho e não um homem pronto para cometer um crime. — Você é tão fofo quando fica bravo.
—Fofo, ? Eu sou intimidador.
Ela me olhou com um brilho de pura diversão nos olhos.
— Ah, sim… O mesmo cara que tem medo de borboletas?
Minha expressão caiu na hora.
—Você não consegue esquecer isso, não?
— Jimin, é impossível esquecer dessa história! — riu, se jogando contra o meu peito. — Você me contou na terceira série, logo depois de sair correndo no parque porque uma borboleta passou perto.
Eu fechei os olhos, sentindo o peso da humilhação novamente.
— Eu devia ter noção que você nunca ia esquecer…
— Claro que não! — Ela ergueu a cabeça para me olhar, mal segurando a risada. — Como esquecer que o grande Park Jimin, o homem que acabou de me fazer ver estrelas, tem um trauma infantil com uma borboleta?
— Eu não tenho trauma, . Foi um incidente infeliz que moldou minha vida.
— Você gritou feito uma garotinha!
— EU TINHA SETE ANOS! Você é tão insensível, .
gargalhou ainda mais alto, suas mãos espalmadas no meu peito enquanto se contorcia de tanto rir. Cruzei os braços, fingindo indignação.
— Isso não é coisa que se ria depois de uma noite dessas.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar.
— Ah, vai, se te serve de consolo… Você continua sendo muito sexy, mesmo com medo de borboletas.
Arqueei a sobrancelha, fingindo considerar.
— Hm. Talvez eu te perdoe… se você parar de rir.
Ela mordeu o lábio, mas os olhos travessos entregavam sua vontade de soltar outra gargalhada.
— E o que você vai fazer agora? — Perguntou, com um desafio na voz.
Sorri, me inclinando sobre ela, deslizando os dedos por sua pele quente.
— Eu vou te beijar, te chupar e te fazer implorar para eu não parar de me enterrar em você, entendeu?
E quando gemeu ao sentir meu toque novamente, eu senti que nossa madrugada estava longe de acabar
"Amar é viver com o caos dentro de si, e ainda assim querer que o mundo o veja." – Jeanette Winterson, O Oráculo da Noite
despertou antes dele, algo raro de acontecer. Sabia que ele tinha o sono pesado. Sempre teve. E, depois da noite anterior, não tinha como ser diferente. Sentiu todas as células do corpo em chamas, como uma excitação constante. Se sentia viva. Depois daquela madrugada com Jimin, se sentia diferente, como se tivesse acordado para algo que até então não sabia que estava adormecido dentro de si. Era como se, por um breve instante, ela tivesse permitido que o mundo se aproximasse, com toda a sua intensidade, e, de alguma forma, ela tivesse se permitido ser parte dele, de uma vez por todas. O toque de Jimin, suave, mas cheio de algo inexplicável, despertou uma sensação de vitalidade que ela não sentia há tempos. As emoções haviam se embaralhado, mas em meio a esse caos, algo estava pulsando dentro dela, algo que a fazia sentir-se viva de um jeito que não experimentava desde antes de tudo acontecer. O medo de se entregar havia dado lugar à emoção crua, ao desejo de sentir sem pedir permissão, de se perder e, talvez, até de se reencontrar.
Deu um sorriso tímido antes de abrir os olhos. Lembrou-se de alguma aula da faculdade sobre análise de sinais. A medicina dizia que, durante momentos de felicidade intensa, o cérebro liberava uma enxurrada de dopamina, serotonina e ocitocina—neurotransmissores responsáveis pelo prazer, bem-estar e conexão emocional. Mas queria bater de frente com isso. Sabia que não era apenas química.
Era ele.
Jimin era fogo e conforto ao mesmo tempo. Uma tempestade perfeitamente alinhada a ela. Ele a desafiava, provocava, mas também a segurava nos braços como se ela fosse algo precioso demais para ser solto. Tinha o toque certo, a voz exata que fazia seu coração disparar, o olhar intenso que dizia tudo mesmo sem uma palavra.
Merda.
Lembrou-se da voz e mordeu o lábio interior.
Aquela maldita voz doce e rouca, carregada de desejo, chamando seu nome como se ele pudesse moldá-lo na boca, como se pudesse gravá-lo na pele dela. O tom baixo e arrastado, os gemidos entrecortados, as palavras sujas misturadas aos elogios quentes que ele fazia contra sua boca, enquanto investia profundamente pelo seu corpo. As mãos pequenas, firmes e desesperadas. A pele branca e macia em uma combustão iminente. Céus, ele era um furacão. Do tipo que arrastava tudo, mas que, de alguma forma, a fazia se sentir segura. Pra caralho. E, justamente por isso, sentia que estava exatamente onde deveria estar.
Ela estremeceu pelas lembranças da noite anterior e mordeu o lábio anterior, animada.
Jimin dormia profundamente ao seu lado, os traços relaxados, a respiração lenta e ritmada. O cabelo desgrenhado caía sobre a testa, e os lábios ligeiramente entreabertos faziam com que parecesse quase inocente.
Quase.
Porque, agora, sabia muito bem o que aquele homem era capaz de fazer quando estava acordado. Agora, entendia completamente porque aquele canalha sempre foi bom com relacionamentos. Ele sabia como dominar, como fazer com que ela se perdesse em cada gesto, cada palavra sussurrada no momento exato. Era como se tivesse um mapa do que ela precisava, e, por mais que tentasse resistir, ele sempre sabia a hora de provocar, de puxar a rédea e fazer com que ela desejasse mais. Ele não jogava limpo, mas sabia como ninguém jogar o jogo.
Ainda mordendo o lábio, ela não resistiu e levou a mão ao rosto dele, deslizando os dedos suavemente pela linha de seu maxilar. Jimin resmungou algo incompreensível no sono, mas não acordou.
Ela sorriu. Mais um sorriso bobo naquela manhã.
Inclinando-se, roçou os lábios nos dele num beijo leve. Mas quando ia se afastar, uma mão quente segurou sua cintura.
—Você já acordou? —A voz de Jimin soou sonolenta, quebrada. Vestígios da madrugada intensa de sexo com poucas pausas. —Você acorda tão linda, . Está tentando me seduzir às... —continuou com um sorriso preguiçoso e checou o relógio de pulso, com dificuldade —Sete da manhã? —Ele arregalou os olhos de leve —Cacete, . São sete da manhã e você já me acordou?
riu baixinho, deixando outro selinho nos lábios dele.
— Só queria te acordar de um jeito fofo.
Jimin abriu um olho, desconfiado.
— Aham... Sei.
Sem aviso, subiu em cima dele, apoiando as mãos em seu peito nu, um brilho travesso nos olhos. Jimin, ainda meio sonolento, demorou um segundo para perceber algo.
Ele piscou.
Piscou de novo.
E então arregalou os olhos.
— Espera aí… Você tá…?
Os lábios dela se curvaram em um sorriso malicioso, enquanto assentia divertida.
— Bom dia, Park Jimin.
Ele soltou uma risada baixa, passando as mãos pelas coxas dela e apertando levemente, já sentindo um fogo se alastrar pelo próprio corpo.
— Meu Deus… Desde quando você é uma pervertida?
—Desde ontem. — jogou o cabelo para o lado e lambeu o lábio inferior —Que foi quando eu descobri que sexo com você é gostoso —Jimin suspirou dramaticamente, como se fosse um fardo muito pesado carregar aquele destino.—E você ama isso.
— Infelizmente, você tá certa.
E antes que pudesse responder, ele já a segurava pela nuca, trazendo-a para um beijo faminto. Para Jimin, era como se fosse a primeira vez. Como se cada toque, cada suspiro, cada movimento entre eles fosse algo novo, inexplorado, mas ao mesmo tempo tão familiar que parecia ter sido feito para se encaixar exatamente ali. Tudo estava alinhado demais.
A intensidade dele a fez arfar contra os lábios do coreano.
Jimin não era apressado, nem ansioso. Ele gostava de sentir. De mergulhar no momento, de saborear a pele dela como se quisesse memorizar cada detalhe ou reação.
E ?
se rendia a ele como se não existisse nada além daquele instante.
Porque, no fundo, não existia. Aquele momento era só eles.
mordeu o lábio inferior, o sorriso ordinário, crescendo à medida que sentia a excitação de Jimin estar pulsante em tão pouco tempo. A respiração de ambos já estava desordenada e as mãos de Park passeavam por todo o corpo de . Braços, pernas, bunda, seios. Precisou parar nos seios que já estavam rígidos, arrepiados e eletrizados pelo contato das mãos firmes de Jimin. Fechou os olhos por alguns segundos, perdido na sensação. Completamente dependente do corpo de .
—Puta merda! —ele soltou entre um arfar, assim que massageou o seio direito de . —Eu tô viciado nisso, linda.
—Que bom, Jimin. — o puxou pela nuca para um beijo apressado, brutal. Intimo demais. —Porque também estou viciada em cada sensação que você está me causando.
Jimin queria poder registrar aquele momento. A boca de levemente rosada pela agressividade do beijo, os cabelos bagunçados e aquele olhar. Porra, um olhar inocente capaz de matar qualquer um.
Park manteve o contato visual por alguns milésimos de segundos, enquanto começava a friccionar o pau duro na intimidade de , fazendo-a gemer de leve, soltar suspiros pesados e rebolar um pouco, para senti-lo mais. Em seguida, rodeou o mamilo da mulher devagar, sentindo cada um dos poros se arrepiarem. Sugou o bico de leve, fazendo movimentos rápidos e leves, alternadamente. respirou fundo, engolindo em seco, perdendo o compasso. Não tinha como ter controle.
—Você é deliciosa, Pierce. —Ele sugou o outro mamilo, fazendo a mulher puxar os cabelos dele de leve. —E você é minha, caralho. Minha.
Jimin demorou mais alguns minutos nos seios de , lambendo, chupando, mordiscando, até sentir que ela já estava se contorcendo sob ele.
— Puta que pariu… — ele murmurou contra a pele dela, os dedos cravando nas coxas da mulher quando deslizou a língua ao redor do mamilo inchado.
arfou, segurando firme nos ombros dele.
— Jimin…
Ele riu baixinho, arrastando a boca até a curva do pescoço dela e mordendo de leve.
— Porra, baby… Você me deixa louco.
riu contra os lábios dele, puxando o rosto de Jimin para um beijo urgente. Ele amava aquilo. Porra, gostava pra cacete, porque era sinal de que não conseguia mais se controlar ao ver os lábios carnudos e desesperados do coreano. Para ele, nada mais importava. Só queria vê-la daquele jeito. Completamente rendida.
— Então, me mostra.
—Está louca pra ter meu pau dentro de você, não é?
—Sim, eu quero. —Ela o olhou intensamente —Eu preciso, inferno. Preciso de você dentro de mim. — afirmou de um jeito sensual que fez Jimin tremer sob o corpo da mulher. Sentiu o pau ficar mais duro a ponto de ser insuportável.
— Eu quero tanto te comer, … — A voz dele saiu carregada de desejo enquanto seus lábios percorriam o pescoço dela, mordiscando e sugando a pele sensível. — Mas eu preciso da sua boca no meu pau.
Jimin deslizou os dedos pela nuca dela, segurando-a com firmeza enquanto pressionava a testa contra a dela, os olhos escuros e famintos.
— De verdade.
mordeu o lábio, os dedos deslizando preguiçosamente pelos ombros dele, como se já soubesse exatamente o que fazer com essa confissão desesperada.
Ela sorriu contra os lábios dele antes de sussurrar:
— Você não precisa pedir, Jimin.
Então, ela desceu lentamente, deixando um rastro de beijos e provocação pelo caminho. o olhou no fundo dos olhos e deixou que a língua deslizasse por toda a extensão dura do coreano. Jimin automaticamente fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, grunhindo e passando a mão pelo rosto, completamente perdido na sensação da língua quente e exploratória da mulher. deu um sorriso e sentiu-se mais excitada pela cena. Deu uma leve sucção na glande rosada e inchada até começar pelos chupões na base e, eventualmente, lambendo devagar até chegar na cabeça, sem perder o contato visual. Jimin segurou os cabelos de como se estivesse procurando um apoio. Um sustento para se manter de pé, visto que, mesmo de joelhos na cama macia, as pernas fraquejavam, implorando para que a maldita fosse mais rápido. O corpo implorava por mais—por tudo—mas a tortura desgraçada precisava continuar. Ela o arrastava para a loucura com lambidas lentas, preguiçosas, provocativas, como se estivesse saboreando cada segundo da agonia dele.
Jimin arfou, a cabeça caindo para trás e os músculos se contraindo em frustração. Não aguentou mais. Segurou os cabelos de com mais força quando a garota o engoliu por inteiro.
—Puta que pariu, . —Ele gemeu, deixando a boca entreaberta para soltar o fôlego quase escasso, o que fez a boceta de dar um espasmo. A garota aumentou a velocidade e forçou mais um pouco até o fundo da garganta. E fez de novo. E de novo. Porque, agora, havia encontrado um novo vicio. —Eu. Preciso. Meter. Em. Você.
Jimin soltou um suspiro trêmulo, a cabeça tombando para trás, enquanto cada célula do seu corpo parecia incendiar. Ele sentia tudo. Os pontos exatos onde ela o tocava, a pressão deliciosa dos lábios, o deslizar lento da língua, como se mapeasse cada milímetro dele apenas para o enlouquecer.
se deitou na cama, sem perder o contato visual com Jimin que, se inclinou sobre ela e passou o pau molhado por cima da intimidade de Pierce, fazendo-a arfar e arquear as costas levemente.
— Vou botar a camisinha, ok? — A voz de Jimin saiu rouca, carregada de desejo bruto.
Ele tateou a mesa de cabeceira, os dedos trêmulos de urgência, rasgando a embalagem sem desviar os olhos dela. Porra, ela era linda. Linda e toda dele naquele momento.
Assim que se encaixou nela, a cabeça tombou para frente, um gemido arrastado escapando de sua garganta. Quente, apertada, perfeita.
— Caralho, … — A respiração dele falhou, os dedos cravando na cintura dela. — Você é tão gostosa… Meu Deus.
Ele começou a se mover, devagar no início, como se estivesse tentando se segurar—mas não conseguia. Não com ela.
— Você é minha. — A voz saiu entre dentes, os lábios roçando contra a pele suada dela enquanto se enterrava completamente dentro de . Demorou uns segundos parado e suspirou alto, antes de se movimentar. Moraria ali, se pudesse. — Só minha.
Os movimentos ficaram mais intensos, mais profundos. Ele sentia cada reação dela, cada arrepio, cada gemido desesperado, e isso o deixa ainda mais louco. Gamado. Ferrado.
— Eu preciso tanto de você, porra… — Ele mordeu o lábio, jogando a cabeça para trás por um segundo antes de fitar os olhos dela novamente. — Isso é uma necessidade visceral. Me deixa fodido. Você me deixa fodido.
Não demorou para que implorasse por mais e, em questão de segundos, ambos estavam em um ritmo alucinante, nunca ficando em uma única posição. Ele se sentou na cama, completamente exausto, a virou de frente e observou-a cavalgar no pau enquanto os seios balançavam, sem perder a oportunidade de agarrá-los de vez em quando. Era selvagem. Um desejo bruto, incontrolável, queimando sob a pele como um incêndio impossível de conter. Era arrebatador. Cada toque, cada gemido, cada movimento os arrastava para um abismo do qual não queriam – e não podiam – escapar.
E, o melhor: era único. Porque só com ele, só com ela, aquilo fazia sentido. Só juntos aquela fome se tornava insaciável, e ao mesmo tempo, a única coisa capaz de saciá-los.
— Estou... quase — arfou, o corpo inteiro em chamas, sentindo uma gota de suor deslizar e cair no peitoral nu de Jimin.
— Então, goza, linda. Goza comigo. — A voz dele era pura urgência, rouca e carregada de prazer bruto.
Jimin investiu com mais força, o ritmo caótico, desesperado, como se os dois estivessem à beira do precipício, prontos para despencar juntos.
gritou o nome dele, as costas arqueando, o corpo inteiro tremendo enquanto o ápice a consumia de dentro para fora. O prazer era avassalador, um choque elétrico que fazia cada músculo se contrair.
Jimin seguiu logo depois, enterrando o rosto na curva do pescoço dela, um gemido arrastado escapando de seus lábios. Ele se contorceu, os dedos apertando sua cintura com força enquanto sentia o orgasmo o rasgar por dentro.
O quarto ficou em silêncio por alguns segundos, apenas as respirações descompassadas ecoando no ar quente.
E então, Jimin riu baixinho, ainda recuperando o fôlego, os lábios roçando contra a pele úmida dela antes de murmurar:
— Eu finalmente entendi quando diziam que uma boa foda matinal pode aumentar sua expectativa de vida—Ele deu um sorriso e olhou dentro dos olhos cansados de . —Agora sim. Bom dia, Pierce.
Pierce
Se alguém me dissesse que eu estaria assim, encostada na bancada da cozinha, usando apenas uma camisa larga que claramente não me pertence, assistindo Jimin preparar café como se fosse a coisa mais natural do mundo, eu provavelmente riria. Mas aqui estou eu. E o pior – ou melhor – é que tudo parece... certo.
Um encaixe perfeito. Merda, perfeito demais.
Tão certo a ponto de eu esquecer tudo o que havia me acontecido na noite anterior. O nó na garganta, as palavras cortantes do desgraçado do Eunwoo ou a sensação de estar à deriva. Nada disso importava agora.
Sentir sempre foi um problema para mim. Não que eu não tenha sentimentos – pelo contrário, eu sinto tanto que às vezes parece impossível controlar. Só que, por muito tempo, minha defesa foi fingir que não importava. Que nada me afetava de verdade. Era mais fácil assim.
Mas agora, vendo Jimin na minha cozinha, com o cabelo bagunçado e o olhar sonolento, cantarolando baixinho enquanto prepara café como se isso fosse o bastante para começar o dia… alguma coisa dentro de mim se encaixa. Como se eu finalmente entendesse o que sempre tentei evitar.
Isso aqui, esse instante banal e silencioso, não me assusta. Pela primeira vez, eu não quero fugir. Não quero procurar um motivo para estragar tudo antes que ele possa me machucar. Porque, talvez, só talvez, não tenha nada para estragar.
Eu gosto de Jimin. Gosto pra caramba.
Não como uma brincadeira, não como uma distração passageira. Gosto dele de verdade. Do jeito que ele ri quando me provoca, do modo como ele sempre encontra uma forma de me tocar, mesmo que de leve. Da calma que ele traz quando o mundo parece barulhento demais.
E agora, olhando para ele, eu percebo: gostar de alguém não precisa ser uma guerra. Não precisa ser um campo minado de expectativas e medo. Pode ser simples. Pode ser só isso.
— Você tá fazendo errado. — Cruzei os braços, observando Jimin derramar a massa de panqueca na frigideira com a maior confiança do mundo.
Ele me olhou, fingindo indignação.
— Errado? Eu faço panquecas desde que me entendo por gente. —Ele deu um sorriso ladino, como se estivesse lembrando de alguma coisa. —E sua mãe já me pediu segredo, mas uma vez ela disse que as minhas eram melhores que as suas.
— Imagina ela, uma cientista apaixonada por geometria, metódica pra cacete, vendo esse resultado? — Apontei para a massa que, claramente, não estava formando um círculo decente. —Ela morreria.
Jimin revirou os olhos e tentou espalhar com a espátula, mas só piorou a situação. Eu gargalhei, me aproximando para pegar a espátula da mão dele.
— Deixa que eu faço.
— Nem pensar. Você que mandou eu cozinhar, agora aguenta.
— Eu mandei?
— Mandou, sim. — Ele sorriu de lado, me puxando pela cintura, o que quase me fez esquecer a discussão culinária. — Falou algo tipo: "Jimin, você é tão maravilhoso, adoraria comer qualquer coisa feita por essas mãos talentosas".
— Eu nunca disse isso. — Tentei empurrá-lo, rindo da voz fina que ele tentou fazer. —Larga de ser mentiroso.
— Disse, sim. No seu olhar. —Ele beijou meu pescoço —Tudo começa no olhar, lembra?
— Você é impossível!
— E irresistível. Gostoso. Isso foi você quem disse ontem. Várias vezes... — Ele piscou, mas nesse momento a panqueca começou a queimar.
Eu arregalei os olhos.
— Jimin!
— Merda. Caralho. Puta que pariu!
Ele tentou salvá-la, mas já era tarde. O cheiro denunciava o estrago. Nos encaramos por um segundo e depois caímos na risada, meio dobrados sobre o balcão, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.
Ele respirou fundo, ainda sorrindo, e passou a mão pelos meus cabelos.
— Ok, talvez eu precise de ajuda.
Eu ergui uma sobrancelha.
— Então admite que eu estava certa?
Ele fez uma pausa dramática.
— Não.
— Jimin!
— Mas admito que você fica linda quando tá irritada. —Tentei fingir irritação, mas era impossível com ele me olhando assim, tão perto, tão fácil de gostar. —Não me olha assim. Eu tô ficando excitado.
Revirei os olhos e o empurrei com o ombro, dando uma risada alta.
Sempre um canalha!
— Vaza daqui. Deixa eu te ensinar antes que a gente morra de fome.
Ele sorriu e, dessa vez, não discutiu.
Jimin deu um passo para trás, ainda sorrindo, e eu aproveitei para tomar o controle da frigideira. Mas mesmo com um pouco de espaço entre nós, ele ainda estava ali. Perto demais. Dentro demais.
E eu não queria que fosse diferente.
O amor sempre me pareceu algo complicado, um labirinto cheio de armadilhas e saídas falsas. Mas com ele… era fácil. Era um domingo preguiçoso na cozinha, risadas entre uma panqueca que dava errado e outra. Era a forma como ele me olhava quando achava que eu não estava prestando atenção. O toque distraído na minha cintura, a voz baixa, quase rouca, dizendo meu nome de um jeito que fazia meu coração tropeçar.
Eu poderia passar o resto da vida tentando entender como algo tão simples podia ser tão avassalador.
E talvez fosse isso. Talvez amar fosse só encontrar alguém que fizesse até os momentos mais banais parecerem especiais. O cheiro de café preencheu o ar, misturando-se ao perfume dele, um aroma amadeirado e quente que grudava na minha pele, na minha memória, em tudo.
E eu continuo aqui, me sentindo ridiculamente apaixonada por achar que o cheiro de café misturado ao perfume dele é, talvez, meu novo aroma favorito.
O domingo se arrastou como de costume. Depois do desastre na cozinha – que resultou em farinha no cabelo de Jimin, um ovo quebrado no chão e uma promessa solene de nunca mais tentarmos fazer panquecas juntos –, nos rendemos ao sofá e a um filme de terror. Ideia brilhante de Park, que adorava bancar o destemido, mesmo tendo um histórico vergonhoso de gritos por conta de uma simples mariposa. Segundo ele, o medo de borboletas era apenas um "pequeno erro de percurso" na sua valentia, mas eu sabia a verdade. E a verdade era que um inseto voador aleatório tinha mais chances de assustá-lo do que qualquer espírito vingativo da tela.
Pra piorar, ele tinha escolhido péssimos filmes. Péssimos no nível de O Filho de Chucky, que me fazia questionar se um boneco assassino realmente precisava de terapia familiar ou se era só um surto coletivo de roteiristas sem limites. Uma aberração cinematográfica digna de ser estudada—mas não assistida.
Jimin, por outro lado, estava vidrado na tela, franzindo a testa como se estivesse diante de uma obra-prima do terror psicológico. Eu, por minha vez, só conseguia pensar em como alguém com um rosto tão bonito podia ter um gosto tão questionável. Honestamente? Um pouco decepcionante.
Quando a sessão de filmes, finalmente, acabou, o tempo estava nublado, um convite silencioso para uma tarde sem pressa.
Jimin estava deitado com a cabeça no meu colo, os dedos traçando círculos preguiçosos na minha coxa. Era um gesto distraído, mas que me fazia sentir um calor gostoso no peito.
— Você lembra da primeira vez que a gente se meteu em um problema juntos? — ele perguntou, olhando fixamente nos meus olhos.
Sorri, sentindo a memória surgir antes mesmo de precisar responder.
— Quando tentamos fugir da escola pra ir naquele show ridículo?
Jimin soltou uma risada baixa.
— Exatamente. Ridículo, mas a gente achava que era o evento do século. E, considerando que era a porra de um show de Heavy Metal para adolescentes, era o evento do século.
Mordi o lábio, me lembrando do caos daquela noite.
— A gente não durou nem cinco minutos fora da escola. O segurança nos pegou na esquina.
— E eu jurei pro diretor que tinha saído porque minha mãe tava no hospital.
— Você era um péssimo mentiroso, Jimin. Ele ligou pra sua casa na mesma hora.
Jimin cobriu o rosto com as mãos, rindo alto.
— Meu pai me fez escrever a porra de uma carta de desculpas de três páginas. Se eu me esforçar um pouco, ainda posso ouvir meu pai dizendo: ‘Use mais advérbios, Jimin. Demonstre arrependimento.’
—Ele me obrigou a escrever também, já que eu era "má influência".
— Você era má influência.
Revirei os olhos.
— Ah, claro, porque fui eu quem teve a brilhante ideia de fugir para ver idiotas que cantam mal pra cacete e usam drogas ruins, né?
Caímos na risada. Era engraçado como lembranças tão antigas ainda podiam despertar tantas emoções. Por um momento, me permiti mergulhar naquela nostalgia confortável, naquela sensação de que, apesar de tudo, ainda éramos os mesmos de alguma forma. Crescemos, mudamos, nos tornamos versões mais complexas de quem já fomos, mas a essência permanecia. O tempo nos afastou em alguns poucos momentos, a vida seguiu caminhos que nem sempre foram fáceis, mas, no final das contas, nunca nos abandonamos. Nunca deixamos de ser aquele apoio silencioso, aquele porto seguro onde sempre podíamos voltar. Jimin ainda sabia exatamente como me fazer rir até a barriga doer. Eu ainda sabia quando ele estava mal. No meio de tudo, das mudanças, dos erros, das idas e vindas, a gente sempre se reencontrava. Sempre.
O tempo passou sem que percebêssemos. O céu já escurecia lá fora quando a campainha tocou, cortando o clima leve da nossa conversa.
Franzi a testa, trocando um olhar rápido com Jimin.
— Quem será? Não estou esperando ninguém.
Jimin deu de ombros, mas já se levantando do sofá.
Ajeitei o cabelo, agora sentindo um leve incômodo inexplicável no peito, e caminhei até a porta. Girei a maçaneta sem pensar muito e, assim que vi quem estava do outro lado, senti meu estômago afundar.
Eunwoo.
Ele segurava um pequeno buquê de flores e sua expressão estava carregada de arrependimento.
— … eu preciso falar com você.
E antes que eu pudesse reagir, senti Jimin se aproximando atrás de mim, agarrando minha cintura. A energia ao meu redor mudou num instante, o calor do seu corpo irradiando uma tensão elétrica que fez minha espinha se arrepiar.
Não precisei olhar para saber. Ele estava pronto para matar Eunwoo.
Os ombros rígidos, a respiração mais pesada, o silêncio carregado de fúria contida. Jimin nunca foi de perder o controle fácil, mas ali, atrás de mim, eu sentia cada músculo do seu corpo se preparando para explodir.
— Não, Eunwoo. Eu é que preciso falar com você — ele murmurou e, pelo tom de voz, eu soube: Eunwoo estava muito, muito fodido.
“O que quer que nossas almas sejam feitas, as dele e as minhas são as mesmas.” — Emily Brontë, "O Morro dos Ventos Uivantes"
Park Jimin
Eu nem percebi quando agarrei Eunwoo pelo colarinho. Tudo aconteceu num impulso forte demais. Rápido. Como se meu corpo já soubesse o que fazer antes mesmo de eu pensar. Meu sangue fervia, minha respiração era curta, e minha visão estava embaçada por puro ódio. Não existia nada na minha cabeça, além das lembranças das falas ridículas de Eunwoo ou da situação de na noite anterior. Todas as coisas boas que aconteceram se evaporaram em questão de segundos e eu queria acabar com ele.
Meus punhos doíam, mas não tanto quanto meu orgulho. Cada soco que eu acertava no Eunwoo parecia pouco. Eu queria machucá-lo da mesma forma que ele machucou , da mesma forma que ele a destruiu com as malditas palavras. Tudo o que eu via era a porra do rosto dele. Lindo demais para ser desconfigurado.
Eu queria matá-lo. Queria fazê-lo se sentir um lixo, como ela se sentiu.
— Você tem ideia das merdas que fez, seu filho da puta?! — Rosnei, apertando ainda mais a gola da camisa dele. Meu punho já latejava de tanto socá-lo, mas que se foda. Ele merecia cada um desses golpes. Merecia muito mais.
Eunwoo cuspiu sangue no chão e levantou a cabeça, me encarando com os olhos mortos.
— Eu sei que eu errei —Falou pausadamente e eu trinquei o maxilar ao ouvir a voz do desgraçado —Me desculpe, . Por favor. Fui um imbecil com você.
Porra.
Eu senti uma vontade insuportável de socar ele de novo. O que ele tava tentando fazer? Pedir desculpas ia resolver o arrombado que ele era?
A raiva subiu tão rápido que meu corpo se moveu antes mesmo de eu pensar. Meu punho encontrou o rosto dele com força, um estalo seco ecoando pelo cômodo. Eunwoo tropeçou para trás, levando a mão ao maxilar, mas não tive paciência pra esperar ele se recompor. Avancei de novo e acertei outro soco no estômago, fazendo ele se curvar com um grunhido
—Você é um merda. —Rosnei, segurando-o pela gola e o empurrando contra a parede com força o suficiente para derrubar alguns quadros.
— Jimin, caralho! — gritou atrás de mim, mas eu mal ouvi.
Meu corpo estava em ebulição.
—Se não me falhe a memória... —Apertei meus dedos com mais força no pescoço do maldito, fazendo ele ter dificuldades para respirar — Você apertou o pulso dela ontem, não foi?
Eunwoo respirou fundo, os dentes cerrados, e ergueu a cabeça para me encarar.
— Eu tô aqui pra me desculpar — murmurou com a voz rouca, utilizando mais força para se soltar.
Dessa vez, ele viu o golpe chegando e conseguiu se esquivar no último segundo. Mas isso só me deixou mais puto. Fui pra cima, pronto pra acabar com ele, mas antes que meu punho acertasse seu rosto de novo, Eunwoo me empurrou com força, me fazendo cambalear para trás.
—Eu preciso apenas do perdão da . —Quando fui desferir outro golpe, Eunwoo se esquivou e me empurrou forte. Tropecei um passo para trás, mas no segundo seguinte já estava indo pra cima de novo.
Ele acertou um soco no meu rosto, me fazendo soltar um grunhido, mas nem fodendo que eu ia recuar. Retruquei com um golpe na lateral do rosto dele, a força fazendo sua cabeça virar.
— JIMIN, PARA!
Foi tudo rápido demais. Quando ela se colocou no meio da confusão, Eunwoo levantou o braço para bloquear outro soco meu e, sem querer, acertou no ombro.
Ela perdeu o equilíbrio e caiu com um baque surdo no chão.
Na mesma hora, senti meu peito travar.
— Merda! — Eunwoo se abaixou ao mesmo tempo que eu com os olhos arregalados. — , você tá bem?!
—O que caralho tem na cabeça de vocês? — se levantou num pulo e eu engoli em seco.
Ela segurava o ombro machucado, o rosto uma mistura de dor e fúria. Meu peito ainda subia e descia, o sangue pulsando nos meus punhos cerrados.
— Ele mereceu cada porra de soco que levou! — Cuspi, apontando para Eunwoo, que limpava o canto da boca ensanguentado.
— Isso não te dá o direito de sair distribuindo porrada na minha sala! — Ela rebateu, os olhos faiscando.
Eu ri, completamente incrédulo.
— Ah, claro. Mas ele tem o direito de te tratar feito merda, e agora você tá aqui defendendo ele?
Eunwoo levantou a cabeça, cerrando a mandíbula.
— Eu nunca quis—
— Cala a boca antes que eu quebre seus dentes, seu desgraçado.
— CHEGA! — gritou, passando a mão no rosto como se tentasse manter a calma. — Vocês dois, saiam da minha casa. Agora.
—Eu só saio daqui depois que você me perdoar pela noite de ontem.
Meu sangue ferveu.
Eu ia avançar nele de novo, mas foi mais rápida.
— Você foi um desgraçado, sabia? — Ela cuspiu as palavras, o rosto vermelho de raiva. — Como você tem coragem de vir aqui dizer isso depois de tudo que fez ontem? Sério?
Eunwoo abriu a boca pra responder, mas ela levantou a mão.
— Não, cala a porra da boca. Você tem noção do quão merda eu me senti com todas as coisas que você disse? E agora vem aqui bancar o arrependido? Você acha que isso apaga tudo?!
Eu cruzei os braços, assistindo aquilo com puro desprezo.
— Eu sei que errei… — ele murmurou, ignorando meus xingamentos baixos. — Eu fui um babaca ontem, eu sei. Mas, olha, eu não quero te machucar mais, e acho que se eu continuar por perto, vou acabar fazendo isso. Então… eu vou me afastar. Não vou mais atrás de você. Tudo não passou de uma influência ridícula dos meus amigos.
Eu ri, puro escárnio.
— Ah, claro, a culpa não é sua, né? Foi dos amiguinhos. Esqueci que você vive nos filmes de bad boy dos anos 90. —Debochei, colocando a dedo no meu novo ferimento—Cresce, porra.
Ele passou a mão no rosto, visivelmente frustrado.
— Eu não tô tentando me justificar, Jimin. Eu só… tô dizendo que nunca deveria ter começado isso. Eu fiz merda, e agora tô tentando consertar do único jeito que eu sei.
fechou os olhos por um segundo, respirando fundo. Quando abriu de novo, sua expressão já não era só raiva.
—Tudo bem, Eunwoo.
Meu estômago revirou.
Ele ergueu o olhar, esperançoso.
— Você me perdoa?
Minha mandíbula travou. Eu esperava que ela chutasse ele pra fora, xingasse mais, qualquer coisa. Mas ao invés disso, suspirou, esfregando o rosto.
—Não significa que vou esquecer a merda que você fez. De verdade —Ela engoliu em seco ao ver meu olhar incrédulo —Agora, vaza.
apontou para a saída. Ele saiu sem discutir, me fuzilando com o olhar antes de fechar a porta. O silêncio preencheu o ambiente. Eu ainda estava puto. Não só com aquele babaca, mas com também.
—Você jura, ? —Minha voz saiu mais amarga do que eu pretendia enquanto ela suspirava e pegava uma pequena maleta de medicamentos. — O cara te fez passar a pior noite da sua vida, eu fiquei do seu lado, cuidei de você… pra no fim, você simplesmente perdoar ele?
Ela ergueu a cabeça, me encarando com aquele olhar afiado.
—E você preferia o quê, Park Jimin? —Ela pegou um pouco de pomada com a ponta do dedo e aplicou no meu supercilio. —Que ele ficasse correndo atrás de mim, clamando por perdão?
—Não, mas eu esperava o mínimo, porra! — Rosnei, sentindo a ardência do remédio, mas ignorando completamente.
suspirou.
— Qual seria sua outra ideia brilhante, huh? Que eu entrasse na porra da briga e acertasse o Eunwoo? — Ela rebateu, apertando meu supercílio com mais força do que precisava.
Soltei um xingo, afastando a mão dela.
— Eu esperava que você não deixasse ele sair como se nada tivesse acontecido! — cuspi as palavras, sentindo meu sangue ferver. —Você ainda se lembra do que ele te fez passar? Você chorou nos meus braços, caralho!
Ela fechou a maleta de primeiros socorros com força, o barulho seco ecoando pela sala.
— E o que você quer que eu faça, Jimin? Quer que eu passe os próximos meses me consumindo de ódio? Isso vai mudar alguma coisa?!
— Pelo menos significaria que você dá a mínima pra si mesma!
soltou uma risada irônica, cruzando os braços.
— E o que diabos você quer dizer com isso, hein? — Ela retrucou, os olhos brilhando de raiva.
Passei a mão no rosto, exausto, mas não ia recuar agora.
— Quero dizer que você parece que não tem um pingo de amor próprio, !
Ela arregalou os olhos, e por um segundo, achei que fosse me dar um tapa na cara.
— Ah, eu não acredito que eu estou escutando essa merda, Jimin! — Ela bufou, passando a mão no cabelo, claramente tentando se controlar. — E quer saber? Talvez você esteja certo. Se eu tivesse amor próprio, eu não teria ido atrás de você.
As palavras dela me pegaram desprevenido.
Franzi a testa, confuso.
— O que você quer dizer com isso?
Ela respirou fundo, como se estivesse se odiando por ter dito aquilo.
— Esquece.
— Não, . Fala. — Dei um passo à frente, meu peito subindo e descendo rápido. — Você se arrepende?
Ela levantou o olhar e me encarou firme.
— Não.
Porra.
Minha respiração vacilou, mas eu não podia deixar isso morrer ali.
— Então por que caralhos você não diz o que sente? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.
— Porque você quer uma resposta que eu ainda não sei dar, Jimin! — Ela praticamente gritou de volta, a voz embargada de frustração.
Soltei uma risada seca, passando a mão pelos cabelos.
— Engraçado, né? Porque perdoar sempre me parece ser mais difícil do que dizer que ama ou que gosta, sei lá. —Ela passou as mãos no cabelo, claramente nervosa. —Eu fiz tudo, . Eu me declarei, estive do seu lado quando você precisou, cuidei de você quando aquele idiota te deixou na pior. Porra, a gente transou a merda da madrugada inteira até ao acordar. E o que eu recebi em troca? Nada. Nem uma porra de resposta.
Ela apertou os punhos, desviando o olhar.
— Não é assim…
— Não? Então me explica. Porque pra mim, parece exatamente assim.
Ela abriu a boca, mas não saiu som nenhum.
Isso foi o suficiente pra mim.
— Sabe de uma coisa? Não me procura mais.
O olhar dela se ergueu num estalo, arregalado.
— Jimin…
— Não me procura, . Não até saber o que sente. Porque eu não vou entrar na sua confusão ou seja lá o que for que aconteça na sua cabeça.
O silêncio dela foi a última resposta que eu precisava.
Dei um passo para trás, sentindo algo apertar no peito, como se estivesse deixando um pedaço de mim ali. Virei as costas sem olhar para trás, porque sabia que, se olhasse, talvez não tivesse forças para ir embora.
Engraçado como as coisas boas passam rápido. Pra caralho. Tipo aquele café quente que esfria antes da gente terminar, ou aquele show que a gente esperou meses e, quando vê, já acabou.
A gente pisca, e pronto, passou.
Mas, e as coisas ruins?
Ah, essas desgraçadas se arrastam. Um dia péssimo tem 48 horas. Uma saudade demora uma eternidade e uma dor de amor parece durar vidas inteiras.
Eu queria saber qual é o segredo da porra do tempo pra correr quando a gente tá feliz e se arrastar quando a gente tá na merda. Será que esse maldito tem prazer ou fetiche em ver a gente praticamente se humilhar pra um momento bom durar só um pouquinho mais? Tipo aquele beijo que termina cedo demais ou aquele abraço que deveria durar pra sempre.
Sério, Deus, por qual motivo?
Ontem à noite, eu queria engarrafar o tempo, prender cada riso, cada toque, cada silêncio ou gemido de prazer entre eu e Jimin. Merda, eu queria que aquele maldito momento fosse eterno, que a madrugada não se apagasse, que o sol se esquecesse de nascer. Porque com Jimin ali, ao meu lado, tudo parecia certo. Tão perfeito. A ideia de me desconectar, nem que fosse por um segundo, trazia uma angústia quase insuportável. Porque aquele instante significava tudo. Era tudo o que eu queria, era tudo o que eu precisava.
Suspirei fundo, jogando um dos travesseiros na cara e soltando um grito abafado. O cheiro dele ainda estava ali. O que é uma merda. Como se não bastasse a bagunça na minha cabeça, até o maldito travesseiro precisava me lembrar de tudo que aconteceu entre eu e Jimin. E do quanto aquele canalha era perfeito em cada detalhe.
Nos beijos, nas mãos desesperadas, porra... no sexo maravilhoso.
Fechei os olhos com força, tentando afastar as imagens que vinham em flashes: o jeito que ele me puxou pra perto, o calor da pele dele contra a minha, os sussurros roucos no meu ouvido. A forma como, por algumas horas, nada mais importou. Mas, não consegui, porque na minha cabeça só havia nós dois. E aquela briga ridícula.
E agora?
Como tudo na minha vida, obviamente, agora tudo tava fodido. Porque olhei para o lado e Jimin não estava mais. E, caralho, como dói. Como dói ver algo escapar pelos dedos e perceber tarde demais que você poderia ter segurado mais forte, ter se esforçado um pouco mais.
E eu me odeio por isso. Por nunca saber dizer o que sinto. Por sempre deixar as palavras presas na garganta, sufocadas pelo medo, por essa merda de mania de achar que sentimentos demais são um problema. Por que diabos o Eunwoo tinha que aparecer ali, justo naquele momento, pra pedir desculpas?
Quem diabos queria as desculpas daquele otário?
Como se desculpas mudassem alguma coisa ou mudasse o lixo que ele é ou como se eu me importasse com o que ele disse ou fez. Eu estava pouco me fodendo, e é justamente por isso que deixei pra lá. Perdoar e fingir a inexistência dele era o mais sensato a ser feito. Porque quando Jimin me pegou pela mão naquela chuva desgraçada, me puxou pra perto, me olhou daquele jeito que só ele sabe... tudo estava certo demais.
Ele bastava. Sempre bastou. O resto era ruído, poeira, coisa sem importância. Mas aí o universo, esse desgraçado, decidiu brincar comigo. Jogou o Eunwoo no meio, bagunçou tudo, quebrou os meus quadros preferidos e agora eu tô aqui, com o cheiro de Jimin ainda grudado na pele, mas sem ele por perto.
E a parte mais difícil e contraditória? Eu ainda só queria ele. Mas, também queria socá-lo, porque ele deveria me entender.
“Não me procura, . Não até saber o que sente. Porque eu não vou entrar na sua confusão ou seja lá o que for que aconteça na sua cabeça.”
Foi isso que ele disse. Com todas as letras. Como se eu fosse um quebra-cabeça fodido que ele não tinha paciência pra montar.
A raiva subiu no mesmo instante.
Eu não sou confusa, porra!
Eu só... tá, talvez um pouco.
Mas ele também não facilita! Como é que eu consigo falar o que sinto se, toda vez que eu olho pra ele, tudo em mim grita e trava ao mesmo tempo?
Passei a mão no rosto, bufando. Filho da puta. O pior é que ele tinha um ponto. Não tenho como negar isso. Eu sempre fui a porra de um desastre ambulante quando se trata de sentimentos. E ele sabe disso, mais do que qualquer pessoa. Mas ouvir isso dele? Do Jimin? Do cara que me bagunça inteira e ainda tem a audácia de me chamar de confusa?
E a verdade? Eu odiava concordar com aquele homem. Porque, por mais que eu quisesse jogar na cara dele o quão errado estava, eu não podia. Porque ele não estava. Ele tinha a porra de um ponto gigante, certeiro. E eu detesto essa merda. Detesto ter que admitir, nem que fosse só pra mim mesma.
O amor sempre me pareceu um conceito meio abstrato. Praticamente impossível de ser dito em voz alta. Talvez porque eu nunca tenha visto isso de perto. Meus pais sempre foram racionais demais, científicos demais. Eles nunca disseram eu te amo um para o outro, pelo menos não de um jeito que eu pudesse ouvir. No lugar disso, havia lógica, compromissos, cálculos e gestos sutis que eu não sabia interpretar.
Então, como eu poderia saber o que era amor? Como eu poderia reconhecer algo que nunca aprendi a nomear?
As pessoas falam sobre ele como se fosse inevitável, como se um dia simplesmente acontecesse e pronto. Fácil demais.
Mas eu nunca soube identificar. Nunca soube diferenciar carinho de apego, desejo de necessidade, costume de sentimento. Sempre achei que amor fosse algo que se escolhe, que se controla. Que você simplesmente decide sentir ou não.
Até agora.
Porque, no instante em que ele virou as costas, no segundo miserável de silêncio que veio depois, eu soube. Não porque foi bonito. Não porque foi um momento perfeito com flores, chocolates ou serenatas cafonas. Mas porque doeu.
Doeu vê-lo indo embora. Doeu perceber que ele podia me odiar por não dizer o que sinto, não corresponder a ele. Doeu mais do que qualquer outra coisa já doeu antes.
E o detalhe? Não era uma descoberta tranquila, dessas que chegam devagar, com tempo pra aceitar. Veio como um soco no estômago, forte, inevitável e impossível de ignorar.
Eu não estou somente apaixonada por ele.
Amo o jeito que ele sorri de canto, como se tivesse um segredo só dele com aquele jeito sedutor, canalha e safado. Amo o modo como ele bagunça o cabelo quando está nervoso e como se perde nos próprios pensamentos, com aquele olhar distante, porém marcante e o suficiente para fazer um estrago estrondoso em mim. Amo a forma como ele ri, sem se importar se é baixo ou alto, só rindo por rir.
Eu amo Park Jimin.
E, caralho, como eu fui idiota por não dizer antes.
Nota da autora: Oie, amigas! Como vocês estão?
Estou aqui com meu lencinho, chegamos à metade do caminho! 🥹 Metade da fanfic já foi escrita e, bem, a tensão só continua haha Se você está se perguntando o que vai acontecer daqui pra frente, eu também estou, porque sinceramente, meus personagens têm vida própria e estão fazendo o que bem entendem. Eu sou só a espectadora dessa loucura toda! 😅
Obrigada por me acompanharem até aqui, por lerem, comentarem e, claro, por surtarem juntamente comigo com os altos e baixos de Seduction Classes. Prometo que ainda há muita coisa boa por vir… Não esqueçam de deixar o comentário, porque quero saber a opinião de vocês!
Até o próximo capítulo, meus amores! 💜
Com carinho,
Ray.
Estou aqui com meu lencinho, chegamos à metade do caminho! 🥹 Metade da fanfic já foi escrita e, bem, a tensão só continua haha Se você está se perguntando o que vai acontecer daqui pra frente, eu também estou, porque sinceramente, meus personagens têm vida própria e estão fazendo o que bem entendem. Eu sou só a espectadora dessa loucura toda! 😅
Obrigada por me acompanharem até aqui, por lerem, comentarem e, claro, por surtarem juntamente comigo com os altos e baixos de Seduction Classes. Prometo que ainda há muita coisa boa por vir… Não esqueçam de deixar o comentário, porque quero saber a opinião de vocês!
Até o próximo capítulo, meus amores! 💜
Com carinho,
Ray.
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